Em resposta àquela provocação, vários dos midgellers bufaram e bateram com os cascos no chão de maneira ameaçadora. Limmen não alterou sua expressão ousada, apenas manteve a postura elegante sobre o cavalo. Dalária forçou a risada a permanecer dentro de sua boca.
Fugindo daquele assunto, a Rainha se distraiu observando a paisagem ao redor e tentando encontrar alguma forma de escapar. Qualquer que fosse o caminho escolhido, mesmo que conseguisse romper as amarras que a prendiam e se distanciar dos selvagens, eles a caçariam e provavelmente a capturariam novamente em poucos minutos. A pé, não tinha como fugir dos touros.
"Talvez a resposta não seja fugir", ela pensou enquanto observava o caminhar tranquilo de Limmen.
— Talvez a corte não seja leal a mim. — Começou, passados vários minutos. — Mas a lealdade de um soldado é muito mais confiável que a de um político.
— No que está pensando, majestade? — Brincou o feérico.
— Uma de minhas legiões está acampada relativamente longe de Parsos, o que significa que provavelmente ainda não recebeu notícias de minha "morte". — Se conseguisse que aqueles selvagens a levassem até lá... — Se me entregarem a eles, posso recompensá-los com coisas mais úteis que dinheiro.
— Como o quê? — Dok perguntou, o som de sua voz parecia causar vibrações no ar ao redor.
— Imagino que armas, comida, temperos, entre outros suprimentos, seriam muito mais úteis para seu povo do que ouro cunhado num Reino. — Ela se deixou sorrir, pensando em como Vélis ficaria louco por ela fazer um acordo daqueles. Talvez não fosse uma atitude das mais seguras, mas era a única moeda de barganha que ela podia oferecer. — Ninguém forja Ferro Branco como um mestre élfico.
Limmen se virou, colocando uma mão contra o peito da Rainha e fazendo-a parar de andar. Havia preocupação em seu rosto, como se temesse estar caminhando rumo a uma armadilha. Bem, talvez ela também devesse estar preocupada por estar fazendo acordos com o inimigo. Se algum dos outros monarcas — ou sua corte — descobrissem, seu destino seria a cruz.
— Fala sério? — O feérico perguntou, ao que ela respondeu com um aceno da cabeça. — Por que faria isso?
— Porque a única coisa que eu quero mais que tomar um banho é voltar para casa viva. — A resposta era simples e verdadeira. — E sei que só conseguirei isso oferecendo-lhes algo que não podem recusar.
— E o que garante que não virá atrás de nós no momento em que estiver segura entre seus soldados? — Foi a vez de um dos tenentes de Dok intervir. Toda a comitiva de touros os observava com atenção.
— Eu acho que posso dar um jeito nisso. — Limmen comentou. — Um tratado mágico. Nós dois assinamos e você promete entregar-nos o triplo de suprimentos oferecidos por nosso contratante e não nos agredir quando formos embora. Em troca, nós a devolveremos à sua legião. — Dalária já ouvira falar daquelas coisas, mas nunca vira um tratado daqueles ser assinado, não tinha ideia de como era feito. — Parecido com o que as bruxas fizeram para fundar a Aliança. — Esta última parte foi dirigida a Dok e seu tenente.
— Só uma coisa. — A Rainha falou, antes que o feérico começasse a buscar em seus suprimentos pelos itens necessários para confecção do tratado. — Um gesto de boa fé, se me permite? — Todos fizeram que sim com a cabeça. — Quem foi que me traiu?
Feérico e Midgellers se entreolharam, como se tentassem decidir se deveriam trair o traidor. Enfim, Limmen pareceu decidido em dar-lhe a resposta.
— Ele veio a nós numa noite de lua cheia. — Começou Limmen. Dalária não queria saber a história toda, apenas quem fora. — Se apresentou como "um contratante poderoso", disse que poderia nos pagar imensas quantias quando você estivesse morta. Só soubemos quem era quando o avistamos junto à sua comitiva no dia do ataque. Ele fugiu assim que nos viu, mas acredito que era seu braço direito.
— Vélis? — Ela não conseguia acreditar. Quando o feérico fez um gesto positivo com a cabeça, ela sentiu vontade de esmurrar alguma coisa, qualquer coisa. Mas não o fez. Engoliu o orgulho ferido e encarou os selvagens. — Ele era conselheiro de meu pai. Mais de quatro milênios como um funcionário do Palácio. Provavelmente suspeitou que eu não marcharia para Alis e decidiu assumir o controle das coisas.
Não era uma ideia inusitada, mas era absurdo que o leal Vélis tentaria algo assim. Silenciosamente, Dalária jurou que sua vingança seria deliciosamente satisfatória. Sem hesitar novamente, ela sinalizou para Limmen que estava pronta pra fazer o que tinha que ser feito.
Sem perder mais tempo, elfa e feérico se puseram a discutir os termos e as quantias exatas de suprimentos que seriam entregues. Quando chegaram a um acordo, Limmen redigiu tudo em papel e pediu que Dalária verificasse cada detalhe. Quando terminaram, os dois assinaram com tinta e, então, com sangue. Um corte profundo em suas mãos, um aperto que misturou o líquido vermelho antes que este caísse sobre o papel banhado por uma lufada de magia etérea. Estava feito.
Ela não sentiu nada quando firmaram o acordo, mas algo dentro de si lhe dizia que as consequências de desobedecer aquilo seriam gravíssimas. Mais tarde naquele mesmo dia, como se nada tivesse acontecido, a gangue de midgellers escoltava a Rainha de Parsos até um acampamento militar a quase um dia de viagem dali.
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Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)
FantasyFura Coração, é uma história de fantasia e magia, ambientada num mundo onde os aristocráticos e escravocratas elfos buscam "limpar" o mundo de todas as raças que consideram impuras e inferiores. Chamando a si mesmos de Filhos dos Deuses, essa raça t...
LIX. Uma Jura de Vingança
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