DESFALECENDO AO SOM DE UMA HARPA

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Não creio, ela continua dormido — algo me diz que eu deveria ver as horas, mas não quero. Estar aqui, depois de anos escrevendo à mão sobre suas folhas, me traz uma satisfação, uma sensação tão boa, um desabrochar que, apesar da poeira sobre sua capa de couro marrom fosca e descascando, sinto-me revigorada. Agora lembro porque, quando adolescente, eu gostava tanto das suas linhas conversando comigo.
Bom, não vou enrolar. Cá estou e estou decidida a compartilhar tudo com seus papéis, sobre todos os detalhes deliciosos do dia 20 de dezembro de 2022.
Deitada sobre o peitoral do meu amado, deleitei-me com os poucos pelos que havia. Sua respiração foi de ofegante a doce como um gatinho deitado na caixa de areia. O amenizar do seu coração unido ao pulmão foi um momento mestral — falo assim, com essas palavras mais técnicas, por conta do que vi em meus sonhos —. Notei o relaxar quando o seu carinho nas minhas costas cessou. A última coisa que ouvi sair de seus lábios carnudos foi: obrigado por me fazer feliz. — Ele não conseguiria me dar prazer nem se quisesse.
A calmaria trouxe consigo o adormecer tranquilo de um bebê sonhando com anjos. Somente com seu tamborilar ameno eu pude, também, adormecer. Apesar de não ter tido o prazer carnal, sentia-me satisfeita e ansiosa.
Meus olhos, já fechados foram me conduzindo a um mundo fabuloso e ancestral. Lá, Antônio estava com tintas por todo o corpo nu. Ele fazia uma dança diferente, uma mistura de capoeira angola e performer. Sem um início, eu estava em seus braços. Ao redor, tambores batiam uma melodia tranquilizante, mas sensual. Um blues africano onde nós, um casal se amando, transcendíamos. Ouvi um instrumento de cordas lindo invadir minha razão e me guiar a posições libidinosas que, desprovida de pudor, permiti que ele introduzisse sua lança pulsante no meu orifício vaginal. Procurando seus olhos, me deparei com instrumentos distintos, mas o que mais me conquistou foi a harpa. Era grande, com mais de cinco metros de altura e uns três de largura. Era tocada por dois homens e uma mulher. Eu não conseguia ver exatamente suas faces, mais seus corpos estavam vestidos por roupas coloridas. Sobre meus pés, o chão, fofo, era dourado; sim areias brilhantes douradas como purpurinas. Elas subiam e desciam em harmonia com a musica, com os meus gemidos e a movimentação malemolente de meu parceiro.
Agora estávamos frete a frente. Ele me olhava. Eu sentia que era a única mulher no mundo. Seus olhos tinham o brilho das estrelas, a força de um leão e a voracidade de uma pantera. Sorrindo de lado, após soltar no ar um "eu te amo", ele me apertou sobre seu corpo. Senti seu membro dar sinal nos meus grandes lábios. Sorri lançando um olhar provocante lhe dizendo "vai, bota". Sem mais, ele me beijou.
Juro que me vi descendo as nuvens por um arco-íris de cores e estrelas cintilantes e parando na atmosfera fervorosa do sol. Gemi ao senti-lo. Nossos corpos eram um com a música, com a flora, com a fauna e com nossos espíritos que viajavam para mundos ainda virgens para o ser humano.
Faltando pouco para a explosão galáctica, nos apertando, nos amando... eu acordei.
Qualquer pessoa em perfeita sanidade ficaria frustrada e tentaria retornar ao sonho para ter o que faltou. Mas eu, fui direcionada a uma realidade tão fantasiosa quanto meu sonho.
Antônio estava acordado me acariciando. Quando me viu acordada, intensificou suas caricias até chegar na minha genitália que, para sua surpresa — não para mim, devido ao sonho — estava úmida. Suas mãos subiram, ele olhou seus dedos, não disse nada, entrou em baixo do edredom branco como nuvem e brincou com sua língua por toda a minha virilha, púbis, grandes e pequenos lábios até chegar no meu, já rígido, clitóris.
Pensei que ele ficaria um tempo por ali, brincando até eu chegar no cume. Porém, depois de umas pinceladas, eu me contorcer, ele subiu o seu corpo, ficou de frente para mim, me olhou profundamente me conduzindo ao sonho que a poucos tive. O brilho em seus olhos era similar ao do sonho, mas agora, suas pálpebras pareciam querer deixar as lágrimas tomarem o fluxo do rio da emoção. Eu sorri docemente e toquei o seu cabelo crespo. Ele fechou os olhos, beijou minhas mãos, chegou próximo da minha face, me olhou, mexeu o seu nariz junto ao meu, ameaçou me beijar, lambeu docemente meu lábio superior, inferior e meu beijou. Eu mergulhei como uma pessoa na seca do deserto em um beijo descontrolado.
A intensidade do beijo foi tão natural e impossível de descrever a força, que abaixo, outra onda estava pedindo passagem nas areias do meu ser. — Eu não sabia que era possível isso acontecer! A delicadeza do momento, a excitação, o desejo, a luxúria que me tomou abriu a caixa da minha virgindade e deflorou todo as implicações do ato sexual. Só entendi o que estava acontecendo quando ele resolveu pôr além da cabeça roxa e me fazer sentir suas bolas na popa
Nesse momento, eu esqueci do sonho, mas somente com ele consigo descrever o que estava sentindo. Eu o apertei como no sonho. A minha mente me dizia que se eu não fizesse isso, ele iria fugir. Apertei com força o seu corpo sobre mim. Cravei minhas unhas nas suas costas, gemi ao som de uma música serena que o sonho me presenteou. Meu gemido tinha um ritmo e timbre composto por uma divindade Matriz africana. O som que ouvi era da cama, mas os tambores regiam a forma que ele introduzia na minha desvirginada flor. O gemido de nossas gargantas casavam com o ar, o ranger do colchão, minha unha dedilhando um instrumento de cordas imaginário. Ao acelerar, eu vi as estrelas inebriarem minha visão, me pôr em um tobogã de arco-íris e me fazer degustar a descida com sabor de subida para a lua.
Ele foi mais rápido. Mais rápido, mais rápido... até estalar suas bolas na popa das minhas nádegas e espirrar dentro de mim um grosso e branco liquido libidinoso.
Eu, não era eu. Se me contassem essa história, eu diria que era invenção, no entanto, estando lá, posso dizer o que fiz com uma propriedade prazerosa. Eu o virei, não permiti que tirasse sua lança de caça. Pus minhas mãos sobre seus peitos, empinei e mexi como uma dança glútea. O som do meu púbis na dele foi alto, ele gemeu, eu aumentei a velocidade, eu sabia que alguma dor estava lhe causando e aumentei. Gemi e aumentei. Aumentei, aumentei... apertei seus peitos, arranquei uns pelos, gritei e cai sobre ele.
Quando digo caí, não é figurativamente. Eu realmente cai, desfaleci fraca e inoperante. Batemos cabeça, mas não nos machucamos, ao menos eu. Ele ficou com um leve corte no lábio inferior, mas nada sério. Quando vi, minutos depois, fiquei ruborizada, mas logo fui acalmada com sorrisos e beijos calorosos.
Agora, consciente e ainda sorrindo tentando entender o que havia acontecido, eu ouvia ao longe o dedilhar suave das cordas angelicais de uma harpa. Talvez tenha sido um mero devaneio, mas sem duvidas muitas musicas foram tocadas nessa manhã de amor.
É uma pena eu ter te deixado aqui a mais de quinze anos, por conta da ideia de crescimento adulto. Porque será que voltei a escrever em você? Uma realização infantil, por conta de uma felicidade que perambula por sonhos? Ou um desejo adulto? Um destravar psicológico que me impedia de dar um passo na vida social?
O que lhe confio é dá mais alta estima e do mais profundo sentimento. Vou passar a escrever mais, mas por enquanto, deixo aqui essas datas.
O café da manhã glorioso que tomamos no dia 20 eu não vou escrever, porém, adorei quase botar fogo na cozinha da casa dele enquanto fazíamos amor sobre sua mesa de mármore.

O QUE NOS FALTA ...🔞Where stories live. Discover now