FEVEREIRO E A NOVA ROTA A SEGUIR

215 7 0
                                    

Fevereiro chegou com tudo para Toni. De um lado a bomba da revelação do distanciamento de sua "ficante" Carina. Do outro, notícias espetaculares sobre o futuro acadêmico.
Com o passar dos dias, percebeu a evidente resposta que não precisava falar nada a Carina. Já que a mesma simplesmente o ignorou. Não fez questão de ir falar com ele sobre a volta com o ex, não disse que não queria mais ficar com ele, não teve o mínimo de consideração por sua pessoa. Mesmo tendo a certeza que foi abandonado, Toni ainda tinha uma fagulha em seu peito a cerca da bela moça de cabelos encaracolados e olhos claros. Mas a cada hora, dia, noite, semana... A certeza batia mais em sua cara com mãos de ferro.
Toni não tinha amigos pelo bairro para conversar, falar sobre a vida, jogar conversa fora. Alguns antigos colegas chegaram a chama-lo para sair, mas ele perdera a vontade. Na manhã que resolveu que sairia para espairecer, andar por qualquer lugar, praia talvez, shopping talvez, talvez qualquer talvez... nesta manhã, antes de abrir totalmente o portão de sua casa, viu Carina passando com o seu namorado. Toni não viu bem a sua face, mas viu que ele era mais alto do que ele, cabelos loiros, corpo atlético - tinha que ter corpo atlético. O casal sorria e transparecia estarem apaixonados. Toni se lembrou da noite de ano novo, em que viu aquele sorriso lindo se virando para ele, segurando seu rosto, seus lábios numa reciproca, seu toque sutil em seu ombro, depois costas, braços... Ela também parecia que o amava naquela noite, mas, talvez, fosse apenas o esplendor dos fogos lhe enganando e mostrando um universo estrelado que não lhe pertence.
De mau estar, Toni fechou o portão e foi para o seu quarto. Teve certeza que Carina o viu de soslaio e que fingiu não o ver, mas, o que isso importa agora? Ela está com outro, ou melhor, o de outrora. Ele foi apenas uma noite feliz, um carinha que ela arranjou para passar o tempo, passar a noite de ano novo mostrando para todos da festa que podia ter quem quisesse, a hora que quisesse. Era isso, ele foi um brinquedo descartável. E agora, está em seu devido lugar.
Mesmo sendo bom em raciocínio lógico e sabendo das questões que envolvem Carina, Toni não conseguia tirá-la da mente ou resolver uma equação como faz com os livros. Jogado em sua cama, não pôde evitar que uma lágrima caísse de suas pálpebras e esquentasse a sua face.
- Nunca mais.
Com os pensamentos perambulando por universos vis, Toni não conseguia pensar em positividades para com a vida amorosa, então tomou a única decisão que o tiraria desse desconforto amoroso: Iria se focar na sua vida acadêmica. Não seria simples enxugar as lágrimas e enfiar a cara nos livros, como pensou. Passou-se três semanas até conseguir pegar o primeiro livro e não se perder nos olhos vibrantes de Carina lhe convidando em devaneios. Por muitas vezes, se pegava olhando o mesmo paragrafo sem entender uma palavra. Demorou, mas conseguiu entender que essa seria a melhor fuga deste vendaval de nome e endereço fixo.
Já na primeira semana, duas cartas para faculdades privadas, indicação da sua ex-escola e, por conta da sua ótima nota do ENEM no inicio do ano passado, que por pouco não foi de 100%, conseguiu ser aprovado em todas as faculdades públicas. Seria cem por cento de aproveitamento se ele não tivesse se distraído pensando nas ofensas que recebia gratuitamente na escola, por conta disso, se distraiu com uma pergunta de matemática que fazia a analogia a contagem de macacos numa questão lógica. Acabou se recordando do dia em que chegou na sala de aula e encontrou escrito na mesa: "Menino macaco ou menino nerd, fica a dúvida". Noutro dia recebeu uma carta com milhares de apelidos escrito por muitos alunos, dentre eles, o mais ofensivo ou perigoso: "Cuidado macaquinho, sabemos por onde anda, em breve voltará para o tronco." Toni gelou ao receber o bilhete. Pensou em mostrar para sua professora de matemática, mas olhou bem para seus cabelos lisos, sua pele branca como neve, seus olhos azuis como o céu... Melhor não, e se ela também tiver escrito algo? Essa letra se parece com a dela.
A dor e o medo habitam a mente do rapaz. Como pensar no ensino, quando o medo é real, está sentado do seu lado, e pode te surrar com o apoio da lei?
Apesar das portas se abrindo em território nacional, Toni estava indisposto a permanecer estudando em um país onde o ensino público dificultou o seu crescimento mental com a escassez no setor - claro que também queria escapar das artimanhas do amor. Sua mente e coração ainda não estavam completamente livres da paixão de um dia da sua vizinha, e ir-se para outro país, sem dúvidas, iria ajudar nessa trajetória de descobertas.
Decidiu que, enfim, exercitaria o seu inglês, na intenção de uma bolsa de estudos em alguma grande faculdade americana. Toni nunca falou com alguém outro dialeto, ou se quer praticou, mas agora, com o foco no futuro, resolveu que faria jus ao dinheiro investido por seus pais. O curso de inglês era a única coisa que sua mãe fazia questão de pagar sem a ajuda do seu pai. Ela dizia que fazia questão de pagar por isso, pois um dia ele iria precisar.
- Se você não escolher nenhuma faculdade, pode ser tradutor. Se passar por alguma dificuldade financeira, pode trabalhar em muitos setores. Falar inglês fluente é um diferencial em qualquer profissão...
Até então, Toni não enxergava esse caminho que a sua mãe dizia para ele traçar, mas agora, agradece cada palavra que ela proferiu. Talvez não fosse pelos motivos que ela profetizou, mas de certo, era por um motivo que resolveria dois problemas ao mesmo tempo: seu futuro acadêmico e a sua segunda decepção amorosa.
E assim foi o mês de fevereiro e março: estudos online - inglês, física, matemática, cultura inglesa... e tudo que o ajudasse. Fez muitas pesquisas de provas que auxiliavam os brasileiros que buscavam o futuro nas famosas faculdades americanas. Com menos de dois meses e um foco absoluto, Toni já era um expert nas provas americanas.
Ângela nunca foi o tipo de mãe que senta ao lado do filho e pergunta sobre as coisas de sua vida. Eram raros os momentos que fazia isso e quando Toni se afastou para o mundo dos livros, ela chegou a ter um alívio por não saber lidar com as preocupações adolescentes, mas também por, ultimamente, não estar assídua em sua residência. Nos primeiros dias, perguntou sobre Carina, mas Toni só dizia que não queria falar sobre. Respeitando, deixou de lado e só perguntava sobre os estudos, e Toni respondia que estava bem e que não precisava de nada.

O QUE NOS FALTA ...🔞Where stories live. Discover now