O SUSTO E AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE PESSOAS DISTINTAS

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Ir mais cedo, conhecer e falar com as pessoas se enturmar??? Quem sabe não é uma boa ideia, assim, sem mais nem menos, várias amizades podem surgir, correto? Seria, se fosse uma pessoa extrovertida. Esses pensamentos estavam fazendo a cabeça do jovem Toni entrar em combustão, junto com outros bem negativos: mas e se ninguém gostar de mim? Será como meu ano no ensino médio? E a Carina, ela é linda. E se ela me achar um cara estranho, anormal...
Indagações arrepiantes para qualquer adolescente que acabara de conhecer uma garota bonita e seus amigos descolados.
Já na festa, com uma circular vasilha de plástico maior que suas mãos juntas, Toni chega ao salão. Nervoso, com um frio suor percorrendo ao lado dos olhos, ele procura por Carina ou sua prima Gisele. Para sua surpresa, quem ele encontra, ou melhor, encontra ele, é Jon, o namorado de Gisele. Jon é um cara alto, boa pinta, corpo de atleta. Tem um jeito curioso de se comportar: ora é amável, gentil e conversativo; ora é grosseiro, antipático e nada amigável. Toni, ao vê-lo sorrindo e indo em sua direção, pensou que ele faria alguma chacota ou o desmoralizá-lo-ia perante os seus amigos, no entanto, foi simpático e o tratou como se fossem amigos a anos.
- Olha ele aiii... A Gi me falou que você é o convidado da Carina. - Toni levantou as sobrancelhas e fez uma careta ao sentir o jovem pôr seu braço em seu ombro - Meu nome é Jon, na verdade, não exatamente Jon, mas odeio o meu nome de batismo, entãooo... Nada de perguntar.
O que perguntaria a um cara mais alto, pose de boxeador e simpatia de apresentador de programa da tarde de domingo? Ficou curioso para saber o nome do garoto, mas tudo que vinha a sua mente era o olhar desdenhoso do rapaz na semana do Natal. "Ele deve estar fingindo. Ou sendo sonso, ou é o bipolar mais estranho que conheço."
- E o que você trouxe para nossa humilde festinha?
Humilde festinha". Toni pensaria qualquer coisa, menos humilde. Era um salão de luxo maior que a necessidade da festa. Tinja muitos pisca-piscas, luzes por todo o lado, bancos e cadeiras aconchegantes com almofadinhas. As mesas eram todas de ferro, mas pintadas para parecerem de madeiras, assim como os bancos e cadeiras e todos os móveis e eletrodomésticos. De certo, o dono gosta da cor amadeirada, mas para um local aberto, ele foi inteligente em deixar apenas a cor, e não a madeira para pegar chuva. A parte fechada do salão parcial um pequeno castelo. Tinha uma única torre que, em seu tour com Toni, Jon explicou que os três andares de cima eram ocupados pela família de sua namorada e de sua prima Carina, já o primeiro andar, que também comportava uma garagem sem portas, era todo do salão de festas. Toni ficou deslumbrado com tudo. Se os móveis e eletrodomésticos tinha cores amadeiradas, em contrapartida, as pilastras eram pintadas com desenhos cinzas envelhecidas. A beleza do lugar assimilava muito um castelo, mas, com apenas uma torre de telhados vermelhos. E era nesta parte fechada que ficavam os freezers, geladeiras, fogões, micro-ondas e qualquer coisa que uma festa precisa, tudo muito bem decorado e iluminado.
- E lá estão nossas garotas. - Nossas garotas? Então ele já é alguma coisa da Carina? Ela falou dele para todos? - Você logo será parte da família. Vai adorar. No meio do ano, nas férias, a família da Gi vai para o interior do Rio, Araruama, conhece? Pois então, quem está com suas filhas, é também da família e, se quiser, pode ir nessa viagem. Cara, é muito bom. Comida e bebida arregado e o melhor, perto de uma praia, semideserto. Vai adorar.
Toni ainda não estava acreditando nesse guia turístico que não parava de falar. Jamais pensou que ele era assim. Talvez foi hostil na primeira vez por não o conhecer, ou quem sabe só estava com ciúmes de Gisele. Agora que sabe que sua intenção é Carina, relaxou.
- Olha quem eu encontrei perdido na entrada? - Jon dá um leve empurrão em Toni, que sorri acanhado, enquanto Carina abre bem sua boca em um sorriso e palavras de boas vindas. - O garoto trouxe rabanadas, não creio nisso. É o que sempre dá briga, é claro, quando tem. E estão quentinhas, eu conferi. Podem ver. Até dei uma beliscada em uma. Mas fiquem tranquilas meninas, foi a menor da vasilha.
Na verdade, não só foi uma grande, como foram duas rabanadas, mas Toni preferiu omitir esse fato.
- Tá bonitão, hein! Meu namorado falastrão não te apresentou nenhuma menina, não é?
- Que isso, amor! Eu jamais faria isso.
- Quem não te conhece que te compre Jona...
- Olhaaa... nada de pegar pesado.
- Ok, vamos, deixem eles conversarem. Você fala muito quando bebe.
- Euuu... Você me difama minha flor do campo silvestre.
- Nossa, que cafona.
Até que o casal falado se afaste de vez, Carina e Toni se encaram.
- Que bom que veio. Pensei que ficaria com vergonha, por não conhecer ninguém.
- Não vou mentir: quando cheguei na entrada e não vi nenhum rosto conhecido, eu estremeci - ambos riram -, mas... seu... seria cunhado, ou primo, amigo...
- Ah, nem eu sei. Ele passa tanto tempo com a minha família, que acho que na verdade é meu irmão mais velho, mas com cabeça de vento.
- Ele parece um cara legal.
- Bom - faz uma careta serrando os olhos e um bico com os lábios que, involuntariamente, Toni acha lindo - ele não é um cara ruim.
- Aqui, onde ponho...
- O quê?
- As... rabanadas. Em qualquer lugar?
- Nem pensar. São raridades nessa festa de coisas prontas de adolescentes preguiçosos. Tem um armário de vidro aqui nos fundos, reservado para raridades como essa. Só liberamos no final ou para os mais chegados como você.
As palavras de Carina o fizeram se sentir bem. Jon já estava tentando deixá-lo a vontade e em casa, mas ouvir de Carina que ele era "mais chegado", o deixou, finalmente, com uma respiração mais suave. A sensação de aceitação o confortou. Carina o guiou até o tal armário. Era um armário de paredes com as portas de vidro. Ela tirou uma chave bolso e destrancou. Lá havia um bolo de chocolate, ela disse ter sido feito por sua prima, que em sua relação estranha e melosa, fez para agradar a Jon. Também uma torta que ela tirou e pôs em seguida no freezer ao lado.
- Esse pequeno freezer é a melhor coisa daqui, mas ele gela muito. Não posso deixar uma torta aqui por muito tempo, se não congela.
- E porque não põe na geladeira?
- Pela mesma razão da sua rabanada. Esse canto aqui, todos já sabem que é mais para a família. Poucos ficam aqui, olha só ao redor.
E era verdade. Toni olhou e não tinha ninguém por ali. Mesmo com a festa cheia, era notável as pessoas que evitavam àquela área. Tudo bem organizado.
- Não pense que somos esnobes. Isso começou por conta de uns dois réveillons passados. Todo ano as mesas eram juntas, freezers compartilhados... Mas em 2019 foi o pior final de ano. Não vou dizer que tudo sempre foi mega organizado, até por quê, éramos mais novos e, tenho que confessar houve uns anos com meus pais e os pais da Gisele, que trouxeram amigos - nossa, tedioso! Mas com o tempo fomos nos organizando e melhorando a credibilidade com os "adultos". Como ia dizendo, 2019 foi o ano do caos. Era o segundo ano sem nossos pais - Acho que o primeiro só deu certo, porque todos queriam liberdade -. Antes da meia noite, ou melhor, assim que cada comida ou bebida chegava, todos avançavam, comiam e bebiam tudo sem deixar para o próximo. Cara, eu não comi nada nesse dia, só belisquei um pastel, e nem era dos melhores. Então Gisele e eu mudamos as coisas. Já no momento de passar a lista, explicávamos a situação: que no canto da parede da garagem, haveria uma parte que somente família poderia mexer e, caso desrespeitassem, seriam banidos da festa.
Sei que é meio radical, mas foi a solução que arrumamos e deu certo. Tão certo, que no ano seguinte a galera passou a comer com mais educação. Você não vai ver ninguém aqui avançando feito um animal na comida. Não por ser educado, mas por receio de ser taxado como um bicho faminto e sem educação.
Toni procurava entender àquela história, mas ainda tinha uma impressão curiosa. Ainda julgava exagero o veto, pois elas queriam tanto a liberdade dos adultos para uma festa livre de represálias, porém acabaram se tornando tão zelosas quanto seus pais. Até entendo, uma casa dessas em sua responsabilidade para ser cuidada, é um fardo pesado nas costas. Com esse consolo, preferiu guardar suas impressões para conversas consigo.

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