MARIA MARIA

452 10 0
                                    

— A minha filha será diferente de toda a família. Terá o primeiro e o segundo nome da mãe de Jesus. Em agradecimento o quanto rezei para que ela viesse ao mundo.
Essas foram as palavras de Solange Maria da Penha, mãe de Maria, mãe de Luna, quando soube que teria uma filha.
Maria foi o orgulho da família. Solange já havia perdido as esperanças de ter um filho. Estava com mais de cinquenta anos, seu marido lhe apoiava, no entanto, também tinha o sonho de ter filhos e, sobre o sol quente da roça em que trabalhava, contemplava um devaneio lindo em que a sua família se mudaria para o Rio de Janeiro, deixariam de trabalhar capinando o dia todo e viveriam felizes em empregos dignos. Euzébio era um homem duro de sentimentos, a única pessoa que conhecia a malemolência espiritual deste homem era Solange. Para ela, ele conseguia deixar o seu lado Nordestino grosseiro de lado, mas até para ela, ele estava ficando áspero. Euzébio jamais foi agressivo com sua esposa, mas passou a ficar distante, com falsos sorrisos e um olhar tristonho. Seus sonhos estavam ficando longe.
Tudo mudou quando, em uma tarde quente, comum na região, ele chegou para o almoço e encontrou a sua esposa desmaiada na sala. De antemão, foi um desespero. Euzébio ficou desnorteado, colocou a sua esposa em sua carroça para levá-la para o hospital, que ficava longe, na cidade. Mas assim que a pôs na sua velha companheira de trabalho de carga, Solange despertou e lhe disse que não precisava se preocupar, que era um enjoo bobo.
— Zé, nossa vida vai mudar, não precisa ficar assim.
— Sim, mulher! Vai mudar pra pior se não te levar para...
— Estou grávida.
As palavras de Solange lhe deixaram confuso, contente e ainda mais preocupado. Após alguns segundos refletindo, ele recobrou a consciência, a beijou, mas no dia seguinte insistiu que fosse com ele no hospital. Lá tiveram a certeza que suas preces haviam sido atendidas, e um bebê estaria chegando.
Nos dias que seguiram, a casa da Família Penha ficava cheia dos familiares de ambos. Todo dia tinha uma tia, um tio, prima, primo... todos iam dar felicitações ou cuidar de Solange. Solange estava com uma idade avançada para ter filhos e o próprio médico havia deixado instruções para que ela não fizesse esforço, então, por isso, passou a ser mimada como criança. Afinal, era a única  mulher dentre as duas famílias que não tinha filhos; diferente de todas as outras que tinham no mínimo três filhos.
Solange, desde os onze anos de idade, trabalhava com a família na roça para ajudar no sustento, não sabia o que era ser mimada. O mais perto que chegou disso, foi com Euzébio, mas mesmo assim lhe preparava o almoço, arrumava a casa, ia ao mercado... fazia todos os afazeres de uma dona de casa e, até algumas vezes procurava ajudá-lo com a carga de grãos ou algum frete que seu marido fazia. Mas agora, ela estava impedida, por duas famílias, de fazer qualquer esforço físico.
Foi difícil para Solange aceitar esse mimo, se sentia uma inválida. Por vezes levava esporro da irmã por querer varrer o chão, tirar o pó... Todavia, com o passar dos meses, foi se acostumando a ser tratada como rainha.
Euzébio aproveitou que não precisava se preocupar com sua esposa, inclusive com comidas que até os vizinhos enviavam, e começou a juntar o dinheiro para completar o seu sonho.
Oito meses se passaram. Apesar de todos os cuidados, a pequena Maria chegou ao mundo um mês antes do previsto. O parto se iniciou dentro de casa, por tia Josefa, uma das senhorinhas parteiras da família Penha, e finalizou no hospital no Centro da pequena cidade. Apesar do susto, correu tudo bem e Maria Maria da Penha nasceu saudável.
O trabalho triplicado de Euzébio deu frutos além do que ele esperava. Por sua gravidez ser algo comemorado em toda cidade,  todos lhe davam os trabalhos que ele podia aguentar. Euzébio, esperou que sua mulher se recuperasse e sua filha pudesse dar os primeiros passos, então se mudaram para uma comunidade no Rio de Janeiro. Os primeiros meses foram difíceis por conta da adaptação, mas Euzébio jamais fugira de trabalho, então fazia qualquer coisa que lhe desse o necessário para alimentar a sua família. Após três, para quatro meses, ele conseguiu emprego de faxineiro. Solange esperou Maria completar doze anos e, quando sentiu que ela poderia ficar sozinha em casa, ela também foi trabalhar nesta empresa com o marido. Com ambos trabalhando, voltaram a juntar dinheiro para conseguir uma casa, que não fosse  um barraco de madeira, ou quem sabe reformar onde residiam.
Apesar da falta de tempo, Solange e Euzébio nunca perderam o hábito de rezar e orar por sua família. Nisso, a igreja aos domingos era uma obrigação e devoção necessária para a prosperidade.
A pequena Maria Maria foi uma filha bem difícil de se cuidar, ela, até os onze anos, dava muito trabalho, se machucava atoa correndo pelo morro, becos e vielas com as brincadeiras com as outras crianças. Maria Maria tinha um sorriso estonteante e simpático que deixava os seus pais amolecidos, impedindo de lhes darem uma bronca por algo que ela quebrara dentro de casa, uma briga com meninos na escola, e tentativas de fugir das missas de domingo.
Enfim, chegou os quinze anos da Maria Maria. Euzébio e Solange fizeram uma festa que chamaram quase toda a comunidade. Nunca foi visto algo tão grande de um morador deste bairro. Eles alugaram o melhor salão do bairro, pagaram o melhor bufê e deram a sua filha um cartão para fazer compras no shopping. Foi tudo mágico para toda a família, que a essa altura, já havia transformado o seu barraco de madeira em uma casa de tijolos.
A festa começou às 20h da noite e acabou às cinco horas da manhã. Todos foram para suas casas bem satisfeitos e ficaram semanas, meses falando da grande festa da família Penha. Nesta manhã, ou melhor, madrugada, uma das amigas de Maria pediu que dormisse em sua casa, pois morava longe e queria, no dia seguinte, ir a praia com ela. Solange e Euzébio concordaram. Na tarde seguinte, Solange foi chamar as meninas para o almoço, pois o café não foi servido por conta da festa. Ao chegar no quarto, Solange se assustou com a imagem que vira. Ambas as meninas estava nuas e abraçadas na cama. Solange pasmou-se com a cena libidinosa, saiu do quarto e retornou minutos depois. Bateu na porta para alerta-las e não comentou o que havia visto.
Os dias passaram, mas Solange não tirara a imagem de sua filha nua com sua amiga da cabeça. Então, levou a filha a igreja em um domingo a noite para conversar com o padre. Questionando o porquê, Maria não queria ir a igreja, e menos ainda falar com o padre. Solange não se segurou, disse o que vira, brigou com sua filha e disse que aquilo era pecado. Que ela iria sim falar com o padre e se ela recusasse, iriam se mudar para outro bairro e até cidade e ela jamais iria rever sua "amiga".
O que Solange não havia dito a filha neste dia, é que já estavam prontos para se mudarem e que a conversa com o padre era apenas uma benção e confissão dos pecados. Pois seu pai já sabia do ocorrido e concordou com a esposa.
Na igreja, o padre pediu que deixasse a menina com ele no confessionário. Solange assentiu e ficou distante, rezando. Apar de tudo, o padre também tinha seus planos para Maria Maria.
— Você quer se mudar, Maria?
— Não padre, eu não fiz nada demais, eu...
— A senhorita quer mentir na casa do senhor, menina?
Maria ficou tensa e confusa. Não queria mentir, mas também não queria se expor. Daí, o padre saiu de seu lugar, chamou a menina a sua cabine, disse que ela precisava mudar seus hábitos para ser salva, que já havia pensado na solução que salvaria ela desse mundo e não ia precisar se mudar. Maria ficou feliz ao saber que existia uma possibilidade de conseguir o que queria, mas não sabia o quão caro iria custar.
O padre pediu que Maria sentasse em seu colo para rezar. A menina hesitou, ele então ameaçou chamar sua mãe e iria dizer que ela estava tomada por uma força maligna. Maria sentou-se. O padre pediu que fechasse seus olhos e rezasse com ele e que tudo iria se ajeitar quando ela terminasse de pagar a sua penitência. Maria fez o que o padre pediu e durante a reza, ela sentiu algo crescer embaixo de sua popa e incomoda-la. Maria disse que queria ir embora, o padre repudiou, lhe dizendo que somente assim, e só ele poderia salvar sua alma da perdição e se ela fizesse algo, ia direto para o inferno. O padre começou a acariciar a menina, alegando que estava glorificando todo o seu corpo. Maria começou a chorar involuntariamente e compulsivamente. O padre pegou a mão da menina e a direcionou ao seu membro por de baixo da batina, enquanto beija-lhe o pescoço. O padre pediu que acelerasse e só iria para quando sentisse em suas mãos a glória que todos os homens tem dentro de si. Maria obedeceu, as lágrimas caiam, o padre lambuzava seu pescoço com sua língua, até que ele expeliu o líquido por debaixo da batina. Relaxou, disse que logo, logo ela estaria salva e que ia dar um jeito dela ficar no bairro. Antes de sair deixou um recado no ouvido da Maria Maria.
— Lembre-se minha filha: o que se confessa, fica no confessionário.
O padre deu um lenço a Maria, a fez lavar as mãos e o rosto com água benta e falou para chamar sua mãe. Maria, envergonhada e enojada, tentou obedecer, mas não conseguiu chamar a sua mãe. O padre notando a apreensão, foi chamar Solange. Quando Solange questionou a demora, o padre lhe disse que ele precisou rezar muito por ela e lhe deu um banho de água benta para purificar a sua alma pecaminosa, pecadora e repleta de impurezas mundanas. Em particular, aconselhou que não se mudassem, enquanto a menina não estivesse totalmente curada de sua "doença".
Em casa, Maria Maria pediu que sua mãe não a obrigasse a ir a igreja, que o padre estava querendo lhe fazer mal. Solange, não acreditou e disse que, caso insistisse em sua desobediência, iria, pela primeira vez, apanhar.
Com medo e vergonha, Maria Maria se afastou de sua amiga, passou a ler a bíblia e estuda-la mais que qualquer pessoa já lera. E também para nunca mais precisar ir ao confessionário com o padre. Maria Maria, nunca mais olhou para o padre, nunca mais questionou sua mãe, nunca mais chegou perto de outra mulher com segundas intenções e, dificilmente, sorria para as pessoas. A menina alegre que vivia correndo pela comunidade, brincando, se machucando, sorrindo... Foi se tornando uma mulher dura, devota, e com medo da maldade dos homens.

O QUE NOS FALTA ...🔞حيث تعيش القصص. اكتشف الآن