O MEL NÃO VEM DA LUA

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Cinco dias em uma casa com área grande e aberta em Campos, interior do estado do Rio de Janeiro. Dentre as coisas que Antônio conseguiu pagar sozinho, sem ajuda dos pais da Rosa ou mesmo de sua companheira, foi a semana em uma aconchegante casa em Campos. O lugar tinha um tom colonial, belo e recatado. A casa era distante do centro da cidade, mas tinha tudo que eles precisavam, inclusive, haviam levado, por precaução, comida para um mês inteiro. A residência, vista de longe, era uma daquelas famosas casas que parecem pequenas e humildes, mas ao chegar perto, nota-se um conforto e luxo invejável.
Não havia muros para separar o terreno da casa. Era um campo aberto, apesar da próxima residência estar a mais de cem metros de distância e na parte dos fundos da casa, entre o vasto terreno há grandes morros de reserva ambiental. O casal escolheu o lugar para ficar longe de tudo e todos. Não levaram celulares, computadores... Ambos se desligaram por completo de seus afazeres na cidade.
Olhando pela frente, a casa era comum: um estilo antigo com telhado colonial em uma fazenda sem plantações e alguns animais como vacas, cavalos, cachorros e galinhas perambulando pelo terreno. Um ou outro silvestre como lagartos, gaviões, corujas e outros também era possível ver pelas localidades. Tudo dava uma ambientação nada diferenciada. Assim a vista da verdadeira beleza do local ficava intacta na parte dos fundos. Algumas árvores e coqueiros impediam curiosos de ver um espaço de madeira maciça montado para os hospedados. Com cinco metros quadrados, o espaço parecia um palco, mas ao invés de ter uma parte alta, era da altura do solo. Nele, nas laterais, havia cadeiras de praia para tomar sol; na extremidade esquerda tinha um ofurô maior que o comum, com quase dois metros cúbicos, com água quente, fria e até sistema de hidromassagem. Fora do espaço de madeira tinha uma piscina com cinco por três metros. Todo o terreno tinha muitas árvores, alguns coqueiros, mangueiras e árvores não frutíferas. Mas a sensação do casal foi a árvore que ficava à direta da piscina, pois ela tinha uma casa da árvore. E para a alegria do casal, era uma casa construída para adultos, com uma cama de solteirão, apenas uma luz no teto, e muitos livros nas estantes adornadas por galhos. Já a lateral esquerda da piscina tinha um balanço com o assento de pneu. Toda essa beleza foi guardada no único acessório levado pelo casal, uma máquina fotográfica.
Rosa adorou quando Antônio sugeriu o lugar, mas conseguiu convence-lo de que tinham que tirar algumas fotos, para mais tarde poderem guardar para mostrarem para seus filhos e netos. Antônio não só adorou, como ficou dias imaginando os filhos que teria com Rosa.
A noite no campo tem uma magia cinematográfica. Rosa e Antônio, em quase todos os dias na casa do interior, ficavam deitados olhando para o céu admirando as estrelas que, diferente da cidade, não havia o ar poluído e nuvens cinzentas. Não havia o excesso de luz escondendo a beleza da lua e o brilho das estrelas. Não havia a falação dos milhões de pessoas em seus bairros... Eram somente eles sentindo a pura e saborosa natureza lhes felicitar com seu carinho glorioso.
Deitados com uma almofada cada sobre suas cabeças, o casal vislumbrado com a lua cheia e as estrelas, conversavam a vontade ouvindo os grilos, corujas e até latidos. Antônio com uma sunga branca e Rosa com um biquini também branco. Haviam comprado para combinar com o clima de casamento.
– Eu sempre quis ter um relacionamento assim, mas tenho que admitir que já havia perdido as esperanças.
– Eu... sempre quis também, mas não sei se tinha perdido as esperanças. Eu achava que tinha isso, achava que não ser feliz era culpa minha, achava que meu relacionamento anterior era um trabalho meu, unicamente meu, fazê-lo dar certo, ser feliz... Na verdade, não tinha a noção do que é um relacionamento assim, como o nosso, natural. Eu tinha em mim que era obrigado a fazer ele dar certo. Que só dependia de mim para isso acontecer e, claro, se não estava dando certo, era porque eu estava fazendo alguma coisa de errado.
– Toninho, você é maravilhoso! Eu fico muito feliz em saber que posso te ver de verdade, a pessoa maravilhosa que é e se esforça, mesmo que não precise de tanto.
– É... me esforço demais. Eu... Não sei fazer diferente.
– Você precisa relaxar sabe. Essa casa pode ser isso para nós dois. Um momento de reflexão, de relaxar as nossas mentes. Não para esquecer de toda a vida que temos fora daqui. É um sonho tudo isso, falo da casa, e vai passar, mas podemos tirar proveito disso além da nossa lua de mel que está maravilhosa. E tenho que te dizer, tenho medo de uma coisa.
– Medo? De mim?
– Não, nunca. Acho que te amo tanto que nem consigo pensar em medo de você. Falo de outro medo. Você nunca se perguntou porque nunca brigamos?
– Já, uma vez. Me fiz essa pergunta no dia que te falei do Toni ir morar conosco. Você não pestanejou, não foi grossa. Pôs sua opinião com sensatez e disse que jamais ficaria entre mim e meu filho. E para melhorar, ainda disse que seríamos uma linda família. Bom, eu disse que depois disso, eu um homem feito, tendo um filho homem feito também, e você aceitou na boa e ainda sugeriu que seríamos uma linda família... Talvez não seja o maior motivo do mundo para brigas, mas com certeza isso seria um assunto para, no mínimo, uma discussão saudável. E não tivemos nada. Se tive medo nesse dia do dia em que brigássemos? Acho que sim, pois pensei se isso não fosse um acúmulo de problemas pessoais involuntários que, – faz um gesto com as mãos desenhando nas estrelas e uma voz de apresentador – num belo dia, viria a tona e jogássemos tudo na cara um do outro.
– Te entendo – pausa. Isso realmente foi algo que aceitei de boa, e fui sincera, adorei a ideia de uma família. Não sei se seria capaz de usar isso numa briga. É um golpe baixo com você e comigo; afinal, eu disse que estava tudo bem. Mas tenho medo de quando brigarmos vir uma explosão tão grande quanto o que sentimos um pelo o outro.
– Que tal a gente dizer que o que estamos fazendo agora é uma briga. Daí já temos uma para a coleção – sorri feito criança.
– Seu bobo! Assim não vale.
– Ih, porque não? Estamos falando muitas coisas, confere. Coisas divergentes, com relação ao nosso medo, confere, e não concordamos com tudo que estamos expondo, confere. Viu, pode ser uma briga.
– Mas não estamos gritando... – Antônio grita. – Seu louco – sorri envergonhada e num gesto involuntário olha para os lados, mesmo sabendo que estão sozinhos e distantes da vizinhança.
– Pronto, minha rainha. Agora é oficial, é uma briga.
– Eu te amo.
– Eu te amo.
– Mas ainda não brigamos.
– Quer brigar? – levanta-se – Vem, vem na mão. Te parto em duas.
– Fraco do jeito que você é? Duvidooo...
– Olha ela, então vem.
Rosa se levanta, finge dar um soco, Antônio cai sobre uma das cadeiras com as mãos no rosto e fingindo choro.
– Você é muita má. Acabou com o meu belo rosto.
– Ai, deixa eu fazer dar um beijo para sarar – beija sua bochecha direita. – Sarou? – Antônio balança a cabeça negando. – E agora – beija a outra bochecha. – E agora, sarou? – Ele nega.
– Acho que a dor é aqui – faz um bico com os lábios.
– Hummm... Parece que é mesmo. Estão bem inchados.
Se beijam, se tocam, se acariciam e fazem amor a luz do luar.

O QUE NOS FALTA ...🔞Where stories live. Discover now