DIOGO

351 7 0
                                    

Diogo Silas Duarino Gouveia. Apesar de ser de família renomada, nos tempos atuais, sua família vive mais de status, do que ganhos financeiros. A antiga fortuna da família foi levantada com tráfico de escravos, depois café e mão de obra barata, até definhar com investidas no mercado internacional. A família do adolescente começou com portugueses, espanhóis até obtiverem a sua identificação brasileira. Durante anos, para manterem a linhagem sanguínea, iniciaram o que chamaram de "preservação dos bons costumes de raça". Obrigado a posteridade a casar com primos e, dizem até que com irmãos. Foi assim por décadas. Já no século XX, uma parte da família se rebelou, dizendo ser um ato absurdo, atroz e antiquado querer manter um sangue puro, por conta de uma pele clara. A família no geral mantinha essa ideologia e, caso alguém se envolvessem com pessoas de outras famílias e tivessem filhos, eles jamais seriam levados a sério. Alguns nem poderiam levar o sobrenome. Se as proles fossem negras, asiáticas ou etnicamente fora do padrão europeu branco, era considerado bastardo. Sem direito a herança, sobrenome e, em casos grosseiros da época escravocrata, eram assassinados.
Todos da família ao completar quinze anos fica a par desta história bizarra através de livros, fotos e até objetos para aborto.
Com o tempo, os devotos a cultura cristã da família de escravocratas foi definhando, partes que não aceitavam sumiam do mapa, iam viver em outros lugares, estados, países... Parte da família do jovem Diogo é a favor e parte é contra. Seu pai é a parte a favor, tendo ele se casado com sua prima. Já seu tio, irmão de seu pai é contra, tendo casado com uma mulher branca, mas com leves feições asiáticas. Ambos são brancos quase rosados, todos os seus filhos são bem claros.
A ideia do pai do Diogo era casar o filho com uma de suas primas, que o rapaz quase não via, por conta da rincha dos irmãos. Diogo só veio a conhecer sua prima, que seria sua, segundo seu pai, sua esposa, quando tinha dezesseis anos. Mas foi por acaso. Essa rincha, por atravessar gerações, religiões e crenças misteriosas, parte da família que se desviava, não tinha a opção de levar nada que lembrasse a família. Então, com os nomes alterados, ficava difícil de saber onde encontrar seus entes.
Diogo encontrou uma de suas primas em um acampamento, chegaram a terem um pequeno romance, mas tudo bem inocente e infantil. Após o término do acampamento, eles nunca mais se viram, até chegaram a trocar telefones, mas não durou muito. Isso porquê Diogo encontrou uma foto de seu tio nas coisas do pai, quando foi procurar no quarto dele, uma jaqueta de couro marrom, que adorava desde criança, mas que nunca podia usar por seu tamanho infantil. A jaqueta e de aviador. Seu adorava contar uma história que seu bisavô serviu aos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e de lá, voltando como herói, deu de presente a jaqueta para seu avô, que passou para ele e futuramente seria de Diogo. A história tem um pouco de fantasia, pois ninguém de sua família foi mesmo para a guerra, na verdade, a força brasileira que foi convidada pelos EUA, era considerada expedicionária. Sem lutas, tiros ou mesmo atos heroicos. Para o pequeno Diogo, era tudo maravilhoso, e não queria saber da veracidade.
Neste ato infantil, encontrando no armário a foto do tio, ele se lembrou do homem que foi buscar a menina com quem se relacionara no acampamento de verão luxuoso para famílias ricas. Ele se recordou que cogitou a ideia do homem ser de sua família, por ser do mesmo tom de pele dele, mas nada que o indagasse tanto. Abismado, ficou sem saber o que fazer de seu flerte que se resumia, no momento, a chamadas telefônicas toda a tarde, depois das 17h, já tendo executado o trabalho escolar. No primeiro dia quis falar com a menina, explicar que eram primos e que isso não era legal. Depois se lembrou das histórias dos antigos e, principalmente, que estava destinado a uma prima que não conhecia. Ponderando por dias, Diogo parou de entender a ligação da menina, não ligou mais e, quando se deu conta, já havia passado meses. O tempo para explicação morrera com o seu segredo.
Diogo nunca levou a sério a ideia de ser obrigado a casar-se com uma prima, mesmo conhecendo algumas, tudo passava de brincadeiras de criança. Então, quando encontrou a sua prima que, deveria ser sua pretendente, se chocou com os devaneios do pai em dias de bebedeira. Ele, ao passar dos limites nas festas, falava alto e em bom som que o filho iria se casar com a filha do irmão mais novo. Isso nunca pareceu brincadeira, pensava confuso em seu quarto. Nem o seu pai sabia do acampamento ou a sua relação com a prima, mas ele, tinha algo maior a pôr em xeque: tinha certeza que gostava da menina, gostava ou amava esta pessoa que deixou de lado por medo; um receio estranho de uma história familiar.
Diogo conheceu e estudou com Cleiton desde o primário e a amizade dos dois parecia ser tão forte que nada, nem os laços famílias iriam estragar. Diogo já se viu discutindo inúmeras vezes com o pai, por ele ter um amigo de tom, antigo termo, pardo. Augustus, o pai, jamais teve amizades com pessoas de cor, todas de sua vida eram empregados ou nem isso. Diogo odiava quando o pai enfatizava sua opinião preconceituosa, mas evitava levar o amigo em sua residência para evitar problemas. Cleiton já frequentou três ou quatro vezes, mas todas no horário de trabalho do pai e implorando sua mãe que não dissesse nada. Se ela falou, ele não sabe, mas o pai nunca perguntou sobre isso.
Diogo viu a sua amizade abalada no dia que conheceu a nova aluna do terceiro ano. Quando a viu, foi um clima estranho, não se falaram, se entreolharam, ela o amaldiçoou em mente, ele pedia desculpas em sua cabeça e ambos nunca falaram do romance que tiveram no acampamento.
Até aí, tudo bem. Apenas ignorar e se fazer de bobo. No entanto, ela conheceu Cleiton e com apenas um mês de aula no primeiro ano, eles começaram a sair. Cleiton nunca se mostrou interessado, apaixonado ou algo do tipo. Para falar a verdade, ele não demonstrava nenhuma empolgação na relação. Ela o seguia, perseguia e espalhava que eram namorados. Quando Diogo enquadrou o amigo sobre a relação, ele só dizia que não se importava com esse "suposto namoro". Visto que relações podem atrapalhar seus planos futuros. Então, com ela, ele tinha o que todo homem quer em uma mulher e não precisa se preocupar com seus sentimentos. Diogo replicou dizendo que isso era maldade, pois ela não via dessa forma. Cleiton, decidido, apenas disse que então, caso ele estivesse realmente incomodado, que a tirasse do seu pé, pois já tentara, mas ela sempre volta. Com medo de se aproximar da menina, medo de perder o amigo e medo do passado, Diogo se calou e aceitou os fatos.

O QUE NOS FALTA ...🔞Where stories live. Discover now