AS PAREDES NÃO FALAM, CONVERSAM

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Aos gritos, gemidos e apertos na cabeça de Gilberto para continuar a dar o prazer dos pequenos e grandes lábios e, no sino clitorial entre a sua virilha, Ana berrou e estremeceu, indicando que a língua de seu companheiro havia dado-lhe o ápice do prazer.
- Nossa, cassete! Eu imaginei que, como um homem de trabalho braçal, fosse me dar prazer, mas... Ufa! Acho que preciso de uns minutos para tomar um ar.
Pondo a mão no pescoço e massageando, Gilberto procurou respirar tranquilamente e sentir a sua língua relaxar.
- Que bom que não decepcionei. Faz um tempo que... não... pratico.
Ainda ofegante, Ana procurou se recompor, bebeu o restante do suco de laranja e jogou-se na cama.
- Ah, duvido que tenha mais tempo do que eu. Mas você não parece um homem que procura outros meios de sentir prazer.
- Outros meios? Fala de masturbação?
As palavras de Gilberto não saiam em tom natural. Era como se ele se esforçasse a falar de um assunto desconhecido. Já Ana, falava com a naturalidade do respirar.
- Sim. Mas não apenas isso. Eu, por exemplo, tenho os meus brinquedos. Se não fosse a minha criatividade para me satisfazer... Caramba! Não sei como seria esses três anos.
- Três anos?! - A estupefação foi tanta, que Gilberto sentou na cama. Notando o seu ato grosseiro, se desculpou e deitou novamente e pensou sobre o caso de sua vida. - Apesar do meu espanto, tenho em mim que estou, indiretamente, nessa situação a dezoito anos.
- E como seria isso?
- Não quero falar disso agora. Resumindo, a pessoa na qual me refiro, é lésbica. Então, da parte dela, sempre foi fingimento.
- Nem sei o que... melhor, não tenho que dizer nada. A cabeça das pessoas, de cada pessoa tem a própria sentença. Talvez o motivo dela seja tão doloroso que não consiga expor pra você. E óbvio, não defendo lados, pra você também é doloroso.
- Mas e você: com toda certeza, pela sua vida, estar sozinha, sem sexo, é uma opção. Acertei?
- Eu posso dizer que sim. Descobri a beleza de não seguir o padrão retrógrado.
- Fala do casamento. Mas e o seu filho? Ele entende bem a sua escolha?
- É exatamente pelo meu filho que fiz essa escolha. André ainda não lida muito bem com essa história. Eu vejo em seus olhos, apesar de não dizer, que sente carência de pai. Mas ele sabe que a minha decisão de ficar só, é o melhor para ambos.
Eu conheci o pai dele quando era uma adolescente tola, cheia de sonhos e acreditando nessa coisa de príncipe encantando da Disney - e por isso era vulnerável a canalhas. Com quinze, quase dezesseis anos o conheci. Namoramos por um ano e meio. E era bom, diga-se de passagem! Minha mãe - que Deus a tenha - esforçava-se para lhe dar apreço, no entanto, todos sabiam que ela jamais iria gostar dele. Já o meu pai não escondia o seu desprezo por ele. Tudo isso começou devido o seu trabalho.
Ana soluçara um sorriso, depois continuou a sua história.
- Para lhe ser sincera, tudo indicava que ia dar errado. Mas, sabe como é: adolescente, primeiro amor, cara bonito, sorriso cativante... Eu era cega por ele. Não veria o óbvio, mesmo pintado em letras garrafais. Minha psicóloga vivia me dizendo para eu não ficar me julgando, julgando o passado. Mas é difícil. Sempre que conto essa história para alguém, acho, cada vez mais, uma história idiota. Um conto de fadas de pobre iludida.
Eu fazia um curso de artesanato no Centro da Cidade - um desses cursos sociais, com uma ajuda de custo. No caminho, tinha um trailer que vendia sucos, salgadinhos, doces, coisas assim. Era o point dos cursandos. E foi ali que eu o conheci - ah, preciso de um vinho para recontar esse caso póstumo.
- Não precisa contar se não quiser. Não tenho esse direito.
- Direito? Você é bem travado mesmo, hein! Eu quero falar. Cada vez que conto, me sinto mais livre desse passado distante. Acho que tenho na cozinha uma garrafa de vinho. Não gosto de tomar vinho sozinha. Engraçado, cerveja até consigo, mas vinho acho uma coisa romântica para dois. Que bom que ainda tenho algo de romântico! Vai, me acompanha, por favor!
Gilberto e bebida alcoólica, uma combinação que pouco se vê. No mesmo final de semana, ele tinha bebido uma quantidade de álcool que não bebera por anos. Olhar Ana pedir com carinho o amoleceu. Não queria, mas também não iria deixar que ela tomasse uma garrafa de vinho sozinha. Ana, nua e exuberante, foi calmamente desfilando até a cozinha. Encontrou dentro do armário não apenas uma, mas três garrafas de vinho tinto. Ela não lembrava porque a cada ida ao mercado ela comprava uma. Quando lembrou disso, ficou pensando que, talvez, tivesse até outras garrafas escondidas pela casa. Pegou, para acompanhar, o queijo branco, cortou em cubinhos, pôs no prato junto de uns palitos de dentes e levou para o quarto. Chegando lá explicou do vinho, Gilberto nada disse e estava sentado esperando, coberto por um lençol.
- Poxa, esqueci as taças. Pode pegar pra mim? Estão no armário a esquerda da porta da cozinha.
Gilberto se levantou e se enrolou no lençol florido da cama. Mas Ana puxou.
- Na-na-ni-na-não. Agora é a minha vez de te admirar.
Gilberto teve uma leve impressão de que ela não esquecera, mas sim, que deixou lá só para ele ir buscar nu. Ana tinha um jeito sensual e vulgar de fazer as coisas e, estranhamente, ela conseguia mesclar com uma sensibilidade apaixonante. Quando Gilberto retornou, Ana estava sentada de pernas abertas na cama, o prato com queijo entre as pernas e a garrafa estava na sua mão direita, a chave de vinho que pegara ao lado, de dentro da gaveta da mesinha de cabeceira, estava na mão esquerda. Sorrindo, ela indicou:
- Agora, que tal? Podemos continuar!
Gilberto ficou inoperante por uns instantes. Sem saber se andaria até a cama e serviria as taças, se ficava olhando essas pernas abertas, se olhava o queijo, se estava mesmo acordado... A confusão se acalmou quando, ao sentar ao lado dela, Ana deu inicio a sua história - não antes de fazer uma brincadeira.
- Era uma vez, uma menina doce e meiga que... haha... brincadeira. Às vezes acho que o seu senso de humor está meio serrado, assim como sua barba que eu adoro quando me espeta.
Realmente, senso de humor era raro em Gilberto, mesmo entendendo a brincadeira, o seu sorriso parecia sair com dificuldades. No pífio momento de descontração, Gilberto pegou a chave de vinho, abriu, serviu Ana e se serviu. Após um gole profundo de Ana, e um curto gole seu, ela voltou para seu conto trágico.
- Foi nesse trailer, um cubículo feito de metal pintado de um péssimo verde musgo sobre pneus gastos. Que eu conheci o canalha. Ele, um vendedor SUPER atencioso, simpático, conversativo e, para o meu delírio e das bobinhas adolescentes, muito bonito. Um tom de pele moreno, quase índio, cabelos bem aparados pretos lisos e oleosos - uma coisa só fica bem em homem, que davam um brilho charmoso. Ficamos semanas conversando, antes de ele me dobrar a fazer o que ele queria. Eu não tinha uma mente de mulher adulta, como para fazer charminho, nem sabia fazer isso, mas tinha um certo receio - afinal, ele era um desconhecido. Toda vez que ia lá, comendo ou não alguma coisa, sem grana ou até sem apetite, ele dava um jeitinho de me oferecer algo, nem que fosse uma bala. De um jeito bizarro, era como se eu fosse dependente daquilo. Dele, de sua gentileza, do seu carisma, de seus mimos alimentícios. Comecei a precisar ir lá. Já era quase final do meu curso, quando fiquei com ele atrás do trailer. - Ah, como eu era esperta! Não o beijei na frente do trailer, por conta das pessoas comendo, mas deixei-o me beijar atrás do trailer que dava saída para uma rua movimentada. - Se bem me lembro, até ouvi pessoas sorrindo, ou falando besteiras de "vai para o motel", ou "pega ela de jeito", e outras besteiras que homens babacas e machistas falam, pensando que é mega divertido. Mas eu, não liguei. Só me dei conta das frases depois, horas depois. Pois estava realmente apaixonada por àquele vendedor sorridente. Ele me conquistou bem antes do primeiro beijo, bem antes das nossas longas conversas na ida e volta do curso. Ele me conquistou por eu acreditar em príncipe encantado, que, a partir de um trabalho humilde, se mostra um cavalheiro dedicado a sua princesa. - Como eu já disse, eu era tola.
E ele sabia como lidar comigo. Creio que ele tinha experiência em ficar com adolescentes virgens. Pois era o homem mais gentil que conheci até hoje. Ele conseguiu me dar tudo de bom, no sentido de dias felizes. Nossa relação passou a se resumir em festas, praias, passeios turísticos... eu o amava, e ele me dizia o mesmo. Era fácil ser amada por ele, fácil ser amada por um homem que te trata como rainha. Era uma relação simples que, ao meu ver, fluiu naturalmente.
Chegou o dia eu falar dele para os meus pais, de explicar que estava com alguém, que estava namorando. Até este dia, ele era um amigo, um alguém que ia comigo para lugares, nada mais. Meus pais o julgaram na primeira instância: "O quê, um vendedor de salgadinhos?" Disse meu pai furioso quase pulando de sua poltrona favorita e esquecendo da sua hérnia de disco. "O que esse... garoto quer para o futuro? Ele é muito mais velho que você, eu posso denunciar por aliciar uma menor." O velho senhor Sidnei tinha razão. Se eu tivesse o ouvido, minha vida inteira seria outra. O cara era mais velho, não tanto. Eu, quase dezesseis, e ele quase vinte. - Bom, eu era menor de idade, e isso era um fato. Quase briguei com o meu pai neste dia, na verdade, briguei outros dias para manter a minha decisão. A minha mãe quis disfarçar com conversas mais amenas, mas também não gostou dele. Ela foi ao meu quarto, após a conversa na sala que virou um monólogo de perguntas e julgamentos do meu pai, e tentou me dar conselhos. Dizendo que eu era muito nova, que precisava pensar direito; que ele não parecia ser um homem respeitoso, que esse tipo gosta de iludir... Mas não adiantou. Além de eu tratar mal a minha mãe, quase fiquei sem falar com ela. Eu sou quase uma adulta, enfatizei para ela ao deixar meu quarto. - Mãe sabe das coisas, mas e daí, ninguém quer ouvir sermão! - E não sei se você entendeu, eu apenas falei dele neste dia, eles ainda não tinham visto ele.
Sorrindo ironicamente, Ana pegou a garrafa e se serviu, ia oferecer a Gilberto, mas notou que sua taça parecia não ter sido mexida.
- Ei, entendo que não é de beber. Mas vai me deixar beber sozinha?
Depois da declaração, Gilberto começou a beber regularmente. Quando se deu conta, tinham esvaziado a garrafa de vinho, sorrindo e brincando, ou melhor, sorrindo das brincadeiras de Ana, que estava mais descontraída que no churrasco. E a história ainda estava na ponta do iceberg. Gilberto já estava se sentindo um pouco mareado, mas Ana, apesar das brincadeiras, parecia estar bem. A bebida destravou o que ainda estava escondido, lhe revelando uma mulher feliz por falar do passado amargo e livre por reparti-lo com um, antes, desconhecido.

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