CAIXA DE PANDORA

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De pé, perante a um quarteto de olhares interrogatórios, Carla observa ao redor, sua porta atrás, o sol fervendo nos trinta graus cariocas com uma pergunta inquieta beirando sua mente: o que eles vieram fazer na minha casa?
Muara tocou o interfone, disse que queria falar com a amiga, que veio sem avisar porque era importante e não deu tempo de dar detalhes, mas não falou nada de estar acompanhada de outras pessoas. Sentindo o tempo parar, Carla ouviu se coração, seu estômago fazer sons estranhos, suas mãos gelarem e um sorriso forçado nascer em sua face.
– Muara, porque não disse que – olha diretamente para Luna, em seguida desvia o olhar para os demais – traria visitas? Eu não estou... com... bem vestida.
Fria, Luna não esconde a antipatia – Não se preocupe, não tomaremos o seu valioso tempo.
– Que nada! Não é isso. É que se eu soubesse prepararia alguma coisa para comer. – Olha para Wanderson, ele a encara com desdenho. – Querem entrar?
Ríspida – Queremos respostas.
– E qual seria as perguntas?
– Onde está o meu irmão?
– Como é?
– Você me ouviu – Wanderson segura a mão de Luna. – Você não é surda, eu acho.
– Luna, calma. – Fala baixo no ouvido da vizinha. – Não é assim que iremos resolver as...
– Resolver o quê? Olha para ela, olha a cara de sínica, acha mesmo que gentileza resolverá alguma coisa?
– Eiii... eu estou aqui. Estou ouvindo o que estão dizendo.
– E quem disse que não é para ouvir?
– Luna, eu... – André tenta um apartar – não sei o que estamos fazendo aqui, mas grosseria não vai resolver...
– O quê? Não sabe o que estamos fazendo aqui? Você tá de gozação? Por favor, não dirija a palavra a mim. Você é passivo demais.
Muara olha André e ironiza – Também tô começando a achar isso?
– Não sei porque estão na minha casa, mas vejo que estão alterados. Bom, voltem quando se sentirem mais... calmos.
– Ah, você não vai embora mesmo.
– Embora, eu? Menina, eu estou na minha casa. Vocês que precisam ir.
– Onde está o meu irmão?
– Pelo que vi na televisão, ele sumiu. Sumiu e ninguém sabe. Porque eu saberia?
– Ele veio aqui, não veio?
– Ah, você fala alto, garoto estranho?!
– Quando necessário até grito, principalmente com uma "pessoa" de sua laia.
– Sinto um rancor em você?
– Precisa sentir outra coisa – fecha os punhos.
– Gente, por favor eu...
Luna e Muara em uníssono – Cala a boca André.
A tensão estava formada. Wanderson e Luna estavam de punhos cerrados. Muara discutia baixo com André que tentava se esquivar afirmando não entender o porque ela estava tão enraivecida. Aproveitando a cena, Carla estava se preparando para fechar o portão na cara do quarteto, quando Luna precipitou-se e pôs o pé na entrada do portão, enquanto Wanderson segurou o mesmo.
– Eu já disse. Você não vai embora. Não vai se safar dessa assim tão fácil.
– Me safar? Do que você está falando? Seu irmão sumiu. Você tá procurando alguém para culpar por isso, e eu, sou o seu bode expiatório.
– Com certeza você é um animal – disse Wanderson já empurrando o portão, – mas com toda certeza não é um bode.
– Carla, nós só queremos saber quando foi a última vez que viu o Cleiton, só isso.
– Muara, eu não sei porque trouxe essa gente aqui. Eu não sei de nada. Fiquei chocada quando soube que ele desapareceu, ele me parecia ótimo quando pegou... quando vi pela última vez.
– Então ele veio mesmo aqui, não foi? Sei disso porque eu o aconselhei a vir falar com você. E pensar que eu, eu, fui a pessoa que aconselhou ele a ser gentil e sincero com você. Uma pessoa desprezível.
– Desprezível? Você sabe falar difícil garotinho estranho! Eu não disse nada. Estão ouvindo demais. Só disse que nos vimos uma última vez, só isso. Vai me dizer que não o viram alguma vez na vida? Então é isso.
– Não, não e não. Meu irmão veio aqui antes de sumir. Tudo indica que a sua casa foi o último lugar que ele pisou antes de evaporar. Você sabe onde ele foi, ou onde ele está? – Segura o pescoço de Carla – Me responde sua vaca.
– Me solta criança histérica. – Tira o braço da menina raivosa e tenta novamente fechar o portão, mas Wanderson e Muara não permitem. – Vocês estão querendo invadir a minha casa, vou chamar a polícia.
– Que bom, que bom... Vou adorar dizer para eles o porquê estamos aqui. Que você é suspeita do sumiço do meu irmão. Que está nervosa e não quer que vejamos sua casa. Que está com medo de responder quando o viu.
– Está me acusando? Você só pode estar louca. Eu era namorada do Cleiton...
– Era?
– Era sim, criança, pois ele sumiu, não foi? Eu gostava muito dele. Ele veio aqui sim. É isso que querem saber? Ele veio, pegou as coisas dele e foi embora, fim da história.
– E para onde foi?
– Não vou te responder nada coisa...
– Responde a pergunta dele.
– Eu não sei de nada, nada. Ele só foi embora. E como eu disse, "fim".
A confusão teria continuado e com certeza seria bem mais que um aperto no pescoço, mas a mãe da jovem loira veio ao portão. Luna tentou explicar o que estava acontecendo, mas estava muito nervosa. Muara tomou a frente e explicou. Mas ela não quis saber e pediu aos jovens que se retirassem de sua casa, que eles estavam sendo indigestos e não deviam acusar uma pessoa sem provas.
– É verdade – falou Luna, – Não temos provas. Mas com as informações e ações de sua filha, teremos ao menos uma nova investigação da policia. Sua filha foi ótima. Fez o papel da menina nervosa com uma simples pergunta que enrolou para responder. Agora saber que ela sabe de alguma coisa. E se eu não consegui respostas, a policia irá.
Luna e os outros se retiraram, mas não antes de ouvir umas palavras de baixo escalão de Carla que, inutilmente era silenciada por sua mãe. Luna não saiu feliz, mas saiu satisfeita. Pela primeira vez desde o desaparecimento do seu irmão ela teve uma fagulha de esperança. Não sabia se ele estava vivo, se estava bem, ou mesmo onde estava, mas tinha certeza que Carla sabia de alguma coisa. A sua reação negativa e apreensão ao verem eles ficaram gravadas na sua mente.
– Obrigada pelo apoio gente.
– E onde vamos agora? – Perguntou Wanderson com um olhar similar ao de Luna. Havia gana em seus olhos e uma satisfação triunfante por poder encarar a pessoa que se fez inimiga desde o passeio a praia.
– Eu... – Luna olha os três apoiadores. Sente que já fizeram demais e se prepara para dizer que não precisavam mais ajudar.
– Não pensei em nos dispensar. – Muara para e se põe a sua frente – Estamos com você agora mais do que nunca.
– Luna, eu... me desculpe se não ajudei em nada. Eu, só... não estava entendendo o que estava acontecendo. Ela era namorada do Cleiton, parecia normal pra mim...
– Não preocupe. Eu entendo você, e também entendi a reação dela. Havia medo nos olhos dela, disfarçado de deboche. Apesar de gostar muito da Joana, uma amiga que tenho, ela faz o mesmo olhar e usa o deboche quando fica com medo de algo ou não quer assumir uma mentira. Ela sabe de alguma coisa, disso tenho certeza.
Wanderson segura em suas mãos – Estou com você Luna. – Olha para trás, estão distantes da casa da Carla. – Ela sabe de alguma coisa. Estamos juntos nessa.
– Quando ela abriu o portão veio muito mais do que vimos.
– Caixa de Pandora! – Exclama Wanderson.
– O quê?
– Caixa de Pandora. Ela, quando abriu o portão, jogou pragas sobre ela.
– Mas, – acrescenta André – a Caixa de Pandora leva praga para todos.
– É... – Luna pensa alto – Infelizmente é o que temos. O desaparecimento do meu irmão é o que saiu daquela caixa. Mas podemos dar um jeito nessa pessoa que jogou essa praga.
– Vocês estão parecendo índios. Estão falando com enigmas e deuses antigos.
– Pandora não era deusa. – Concluiu Luna. – era uma curiosa que fez merda. – olha para a casa da loira.

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