BIANCA

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Bianca Sodré Carvalhal, ou como prefere artisticamente, Bia Carvalhal. Nascida e crescida na Zona Oeste do Rio de Janeiro, moradora do bairro Bangu. Bianca é passista da escola de Samba Mocidade Independentemente de Padre Miguel. Apesar do seu histórico familiar no samba, Bia Carvalhal tem planos diferentes para sua vida. A menina odeia ser taxada como mais um corpo. Parte de sua família não se importa em estar sempre nos destaques das revistas do bairro e em entrevistas, como musas do verão, revistas fitness e programas de tevê que exaltam o corpo feminino.
Bianca cresceu com uma mente diferente do tempo da família. Samba como ninguém, foi destaque mirim na escola de samba com apenas oito anos, é carismática e sorridente, mas, em contraste a isso, é vista como estressada e explosiva.
Bianca se auto denomina carinhosa e segura de si; já os outros, a consideram gostosa e louca estressada. Bianca tem sonhos distantes ao samba. Quer ser atriz ou advogada. Atriz por seu amor ao teatro, isso desde a escola, quando fez a primavera peça. E advogada para lutar por seus direitos.
Como todas as mulheres da família de sua mãe, Bia tem o seu corpo muito desenvolvido desde os doze anos. O que faz aparentar, com quinze anos, ter uns vinte. Bianca ama seu corpo, não é de regular o que comer é natural a firmeza de sua física. No entanto, com isso, vem o lado negativo.
Estar em uma escola de samba, também significa estar em contato com sua ancestralidade. Foi na escola que conheceu grande parte de sua história esquecida no tempo e conheceu uma expressão que, com treze anos, nunca tirou da mente. Em um dos enredos da escola, saiu a frase: PRERA EXPORTAÇÃO. Que foi, pejorativamente, criado e destinado as escravas. Mulheres eram vendidas como domésticas, babás e até prostitutas se tivessem o corpo saudável e, principalmente, com as jovens, não tivessem o seu corpo violado pelo desvirginar, filhos e estupros. Essas mulheres, escravizadas eram tratadas como meros objetos de prazer para a casa grande.
O passar do tempo mexia com a mente da jovem Bianca. Pois tinha um impasse: ela amava o Carnaval, o samba, o seu corpo; mas também sabia que isso aumentava e distribuía a pejorativa frase de tempos ignorantes. Estar na escola de samba com roupas hiper-sexualizadas era, para a sociedade errônea, ser uma PRETA EXPORTAÇÃO. Pois ela jamais seria associada a uma mulher inteligente, ou pessoa inteligente. Estar ali era estar feliz, bem consigo mesma; e também ser alvo de olhares pecaminosos que ligam o seu corpo e prostituição.
O apelido de "gostosa e explosiva", pegou porque diversas vezes ela discutiu com alguns homens que queriam bem mais que a ver sambar. Constantemente, alguns lhe faziam propostas indecentes, queriam dançar com ela esfregando sua genitália em seu glúteo e, o que mais acontecia, homens mais velhos lhe ofereciam dinheiro para morar com eles, até casar. Nenhum deles se importava com a sua idade, ou melhor, com a falta de idade. Essas investidas aconteciam desde os seus doze anos, época em que seu corpo começou a se desenvolver. Agora, com quinze anos, pouco acontece, já que a sua fama afastou muitos desses repugnantes pedófilos. Os poucos que fazem, são àqueles que vão a alguma festa no galpão da escola de samba.
Desde nova Bia Carvalhal teve que aprender a se defender sozinha. Pois sua família não tratava com tanta gravidade essa situação. Lhe diziam que isso era normal e cultural, que ela, gentil, tinha que sorrir e dizer não com carisma — coisa que ela nunca fez.
A repudia de Bianca a afastava de amizades ou qualquer relação com o sexo oposto. Já com quatorze anos, Bianca descobriu que era lésbica, mas não tem coragem de expor isso a sua família. Talvez por medo da reação de sua mãe, receio do seu pai descontrolar, ou suas três irmãs e irmão julgarem sua escolha. Sua família nunca demonstrou estar aberta para isso. Ela tem primos gays, mas não os visita. Quando se encontram, é através de festas familiares.
Dentre os segredos guardados a sete chaves da adolescente, está a sua paixão contida por Júlia Mendez. Júlia é quatro anos mais velha que ela, apesar que parece o contrário. Júlia é magra, tem um metro e sessenta e cinco, já Bianca, tem um corpo escultural e mede um metro e setenta e sete, é a mais alta do grupo praieiro.
Se o grupo prestasse atenção, notaria os sinais que Bianca dava. No decorrer do passeio, na praia e pós praia, Bianca não se exaltou nenhum segundo com Júlia. Pelo contrário, ficava ruborizada, carinhosa e sorria a cada coisa que Júlia falava. Mas o jogo deixou todos mais acessíveis. Então seria preciso um olhar clínico para entender que, somente para Júlia, ela estava aberta a algo além de perguntas ao léu.
A amizade com Cleiton se deu por acaso. Bianca é amiga da Luna, sua irmã. Bianca é amiga de escola, não da mesma turma, mas se conheceram no recreio. Júlia é prima de umas vizinhas que moram a dois quarteirões de sua casa. Numa tarde, ela foi apresentada para Cleiton, como um possível namoro, mas nem Cleiton e nem Júlia sentiram que ficariam, então, daí surgiu uma amizade. Mas outra coisa surgiu de uma pessoa que, no aniversário de quatorze anos da Luna, foi parabenizar a menina. Bianca viu Júlia a primeira vez dessa forma, ambas eram convidadas. Júlia foi simpática, como sempre era, mesmo não falando bem o português, ela sabia se virar. Bianca se encantou por ela desde este dia, mas não tinha coragem de se declarar. Um dos motivos, ninguém sabia que ela gostava de meninas, incluindo ela mesma. Outro, havia um rumor que Júlia e Cleiton ficavam, mas que não queriam divulgar para ninguém, por conta da Carla, que vivia espalhando que era namorada do rapaz.
Aceitar a brincadeira inocente, poderia significar revelar o seu segredo. Bianca sabe o quão mal ela mente, mas também, poderia tentar saber se Júlia sentia atração por mulheres. A confirmação disso, poderia significar uma chance, um momento para respirar sem o nó na garganta que tinha desde os quatorze anos.

O QUE NOS FALTA ...🔞Where stories live. Discover now