COMEMORAÇÃO DE UMA SEMANA E UM ESTALO A INÉRCIA

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Se houvesse um top cinco das melhores coisas que já aconteceram na vida da família Santos, esse ocorrido seria o número um. A reconciliação de Maria com seus pais, gerou um elo maior e mais forte do que ela poderia imaginar. A ida de seus pais e os pais de seu marido Gilberto para o Natal, gerou uma inesperada féria em família. Foi a pausa perfeita para ser lembrada por décadas.
Tantos seus pais, quanto os pais de Gilberto, foram se aconchegando em sua residência de forma tão natural, que só se deram conta quando um leve dor nas costas no pai da Maria Maria começou a atacar. De tanto trabalhar na roça e fazer trabalhos duros, tanto Euzébio quanto Solange sofrem com dores nas costas, nos joelhos em quase todas as articulações do corpo; não costuma ser uma coisa muito grave. A não ser a constante dor na coluna de Seu Euzébio que, a anos atrás, um estagiário aspirantes a médico, constatou ser hérnia de disco. Seu Euzébio nunca fez exames específicos, mas era comum tomar remédio sem prescrições médicas ou, como esse  estagiário sugeriu: sentiu dor? Então toma um comprimido para dores que logo logo passa. E passava, então "porque buscar um médico se já sei como driblar a dor?"
Dois dias após o Natal, todos ainda estavam comemorando a confraternização de final de ano. Gilberto saía para trabalhar, mas não se importavam com a casa cheia ao retornar para sua residência, principalmente por apreciar, diversas vezes a comida de sua mãe prontinha lhe esperando. Maria ia vez ou outra fazia salgados e ia entregar na sua clientela exata de bares e pequenos restaurantes, mas isso era perto de sua casa, sendo, por vezes, entregues por Cleiton e Luna. Com os pais do casal em casa, a residência ficou mais alegre, limpa e alimentada. Gilberto, Maria, Luna e Cleiton até usufruíram de momentos de comer, beber e dormir sem precisar levantar um dedo para afazeres de casa.
A dupla de avós e avôs se revezavam para limpar, passar, cozinhar... mesmo com os moradores insistindo não precisar de ajuda, eles iam lá e metiam a mão na massa. E foi assim que veio o susto coletivo: Teimoso como sempre foi, Euzébio cismou de cortar uns pedacinhos de mato que cresciam próximo ao portão. Acordou cedo para, teoricamente tomar um banho de sol, no entanto, sentado em uma cadeira de balanço já antiga feita de madeira maciça, presente que ele mesmo deu ao genro, apesar de Gilberto tê-la usado pouco e guardá-la no casebre dos quintal dos fundos; quando foi pegar a cadeira, viu que do lado estavam a pá e a inchada, mas de antemão, fingiu não ver, mas a cada balançada sentado na varanda, ele se incomodava com os matinhos crescendo nas laterais dos muros, então, com menos de dez minutos, ele se deu por vencido, acionou o seu toque de trabalho braçal, voltou ao casebre, pegou a pá e a inchada e começou a capinar.
Não precisou de muito tempo para Euzébio sentir a sua coluna travar. No céu, um sol da manhã indicando que chegaria aos 40°, no ar, uma brisa fraca e quente, e na casa dos Santos, um senhor de quase setenta anos acostumado a fazer tudo sem precisar de opiniões alheias.
Euzébio deu três capinadas fortes, por que os matos estavam próximos demais do muro, então precisou se encostar no muro e tentar uma manobra com os braços. E lá ficou. Sua coluna deu um estalo seco, sua respiração ficou fraca, sua voz se foi e o impediu de chamar por ajuda. Gilberto havia ido trabalhar e todos os outros estavam dormindo por conta da nova rotina de paparem até tarde e brincarem com jogos de tabuleiro, exceto o seu salvador dormira nesta manhã.
Antes de ir trabalhar Gilberto viu o seu sogro acordado, deu-lhe um bom dia, se arrumou e, antes de sair fez duas coisas que seriam a salvação do vovô teimoso: a primeira, chamou o seu filho para o treino - com as famílias morando junto, tanto Cleiton, quanto Luna estavam dormindo no quarto dos pais, um a esquerda e o outro a direita no chão com colchões, assim seus avós poderiam dormir tranquilos sobre uma cama. A segunda coisa que fez, foi pedir ao filho que ficasse de olho em seu avô, pois ele sentiu a inquietude do sogro e previu o pior. E assim foi.
Cleiton havia acabado de escovar os dentes e saiu do banheiro apenas para buscar em seu quarto seus acessórios para o treino de futebol, e foi nesse intervalo que saiu a varanda para ver o avô. Atônito, o jovem não acreditou quando viu o seu avô suando frio com um olhar horripilante na direção da porta. Ele implorava por socorro a qualquer um que aparecesse. Desesperado, correu para acudir. Chegado perto, ficou mais nervoso, pois Euzébio lhe disse aos sussurros que o problema era a coluna, ou seja, não podia ser removido com brutalidade.
As palavras do avô só fizeram Cleiton ficar mais nervoso. Por uns segundos, o garoto também travou sem saber que decisão tomar. Então, já também suando frio, respiração nervosa e coração mais palpitante que o avô, correu para dentro de casa, bateu em todas as portas dos quartos, chamou sua mãe, explicou aos prantos a situação e, a essa altura, todos já estavam acordados, nervosos e desesperados com a gritaria do rapaz.
Maria sugeriu chamar uma ambulância, mas sua mãe a repreendeu vorazmente vociferando a incompetência do serviço, pois eles chegaria atrasados e poderia acontecer o pior - quase brigaram.
Odete, mãe de Gilberto sugeriu que fizesse um chá de boldo para ele tomar, pois boldo, como ela disse, cura tudo. Venerando, o seu marido, discutiu com ela dizendo para ela parar com essa mania de que tudo se resolve com chá de folha disso ou daquilo. E então sugeriu que o ajudassem o pôr no seu carro, no banco de trás; nisso, Cleiton gritou em objeção, pois os lembrou que a poucos ele só encostou no avô e ele piorou, só não gritou por faltar-lhe o ar.
Enquanto a discussão rolava e nenhuma decisão era tomada, uma coisa fez todos se calarem, apertarem o coração e entristecerem. Euzébio estava ficando cada segundo mais travado, mas seus olhos não esconderam a dor. A vermelhidão do globo ocular causada pelo sol, estava dando passagem a quentes lágrimas de dor.
- Precisamos fazer alguma coisa e já. - Maria disse com uma voz penosa.
Então a solução veio da pessoa mais nova da casa.
- Mãe, o seu João, já foi enfermeiro. Ele com certeza sabe primeiros socorros.
Cleiton não esperou sua irmã terminar de falar, correu a casa de seu João, gritou, urrou no portão do vizinho, explicou rapido o que estava acontecendo. Seu João estava de short e sem camisa e assim mesmo saiu de casa.
- Menino jogador, vá a casa da Dona Estela, peça ela uma maca, ela tem uma que eu vendi pra ela que...
Cleiton não queria história, correu e pediu a Dona Estela a maca. Como ela vendia de tudo, sua barraca ja estava aberta para vender os pães frescos. Ela emprestou e correu para também ajudar. A gritaria de Cleiton atraiu bem mais que Dona Estela e Seu João. Quando Seu João, com a ajuda de Cleiton pôs Seu Euzébio no carro para ser encaminhando ao hospital, a vizinhança estava toda no portão da casa dos Santos. Tiveram que pedir licença para passarem e o levar no carro do S.r. Venerando.

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