LUNA E A LUA

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A beira do rio, uma índia a encontrou, era pequena, menina mirrada, mas sorria a troca do mimo da jovem aborígene.

Era noite, não havia ninguém para solicitar e contestar o poder de tal criança.

- Quem será que te trouxe a mim? Seria a maldade do mundo, ou a força de tupã?

Não era ali que conseguiria respostas, então, com a pequena em seus braços, ela levou a sua oca para cuidados.

- Não havia ninguém, ela contava para todos. Ficarei com ela - exclamou para sua família! - A beira do rio, aos cuidados da mãe d'água, ela foi iluminada pela luz da lua.

- Então esse será o seu nome, Luna - disse o pajé a jovem que agora é mãe -. Àquela que trouxe, em si, a luz própria para iluminar nossa aldeia.

Feliz, ela cuidou da menina, ensinou tudo para viver como nativa: plantar, pintar, caçar, comer...

Ensinou tudo em prol da índia de tons de pele escuros, a se adaptar ao mundo desta família florestal.

O tempo ia passando, Luna crescendo e se dando conta que era diferente.

A história de sua chegada a intrigava. Não entendia como chegara ali e menos ainda como era tão diferente.

A lua, por mais estranho que parecesse, era sua maior amiga.

Por vezes, Luna ia a beira do rio, deitava na grama olhando para o teto, conversava com a lua, imaginando respostas concretas.

- Se foi do rio, eu não sei. De ti, grande lua, que seja. Para onde vou? Não me sinto daqui. Amo quem me ama, mas... a liberdade não me parece estar completa neste chão que piso.

As noites de conversas eram constantes. Luna precisava sentir esse momento de reflexão e, para os demais, de solidão. Mas para ela, era o único momento que se encontrava livre de um mundo que não lhe pertencia.

O tempo mostrou uma menina forte, determinada a sair e buscar quem ela nasceu para ser.

- Eu penso que em ti sei que serei maior e melhor para meu ser. Quero voar nas nuvens e chegar até seu solo. Se me atenderes, e me levares ao meu mundo, serei grata, viverei feliz e ajudarei a todos que por mim passar.

Este clamor perdurou por muitas noites, até que uma noite, poucos minutos antes de Luna ir ao Rio, uma tempestade chegou.

Todos se abrigaram, Luna procurou sua mãe, mas não encontrou. Sua mãe fazia o mesmo, mas estava do outro lado da aldeia.

O vento era forte, mas não havia chuva, raios ou trovões, apenas nuvens e assobio do eco.

Luna, inquieta que só, parou no meio da aldeia. Estava sozinha. Concluiu que todos estavam abrigados.

O som da tempestade parecia diferente, um chamado como uma música doce.

Ao longe, Luna avistou uma nuvem em forma de barco. Caminhou até ela e antes de se dar conta, voava até o céu.

Olhando para baixo, ela voltou a ver sua mãe, a aldeia e seus moradores, mas já bem alto, com lágrimas nos olhos, não podia voltar.

Luna viajou em direção a lua, sorria e chorava, lembrava dos seus pedidos na beira do Rio, mas também lembrava do afago de sua mãe.

Olhando para o alto, sua mãe chorou. Ao redor, a ventania cessou. A aldeia correu para fora e avistou o último adeus da menina que, assim como veio repentinamente, se pôs a voar nas nuvens até a casa redonda que leva seu nome: lua.

O QUE NOS FALTA ...🔞Where stories live. Discover now