MAIS UMA MANHÃ PATERNA

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A mesa de café da manhã estava pronta para receber o momento pai e filho. Sentado a mesa, Antônio espera Toni, seu único filho que a meia hora atrás ele despertou para lembrar-lhe do colégio. Toni chega, senta a mesa, pega e mordisca um pedaço de pão, mas o seu olhar parece estar distante do local.
- Ainda com essa cara, garoto?
- Eu já falei quando me acordou, eu não quero ir.
Com uma ironia sutil e bem humorada, Antônio repreende seu filho.
- É, mas vai. Terá um futuro, será diferente de todos nós.
- Mas eu... quero ser eu mesmo, isso é muito peso para carregar.
- Filho, eu queria ter tido o que tem, mas a minha vida miserável não permitiu isso. Meus pais lutavam todos os dias para me alimentar e aos meus quatro irmãos. E eu ainda luto para mudar de vida. Eu sei, juro, entendo que para você, hoje, é algo de mais, porém, você é o sonho de muitos.
O garoto já estava cansado de ouvir essa história de sonho dos antepassados, mas não ligava. O que realmente o incomodava estava além da didática do ensino médio.
- Pai, por favor. Não precisa repetir essa história todas as manhãs. Sempre que venho dormir aqui, o senhor me faz esse sermão. Eu entendo, de verdade, é que...
Silêncio. Toni toma um gole do seu suco de laranja e prepara seu pão e come, na intenção de esquecer a conversa. Ambos ouvem o mastigar do outro. O pão fresco que Antônio buscou na padaria às seis horas da manhã ainda estava quente e apetitoso. O queijo e presunto era quase uma regra para acompanhar a manteiga salgada que pai e filho adoravam no dejejum. O suco de laranja era uma obrigação. Antônio costumava tomar café puro em dias normais, contudo, quando o filho ia passar a semana, ou o mês, ele fazia questão que fosse suco de laranja. Antônio era extremamente cuidadoso com a saúde de seu filho, e a vitamina C tinha que ser a primeira coisa a entrar no organismo do garoto para impedir resfriados.
- Diz, filho. Conversa comigo, se eu poder ajudar, prometo que farei o melhor.
Por um momento, pensou em desabafar, falar de seus problemas e frustrações que a escola lhe proporcionava, mas a história da vida de seu pai era muito trágica, e ele sabia que o seu problema era coisa pequena comparado a tudo que ele já passou.
- Não é nada, eu, só estou com muitas tarefas da escola para fazer, não tenho dormido direito.
- Olha, hoje é segunda feira. Tudo bem estar assim. Até ontem estava na casa da sua mãe. Por mais que faça três meses, ainda é uma coisa nova, mas te garanto que logo, logo irá se adaptar a essa rotina. Eu... queria que fosse diferente, mas não é. Somos todos crescidos não é garotão!? - Antônio é um cara divertido, procura achar o riso nos lugares mais profundos e sombrios de uma conversa. - Está com cara de apaixonado, hein! Isso deve ser uma menina. Tudo bem, tudo bem... Não vou pressionar nada, mas lembre-se de usar camisinha garanhão!
- Ah, pai! Para com isso. Eu vou agora mesmo para a escola, fui.
- Calma aí, ainda tem tempo. Me conta aí, quem é a lindona que fisgou o meu garoto?
- Eu não vou falar nada disso - prendendo um sorriso, o jovem de dezesseis anos se levanta da mesa -, por que não é isso, fui.
- Ah, ráaa... Acertei, não foi? Olha, eu posso dar um passeio quando quiser trazer ela pra cá. Me diz, está apaixonado? Está apaixonado, não é?
As brincadeiras não pararam por ali. Antônio continuou por um bom tempo com as brincadeiras, enquanto seu filho se esquivava indo tomar banho, escovar os dentes, pôr o uniforme escolar e, por fim, saiu o mais rápido possível para fugir das brincadeiras paternais.
Seu pai não estava completamente errado, havia uma garota envolvida na mente do rapaz, porém, não era da maneira linda que Antônio pensara.

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