Capítulo Quarenta e Três'

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"Você nunca me amará, então, de que adianta?
Qual o motivo de jogar um jogo que você perderá?
Qual o motivo de dizer que me ama como uma amiga?
Qual o motivo de dizer que isso nunca acabará?"
Lies, Marina and The Diamonds.

Eu entrei naquele quarto um pouco apavorada e girei a chave na fechadura até o máximo dela para me certificar de que eu estava longe de qualquer pessoa que pudesse presenciar a minha cena patética de fraqueza.
O meu coração estava batendo a mil e minhas mãos continuavam trêmulas. Aurora havia me mostrado algo que seria doloroso e que com certeza eu não saberia lidar.
Olhei rapidamente para o aparelho de som perto da TV e o liguei ignorando qualquer música que tivesse tocando, porque a minha intenção era de apenas silenciar os meus soluços com as batidas das notas musicais para que ninguém que passasse no corredor, ouvisse.
Eu sempre recorri a música quando tinha aquilo.
Eu estava entrando em pânico!
Ter que omitir para Aurora fez eu me ver meu no futuro com a criança que estava dentro de mim.
Eu tive que ser forte para não chorar na frente de uma criança que não tinha nada a ver.
Como eu seria forte omitindo a verdade para o meu filho?
As minhas mãos ainda tremiam e eu me odiei mais uma vez por estar daquela forma pela segunda vez em menos de três dias.
Uma banda de rock, que não fui capaz de reconhecer, tocava no aparelho de som preenchendo o quarto e abafando os meus gemidos de fraqueza.

Eu tinha que parar de chorar!

Levantei rapidamente indo para o banheiro e tirando minhas roupas no caminho. Precisava de um bom banho que levasse pelo ralo todas aquelas lágrimas e desespero que eu estava sentindo.

Eu ia ficar bem!

Agora eu entendia bem o que as mães solteiras passavam. E tenho certeza de que estava passando bem pior do que as que eu conhecia. Pelo menos todas as que eu conhecia, podiam falar livremente quem era o pai, tanto para quem perguntasse quanto para os filhos quando crescessem. Já eu era algo bem mais trágico e dramático. Não poderia contar caso não quisesse ter que ver meu filho ser tratado como "o bastardo".
Jamais deixaria aquilo acontecer! Ele não era um bastardo, eu sabia disso, e Daniel também! Porém, se descobrissem um dia chegaria aos ouvidos da criança quando ela estivesse com uma idade avançada para compreender o que é filho bastardo.
Eu já estava bem mais calma quando sai do chuveiro e a música continuava tocando.
Alguém batia na porta insistentemente e não me surpreenderia se fosse Cailli. Tinha certeza de que ela pensava que eu seria capaz de cometer alguma loucura por causa do drama que era a minha vida. O que me fazia pensar mais uma vez que eu tinha que mudar a categoria dessa história e principalmente da minha vida, para algo mais alegre e animado.
Ignorei quem quer que fosse na porta e passei a me arrumar, abaixando um pouco o volume do som e deixando que as batidas da música que tocava me levasse.
Quem me visse daquela forma não diria que eu havia acabado de ter uma crise de nervos e pânico. Mas os meus olhos denunciariam.
Passei uma maquiagem forte e marcante para esconder o inchaço nas bolsas abaixo dos meus olhos, e mais uma vez alguém bateu na porta quando eu havia acabado de me arrumar.

    — Já estou indo! — Falei com um pouco de irritação na voz.
 
    — Você não vem jantar, tia? — A voz da pequena Aurora ecoou do lado de fora e eu me arrependi por ter sido um pouco rude ao respondê-la.

     — Já estou indo, querida. — Disse com a voz acima das notas musicais e fui em direção à porta.

Assim que abri vi a linda garotinha com um vestido branco e tiara prateada na cabeça, em formato de coroa.

    — Vossa majestade. — Reverenciei ela e a pequena sorriu balançando o vestido de um lado para o outro. — Você está uma linda princesa. — Abaixei a sua frente e beijei seu rosto.

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