Capítulo Treze!

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Meu celular vibrava em meu colo

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Meu celular vibrava em meu colo. Era ele. Porém, eu não estava a fim de ouvir ele gritando no meu ouvido, me lembrando que ele era meu chefe e que eu tinha que ser mais educada e blábláblá.
  O táxi parou em frente ao hotel e eu desci assim que paguei a corrida. A minha cabeça estava latejando e eu imaginava que era por aquelas horas infernais que Daniel me fez passar.
  Mesmo que ele me dissesse que não e falasse qualquer coisa. Eu sabia que ele iria comprar presentes para alguém e que no fim, ele estava seguindo o que eu havia dito.
 
  Mas a verdade era que no fundo, aquilo me incomodava de uma certa forma que não sei explicar. Bem no fundo, eu sentia por não ser eu.
 
  Chega de pensar sobre isso, Hellen! Me policiei em pensamento.
 
  Passei pelas portas automáticas do Hotel, sentindo o vapor quente aquecer meu corpo, e eu agradeci mentalmente por isso. Era bom estar em um lugar como aquele quando lá fora estava frio.
  Encontrei Andrea ali no hall, estava animada como sempre e conversava com um loiro alto. Com certeza era o lanche da tarde dela.
 
  — Hei, Hellen! – Me chamou e eu fui até ela – Que pálida. Precisa melhorar esse rostinho querida. – Disse enquanto me aproximava.
 
  Tudo o que eu preciso é dormir.
 
  — Eu estou com uma puta dor de cabeça. – Reclamei.
 
  — Tenho um ótimo remédio para isso, baby. – O loiro falou e por um momento eu havia esquecido dele. – Prazer. Matt. – Sorriu e estendeu a mão.
 
  — Matt, querido? Você já é meu hoje, quem sabe amanhã você pega ela? – Andrea disse me fazendo arquear a sobrancelha.
 
  Mais uma vez eu vou dizer; tudo bem que eu sou quem sou e meu estilo de vida é liberal, mas partilhar homem não era uma coisa que eu era fã. Nada contra quem faz, eu só...
 
  "Você é gulosa!" A voz de Daniel complementou minha frase. E talvez fosse isso mesmo. Eu sou gulosa.
 
  — Há-Há-Há – Sarcasmo – Desculpa And, mas pegar baba de amiga não é minha praia. – Pisquei sorrindo – Vou subir, preciso dormir. – Dei um beijo na testa dela, e apertei a mão de Matt que me deu uma olhada sugestiva.
 
  Ele era gato, não vou mentir, se ele não estivesse com Andrea com certeza eu iria querer o remédio dele para mim.
 
  Quando o elevador chegou ao andar do meu quarto, eu sai sentindo uma forte dor se alastrar pelo meu corpo. Era estranho e assustador a dor ser tão repentina.
  Respirei fundo fechando meus olhos e os abri para pegar minha chave. Foi quando vi Peter. Ele estava parado justamente a minha porta e parecia estar dizendo algo para si mesmo, mas não fui capaz de compreender.
 
  Desde segunda, nós não conversamos. E aquela era uma boa hora para eu dizer tudo o que eu queria dizer. Achei ele até um suicida vindo bater em minha porta, visto que eu estava querendo o matar.
 
  — Peter. – Minha voz soou cansada e um pouco irritada – O que faz aqui?
 
  Seus olhos brilharam em minha direção, mas foram de felizes a envergonhados em questão de segundos. Ele mordeu seu lábio inferior e baixou o olhar, levou seu dedo indicador até entre as suas sobrancelhas, massageou aquele ponto. Abriu e fechou a boca duas vezes, coçou sua cabeça e por fim me olhou novamente e resolveu falar enquanto eu trocava o peso do meu corpo naqueles saltos que estavam sufocando meus pés.
 
  — E então? – Indaguei impaciente.
 
  — Eu... eu queria conversar com você sobre... você sabe. – Abanou o ar com a mão direita e por fim a guardou no bolso da sua calça jeans.
 
  — Não. Eu não sei. – Menti, indo até minha porta.
 
  — Eu quero pedir desculpas pelo que eu fiz. – Ele avançou até a porta antes de mim – Olha, eu não queria te agarrar... não daquela forma, não sem o seu consentimento. – Mordeu novamente seu lábio inferior, e mais uma vez eu me perguntei porque não dava uma chance a ele – Eu só... puta que pariu! – Xingou baixo me fazendo querer sorrir, mas segurei a vontade. – Você é linda! E você sabe que desde que você colocou os pés na Empire eu sou a fim de você. – Levou sua mão até seu cabelo, que era curto e o bagunçou, deixando o bonitinho. Eu gostava de homens com cabelos bagunçados.
 
  — Mas isso não te dá o direito de sair me agarrando daquela forma. – Falei rude e ele fechou os olhos rapidamente.
 
  — Eu sei, eu sei... me desculpa, por favor? – Pediu e eu bufei – Eu não faria aquilo se eu não estivesse realmente louco por você. Por Deus, eu até levei uma advertência por isso, e Daniel me ameaçou dizendo que se algo assim acontecesse novamente, eu estaria no olho da rua. – Em seus olhos pude ver o exato momento em que o medo e desapontamento passaram, deixando-os triste.
 
  — E é por isso que está aqui? Por que o Delavounne te ameaçou? – Indaguei. – Olha, eu achei bom que isso tenha acontecido pra você aprender que nem tudo é como você quer. Para você aprender a respeitar o espaço dos outros. – Disse apontando para eu e ele, e o mesmo parecia estar nervoso.
 
  — Não estou aqui por ele. – Irritou-se – Estou aqui porque quero pedir desculpas a você. Por eu ter sido um... – Fechou os olhos com força – Eu não sou assim, Hellen... – sua voz era baixa – Mas você... cada vez que eu invisto e você se afasta, você me deixa louco, insano e perdido. – Parecia sincero, e a conversa minha com Daniel no carro soou em meus ouvidos.
 
  Seria Peter um daqueles homens? Mas eu nunca havia ficado com ele. Era impossível ele se apaixonar por mim.
 
  — Peter, eu já te expliquei. Não existe nenhuma chance entre nós dois. E não é porque você não é bonito, porque você é lindo. Mas,– comprimi meus lábios, exausta – Eu não sou quem você pensa...
   Tenho um caso com nosso chefe, ou melhor, tinha.
  — Não acho que eu seja uma boa escolha para você.
  Gosto de sexo casuais, cada dia com um, mesmo que há duas semanas eu só tenha ficado com Daniel.
  — Há tantas mulheres lindas que são apaixonadas por você. Deveria investir em alguém que realmente te queira.
 
  — Mas por que eu não posso te ter? Eu não me importo em nada do que você tenha me dito. Você não sabe se é a escolha certa para mim ou não...
  Droga, ele estava mesmo em uma fria.
 
  O que eu faria? Aquilo estava sendo de longe a conversa mais longa sobre esse assunto com um homem cujo tem sentimentos por mim, que eu havia tido nos últimos anos.
  Eu poderia dizer que era lésbica, mas ele sabia que eu me encontrava com outros.
 
  — Peter. Você já viu que insistir em mim só vai te levar ao nada e vai te causar problemas. Já começou ruim quando o Delavounne te pegou tentando me agarrar. Você gostou do que fez? – Indaguei e ele negou com a cabeça. – Eu aceito suas desculpas, e até passo uma borracha naquele dia, mas não pense que eu vou te dar uma chance e me envolver com você, porque não vou... você é atraente e tem tudo para conseguir uma mulher a sua altura. Você faz sucesso por onde passa, e até tem um fã-clube na Empire. Então não tem porque insistir em mim. – Disse de uma vez sentindo minha cabeça latejar.
 
  — Nada do que eu fizer vai fazer você me dar uma chance algum dia, não é? – Indagou quase sem voz, poderia até cortar o meu coração, mas eu não era tão sentimental assim.
 
  E era melhor eu me manter longe de sentimentos, se queria ficar perto de homens. Os dois juntos nunca dava certo.
 
  Olhei para ele e apenas neguei com a cabeça.
 
  — Tudo bem. – Olhou para baixo – Pelo menos eu tentei, não é mesmo?
 
  Abriu os braços e sorriu sem humor, seus olhos pareciam ter lágrimas e eu me odiei por ser uma vadia sem coração com ele.
 
  Mas eu não tinha culpa se ele não me atraía!
 
  Peter se despediu com a voz baixa, quase inaudível e eu apenas acenei com a mão. Abri a porta do meu quarto com mais pressa, querendo me trancar nele e ficar longe daquela confusão e complicação que a minha vida estava se tornando. Era só o que faltava, ter Peter apaixonado por mim.
  Passei a mão em meu rosto, exausta e fui até a hidromassagem a ligando. Voltei para o quarto tirando a minha roupa e meus olhos foram em direção a porta que dava acesso ao quarto de Daniel.
  Ele ainda não tinha chegado, ou senão estaria me enchendo o saco. Um pensamento passou pela minha cabeça, talvez ele tivesse ido ao encontro de quem ele iria dar o presente e talvez não voltasse cedo para o Hotel.
 
  Suspirei me odiando por estar indo por aquela linha de pensamento que não tinha volta e voltei para a hidromassagem que estava quase enchendo.
  Alguns minutos depois já me encontrava dentro dela e totalmente relaxada. Não vou mentir, era em horas como aquela que eu adorava ser assistente do Daniel. Nunca que eu teria cachê para pagar um hotel como aquele.
 
  Meu corpo parecia que tinha sido esmagado por uma tonelada de tijolos, porque doía muito. E de repente comecei a sentir tudo dolorido, olhos, cabeça.... e eu me lembro de estar olhando fixamente para a torneira dourada perto dos meus pés, quando não vi mais nada.
  Havia dormido ali mesmo.
 
  Acordei com o barulho da campainha tocando. Sai de lá sentindo a minha cabeça ainda dolorida, mas meu corpo já havia melhorado. Peguei o roupão irritada – ultimamente eu só andava com esse humor –e sai do banheiro indo atender a pessoa maldita e impaciente.
 
  — Eu espero que esteja acontecendo um Apocalipse para ter me acordado. – Falei assim que abri sem saber quem era.
 
  Mas não foi surpresa nenhum quando vi quem era.
 
  — Ainda não, mas vai acontecer. – Daniel entrou me puxando para dentro e fechando a porta.
  — Oh. Que ótimo! – Ironizei.
 
  —Eu espero que você esteja vestida por baixo. – Disse enquanto ia para a pequena cozinha e pegava uma garrafa que julguei ser de uísque.
 
  — Não estou. – Dei de ombros calma, por incrível que pareça – E porquê está aqui? – Fui andando para o quarto.
 
  Ele se virou para mim e deu tempo de eu ver seus olhos faiscando enquanto olhava para o meu corpo.
 
  Balancei a cabeça em negação, sem animo algum para joguinhos e continuei meu caminho até chegar ao quarto.
 
  — Bom, nós dois sabemos que eu odeio falta de educação, Cavannaugh. – Ouvi ele vindo atrás de mim.
 
  Desculpa, mas eu faltei as aulas de etiqueta porque estava transando com o professor. Pensei e sorri, imaginando o que ele diria após ouvir essa resposta.
 
  — Sério, Daniel? Eu estou cansada, não estou me sentindo bem. E você quer realmente discutir sobre isso e mostrar que você é o Big Boss aqui? Eu preciso dormir. – Falei exausta.
 
  Me virei a ponto de o ver já passando da porta. Ele estava irritado.
 
  Que ótimo.
 
  — Mostrar que sou o Big Boss? – Indagou com a boca aberta – Você me dá um tapa dentro de um elevador, grita comigo e depois foge.... Te encontro e decido deixar isso passar e não brigo com você, mas você vem cheia de respostas afiadas.
  Oh, eu deveria ter pena? Porque eu não tenho.
  — E como se tivesse virado uma moda, você foge mais uma vez. Faz tudo isso e eu não posso mostrar minha indignação? Não estou aqui como Big Boss, e você sabe muito bem disso, senão estaria no olho da rua neste exato momento.
  Ele diz sério e vejo seu peito subir e descer, ele passa as mãos em seus cabelos bagunçando-os completamente, e não posso negar que ele fica maravilhosamente sexy daquela forma. Ele desce suas mãos pelo seu rosto e para em seu pescoço, e eu fico parada o olhando e digerindo tudo o que diz.
 
  Sei que estava errada, mas ele também estava. E eu não sentiria pena, mesmo com meu consciente querendo me fazer sentir o contrário.
 
  — Pode me mandar embora, se quiser. – Dei de ombros, virando-me de costas.
 
  — O que está acontecendo com você? – Sua voz era baixa.
 
  — Estou cansada. – Abri a gaveta de lingerie e peguei um conjunto vermelho e virei-me novamente para ele.
 
  Seus olhos rapidamente se concentraram no conjunto que estava na minha mão.
 
  — Não é isso que eu quis saber. – Ele estava parado atrás de mim com as mãos no bolso e as sobrancelhas erguidas, tentando se controlar.
 
  — O que você quer saber então? Seja mais direto porque eu não sou advinha. – O olhei por uns segundos e depois fui para o banheiro.
 
  Eu realmente não queria discutir. Estava mesmo cansada, sentia meu corpo tenso, os músculos doloridos como se eu tivesse feito uma sessão de levamentos de pesos e agachamentos.
 
  — Eu acabei de falar, acabei de dizer tudo o que você fez comigo e eu quero entender! Por que anda falando desse jeito comigo?– Ele não estava falando aquilo. Pelo menos era o que eu pensava na hora – Desde quando você se tornou essa pessoa mal-educada? – Ele parou na porta do banheiro.
 
  Eu olhei meu reflexo no espelho e sorri mordendo meu lábio inferior e sentindo o gosto de sangue ao ter mordido com força. Virei-me para ele já mandando as dores, e tudo para onde o judas havia perdido as botas.
 
  Se ele queria brigar, ótimo. Nós iriamos brigar.
 
  — Pessoa mal-educada? Eu? Tem certeza, Daniel? – Sorri nervosa – E você quer que eu fale como com você, depois do que você fez hoje á tarde? E como se não bastasse me tirou do almoço com Andrew. Eu é que pergunto porque é que está assim comigo. – Movimentei meu corpo dando a típica sinalização de que agora eu tinha levado a conversa a sério.
 
  — Eu não fiz nada demais, Hellen.
 
  Salto, salto... cadê você?
 
  — Quer dizer, você nunca se importou com isso, por que agora? Eu precisava de você, só por isso atrapalhei seu almoço tão importante com aquele moleque. – Seus olhos estavam vermelhos e suas mãos estavam ao lado de seu corpo fechadas em punhos.
 
  Quem ele pensava que eu era para cair naquela mentira?
 
  "A mesma Hellen que esteve durante três anos com ele." Meu subconsciente apontou para mim e eu grunhi.
 
  Comecei a rir, mas não estava achando graça em nada e sim ficando nervosa. E ele sabia, pois deu um passo para frente na intenção de me tocar, mas eu desviei é claro.
 
  — Precisava de mim? Para o quê? Comprar presentinhos para as suas companhias? Ou era para a adorável Christine? – Ele iria falar algo, mas levantei um dedo indicando que eu iria prosseguir – Ah, eu gostava. E muito. Mas só quando você não era esse cretino! Quando você era verdadeiro e solteiro! – Soltei uma risada debochada e ele desviou seu olhar.
 
  — Você não sabe de nada...
 
  — É, nisso eu concordo totalmente com você. E é por isso que estou assim, porque não sei mais quem é você! Não sei de mais nada da sua vida. Tudo o que eu sei é que você não é o mesmo Daniel que eu conheci! – Falei suspirando no fim e controlando a vontade de não brigar mais.
 
  Ele ficou alguns segundos olhando para o chão, com as mãos nos bolsos da sua calça social e estava mordendo o lábio inferior assim como eu. Era uma mania que nós dois tínhamos e que sempre me fazia perceber que ele havia pegado aquela mania chata de mim.
 
  — Bom, se você não vai dizer nada e era isso que queria saber, pode sair da minha frente para eu me trocar? – Falei em um tom frio, ele não me olhou, mas saiu da frente e eu entrei.
 
  Assim que entrei me tranquei. A dor de cabeça voltou com tudo junto com uma dor no peito. Estava sendo o fim daquela relação louca de nós dois, eu podia sentir. Nunca havíamos discutido tanto como vinhamos fazendo nos últimos dias. Nunca havia dado-lhe um tapa, e ele nunca havia mentido antes. Não que eu fosse o tipo de pessoa que quer saber de todos os passos dele, mas tínhamos um acordo. E isso ele não podia mentir!
 
  "Eu tentei tanto te avisar, te mostrar..."
 
  As minhas mãos estavam trêmulas e eu me vi sentada no chão e escorada na porta com lágrimas molhando meu rosto. Eu estava chorando? Nunca havia chorado por ele, por que agora? Talvez fosse porque eu não queria que aquilo terminasse, porque sabia que não conseguiria uma amizade colorida como aquela... amizade.... Até isso estava acabando entre nós, e eu que achava que mesmo que ele encontrasse outra pessoa, a nossa amizade continuaria firme e forte e intacta.... Mas não era isso que estava acontecendo, já não sentava ao lado dele para falar sobre coisas banais, ou sobre outras coisas que amigos conversam. Não ficávamos rindo por horas como se fossemos dois adolescentes palhaços, esquecendo um pouco da nossa vida adulta em que somos obrigados a vivermos como chatos, nada disso vinha acontecendo. Tudo o que acontecia eram poucas palavras, pouco contato, muitas brigas e sem sorrisos.
  O meu corpo todo estava trêmulo, as lágrimas não paravam de cair e a dor no peito só aumentava. Eu não queria chorar, mas algo dentro de mim não me obedecia.
 
  "Eu sabia que no final de tudo isso, você ficaria assim..."
 
  Resolvi levantar, vesti minha lingerie e deixei o roupão de lado. Olhei no espelho e meus olhos estavam inchados e vermelhos, fiquei alguns minutos lavando o rosto para desinchar, melhorou um pouco. Fiquei mais alguns segundos me olhando, a dor de cabeça continuava forte e eu resolvi ir até uma farmácia saber o que eu tinha.
  Abri a porta e encontrei Daniel deitado em minha cama, seus olhos estavam fechados, mas não saberia dizer se estava dormindo ou não.
 
  Queria poder pedir desculpas por estar sendo rude demais com ele, mas não iria fazer enquanto ele não fosse sincero comigo. Eu precisava da sua sinceridade.
 
  "Rude demais com ele? Pense no que ele está fazendo com você, Hellen!"
 
  As suas mãos estavam atrás de sua cabeça servindo como um apoio, e fazendo seus músculos sobressaltarem na camisa branca. Seu rosto, mesmo que de olhos fechados, não parecia sereno e sim pensativo já que as duas sobrancelhas estavam quase se juntando ao meio. Queria poder ir até ele e deitar em seu peito, curtir o silêncio ao seu lado, como sempre fazíamos depois que ele tinha reuniões cansativas. Mas eu já não podia mais.... Senti outra pontada no peito e meus olhos arderam, não podia chorar novamente, desviei meu olhar do seu corpo e andei até o pequeno closet em busca de roupas para poder ir à farmácia.
 
  Sai de lá já pronta, e quando olhei minha cama não encontrei mais Daniel, ele havia ido embora...
  Era a escolha dele e eu não iria interferir.
 
  Peguei meu sobretudo preto, porque já estava com frio mesmo com o ar quente do quarto. Minha cabeça continuava doendo e agora doía meus olhos também, e meu nariz havia começado a escorrer.
 
  — Merda, só posso ter pegado gripe! – Choraminguei pegando minha bolsa e saindo do quarto.
 
  Assim que passei o cartão-chave para trancar o quarto, a porta ao lado se abriu, era ele. Nossos olhares se encontraram e ficamos nos olhando por tempo demais, até eu ouvir uma voz familiar; Andrea.
 
  Daniel me olhou uma última vez, e depois acenou para ela.
 
  — Hellen! Já tenho uma balada para irmos hoje. – Disse empolgada não se importando com Daniel á poucos metros esperando o elevador.
 
  — Novidade. – Disse sem ânimo indo até o elevador.
 
  Agora a dor tinha aumentado, eu podia sentir ela fortemente entre as minhas sobrancelhas. E minha cabeça pesava.
 
  — O que você tem? – Minha amiga escandalosa indagou, e Daniel nos olhou.
 
  — Acho que peguei uma gripe maldita, estou indo até uma farmácia, vamos? – A olhei enquanto esperávamos o elevador ao lado de Daniel, mas não olhei em sua direção.
 
  Ainda assim, eu sabia que ele estava me olhando e tinha sua atenção voltada para o que eu e Andrea conversávamos.
 
  — Nossa, que fraca! Pegar gripe assim do nada. – Ela riu quando a fuzilei com os olhos.
 
  — Peguei chuva e sereno duas vezes essa semana, querida. – Ela parou de rir e o elevador chegou, entramos os três dentro do cubículo, Daniel estava quieto e Andrea não estava se importando com o Big Boss.
 
  — Como? – Como eu disse, ela o ignorou e se virou para mim, agora com a testa franzida em preocupação.
 
  — Eu tive que ir até o bloco C na quinta, pegar umas coisas e levá-los até onde estava acontecendo a palestra. Depois, mais tarde, eu tive que ficar esperando uma senhora decidir se queria ou não o táxi que eu queria pegar. E estava no sereno, acabou que ela decidiu que ia para tal lugar e eu fiquei esperando outro chegar já que meu celular estava desligado. – Bufei.
 
  — Ué, você não é a assistente do Sr. Delavounne? Então, por quê estava sozinha? – Ela perguntou balançando os braços, e sem pensar.
 
  Vi através do espelho, Daniel travando seu maxilar e olhei em direção a ela.
 
  — Porque a senhorita Cavannaugh, disse que tinha algo importante para fazer e que não tinha problema em ir de táxi. – A voz grossa e impassível de Daniel soou no cubículo, fazendo ela silenciar.
 
  Eu quase ri. Mas a dor insuportável, me fez fechar os olhos um pouco para então abri-los lentamente enquanto eu levava minha mão até a região da testa, e massageava ali.
 
  — E tinha. – Respondi – Mas foi culpa da senhora, sabe como é; sempre dê preferência aos mais velhos. – A porta se abriu e Daniel saiu dela sem dizer nada, Andrea me olhou com piedade e eu sorri tentando mostrar a ela que estava tudo bem, mesmo que não estava.
 
  — Não sei como você aguenta ele assim! – Ela exclamou quando já estávamos na calçada indo até a farmácia que o rapaz da recepção havia nos informado, longe o bastante para Daniel ouvir.
 
  — São cinco anos, acostumei. – Dei de ombros e ela revirou os olhos.
 
  Eu puxei o cachecol para cima, na tentativa de não deixar o vento gélido entrar pela fresta perto do pescoço, e congelasse todo o meu corpo. O gorro estava quase tampando todo o meu rosto, e Andrea ria dessa minha situação. Porque para ela, eu estava sendo exagerada. Mas qual foi a parte de que eu estava doente que ela não havia entendido mesmo?
 
  Meu celular começou a tocar e eu o atendi impaciente já sabendo quem poderia ser.
 
  —Oi... – Disse com preguiça, e o resultado disso foi uma voz manhosa e infantil fazendo Andrea rir e me caçoar por aquilo.
 
  — Hellen, volte para o hotel agora e me encontre na recepção. – Disse autoritário e eu respirei fundo levando minha mão até minha testa.
 
  Ele estava mesmo querendo dar uma de chefe mau?
 
  — Estou indo comprar remédios, não pode esperar? – Perguntei indignada.
 
  — Não, você não pode comprar remédios sem saber o que tem. Volte aqui imediatamente, tenho uma consulta marcada para você. – E desligou.
 
  — É, eu realmente não sei como aguento esse ogro! – Falei entredentes olhando para a tela do celular, e Andrea riu ainda me caçoando pela maldita voz.
 
  — Era ele? Ele esperou você sair para te chamar? Que louco. – Ela ria enquanto eu a puxava pelo braço de volta para o hotel.
 
  Enquanto dava meia volta, e Andrea ria da minha situação, planejava duas coisas; tacar meu salto em Daniel e deixar Andrea tomar meu lugar.
 
  Pronto, me vingava dos dois! Ai seria eu quem riria da situação dela.
 
  Adentrei o hotel a passos pesados e muito irritada, tanto que o rapaz da recepção tinha abrido um sorriso para mim, mas quando viu meu real estado o fechou rapidamente e abaixou a cabeça voltando sua atenção para o que já estava fazendo, coitado.
 
  E lá estava ele sentado em uma poltrona, sem expressão alguma em seu rosto e um olhar frio.
 
  — Bom, eu vou para o meu quarto.... – Andrea tentou esconder o sorriso, mas falhou –Vá até lá quando estiver livre. – Ela disse me dando um beijo na bochecha.
 
  Acenei para ela e disse que iria logo. Daniel se levantou quando me aproximei.
 
  — Consulta marcada, Sr. Delavounne? Agradeço a preocupação, mas não tenho nada além de uma irritante gripe. – Murmurei o fitando.
 
  — Vamos subir, logo o Dr. Sulivan chegará e dirá o que você tem. – Ignorante.
 
  Subimos para o nosso andar e me surpreendi quando ele me enfiou delicadamente para o seu quarto.
 
  — Podia ser no meu quarto, o que o Dr. Sulivan pode achar? – Fitei-o séria.
 
  — Ele não saberá que aqui é meu quarto, a não ser que você diga e queira que ele pensa algo. – Sorriu enchendo um copo com bebida alcoólica que eu não soube julgar qual era.
 
  Respirei fundo, e o mantra já estava se repetindo em minha mente. Não mate o chefe!
 
  Tudo o que eu precisava fazer era ficar calma. A dor estava insuportável, e eu não precisava sentir mais, porque eu tinha certeza de que ia começar a gritar.
 
  Meu corpo estava começando a suar e por isso tirei meu sobretudo e não demorou muito senti frio, e assim fiquei; ora sentia frio, ora sentia calor. E fiquei tipo naquele filme do Jackie Chan; bota casaco, tira casaco.
 
  Meus olhos já estavam querendo fechar de tanta dor e parecia que a qualquer momento eles iriam saltar para fora no instante em que minha cabeça fosse explodir. E podem acreditar, a dor era tanta que eu já estava começando a pedir por isso.
 
  Daniel havia falado algo, mas eu estava ficando mais pra lá do que pra cá. Senti uma mão fria em minha testa e um corpo quente me envolvendo.
 
  — Você está queimando de febre, Hellen! – A voz abafada de Daniel soou em meu ouvido.
 
  Ele me deixou na cama e se afastou, alguns minutos depois alguém estava perto de mim, pedindo para que eu olhasse em uma luzinha irritante e abrisse a boca. Era o doutor. Fiz tudo o que ele havia pedido em uma velocidade que podia me fazer ser a nova espécie de lesma, porque a dor estava começando a me afetar. Falei o que estava sentindo e ele colocou algo gelado entre minha axila e eu estremeci.
 
  — O que ela tem? – Ouvi Daniel perguntar.
 
  — Sinusite. – Foi o que o médico respondeu.
 
  — É grave? – Ouvi uma preocupação.
 
  — Se ela não tomar os remédios certinho como vou passar, pode ficar grave.
 
  — Me passe então os remédios que já peço para trazerem. – Ele estava preocupado? Ou era só a sua consciência se sentindo pesada?
 
  Não podia julgar Daniel e dizer que ele estava se aproveitando de mim, porque sabia bem que ele era assim. Pelo menos comigo, nesses cinco anos, toda vez em que fiquei doente durante uma viagem ou em Nova York mesmo, ele se preocupava e fazia de tudo para me ver bem. Talvez fosse porque ele queria sua assistente novinha em folha para lhe dar mais trabalho, mas eu sabia que não, sabia que era porque mesmo ele sendo chato e tudo o mais, ele era uma boa pessoa, e eu apreciava isso.
 
  — Darei um para cortar a febre, outro para que não deixe a gripe prolongar e outro para sinusite, um antibiótico. – O médico disse e eu me virei para o seu lado a ponto de o ver pegando algo dentro de sua bolsa preta.
 
  Senti algo apertando meu braço, e logo depois uma picada. Era injeção. Meus olhos queriam ficar abertos, mas a dor não permitia, então ficava abrindo e fechando.
  Ouvi Daniel pedindo para que eu descansasse, e atendi seu pedido adormecendo minutos depois...
 
  

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