CAPÍTULO 99: Está Faltando Algo... - Pt II

376 60 24
                                    

[Narrado por Joaquim]




Ai, ai. Foi um soninho bem bom. Tava com saudade de dormir assim, com tanta paz e sem ninguém pra me perturbar. Queria dormir mais, mas apesar de eu não ter aula, meu caçula tem, então...
 
Eu: — Théo, cê vai se atrasar. — bati algumas vezes na porta de seu quarto, na tentativa de acordar o defunto. Pior que acordá-lo, só acordar o irmão mais novo do Luka.
 
Desci para ajudar em casa. Meus pais estavam de boas, como toda manhã. Meu pai sentado lendo uma revista qualquer de artigos científicos, e minha mãe rabiscando designs em folhas de papel enquanto cozinhava alguns testes de receitas que ela ama. Ao me verem, me olharam com um sorrisinho reconfortante.
 
Eu: — Bom dia, Mãe... — dei um beijo na testa dela e fui até meu pai, o abraçando por trás. — Bom dia, paizão.
 
Marcus: — Já chamou seu irmão? — retribuiu o abraço com bastante força.
 
Eu: — Já. Em meia hora ela levanta.
 
Marcus: — Não quero meia hora. Quero ele de pé agora.
 
Tá, tive que voltar para chamar o Théo. É difícil fazê-lo acordar. Só se anima quando digo que Luigi vai levá-lo pro colégio. Só assim pra ele ter vontade de sair de casa, e não ficar jogando videogame até às cinco da madrugada pra acordar às oito.
 
Marcus: — Bom dia, Bela Adormecida.
 
Théo: — Pai, não quero ir pra escola.
 
Marcus: — Por mim tudo bem. Responsabilidade sua, mas se você repetir de série por causa de falta, não vai sair do colégio. Vai continuar até se formar. — Théo suspirou, me fazendo rir.
 
Théo: — Tá bom, eu vou.
 
Depois que Luigi e Cássio passaram para buscá-lo e irem juntos, eu me despedi dos meus pais e corri pra casa do Luka. Ao invés de ficar fazendo nada em casa, eu prefiro fazer nada na casa dele. Thay e Nathalie estão sempre lá, Diogo também, e o Daniel. E claro que eu vou porque o Dani vai estar lá hoje, não sou besta. Agora que estamos nos entendendo bem, talvez passar o dia juntos nos aproxime mais um pouco.
 
Eu: — Beleza, o papai tá na área. — entrei e vi Luka deitado no colo do Thay enquanto mexia no celular, Nathalie e Diogo conversando deitados no chão e mais ninguém em casa. Estava bem fresco ali dentro, apesar de lá fora estar mais quente que o inferno. — Você ama tirar uma casquinha, né, filho da mãe? — Thay riu.
 
Thay: — Hum... talvez. Mas eu namoro, ô filhote de cruz credo.
 
Eu: — Isso nunca te impediu de cantar o Luka umas vinte e sete vezes por dia. — Luka riu. — me sentei no chão ao lado do sofá onde os dois estavam e me escorei na perna do Luka.
 
Thay: — Lucas não liga. Ele mesmo disse que se Luka for entrar no meio, ele adoraria um sanduíche.
 
Diogo: — Eita porra. — Nathalie e ele riram.
 
Ficamos conversando ali, tentando nos livrar do calor, mas mesmo ali dentro estando muito menos calor que lá fora, ainda estava muito quente. Thay já tem tanto fogo no cu, que nem sente mais calor, então foi o único a ficar completamente vestido. Diogo, Luka, Nathalie e eu tiramos a blusa e continuamos conversando e rindo de várias coisas aleatórias. Logo a estrela mais brilhante chegou, finalmente. Dani... e com ele veio a Gabi, mas ele é o protagonista aqui.
 
Gabriella: — Eita, minha Nossa Senhora, geral pelado!
 
Daniel: — Quanto abdômen... e peitos. — franziu as sobrancelhas ao ver até Nathalie apenas de sutiã.
 
Gabriella: — Não esperava menos que pegação em grupo. Tô dentro. Onde minha boca vai primeiro?
 
Os dois evitaram abraços, afinal tava todo mundo suado. Não demorou muito para que Gabriella fizesse o mesmo e tirasse a blusa. Entre conversas e brincadeiras, as coisas esquentavam cada vez mais, e não no sentido confortável. Dani sentou-se um pouco distante de mim, mas não há problema. Me levantei e me sentei atrás dele. Passei meus braços ao seu redor e mordi seu ombro.
 
Daniel: — Não, Joaquim, para! — ele riu. — Eu tô suado.
 
Eu: — É o tempero do seu corpo.
 
Daniel: — Joca! — me empurrou fraco enquanto ria. Acariciei seus cachos largos e aproximei meu rosto de sua nuca, inspirando o cheiro de seu cabelo. Parecia chiclete
 
Eu: — Tá com calor? Tira a blusa.
 
Daniel: — Pra você me provocar de novo? Não, obrigado.
 
Eu: — Qual é. Seu pai até me chamou pra jantar no final de semana. Só você não quer a gente junto. — o abracei, mesmo ele e eu suados. Dei alguns beijinhos em sua nuca, o fazendo rir. Ele me empurrava bem fraco, aparentemente não querendo se livrar de mim tanto assim.
 
Daniel: — Meu pai quer ser o melhor amigo dos meus amigos. Ele iria chamar você pra jantar lá em casa até se você fosse meu pior inimigo.
 
Eu: — No caso eu sou o seu futuro marido.
 
Gabriella: — Ui, eu apoio. Quando rolar, filma pra eu ver.
 
Luka: — Joaquim, pare de assediar o Dani. Não que ele não goste, mas pega mal se minha mãe chegar do nada e ver isso.
 
Daniel: — Olha só, você me respeite! — nós rimos. Ele se virou para olhar pra mim e foi minha deixa. Segurei seu rosto, o forçando a fazer um biquinho fofo. Olhei em seus olhos castanho-mel e mordi os lábios. Eita moleque bonito da porra! Não sei se ele é tão atraente assim pros outros, mas pra mim ele ultrapassou minha concepção de perfeição. Nem Lúcifer foi tão bonito assim antes da queda.
 
Eu: — Meu irmãããão.... Você é a coisa mais linda que eu já vi. — ele afastou minha mão de seu rosto e riu enquanto corava.
 
Daniel: — Você é muito chato, meu Deus.
 
Eu: — Mas você gosta. está falando isso porque os outros estão aqui... no seu quarto semana passada não foi assim.
 
Nathalie: — Eita, o que rolou?
 
Gabriella: — Pegação. O Dr. Maltese chegou na hora.
 
Eu: — Pra esse final de semana a gente pode fazer um trato. Pro seu pai te deixar em paz, eu vou levar o Luka pro jantar. Enquanto Luka pega teu pai, eu pego você.
 
Luka: — Ei!
 
Eu: — Qual é, ele é médico! Eu sei que você tem tesão em médicos. — ele riu e voltou a atenção pro celular, nem concordando e nem discordando.
 
Gabriella: — Tio Beto é mó gato. — Luka, Nathalie e Thay apontaram pra ela rindo e concordando com a afirmação.
 
Luka: — Eu amo seu pai.
 
Nathalie: — Além de super legal, é um gostoso.
 
Diogo; — Ei! — Nath deu de ombros.
 
Daniel: — Não sei se vocês perceberam, mas eu estou bem aqui e vocês estão falando do meu pai.
 
A maioria dos dias são assim. Enquanto a universidade não libera nossas aulas pro início do ano, apenas nos encontramos para bater papo. Mas ao passar dos dias e das semanas, voltamos a estudar e essas reuniões de amigos passou a ser no gramado da universidade, ou na praça. E eu, claro, não sou besta, insisti tanto que Daniel me aceitou. Eu esperava que ele aceitasse em algum momento só para calar minha boca, e realmente aconteceu. Não foi surpresa alguma pro pai dele, afinal ele já esperava que esse relacionamento se desenvolveria entre nós. Ele conhece o Dani mais do que qualquer um, e ele mesmo me disse que eu sou o cara que o Dani mais gosta. Eu, claro, fiquei mó felizão.
 
Eu: — Ei, patrão, posso sair cedo hoje?
 
Mickael: — Você já trabalha meio período, Joaquim. Quer mais cedo que isso? — no hospital, ele passou direto por mim com a prancheta de dados de nosso paciente mais recente. — Hum... essas plaquetas estão um caos...
 
Eu: — Mas é que... — corri atrás dele, o acompanhando. — Sabe, eu prometi que levaria meu namorado pro parque do meu pai... cê sabe, tá um calor infernal, lá tem muitas piscinas e bichos aquáticos, e... Dani gosta muito dessas coisas com água e bichos d'água.
 
Mickael: — Por que prometeu se sabia que iria trabalhar?
 
Eu: — Eu pensei que...
 
Mickael: — Pensou errado.
 
Droga, vou ter que apelar...
 
Eu: — Olha, eu sei que... você é afinzão do meu pai. — na hora ele parou de andar e abaixou a prancheta. — Eu poderia te arrumar um encontro com ele. Com a crise do casamento, eles abriram o relacionamento e estão de boa assim. De vez em quando ele sai com o pai do Lucas e do Guilherme, cê sabe... pra brincar. Minha mãe sai com outras pessoas também.
 
Mickael: — Você está tentando me subornar com um encontro com seu pai? — dei de ombros.
 
Eu: — Bom, se você aceitar, sim... se não, então não.
 
Mickael: — Sabe que eu posso te demitir por insubordinação e tentativa de suborno de um profissional, né?
 
Eu: — Aceita ou não? — cruzei os braços.
 
Mickael: — Eu topo. Saia da minha frente.
 
Rapidamente ele continuou andando pelo corredor e logo sumiu da minha visão. Comemorei com pulinhos e corri para me trocar. Meti o pé do hospital o mais rápido possível, antes que o chefe Micki me visse de novo e acabasse mudando de ideia. Planejei tudinho para aquela tarde. Me arrumei, taquei perfume no corpo inteirinho, conferi minhas roupas algumas vezes e... tive que dar um jeito na minha sunga. Eu quero que essa porra marque pra caralho. Eu quero que meu pau chame a atenção do Daniel mesmo e ele se sinta ainda mais afim de mim. Eu tô muito louco pra vincular nosso relacionamento botando minhas ferramentas pra funcionar e fazê-lo enlouquecer de paixão por mim.
 
Eu: — Pai, eu tô indo, beleza? — ele veio até mim... me olhou curioso e respirou fundo.
 
Marcus: — Está cheiroso... tomou banho todos os dias da semana inteira... está feliz, e... hum... — ele estreitou os olhos, provavelmente desconfiando de algo.
 
Eu: — É, que tem alguém aí que...
 
Marcus: — Você está apaixonado. Já transou?
 
Eu: — Pai! Isso não te interessa!
 
Marcus: — Não. Ainda não. — iria retrucar, mas... — Você é convencido e gosta de se gabar por seus objetivos realizados. Se tivesse feito sexo com a pessoa que você gosta, Deus e o mundo saberiam.
 
Eu: — Olha quem fala. Pelo menos eu tenho alguém específico que quero pegar, e não fico entre minha esposa, meu melhor amigo e meu médico.
 
Marcus: — Olha essa audácia, moleque! Eu tiro seu videogame!
 
Eu: — Opa, aí é demais. — ele iria voltar para o sofá, mas quero ver a cara dele com a notícia. — Paieee... Eu soube que você está muito afim do chefe Micki.
 
Na hora Marcus parou de caminhar, respirou fundo e olhou pra mim por cima dos ombros.
 
Eu: — Se me emprestar o carro, eu desenrolo um encontro só pra vocês dois.
 
Marcus: — O-o que??? U-um encontro??? — voltou para perto de mim e parecia mais tímido.
 
Eu: — Sim. Se me emprestar o carro o resto do dia, eu também te conto um segredinho do Mickael.
 
Marcus: — Beleza. — rapidamente ele tirou as chaves do bolso e arremessou pra mim. A agarrei e guardei no meu bolso. — Mas... ele jamais aceitaria sair comigo assim. Ele é um cara tão profissional e importante... tão reservado e sério.
 
Eu: — Vai sim. Mickael é gamadão em você, paizão. Ele quer te pegar desde que te conheceu, mas você fica fugindo por medo e vergonha. Um homem desse tamanho, com essa idade na cara, com medo de um romancezinho clichê do advogado e o médico.
 
Marcus: — I-i-isso é... sério?
 
Eu: — Aham. Vá no hospital hoje às oito da noite. É o fim do plantão dele de hoje. Chame ele pra sair, com toda certeza ele vai aceitar, então se divirta. — ele olhou pra baixo, mordeu os lábios e assentiu.
 
Marcus: — Eu quero o carro às sete.
 
Eu: — Ah, não! Mas, pai...
 
Marcus: — Às sete. São uma da tarde. Dá pra você pegar seu namorado, levar pro parque, se divertir, levar ele em casa e me trazer o carro. Agora vai. Dispensado.
 
É o máximo que eu arrancaria dele. Não reclamei, só saí, peguei o carro e zarpei. No caminho tive uma ideia, então fui pra casa do Luka e entrei bem rápido sem nem ser percebido. Corri pro quarto dele e o vi deitado estudando. Ele me ignorou completamente. O cumprimentei, mas ele fingiu que eu nem existo. Mexi nas coisas dele e... encontrei. Edição de Aniversário de Onze Anos da Revista T-Surreal Gossip. A melhor revista já lançada por eles, afinal tem um conteúdo muito legal. Voltei pro carro. Fui pra casa do Dani. Ao chegar lá, toquei a campainha com a revista enrolada em forma de cilindro na mão. O Dr. Roberto me atendeu. Com um sorrisão, pediu que eu entrasse. Dani já estava pronto, só foi passar o protetor-solar. Sentei-me com o sogrão e ficamos conversando.
 
Roberto: — Olha, se o Dani voltar com um arranhão, eu capo você. Se o Dani se afogar, eu capo você. Se você pretende despurificar meu filho, eu capo você.
 
Eu: — Olha, a gente pode fazer um acordo... um pacto, o que acha? — ele franziu as sobrancelhas.
 
Roberto: — Não! Não tem acordo pra você transar com meu garoto! Se toca, Joaquim! Eu gosto muito de você, mas sossega!
 
Eu: — Escute a proposta, sogrão. Olha o que eu trouxe... — joguei a revista no colo dele.
 
Roberto: — O que é isso?
 
Eu: — Abra. — ele olhou a capa e... instantaneamente estreitou os olhos e franziu as sobrancelhas. Ele tocou a capa, apontando pro conteúdo, me olhando de uma forma curiosa.
 
Eu: — Sim, é ele. — falei ao olhar brevemente para o Luka na capa da revista da cintura pra cima e... peladão. — Pra dentro fica ainda melhor. — Não precisou de muito. Ele abriu a revista e corou na hora. Ficou como um tomate maduro. — Mó delícia, né? Luka atrai qualquer homem... ou mulher. É quase impossível não se excitar com ele.
 
Roberto: — Uau... Ele tem um físico bem... notável. Os glúteos tão... — sorri. — aparentes... mas o que isso tem a ver com...
 
Eu: — Se me permitir trepar com o Dani, eu desenrolo o Luka pra você.
 
Roberto: — O QUÊ?!?!
 
Eu: — É o pacto.
 
Roberto: — Você enlouqueceu?! — questionou baixo, para que Dani não escutasse. — Eu não vou ir pra cama com outro cara e... quase vinte anos mais novo que eu! — ele arremessou a revista contra mim, me fazendo rir com sua reação.
 
Eu: — Não é errado. Aliás, eu soube que o Senhor está solteiro há séculos e não se diverte desde então. Está sempre trabalhando, sempre ocupado... nunca pensou em uma diversão diferenciada? — ele abriu a boca para retrucar, mas gaguejou e travou pra falar.
 
Roberto: — S-s-sim, m-m-ma-mas... Não dessa for-forma! Não com o amigo do meu filho...
 
Eu: — Chega mais, sogrão. — me aproximei dele. — Fale a verdade. Há quanto tempo cê não... tu sabes.
 
Roberto: — Não é da sua conta!
 
Eu: — Os dois são maiores de idade, e essa diferença não importa se vocês dois não ligam. — ele franziu as sobrancelhas e ficou calado, meio pensativo. — Sabia que... Luka tem o maior tesão em médicos? — na hora vi ele engolir em seco. — Sério, sua idade não vai importar. A experiência vai deixá-lo ainda mais à vontade pra foder contigo.
 
Roberto: — Joaquim... — disse meu nome num tom de repreendimento, mas só ri e dei dois tapinhas em seu ombro direito.
 
Eu: — Depois de sentir o prazer de afogar o ganso numa piscina de qualidade, o Senhor só vai querer isso. Nesse final de semana vai rolar.
 
Roberto: — Eu não quero!
 
Eu: — Marcado. Luka não tem nada pra fazer nesse fim de semana, vou pedir pra ele vir aqui e o seu trabalho vai ser apenas abaixar as calças. — ele iria retrucar, mas foi interrompido.
 
Daniel: — Já estou descendo! — gritou lá de cima.
 
Eu: — Preparado, sogrão?
 
Silêncio. Ele estava processando a informação. Ao terminar de processar, mordeu a ponta dos dedos e ficou me olhando de relance várias vezes.
 
Roberto: — É verdade que... ele gosta de médicos? — ri baixo. Ele estava morrendo de vergonha.
 
Eu: — Claro. Acha que ele pegava o Miguel o tempo inteiro por qual motivo? Ele se atrai por pessoas responsáveis... principalmente se tiver um diploma. Cê tem?
 
Roberto: — Mestrado e doutorado...
 
Eu: — Ótimo! Vai ser uma trepada que vai te levar aos céus. Já peguei o Luka uma vez e foi... uau, não posso me forçar a lembrar, senão o bicho pega. — ri e me levantei. Ele riu meio nervoso e ficou sentado, meio acuado. Ele é bem tímido, e tenho certeza de que Luka vai achar isso fofo.
 
Enfim Daniel apareceu e era hora de irmos. Joguei a revista pro Robertão e ela já abriu numa página muito boa, com Luka deitado peladão num urso de pelúcia gigante, mostrando o rabo e o bronzeado.
 
Eu: — Fica pra você. Vai treinando as mãos antes desse fim de semana.
 
Daniel: — O quê? Do que cês tão falando?
 
— Nada de importante. — O pai dele e eu falamos juntos, e ele escondeu a revista.
 
O passeio saiu como eu planejei. Daniel não queria ir comigo para uma sala vazia, mas minha lábia, quase como a de um demônio de encruzilhada, o convenceu a me seguir até o banheiro vazio, onde ele realizou meus sonhos, me dando uma mamada maravilhosa. Eu queria mais... muito mais, mas ele não queria ali. Então voltamos pro carro e... rolou no carro. A coisa foi inacreditável, de tão perfeita e gostosa que foi. Balançamos o carro por quase uma hora, e eu saí de lá feliz. Após toda a brincadeira, ficamos sentados num banco olhando o sol se pondo. Entrelacei nossos dedos e senti o quão conectados estávamos. Olhei pra ele e... queria dar-lhe um beijo saboroso.
 
Eu: — Você é a coisinha mais linda desse mundo. Eu tô loucão por você a cada dia que passa. — fechei meu olhos pronto para beijá-lo, mas...
 
— Acorda, otário do caralho.
 
Uma voz extremamente grave e assustadora ecoou de todos os lados. Me afastei do Dani e olhei rapidamente ao redor.
 
Eu: — Mas que porra foi essa??? Cê ouviu isso?!
 
Me virei pro Dani pra ver se ele também tinha escutado, mas... Ao olhar naqueles olhos, eu os vi queimando como o fogo eterno. Estava com uma coroa de chifres pretos na cabeça, com um par de chifres grandes na frente, um par grande atrás, e entre esses dois pares de chifres havia outros chifrezinhos, como uma coroa negra. Seu cabelo não era mais cacheado, mas longo, preto e liso, indo até próximo do quadril. Dei um salto da cadeira ao ver aquilo. Não era o Dani, era uma outra pessoa com características demoníacas!
 
— Não ouvi nada, Joca. Cê tá bem? — aquela coisa disse com a voz do Dani. Me afastei assustado, com os olhos arregalados e me sentindo muito mal. — O que houve, meu amor? Parece estar... com tanto medo... — Aquela coisa sorriu. Era muito, mas muito macabro, me arrepiei inteiro.
 
Eu: — Que porra é você??? — ele se levantou. Era magro, com a pele exageradamente pálida, e bem mais alto que eu. Seu olhos pareciam estar em chamas. — Você não é o Daniel!
 
— Óbvio que não. Eu sou algo muito pior do que um molequezinho fraco que você gosta. Eu sou você, Joaquim. A sua mais corrompida versão. — o ser alto com chifres se aproximou de mim com passos lentos, e com o braço enorme quase do meu tamanho, tocou minha cabeça. Meu corpo inteiro paralisou na hora. Ele apenas acariciou minha cabeça e riu alto, uma risada extremamente macabra.
 
Eu: — O que...
 
— A sua essência foi moldada para superar esses momentos falhos. Você tem meu sangue, mas não é um porcento do que eu sou. Fraco, arrogante, ingrato pelo poder que tem, imoral, impotente... fraco. Se não fosse por mim, você já estaria morto, Joaquim. Eu sou tudo o que você tem, eu sou tudo o que você é e serei tudo o que você representa. O Veneno de Deus.
 
Eu: — Samael...
 
Ele deu um passo pra trás e... se virou de costas pra mim.
 
— Se fosse esperto, teria percebido que isso é uma criação da sua própria mente. Uma mente conturbada carente do amor de uma família. Seus pensamentos torneiam a sua sexualidade, mas não te culpo, afinal você é apenas um demônio dominado pela corrupção e pelo prazer da carne. Seus pais te criaram pra ser fraco, apesar de terem te dado tanto poder... o poder que você perdeu. — continuou caminhando pra longe, mas ainda assim eu podia escutar sua voz terrível como se ele estivesse ao meu lado. Conforme andava, seu cabelo longo e liso balançava com o vento, deixando pra trás uma névoa escura como rastro.
 
Eu: — Eu não... eu não sou fraco... — olhei pra baixo. Ele riu alto, mas tão alto que senti todos meus ossos vibrarem. A coisa se afastava, mas senti uma presença atrás de mim. Ao me virar, dei de cara com... comigo mesmo. Ali parado estava uma cópia minha. Vestia a mesma roupa, com o mesmo cabelo dourado, exceto os olhos. Seus olhos estavam completamente pretos e choravam lágrimas de sangue. As veias ao redor dos olhos estavam saltadas e sua boca estava pálida. Aquele clone abriu um sorriso extremamente sinistro e psicótico e começou a se aproximar de mim. Dei passos e mais passos para trás enquanto ele... eu.. ele, não sei... ainda sorria.
 
Eu: — Quem é você???
 
Joaquim: — Eu sou você. — antes que eu pudesse reagir de alguma forma, ele me acertou um soco rápido, me derrubando pra trás. Caí sentado e o encarei de novo.
 
Eu: — Não, eu estou aqui... isso é impossível!
 
Joaquim: — Ainda estou aqui, e continuo sendo você. Sua mais profunda vontade, seus desejos ocultos, sua... sua sombra.
 
Me levantei. Não iria apanhar pra uma cópia minha! Tentei atacá-lo, mas ele se esquivava muito rápido, e quando iria acertar-lhe no estômago, ele agarrou meu punho e... sua mão explodiu em chamas, queimando meus dedos. Mas não consegui me afastar.
 
Eu: — Você não existe...
 
Joaquim: — Eu estou olhando pra mim. Tu és minha fraqueza, e eu sou tua força. Apesar de tudo, essa foi uma boa forma de você se conectar a mim. Posso dizer-lhe o quão prepotente tu és, meu caro. Você morrerá sozinho, e a culpa é sua... a não ser que me deixe sair
 
Eu: — O-o quê?! Não!
 
Joaquim: — Até agora você foi apenas um estorvo para seus amigos e para sua família. Eu, Joaquim Hellest, serei um filho melhor e um amigo melhor. Me liberte agora, seu verme!
 
Fechei os olhos com força, sentindo minha cabeça latejar. Senti minha mente sendo invadida, meu corpo lutando contra algo que eu não podia ver.
 
Joaquim: — Já que não vai me deixar sair, então saia você daqui. Já chega dessa vida perfeita de merda que te colocaram. Isso não passa de besteira. Amor é para covardes fracos hesitantes.
 
Não pude nem me despedir da perfeição que me colocaram... e nem dizer adeus ao moleque que eu queria tanto ter próximo a mim. Achei que tudo fosse real, mas... agora consigo sentir a diferença dos meus sentimentos. Eu nunca poderei ter o que eu almejo ter. Afinal eu nasci de uma família conectada com demônios. O que mais eu teria além de exílio e sofrimento? Um amor? Pfff! Que idiotice eu achar isso. Até parece que eu poderia me apaixonar, ou até mesmo alguém se apaixonar por mim... ou até mesmo ter uma família que confia tanto em mim. Agora que me lembro, eu poderia até dizer que Marcus é uma família, mas... apesar de ele dizer o tempo inteiro que confia em mim, eu sei que não. Qualquer deslize meu, todos me odiariam. Eu fui moldado pra ser falho, pra que o mundo me odeie, para ser maldoso e traiçoeiro. Eu não quero que meus amigos me vejam assim, então eu evito seguir meus pensamentos o tempo inteiro. Eu prefiro ser fraco e que os outros me aturem e ajam como uma família normal, do que parecer forte e todos me rejeitarem e terem medo de mim. Eu só quero... ser normal. E perder minha magia me fez perceber o quão bom é não ter que me preocupar com tudo. Eu aprendi a fazer as coisas por mim mesmo, manualmente, e não ser dependente dos meus poderes.
 
Achei que depois da aparição de Samael na minha cabeça, eu voltaria para a vida real, mas... não. Algo foi mostrado a mim, lutando contra a força da contramagia de Samael. E não foi o Djinn.
 
— Papai, papai! O tio Joca me deu plesente!
 
— Ah, sério? E você gostou? Já abriu?
 
— Não, papai, ainda não é o meu veversálio.
 
Aquela voz... era tão gostosa de ouvir... tão... fofa. Parecia uma criança animada.
 
— Ele te deu o presente antecipado e você não vai abrir porque ainda não é a hora? — a risada ecoou. Eu conheço essa voz, mas não consigo identificar quem é exatamente. — Sua fidelidade aos outros me encanta, meu filho. Vamos visitar a vovó e o tio Joca?
 
— Aham, papai!
 
— Você gosta dele, né? E ele gosta muito de mimar vocês.
 
— Titio Joca é o melhor titio.
 
Por um momento sorri. Meu rosto queimou. Senti um calafrio e uma sensação... diferente. Aquele vazio repentino foi preenchido. O ambiente que eu estava mudou. De repente me vi em frente à porta da casa do Marcus e da Martha... segurando uma bolsa cheia de... de presentes. Não bati na porta, só entrei. Vi todos reunidos na sala, sentados conversando, e as crianças brincando.
 
Eu: — Tio Joca tá ná área! — gritei.
 
— Tio Joca!!!
 
— Titio Joca!!! — as crianças vieram correndo me... me abraçar. Sorri como um bobo e... eu conseguia sentir a sinceridade no sorriso que eu dava, e também nas expressões das crianças. Cada uma com sua fisionomia única.
 
Coloquei a bolsa no chão e deixei com que eles pegassem os presentes. Assim que encontraram os com os nomes deles, vieram me abraçar de novo.
 
Eu: — Eu amo vocês. Cadê o beijinho do tio? Adam? — toquei minha bochecha. Ele veio rindo e me deu um beijo. Agarrei as bochechas dele e as apertei, o fazendo rir e tentar me empurrar. — Que cara fofo, meu Deus! — ele riu e se afastou.
 
Adam: — Obrigado, tio Joca.
 
Eu: — De nada. E vocês? — Toquei meu rosto de novo. Os outros três fizeram fila e beijaram minha bochecha de uma forma fofa. Abracei os quatro e rimos. Não entendo o porquê, mas eu senti um apego e um amor tão forte por aquelas crianças... eu não compreendo a força do que senti. Eu não tenho alma... tipo, não sou capaz de sentir emoções da forma que os outros sentem, apesar de entender como cada funciona. Todos os sentimentos pra mim vem em pouca quantidade, e sentir o que eu sentia ali, me fez sentir tão... vivo. Após várias risadas, as coisas foram ficando escuras pra mim. A última coisa que vi e ouvi foi Marcus e Thay vindo até mim.
 
Thay: — Obrigado por ter vindo, irmão.
 
Marcus: — Eu te admiro tanto. Sua vida, seu corpo e sua alma é você quem molda. Eu te disse. Só você pode assumir seu controle.
 
As coisas escureceram ainda mais, a ponto de eu não enxergar mais o que acontecia. Fechei os olhos e tudo apagou.
 
Ao abrir os olhos, vi que eu estava na minha cabana, deitado na minha cama. Ao olhar pela janela, ainda estava de dia. Não sei como vim parar aqui, mas... eu estou aqui. Foi um sonho muito estranho e muito... muito bom. Sinto-me mais disposto e bem revigorado. Um sonho com significado, que parece ter me ensinado algo importante.
 
Ao olhar para o lado, vi um cara ajoelhado e... parecia cansado. Ele tinha a pele preta, bem escura, tinha o cabelo preto cortado baixo, e vestia-se como um soldado do século passado. Ao levantar a cabeça, vi seus olhos em chamas.
 
Eu: — Você é o... Djinn? — me sentei na cama. Ele não se moveu, apenas abaixou a cabeça e tossiu. — Você está doente. Não é tão forte quanto seus irmãos.
 
— Samael... te protege. Me mate enquanto pode... senão eu lhe trarei o inferno... — suspirei. Ele tossiu ainda mais, derramando sangue no chão. Voltei a me deitar e relaxei.
 
Eu: — Vá embora. Eu não vou conseguir te matar mesmo. Por outro lado sua doença vai. — ele se desintegrou em névoa e desapareceu no ar. Suspirei ao me sentir extremamente cansado... virei pro lado e... seria legal tirar um cochilo.



ABOOH : Amores Sobre-Humanos Onde as histórias ganham vida. Descobre agora