CAPÍTULO 90: Eu Não Suporto Vocês

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[Narrado por Luka]
 


Beatriz: — Luka, a gente precisa conversar. Interrompi o abraço que estava dando no Gui. Procurei a mãe dele no ambiente e fixei meu olhar em seus olhos. Ela estava bem séria. Carlim veio logo atrás, e passou direto em direção à grande mesa de cristal.
 
Eu: — Tá... tá. Tudo bem. É importante? — senti o coração do Gui acelerar.
 
Beatriz: — Ah, não muito. É sobre um recado que eu trouxe lá de Paris pra você. Vamos conversar lá na mesa. Sua mãe precisa saber também.
 
Recado de Paris? O que eu tenho a ver com esse lugar?
 
Guilherme: — Mãe, não... por favor... — a voz dele saiu fraca e dolorosa, como se ele estivesse implorando para a mãe não falar sobre seja lá o que ela queira falar. Encarei-o por alguns segundos, notando um desconforto. Ele estava implorando... mas por quê?
 
Agora eu quero saber. Não falei mais nada, só me virei e fui sentar-me. Guilherme ficou lá parado. Esperava que ele viesse se sentar também, mas não. Ele continuou parado no mesmo lugar.
 
Eu: — Então? O que houve? Não vai dizer que Guilherme fez besteira! — ela riu.
 
Beatriz: — Não, não. Ele se comportou bem. Só foi insuportável em alguns momentos. Mas o que eu tenho a dizer não tem nada a ver com o Guilherme. É sobre você.
 
Ué... o que tem eu agora?
 
Beatriz: — Quando você foi visitar o Gui, você foi apresentado aos meus sócios e patrocinadores. Eu só tinha te apresentado porque você é bonito e porque o Guilherme falava de você o tempo inteiro, e todos queriam te conhecer. Mas a questão é... A agência T-Surreal quer contratar você por decisão unanime.
 
Eu: — O quê???
 
Por alguns momentos eu fiquei boquiaberto. Não esperava escutar aquilo. Esperava muitas coisas, mas não aquilo!
 
Carlim: — Uau.
 
Sílvia: — Minha nossa.
 
Beatriz: — Eu não tinha pensado na possibilidade de agenciar você, mas meus sócios te acharam perfeito para o trabalho. Está para acontecer um evento de alta classe na Inglaterra, especificamente em Londres, e Julian achou a sua sensualidade perfeita para desfilar com as roupas da Margarete.
 
Eu: — Espera... desfilar? Tipo, trabalhar como modelo e essas coisas? — ela assentiu. Ri e abaixei a cabeça.
 
Beatriz: — Eles acharam sua aparência e sensualidade algo de outro mundo, o que é bem irônico.
 
Eu: — Não, obrigado. Acho que isso não é pra mim. Posar na frente de várias pessoas? Desfilar em eventos... isso é muita responsabilidade.
 
Carlim: — É ótimo, Luka. Parece ser bem legal. Vai ser uma área de aprendizado pra você, e vai te dar uma ajudinha quando estivermos em Cetos e você precisar se apresentar durante os eventos. E também vai ocupar o tempo e a cabeça nesse caos.
 
Sílvia: — Eu apoio. Parece uma boa oportunidade. Você deveria ir, vai que gosta.
 
Eu: — Eu não... não s-sei...
 
Beatriz: — Antes da sua resposta, eu preciso ser sincera sobre riscos que surgiram. — ela olhou para trás. Notei que Guilherme nos encarava com aquela expressão marrenta. Ele parecia estar puto de novo, e eu nem sei o motivo dessa vez. — Você precisa saber a opinião do Guilherme sobre isso. Vai, fala, Gui.
 
Guilherme se aproximou, mas ficou calado.
 
Beatriz: — Você ficou horas reclamando e não vai abrir o bico agora? Vamos, senão eu falo no seu lugar. — ergui uma sobrancelha. Guilherme revirou os olhos e me encarou.
 
Guilherme: — Eu não quero que você aceite isso. Por favor, diga que não quer.
 
Ele disse só isso. Todos nós nos entreolhamos e ficou um silêncio estranho. Eu já não quero isso. Ele nem precisa me pedir, eu vou recusar de qualquer jeito. Não quero me envolver com algo que possa atrair muita atenção pra mim, ainda mais atenção de humanos. Qualquer deslize meu colocará em risco a nossa identidade.
 
Beatriz: — Diga o que você me disse.
 
Guilherme: — Mãe...
 
Beatriz: — Não, cadê a sua coragem? Não tinha a palavra suprema? Fale na frente dele... ou você está com medo?
 
Eu: — Oie, eu ainda estou aqui. Guilherme?
 
Beatriz: — Tá bom, eu falo. Guilherme arrumou a maior pirraça porque não queria que eu te passasse o recado. Isso porque ele rejeita completamente a ideia de que você saia mostrando seu corpo como uma mercadoria.
 
Guilherme: — Eu não retiro o que eu disse.
 
Beatriz: — De acordo com ele, vou estar destruindo a sua imagem. Ele jura que vou te leiloar como ator pornô depois de umas semanas de trabalho.
 
Eu: — Sério? Mas que coisa mais ridícula. — tive que rir. Foi inevitável. — Isso é ridículo até pra você, Utrack.
 
Guilherme: — Você não vai, eu já decidi. Não quero ver meu namorado mostrando o corpo nas revistas da forma que aquele povo mostra, e acabar com a nossa imagem. Vai ser vergonhoso! — ele deu um soco na mesa. Fiquei só olhando.
 
Beatriz: — A gente já conversou sobre isso, Guilherme. Se acalme.
 
Uma coisa... desde quando esse macho acha que pode decidir as coisas por mim? “Eu já decidi.”. Que chacota.
 
Guilherme: — Luka, olhe pra mim. Rejeite isso, por favor. Eu não posso namorar uma pessoa que se expõe como uma... uma... — Beatriz respirou fundo e passou as mãos pelo rosto. Sorri e encarei-o da forma mais debochada possível. Falei nada. Só fiquei o encarando com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso irônico. Isso tá me lembrando algo familiar. Bem que Marcelo me disse. Eu não conheço as pessoas da forma que eu acho que conheço. Seu âmago continua oculto de mim.
 
Eu: — E se eu aceitar? Não vai mais suportar conviver comigo mostrando meu rabo na capa de uma revista pornô? — sua expressão mudou rapidamente para surpresa. — E se eu aceitar, Guilherme?
 
Guilherme: — Eu não vou namorar uma mercadoria que é usada pelos outros. Nosso namoro vai deixar de existir.
 
Eu: — Isso é sério?
 
Ele está me ameaçando?
 
Guilherme: — Se você aceitar essa merda, eu vou terminar com você.
 
Carlim: — Ah, Santo Abooh. — deu um tapa na própria testa.
 
Eu: — Você está tirando o local de fala das pessoas que sobrevivem desse tipo de trabalho. Quem você pensa que é para menosprezar uma área de trabalho como qualquer outra? Que tipo de mente minúscula é essa, Sr. Palavra de Deus? Você é mais gostoso calado.
 
Guilherme: — Eu não vou desfazer minha opinião só porque você pensa diferente de mim.
 
Eu: — Beleza. Eu iria rejeitar porque isso não combina comigo e eu não quero esse tipo de atenção... mas por causa da opinião ridícula do Utrack mirim, eu aceito o convite. Adoraria estampar meu corpo em todas as revistas possíveis, vestindo todas as roupas que tiverem pra mim.
 
Guilherme: — Mas... não... — ele perdeu todas as palavras que tinha.
 
Eu: — Bom... estão sentindo este cheiro? Uau! É a liberdade. Acho que tô solteiro.
 
Me levantei da cadeira e me curvei sobre a mesa.
 
Guilherme: — Você está... realmente acabando com tudo?
 
Eu: — Você pediu... eu realizei. Encontre outro otário pra controlar. Eu não sou sua Barbie.
 
Me afastei deles. Vi Joca saindo de uma das portas e fui até ele. Segurei sua mão e o puxei comigo até a mesa. Ele ficou completamente vermelho. Estava muito envergonhado por ter ignorado todo mundo ao se trancar no quarto. Guilherme ficou parado ali do lado. Sua respiração estava pesada e... ele estava prestes a ter um ataque de raiva. Então pegou a cadeira de cristal enquanto rosnava e a arremessou para trás, na esperança de descontar sua raiva quebrando algo. Mas levantei minha mão rapidamente e senti um deslocamento de energia. Uma vertigem fraca me atingiu, mas consegui segurar a cadeira no ar. A trouxe de volta e a coloquei no lugar, sorrindo e provocando o marrento loiro.
 
Por incrível que pareça, já me sinto um expert em telecinese, apesar de ter desbloqueado essa parte há pouquíssimo tempo. Sinto como se eu já nascesse com a prática.
 
Eu: — Hum... ficou bravinho, é? — ri.
 
Guilherme não disse nada. Ele apenas se virou, saiu em passos rápidos e entrou na primeira porta que abriu.
 
Joaquim: — O que deu nele?
 
Eu: — Terminei com ele antes dele terminar comigo. Tá frustrado e putinho da vida agora. Deixe ele surtar sozinho. — ri de novo. Joca manteve o olhar em mim e riu comigo.
 
Joaquim: — Você às vezes é meio perverso, e isso é estranho. Parece que você está sob efeito da lua outra vez.
 
Eu: — Talvez essa seja a minha verdadeira face... e a lua apenas libertou o que eu evitava mostrar. — ri de novo. O povo na mesa me encarava sem dizer nada, mas Carlim ria.  — Agora eu não dou a mínima.
 
Beatriz: — Tô triste pela situação, mas não posso deixar isso me abalar. Luka, vou preparar o contrato, vou conversar com meus sócios e marcar uma sessão pra você. Você vai precisar de um Book, mas deixe isso comigo. É Provável que o contrato esteja pronto depois das suas férias. E aliás... eu vou ter o prazer de te agenciar e te orientar. Só vai precisar aprender francês, inglês e talvez um pouco do espanhol europeu.
 
Eu: — Tá bom, de boa. Acrescentarei na minha lista, junto com Kroatto. Vou fazer meu melhor.
 
Subi com Joca para minha casa. O cheiro da comida que Jane preparava estava forte, e logo escutei a barriga do Sr. Teimoso roncando. Ele correu e sentou-se à mesa. Fiquei com ele ali o tempo todo, até que ele terminasse de comer. Nathalie apareceu depois de um tempo e sentou-se pra comer também. Os dois aproveitaram, no entanto eu nem comi nada. Só estava ali pra fazer companhia e contar fofocas. Contei do meu término com Guilherme, e Nathalie nem ficou surpresa. Disse que já sabia que iríamos acabar com o que tínhamos uma hora ou outra, e era só questão de tempo. Guilherme ainda não aprendeu a aturar minha audácia da forma que ela, minha mãe, Cássio e Jane estão acostumados. Mas enfim, assim que Joca terminou, ele desceu para seu quarto de novo, mas só para escovar os dentes e voltar. Chamei ele pra sair comigo e com a Nathalie, e ele foi obrigado a aceitar. Nath tentou chamar o Diogo, mas ele rejeitou, já que estava consolando o boneco Ken. Estávamos saindo quando Thay do nada surgiu ao nosso lado.
 
Thay: — Hum... pra onde estamos indo? — Nathalie deu um salto de susto.
 
Nathalie: — Ai, seu demônio das profundezas do inferno! Ninguém te chamou, viado! — ele riu.
 
Thay: — Estou entediado. Vamos transar, Joaquim?
 
Joaquin: — Vam... O QUÊ???
 
Thay: — Talvez tu, Luka e eu. Nos divertiremos, e darei prazer verdadeiro aos dois.
 
Nathalie: — Olha só, querendo me excluir da suruba. Acha que tu é quem?
 
Eu: — Ai, Thay, só você e sua irmã pra me fazerem rir assim. — o empurrei pra longe de mim, mas ele insistia em ficar muito perto. Segurou o braço direito do Joca e examinou os machucados.
 
Thay: — Hum, eu posso dar um jeito nisso. — Sua entonação sensual fez Joca ficar completamente vermelho. Mas ele não pode escapar de Thay, que agarrou o rosto dele e o beijou. Não foi como se Joca tivesse sido forçado... ele até que aproveitou o momento. Os dois quase caíram na calçada enquanto trocavam saliva. Por mais que Joaquim queria recusar e sair do beijo, ninguém resiste ao toque da boca do Thay. Ele beija de uma forma divina! Sua língua, seus lábios... tudo age da forma que deve agir, e eu nem sei como ele sabe exatamente o que fazer. Parece que ele escuta nossos pensamentos e... ah, tá... mas ele escuta, né, anta.
 
Quando Thay se afastou do Joca, os machucados dele sumiram, mas não todos. Ainda havia alguns hematomas.
 
Eu: — Se for fazer, faça direito, bonitão. — empurrei Thay pro lado e... segurei na gola da blusa do Joca e o agarrei contra mim. Ele percebeu o que eu iria fazer rapidamente, e me atacou com um beijo de língua antes mesmo de eu me aproximar para dar-lhe primeiro. Senti sua língua adentrar minha boca e eu até que gostei. Nunca tinha beijado ele antes dessa forma, que não seja para impedir que ele morra... e ele conseguiu me excitar. Seus braços foram por trás de mim e me pressionaram contra seu corpo. Passei minhas mãos por trás da cabeça dele e acariciei seu cabelo dourado macio, que se estendia até os ombros. Usei minha língua também, e chupei a dele de uma forma que o fez gemer.
 
Nathalie: — Calma, calma! Calma que o término é recente. — ela pôs as mãos entre nós e nos afastou. Joca passou as mãos pelo rosto enquanto sorria como um bobo. Ele se virou e deu uma voltinha pela calçada enquanto ria com as mãos na cabeça, sem acreditar no que aconteceu. Seus ferimentos estavam completamente cicatrizados, sem nem mesmo hematomas. Sua pele estava lisa, e as casquinhas dos machucados secas soltando da pele.
 
Joaquim: — Caralho, mano... hoje eu saí no lucro! — rimos.
 
Nathalie: — Joca... seus sonhos se realizaram. Cê pegou os caras mais gostosos da família. — ele riu e comemorou com os braços acelerados.
 
Joaquim: — Só não vou ficar com teu irmão porque ele é muito mais velho que eu. Mas Luka... — seu sorriso safado me fez rir. — Estou sempre disponível.
 
Eu: — Cale a boca, Joaquim. Vamos, antes que anoiteça. Quero estar em casa na hora da renovação dos exames de Anco.
 

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