CAPÍTULO 87: Ninguém Para Trás

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[Narrado Pelo Autor]

Ynatta: — Troy... — Troy se ajeitou e posicionou as mãos aobre o peito de Anco, fazendo massagem cardíaca no dorso enorme do homem caído. Ynatta segurou suas mãos desesperadas. — para... ele está morto.
 
Troy se curvou sobre o corpo e tentou abraçá-lo, mas sentiu algo molhado nas costas dele. Com calma, segurou os braços de Anco e virou seu corpo. Havia sangue nas costas dele... muito sangue. Ynatta rasgou a roupa dele com as garras e caçou o ferimento que o matou, mas... estava limpo. Sem ferimento algum. Mas ele estava deitado em uma poça de sangue. Seja lá o que o matou, arrancou o sangue de seu corpo sem feri-lo.
 
Otávio se aproximou e se agachara ao lado do corpo. Ele tocou a cabeça de Anco e fechou os olhos... logo ele os abriu e respirou fundo. 
 
Otávio: — Não foi magia normal. 
 
Troy: — O-o quê? 
 
Otávio: — Não foi magia normal! — ele agarrou a jaqueta de Anco e tentou tirá-la. Os braços dele estavam completamente marcados por linhas e mais linhas roxas. Pareciam marcas de algemas, de corda, ou algo que o manteve preso por... por muito tempo. Mas eles não ficaram tempo o suficiente fora para aqueles hematomas aparecerem, mesmo que Anco tenha, supostamente, sido feito de refém naquelas três ou quatro horas que Marcus se afastou. Eram marcas de eras. 
 
Otávio rapidamente desceu as mangas de Anco ao perceber que alguém se aproximava. Marcus aparece, apoiado nos ombros de Shank. Ao ver o corpo inerte de seu amigo, não precisou de tempo para a ficha cair. Marcus apenas se afastou de Shank e todos viram seus lábios tremendo. Ele caiu de joelhos, derramando um mar de lágrimas. Aos poucos ele se aproximou do corpo e o tocou com calma.
 
Marcus: — Não... — tentou enxugar as lágrimas, mas foi inútil. 
 
Otávio: — Ele está morto. — Marcus toca o pescoço de Anco, mas não sente o pulsar e a respiração. Ele então toca as costelas de Anco, passando as mãos por baixo da blusa escura. Ele sentiu o sangue, e também sentiu o pulsar. 
 
Marcus: — Não. Ele não está morto... ainda. — enxugou as lágrimas de novo.
 
Troy: — O-o-o q-quê??? — se aproximou.
 
Marcus: — Ele está hibernando. 
 
Otávio: — Hiber... hibernando? Isso é possível? — Marcus sacou um canivete prata e cortou a blusa de Anco. Ele viu as marcas nos braços, no peito, na barriga e nos ombros do amigo. Estranhou, mas não tinha tempo de discutir isso agora. Só ajudou Anco a se livrar dos tecidos. Sua parte superior ficou nua. 
 
Marcus: — O sistema respiratório dele foi paralisado, ou parou de funcionar, mas... os cetorianos da nossa espécie possuem respiração cutânea desenvolvida, mas a absorção de oxigênio é muito baixa para um corpo como o nosso aguentar por muito tempo. Ele está respirando apenas pela pele, e ele vai morrer se não o levarmos para a enfermaria do meu laboratório imediatamente!
 
Otávio nem deixou que ele terminasse de falar. Agarrou o braço de Anco e a pele de ambos se iluminou. Linhas começaram a se estilhaçar pelo corpo dos dois, e repentinamente ambos se desintegraram no ar, desaparecendo como poeira pelo vento.
 
Ynatta: — E... ele se teletransportou de novo. Que droga, Otávio! 
 
Troy: — Vamos pro laboratório. Ele vai estar lá. 
 
No saguão da câmara... 
 
Carlim e Sílvia, que estavam conversando e olhando o painel, se assustam quando Otávio surge do nada, em um lampejo de luz. Carlim se aproxima e vê que ele estava com o corpo de... Anco.
 
Otávio: — Ele precisa de ajuda agora! — Carlim apenas assente e corre para a enfermaria. Otávio agarra o braço de Anco e desaparece mais uma vez. 
 
Carlim: — Em cima do quartzo. — Otávio se materializa, e o corpo de Anco surge diretamente em cima de uma cama grande feita de quartzo branco puro. O sangue nas costas nuas de Anco mancham o mineral, mas isso não importava. Sílvia aparece logo. Carlim rapidamente prepara alguns materiais e toca o pescoço de Anco. Sem senti-lo respirando, ela toca suas costelas. Ao sentir uma pulsação, a retração da musculatura e uma quantidade alta de lubrificante epidérmico, ela já soube o que fazer. Caçou os materiais certos, abriu um tubo esterilizado e, com a ajuda de Otávio, ela posicionou o tubo e fez rapidamente uma intubação endotraqueal. Conectaram o tubo ao respirador e conseguiram entregar uma quantidade maior de oxigênio aos pulmões dele. Sílvia caçou as seringas de Marcus no laboratório e procurou o que Marcus usaria naquela situação.
 
Sílvia: — Carlim! B-63 ou o Korantai?
 
Carlim: — B-63! Traz também Epinefrina! Tá na prateleira vermelha!
 
Assim que Sílvia voltou para a enfermaria, que é conectada ao laboratório, preparou as seringas e colocou sob à mesa os materiais, para que Carlim colocasse Anco no soro. Ela injetou a substância amarelada numa ampola, com o nome B-63, na bolsa de soro, e em seguida injetou a Epinefrina, diluindo ambas as substâncias no soro fisiológico. 
 
Otávio: — Epinefrina na veia? Não deveria ser intramuscular?
 
Carlim: — Pros humanos. Aqui o caso é mais complicado. Só não fiz intracardíaca porque o coração ainda está vivo e frágil. Não pretendo machucar o corpo dele mais do que já está machucado.
 
Alguns minutos se passaram. Não tinham mais o que fazer, a não ser monitorar a respiração de Anco o tempo inteiro. O respirador ajudaria no estímulo dos músculos pulmonares e diafragmáticos, e logo ele voltaria a respirar sozinho. Mas levaria tempo. Carlim a todo momento verificava a lubrificação dos poros nas costelas de Anco. Estava secando, o que significa que ele não estava mais absorvendo tanto oxigênio pela pele. Ou o respirador estava fazendo efeito, ou ele estava morrendo.
 
Carlim pegou uma ampola e a esterilizou rapidamente. Usando uma luva branca de silicone, enfiou a mão na boca, por baixo da língua, segurou suas glândulas salivares e as apertou. Ao inclinar a cabeça para frente, sua língua expelia o líquido contra a ampola. O líquido era incolor e inodoro, e Otávio achou estranho ela estar fazendo isso. Carlim pegou na prateleira com uma faixa amarela um comprimido branco e o jogou dentro da ampola com sua saliva. O comprimido dissolveu, espumando, e o líquido se tornou esbranquiçado. 
 
Otávio: — O que está fazendo?
 
Carlim: — Remédio. — ela pôs uma tampa com bico na ampola e se aproximou de Anco, abriu sua boca com calma e colocou exatamente cinco gotas daquilo na boca dele. 
 
Otávio: — Isso é nojento.
 
Carlim: — É o que temos.
 
Otávio: — Por que isso? 
 
Carlim: — Quando vocês e minha família formalizarem a aliança, Marcus te explica. 
 
Otávio: — Hum... 
 
Depois de uma hora, Sílvia observava o painel e viu os outros se aproximando. Reconheceu os pontinhos azuis e os contou, pra saber se estava tudo certo. Luka já estava em casa. Subiu pro quarto com o Ravick e o Gabriel, e por mais que ela quisesse saber como o filho estava, ele não podia falar porque dormiu assim que caiu na cama. Ravick e Gabriel ficarão de olho nele por um tempo. Marcus apareceu na câmara com pressa. Nem falou com Sílvia, apenas passou direto para o laboratório. Ao chegar lá, viu Anco deitado na cama de cristal. Rapidamente se aproximou e examinou-o, e mesmo estando com uma terrível dor de cabeça, não descansaria até obter alguma resposta do que houve. Troy a mesma coisa. Foi o mais rápido possível para perto de Anco, mas não fez nada, apenas ficou observando-o de perto.
 
Marcus: — B-63?
 
Carlim: — Já tá no soro. 
 
Marcus: — Bom. Usou o...
 
Carlim: — Já. Sem efeitos visíveis. Ainda não sei como ele está por dentro. Estava te esperando pra mexer naquelas máquinas. 
 
Marcus: — Vamos fazer raio-x. Se não der nada, tomografia e ultrassonografia. 
 
Troy: — Ele está respirando? — Marcus se aproximou e botou os dedos no pescoço de Anco e a mão no peito. Sentiu as batidas do coração bem lentas, mas pelo menos sentiu batidas.
 
Marcus: — A respiração se normalizou, o coração está lento, mas está funcionando.
 
Troy: — E essas... marcas...? — Marcus se apoiou no bloco de quartzo que Anco estava deitado e gemeu com um pouco de dor. Carlim se aproximou ao notar que ele não estava bem. 
 
Marcus: — Depois eu lido com as marcas e o que elas são. Vamos tentar mantê-lo vivo. 
 
Carlim: — Pakon... você está esgotado. 
 
Marcus: — Não, eu...
 
Sílvia: — Marcus, você não pode continuar. Precisa descansar antes que...
 
Marcus: — NÃO!!! — seu grito fez com que todos ficassem em silêncio. — Eu n-não vou descansar até eu ter certeza de que ele está bem. Me deixem em paz. — se afastou de todos e foi para sua área de estudo do laboratório. 
 
Carlim: — Teimoso. Depois não venha reclamar do Luka, viu!
 
Ynatta apareceu. Ficou ao lado de Troy observando Anco de perto. Usou sua visão detalhista para tentar notar algo diferente, mas não encontrou nada além das marcas que... eram mesmo hematomas. Anco parece ter sido amarrado com cordas firmes e correntes por pelo menos alguns anos. As marcas estavam tão profundas na epiderme, que formava uma reentrância roxa e profunda. As marcas nos ombros, no peitoral e nas costas pareciam pancadas, chicotadas, marcas antigas e recentes. Havia até cicatrizes em sua pele, ao olhar mais de perto.
 
Ynatta: — Ele vai ficar bem, amigo. 
 
Troy: — Sim, eu sei. Ele é teimoso, nem pra morrer serve. — respirou fundo. Ynatta sentiu seu corpo tremendo um pouco. Ele estava nervoso e abalado. Olhar para Anco quase morto despertava algo nele que ela não sabia que existia. Seu olhar brilhava, e ele estava mal. Era explícito os sentimentos que o Delegado tinha pelo cara que sempre o tira do sério, e ela percebeu. Afinal, Troy nunca para de falar de Anco. Vez ou outra está falando do otário que avançou o sinal depois de tirar onda com a cara dele, sem se importar com o “agente da lei”. 
 
Troy: — Eu juro que se ele levantar daqui, eu vou dar um cascudo tão forte nele, que... — sua voz tremeu. Ynatta nem pensou muito, apenas o abraçou. Troy não é um cara muito afetuoso, e odeia que alguém o toque sem motivos, mas naquele momento ele retribuiu o abraço mais rápido do que até ele mesmo esperava. 
 
Otávio: — Vim tirar onda com sua cara, Paka. — Se aproximou, cutucando as costelas de Troy, que soltou Ynatta e sorriu, tentando segurar seus sentimentos.
 
Troy: — O que foi? Quer ir pra casa? — Otávio negou com a cabeça.
 
Otávio: — É bom ver você sentindo mais do que aparenta aí dentro e... quem diria! E não é o Bryan! — Troy riu e olhou para Anco. Queria tocá-lo, mas evitou. — Ele parece ser um cara legal.
 
Troy: — Ele é um idiota que não respeita as leis de trânsito, e não tem respeito algum a mim como agente da lei, mas...
 
Otávio: — Mas...? — Otávio o abraçou também. — Ele vai ficar bem. Nós vamos ajudar, e vocês vão se casar. 
 
Troy: — O-o-o quê??? Ficou maluco, moleque?! que porra é essa! 
 
Otávio: — Calma, tô brincando! — Ynatta riu.
 
Sílvia: — Más notícias. Marcus tá mal. Ele não poderá ajudar por muito tempo.  Mesmo ele estando... — todos olharam para Marcus mexendo em várias prateleiras num desespero estranho. — ridiculamente desesperado. 
 
Otávio: — Não tem problema. Mande ele descansar. A gente cuida a partir daqui. 
 
Marcus: — Eu posso ouvir vocês! Eu não vou descansar! Me deixem em paz!
 
Sílvia: — Ele vai começar a ficar de mau-humor.
 
Marcus: — Lunna, me deixe trabalhar em paz! 
 
Sílvia: — Tá, tá. Cê tá parecendo teu pai. — na hora Marcus parou de mexer em seus equipamentos e suspirou. 
 
Marcus: — Ele não é só um soldado... ele é meu amigo... éramos como irmãos em Cetos, mais até que Turok e eu. Eu não posso... — Carlim se aproximou. — deixá-lo...
 
Carlim: — Você não vai deixá-lo, Pakon. — ela tocou-lhe o ombro. — A gente só quer que você descanse. Você quase nem tá conseguindo ficar de pé. A gente precisa de você inteiro, cheio de energia, mas não hoje. Deixe com a gente, por favor. 
 
Marcus: — Mas eu não posso, Carlim... eu não vou conseguir dormir sabendo que... — seus lábios tremeram. Ele abaixou a cabeça ao olhar para Anco e respirou fundo, derramando mais lágrimas. Olhou brevemente para Carlim e não conseguiu mais se acalmar. — é minha culpa... eu não deveria tê-lo obrigado a ir nessa missão, e...
 
Thay: — Pai... pai, não... — ele também se aproximou, já abraçando o pai com toda sua força.  — Culpa não ser sua, Paka. 
 
Carlim: — Ninguém aqui tem culpa. Aconteceu, Pakon. E nós vamos reverter isso. 
 
Thay: — A gente assume daqui, pai. — segurou o rosto do pai com calma, o forçando a olhar em seus olhos. Os olhos azuis de Marcus estavam encharcados, mas ainda não choraram tudo o que queriam chorar. Mais uma vez ele prendeu sua dor dentro de seu próprio corpo, assim como tem feito desde muito tempo atrás, com tudo o que sente. 
 
Carlim: — Thay, Luigi e eu temos formação suficiente para cuidar dele.
 
Otávio: — Eu tenho um tributo a fazer. Temos um médico na Colônia, e ele pode ajudar. Posso desligá-lo da atividade por um tempo, só pra ele dar um diagnóstico. — Carlim olhou para o tio mais uma vez e massageou seu ombro com calma.
 
Carlim: — Viu, Pakon. Você não está sozinho. Estamos dispostos a te ajudar. — Marcus suspirou e encarou o chão. Olhou de relance para Otávio e arrumou a postura.
 
Marcus: — E... esse médico é... ele é bom?
 
Otávio: — É o melhor. Ele está acostumado a cuidar de Diractre, então se adaptou aos diversos tipos de organismos. Se deixar que ele dê uma olhada no corpo do Anco, ele provavelmente vai entender como é, vai estudar sobre, vai aprender sobre, e vai curá-lo. — Marcus apenas assentiu enquanto encarava o chão. — O poder dele gira em torno disso e de muitas outras coisas. Ele pode enxergar através de tecidos e certos materiais numa escala incrível, então vai entender o que há por dentro dele. Confie em mim.
 
Marcus: — Eu não... — suspirou profundamente, sentindo sua cabeça latejar com uma dor quase insuportável. — Tu-tudo bem. Amanhã eu vol...
 
Carlim: — Não, descanse o máximo que puder. Tenha um sono de uma noite cetoriana, não terráquea. 
 
Thay: — Use sais de banho na banheira, tome um chá, converse com a Deda, sei lá. Só descanse, Paka. — Marcus deixou um breve sorriso escapar. Arrumou um pouco mais a postura e caminhou um pouco em direção a Anco.
 
Marcus: — Eu vou voltar, Anco. Não vá embora... por favor, irmão.
 
Marcus, acompanhado de Thay, saiu do laboratório e foi para o Saguão, onde Nathalie e Diogo conversavam meio próximos demais. Ao ver o pai se aproximando, Nathalie se afastou um pouco de Diogo. 
 
Diogo: — Ah, oi, chefe... — Marcus viu suas bochechas corarem, e riu um pouco. Ele apenas passou os braços pelos ombros do garoto e o puxou para um abraço. 
 
Marcus: — Obrigado pela ajuda, moleque.  — após abraçá-lo, ele se afastou, mas deu uma olhada para a filha. Tinha um sorriso oculto ali, e Nathalie percebeu. Os dois se afastaram, mas Thay parou e olhou para trás.
 
Thay: — Estou de olho em vocês. — Marcus voltou, agarrou o colarinho de sua jaqueta por trás e o puxou consigo até o elevador. 
 
Marcus: — Nathalie, está na hora de dormir. Última semana de aula e vocês não vão faltar. 
 
Nathalie: — Beleza. Já vou.
 
Thay e Marcus entraram no elevador. Nathalie se aproximou de Diogo, o deu um selinho rápido e se virou, o deixando pra trás e correu para o elevador também, acompanhando o pai e o irmão. Antes que o elevador fechasse, puderam ver Diogo se virar e comemorar, super feliz pelo que aconteceu. Os três subiram e encontraram Martha na cozinha com Mari, preparando um chá, e ao ver Nathalie, Martha vai até ela e a abraça.
 
Martha: — Vocês estão fedendo a casa velha, sangue e terra. Vão tomar um banho! — Nathalie e Marcus riram. 
 
Thay: — Sangue... hum... matei muita gente hoje. — ele deu um sorriso, mas logo o sorriso desapareceu e seus olhos tons de âmbar se arregalaram. — O REFÉM!!! — todos se assustaram com seu grito.
 
Nathalie: — Refém? Que refém?
 
Marcus: — Ah, droga. Esquecemos desse detalhe. — Mari riu enquanto mexia o chá.
 
Martha: — Espera, vocês fizeram reféns? 
 
Thay: — Mas é claro! Mas esqueci ele em um selo kroattiano. Vou buscar. — ele deu um passo em direção à porta que levava à sala, mas seu pai agarrou seu colarinho da jaqueta de novo, o fazendo voltar.
 
Marcus: — Calma aí, Mosqueteiro de Kroath. É perigoso. 
 
Thay: — Eu sei. Não é legal? Vou sozinho enfrentar o perigo. — ele riu com o maior sorrisão, fazendo Nathalie rir junto.
 
Nathalie: — Ele é retardado, e eu gosto disso! — Thay tenta sair de novo, mas Marcus agarra a parte de trás de sua jaqueta.
 
Marcus: — Luigi talvez possa ir contigo. Tomem cuidado. Usem as celas de titânio. Luigi sabe o caminho. 
 
Thay: — Tá bom. Posso ir agora, Paka? — Marcus o soltou e assentiu. Thay voltou para a dispensa, para chamar Luigi na câmara.
 
Martha: — Eu gosto muito dele, mas ele não tem noção de perigo, e nem de limites. 
 
Nathalie: — Ele não sente medo e acha que pode lidar com tudo... e ele é lerdo. Mas é fofo. Dá pra entender porque Luigi e ele se dão tão bem. 
 
Mari: — Ah, eu acho fofo. 
 
Marcus permaneceu mais um pouco na cozinha, mas logo foi tomar banho para se livrar do cheiro de casa velha, sangue e mato. Após um bom banho relaxante para tirar tudo de ruim, ficou na cozinha com a família tomando chá e pensando profundamente. Não fazia ideia do que houve com Anco, e nem se foi culpa do Coven de Azazel, mas descobriria, mesmo que demorasse uma década. Já perdeu amigos demais, soldados demais, para uma guerra sem sentido, e não vai deixar que mais um se vá dessa forma. 
 
Thay: — Tô indo, Paka... Deda.
 
Martha: — Que os deuses lhe acompanhem, querido.
 
Marcus: — Ué... — franziu as sobrancelhas e apontou calmamente para a companhia que Thay escolheu. — E o Lui?
 
Thay: — Carlim não quer deixá-lo ir, porque as formações acadêmicas dele podem ajudá-la com o Anco. Otávio pediu pra que ele me acompanhasse. — Gabriel acenou meio tímido. Apesar de não ser tímido, aquela família estava níveis acima dele, então consequentemente ficar à frente de um monte de gente exageradamente bonita e alta é apavorante.
 
Gabriel: — Eu sei me virar, não se preocupem. Não podem me ferir tão fácil, e se for perigoso... a gente dá um jeito. — Thay mordeu os lábios e olhou para Gabriel de corpo inteiro. Marcus suspirou e tocou a própria testa ao notar o interesse oculto do filho. 
 
Thay: — É, a gente dá um jeito. A gente dá um bom jeito. — ele moveu as sobrancelhas enquanto sorria.
 
Marcus: — Tudo bem. Vão, então. 
 
Martha: — Só um aviso, Gabriel... Thay é mais perigoso que qualquer bandidinho que você vai encontrar. Cuidado com ele. Ele morde. 
 
Thay: — Grrrr. 
 
Marcus riu ao ouvir Thay rosnar. Ele apenas gesticulou para que os dois fossem logo.
 
A campainha tocou. Mari correu para atende e, ao ver quem era, não disse nada, apenas entrou novamente e foi chamar Marcus.
 
Mari: — É pra você, Sr. Marcus. Parece importante.
 
Marcus: — A essa hora? São duas da madrugada. 
 
Martha: — Deve ser o Martuzzo com notícias.
 
Mari: — Não. É o moço bonito com estilo antiquado que estava na reunião mais cedo.  — Marcus franziu as sobrancelhas e se levantou da cadeira. Nathalie o acompanhou com o olhar enquanto ele saía da cozinha e ia atender a porta. Ao chegar, viu Anthony Pierre de costas logo em frente à porta. 
 
Marcus: — O que houve? Mais problemas?
 
Anthony: — E aí, Majestade. — Marcus suspirou.
 
Marcus: — Vindo de você fica estranho, então não me chame assim.
 
Anthony: — Como queira. Temos uma coisa importante a tratar. Tive fazendo pesquisas com meus irmãos, e depois de muito tempo todos nós nos juntamos para um inimigo em comum. Victor, o mais inteligente dentre os outros moleques, descobriu algo importante num manuscrito muçulmano antigo.
 
Marcus saiu e fechou a porta logo atrás. Queria um pouco de privacidade, então caminharam até a calçada. Anthony estava sério e parecia preocupado. 
 
Marcus: — Bom, estamos sozinhos. O que de tão importante lhe trouxe aqui outra vez?
 
Anthony: — Nós já sabemos que os artefatos Angelicallis pertencem a seres feitos por energia pura, como os celestiais e anjos deveriam ser, não é? — Marcus assentiu. — Eu já trombei com alguns artefatos assim antes, inclusive com a droga do elmo de Uriel. Mas o ponto é... essas coisas só funcionam, apenas são ativadas, com uma energia específica... uma frequência energética que apenas alguns seres têm.
 
Marcus: — Entendi. Energia diferente da que estamos acostumados a ver. Um tipo não descrito, talvez?
 
Anthony: — Sim. Energia celestial. — Marcus cruzou os braços, pensando profundamente. — Um artefato feito por magia em uma forma que a gente não conhece, já que nunca vimos um Celeste na vida. 
 
Marcus: — Só deuses, semideuses e titãs. Aonde quer chegar, Caçador?
 
Anthony: — Esse bracelete está em nível celestial de poder. Se ele está num nível muito acima do nosso, por qual motivo ele se apegaria a um humano? 
 
Marcus: — Porque ele é um Vórtice de energia, e absorve tudo o que os outros deixam escapar próximo a ele. — Anthony sorriu e apontou para Marcus. Marcus arregalou os olhos e captou a mensagem. — Mas é claro... por que não pensei nisso antes???
 
Anthony: — É isso! É aí que eu queria chegar. Victor e eu conversamos e chegamos à conclusão de entrar em contato com o Chasseur mais antigo vivo, e ele nos disse que... que um amuleto de um Djinn jamais se agarraria a um humano, apenas a alguém...
 
— Que possui energia angelical. — ambos disseram juntos, e riram em seguida.
 
Marcus: — Diogo deve ter absorvido energia angelical em algum momento. E se ele absorveu essa forma de energia, então... ele tem sido visitado por uma forma celeste.
 
Anthony: — E eis a maior dúvida que tivemos, e essa é a pior parte. Ele recebeu uma ilustre visita de um anjo do Senhor, o que seria horrível, ou apenas de um Djinn qualquer que tem observado vocês? Que tipo de criatura anda rondando nossas missões? 
 
Marcus apenas suspirou como resposta.
 

ABOOH : Amores Sobre-Humanos Where stories live. Discover now