Saint Luna, 29 de Janeiro de 1991
Terça-Feira - 09:12 P.M
Quando senti aquela mulher puxar meu braço, meu coração quase pulou para fora. Estava confusa, com medo, sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo e visivelmente Alice ficou tão espantada quanto eu.
— Jessica Whitmore, a segunda fase da lua. Salve à fase-mãe, aquela que carrega a proteção e a coragem nas suas veias.
Sua voz era estranhamente familiar, mas o que ela dizia não havia sentido.
— Desfrute da lua cheia, onde será o seu lar a partir de agora. Eu a espero.
E então, simplesmente ela voltou ao normal, me soltou e abriu um sorriso, dizendo:
— Obrigada, voltem sempre!
Ainda em choque, saí correndo daquele lugar junto com Alice. Já estava tarde, não queria correr o risco de ver outra pessoa possuída falando comigo de novo.
— O que foi aquilo? — Perguntou Alice enquanto andávamos ofegante de volta para casa.
— Acho que já sabemos a resposta. — Disse pensativa e olhei para o céu. — Ela falou algo de lua cheia, e olha. — Aponto para a lua, que estava cheia.
— A Seline é a primeira fase, você é a segunda, o que significa que eu sou a terceira, certo?
Fiz que sim com a cabeça e suspirei preocupada. Eu esperava que essa hora chegasse, mas não agora. Nunca cheguei a imaginar qual seria minha reação, porque até então eu só presenciei a reação de Seline que pode ser descrita como um pequeno surto.
— Tenho que ir. Você pode ir lá em casa amanhã, se quiser. — Falei como um convite, mas apenas não queria me sentir sozinha. — Podemos fazer alguma coisa que não seja um caça às bruxas. Tente falar com a Seline.
Ela sorriu e concordou, se despedindo e indo embora. Caminhei até a floresta e fiz minha pequena trilha diária, mas hoje estava diferente — como se eu estivesse sendo observada. Apressei os passos até chegar em casa, fechando a porta e a trancando.
— Chegou tarde. Posso saber aonde você estava?
Ouvi a voz da minha tia e a vi parada em pé na sala com a televisão desligada. Me joguei no sofá com a mochila do lado e suspirei cansada tentando não demonstrar minha recente reação pelo o que aconteceu.
— Eu estava fazendo trabalho. — Menti.
— Não minta para mim, eu te conheço!
Eu a conheço há quase três anos, mas ela me trata como se me conhecesse há bem mais tempo. Não éramos tão próximas ao ponto de contar tudo a ela, mas senti que deveria confiar mais na mulher que se propôs a cuidar de mim.
— Eu saí com Alice. Fomos andar pela cidade e acabamos parando em uma casa de videntes. Não foi nada, só nos divertimos. — Digo me levantando e ela me olha desconfiada.
— Você tem que aprender a confiar em mim, Jessica. Já está mais que na hora!
Tia Liz sai da sala me deixando pensativa. Será que ela já sabia de tudo? Ela é bem esperta, ainda mais agora que sei que ela fazia parte da tríplice junto com Oliver e Mariyah. Onde será que eles se conheceram?
Bom, isso não importa agora. O que importa é que eu sou a segunda fase da lua, a fase-mãe, como a Deusa disse. Aquilo foi basicamente uma possessão da deusa na mulher vidente e realmente me assustou.
Fui para o meu quarto e peguei uma roupa limpa. Andei até o banheiro e tomei um banho um pouco demorado, enquanto a cena que aconteceu mais cedo se repetia na minha cabeça, várias e várias vezes.
Coloquei minha roupa e desci, indo para a cozinha. Ajudei minha tia a fazer o jantar e não trocamos nenhuma palavra até então. Depois de comermos, escovei meus dentes e fui para o meu quarto, a fim de deitar e finalmente ter uma boa noite de sono — o que não aconteceu.
Saint Luna, 02 de Fevereiro de 1991
Sábado - 10:17 P.M
Seline, Alice e eu passamos o resto da semana sem tocarmos no assunto. O foco principal no momento era o início das aulas, e por sorte, o professor Adam não nos entregou.
Não as vi durante o final de semana, mas as convidei para passar o dia na minha casa, para também buscarmos saber mais sobre as coisas que descobrimos.
Acordei no dia seguinte com o sol forte batendo nos meus olhos. Me levantei da cama e fui até o banheiro, fazendo o que tinha que fazer e descendo para tomar café da manhã.
— Bom dia! — Disse minha tia Liz sentada na mesa e eu sorrio, me sentando ao seu lado.
— Bom dia. — Peguei um pedaço de bolo e suco e começo a comer, enquanto minha tia me encarava.
— A Crystal ligou, avisou que está vindo para Saint Luna para te ver.
Antes que pudesse responder, me engasguei com o bolo e comecei a tossir. Peguei o copo de suco, começando a beber e a recuperar a respiração.
— Crystal? A Crystal?
Crystal era minha melhor amiga desde que Fred e Lauren me adotaram. Foi a amiga que ficou do meu lado nos meus piores e bons momentos, mas tive que deixá-la para vir morar com tia Liz.
— Ela chega de viagem uma hora. Arrume as coisas para ela não achar que vivemos em um chiqueiro.
— Está bem, eu sei!
Me levantei e fui até a pia da cozinha, lavando meu prato e o resto da louça que tinha. Depois eu subi para o meu quarto e o arrumei rápido, abrindo a janela e tirando poeira dos lugares. Percorri o resto da casa e arrumei cada canto, o mais rápido possível. Enquanto eu ia arrumando, minha tia começava a preparar o almoço que pelo visto estaria pronto até o meio dia.
Assim que terminei, fui até o banheiro, tomei banho e vesti uma roupa casual, uma blusa amarela listrada e uma jardineira que batia na altura da minha canela e deixo uma das alças solta. Não tão desleixada mas não tão chamativa.
— JESSE!! — Ouvi chamando na porta. Era Seline e Alice, até esqueci que elas viriam. Ótima oportunidade de apresentar minha melhor amiga para minhas novas amigas.
— Oi, meninas. Entrem! — Abri a porta dando espaço para elas entrarem.
Elas entram e cumprimentam minha tia, que responde o cumprimento educadamente. Andei até a sala com elas e me sentei no sofá.
— Alice me contou o que aconteceu ontem. Acho que devo lhe dar os parabéns. — Disse Seline se sentando ao meu lado, de forma que minha tia não pudesse nos ouvir.
— Obrigada! E os seus pais apareceram? — Perguntei e ela desvia o olhar, dando de ombros.
— Sim, eles não quiseram me falar onde foram, mas também não me interessa.
— Se você acha melhor.... — Respondi em uma pausa. — Além de vocês eu tenho uma visita. Minha melhor amiga Crystal vai chegar em alguns minutos, quero que se conheçam, mas não vamos tocar naquele assunto.
— Relaxa, isso é segredo da nossa tríade. — Disse Alice brincando, mas eu fiquei um pouco desconfortável só de imaginar na possibilidade de realmente sermos uma tríade de bruxas. Parecia coisa de conto, mas era real.
No momento em que eu ia responder, ouço chamando na porta, mas dessa vez a minha tia atende. Corro até lá e vejo quem eu tanto esperava.
— Jessica! — Ela se aproximou e me abraçou, e eu retribuí com a saudade acumulada de anos.
— Achei que nunca mais te veria! — Falei sorrindo e me afastando, puxando-a para a sala onde minhas amigas estavam. — Meninas, essa é Crystal. Crystal, essas são Alice e Seline.
— Oi, Crystal! — Disse Seline e Alice ao mesmo tempo e acenaram rapidamente com a mão.
— Já que sua amiga veio visitar você e você e Seline são meio novatas por aqui, que tal darmos uma volta? Vamos à praia, posso apresentar tudo para vocês. — Perguntou Alice gentilmente. Ela mora aqui há um tempo, portanto conhece melhor o lugar do que nós.
— Eu adoraria! — Respondeu Crystal animada com um enorme sorriso no rosto. Desde a última vez que nos vimos ela cresceu, seu cabelo estava mais longo e ainda mais dourado do que já era. Agora estava alguns centímetros mais alta que eu, pois eu era maior que ela quando éramos mais novas.
— Vamos depois de almoçar, a comida da sua tia cheira bem! — Alice deu um leve empurrão em Seline depois do seu comentário.
— Para de ser indigesta, Seline!
— Tudo bem, meninas. Eu já ia convidar vocês para almoçar aqui mesmo, sabia que ia ter visita.
Minha tia surgiu do nada, mais contente do que nunca. Eu estava quase estranhando, até ela me chamar de novo.
— Jesse, me ajude a colocar a mesa.
— Já volto. — Disse às meninas seguindo minha tia até a cozinha, ajudando-a a preparar a mesa.
Após todas almoçarmos, Seline teve que voltar para casa afirmando precisar mudar de roupa para a ocasião. Nos encontramos com ela perto da casa da Alice, que ficava no centro da cidade, e de lá pegamos um táxi e fomos para uma das praias da Califórnia.
— Esse lugar é simplesmente incrível! — Disse Crystal impressionada. — Da próxima vez eu venho morar aqui.
— Você será muito bem-vinda. — Respondi e ela sorriu, tirando os sapatos e botando os pés na areia.
— Sinto falta de quando estudávamos e vivíamos juntas. Agora eu sou obrigada a andar com o grupinho das populares e nojentas. — Disse fazendo cara de nojo e começando a rir. — Fico feliz que você encontrou amigas com quem possa conviver.
— É. — Olhei Seline e Alice que estavam sentadas numa mesinha em uma barraquinha de pipoca, comendo pipocas doces e coloridas e rindo provavelmente de alguma besteira. — Eu gosto delas.
— Garotas, vamos começar nosso tour? — Alice se aproxima junto com Seline e eu e Crystal concordamos.
Começamos a andar pela areia da praia, enquanto conversávamos coisas cotidianas e brincávamos. Pelo menos as meninas se deram bem com Crystal, e Crystal com elas.
— Vamos comer alguma coisa? — Seline aponta para uma lanchonete e eu concordo.
— Você só pensa em comer! — Alice fala brincando e Seline revira os olhos frustrada.
— Não tenho nada melhor para fazer mesmo. — Ela dá de ombros e caminhamos até essa lanchonete.
Entramos e nos sentamos em uma mesa ao lado da enorme janela de vidro e esperamos a garçonete nos atender. Eu pedi um cheeseburger com milkshake de morango, Alice pediu apenas MUITA batata frita com refrigerante e Seline e Crystal pediram esfirras com refrigerantes.
— Esse lugar é incrível. Obrigada pelo tour, vocês são incríveis! — Crystal agradece olhando principalmente a Alice e Seline a quem havia acabado de conhecer.
— Obrigada, me sinto emocionada! — Respondeu Alice e começamos a rir.
— Vou ao banheiro, já volto. — Crystal levanta da cadeira e vai até o banheiro, que ficava um pouco para os fundos da lanchonete. Deviam ser umas quatro ou cinco horas, no fim da tarde. O sol já havia sido substituído por nuvens e o clima já começava a ficar frio.
— Quem é aquele cara? — Seline apontou para um homem estranho todo de preto e um olhar psicótico.
— Deve ser apenas mais um cara que faz cara de mau para não falarem com ele. Ou talvez um assassino de aluguel. — Respondeu Alice. Ela já estava começando a pegar a mania dos comentários desnecessários que Seline tinha. — Acho que não é da nossa conta, contanto que ele não nos mate.
Alguns minutos se passam e Crystal ainda não tinha voltado do banheiro. Tentei não ficar nervosa, mas minha intuição começou a gritar mais alto dentro de mim com vontade de invadir aquele banheiro para ter certeza que ela ainda estava lá.
— Ela está demorando demais! — Comentei nervosa enquanto a garçonete pedia a conta.
— Verdade. Podemos dar uma olhada. — Seline pagou sua parte e se levantou da cadeira, indo até o banheiro e batendo na porta.
Ela falou alguma coisa no qual eu não consegui ouvir e continuou a bater descontroladamente, mas ninguém atendeu. Seline voltou e nos olhou preocupada.
— Ninguém atende. Eu não entendo, não a vimos sair!
Me levantei e caminhei até a porta do banheiro e Seline e Alice foram comigo um pouco mais atrás. Bati várias vezes e ninguém abriu.
— Crystal, você está aí? — Perguntei, mas ninguém respondeu. Empurrei a porta, porém ela estava trancada e ainda assim ninguém respondeu.
— Com licença. — Disse Alice se abaixando perto da porta e tirando dois grampos de cabelo do bolso. Ela enfia na porta e dá algumas voltas, abrindo-a em poucos segundos.
Quando Alice abriu a porta, o banheiro estava completamente vazio, apenas com uma pulseira hippie que Crystal costumava carregar, mas ela não estava ali. Peguei sua pulseira do chão e mostrei para Seline e Alice.
— Isso é dela, não a vimos sair. Eu não consigo entender!
— Jesse, vamos achá-la. Ela não deve ter ido muito longe. — Alice entrou no banheiro e deu uma rápida olhada ao redor. — Aqui não tem janela, então temos duas opções: ou ela saiu e não vimos, ou alguém sequestrou ela sem vermos e desapareceu no ar.
— Ei, olha! — Seline gritou apontando para uma das janelas de vidro, no qual vimos homens de máscara enfiando Crystal num carro cinza, como um sequestro relâmpago.
As pessoas ao redor ficaram paradas e em choque, até porque não podiam reagir que os homens estavam armados. Uma das garçonetes quase deixou um prato de vidro cair no chão, o lugar todo havia parado para olhar aquela cena horrível.
— CRYSTAL!
Gritei saindo da lanchonete e vendo o carro se afastar. Alice pegou uma caneta em cima do balcão e anotou algo em sua mão, saindo com Seline logo em seguida.
— Seja lá o que tiver acontecido, avisaremos a polícia e procuraremos Crystal por nossa conta! — Alice mostrou a palma da sua mão onde havia anotado a placa do carro.
Seria nossa primeira missão juntas. Veríamos então no que essa deusa quer nos testar, mesmo que seja com pessoas próximas a nós.
Espero que tenham gostado. Vote no capítulo se você gostou e comente suas opiniões sobre o livro! Sz