ABOOH : Amores Sobre-Humanos

By AndreBacasi

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[+18] O que você faria se descobrisse que não pertence ao lugar onde morou por toda sua vida? E se soubesse... More

CAPÍTULO 02: Primeiro Dia de Aula.
CAPÍTULO 03: Está Um Pouco Quente Demais...
CAPÍTULO 04: Mudança Rápida.
CAPÍTULO 05: Ferida e Raiva
CAPÍTULO 06: Prisão da Perda e da Tristeza
CAPÍTULO 07: Recomeço
CAPÍTULO 08: Descoberta.
CAPÍTULO 09: Sentidos - Parte I.
CAPÍTULO 09: Sentidos - Parte II.
CAPÍTULO 09: Sentidos - Parte III.
CAPÍTULO 10 : Exames Nunca Mentem
CAPÍTULO 11: E o Estranho Começa - Parte I
CAPÍTULO 11: E o Estranho Começa - Parte II
CAPÍTULO 11: E o Estranho Começa - Parte III
CAPÍTULO 12: Luzes e Fumaça
CAPÍTULO 13: Novo Problema.
CAPÍTULO 14: Declaração.
CAPÍTULO 15: Atração Intensa - Parte I
CAPITULO 15: Atração intença - Parte II
CAPÍTULO 16: Um Dia Normal... Ou Quase - Parte I
CAPITULO 16: Um Dia Normal... Ou Quase - Parte II
CAPÍTULO 17: Confiança.
CAPÍTULO 18: Sem Mais Brigas!
CAPÍTULO 19: Terceiro Membro.
CAPÍTULO 20: A União.
CAPÍTULO 21: Amadurecendo.
CAPÍTULO 22: Primeira Discussão.
CAPÍTULO 23: Fortes ou Invencíveis?
CAPÍTULO 24: Que Comece o jogo!
CAPÍTULO 25: A verdade.
CAPITULO 26: O Começo De Tudo.
CAPÍTULO 27: O Ataque.
CAPÍTULO 28: Conexão.
CAPÍTULO 29: Um Pouco de Diversão... Ou Quase...
CAPÍTULO 30: Posso te ajudar?
CAPÍTULO 31: Uma História.
CAPÍTULO 32: CABOOM!
CAPÍTULO 33: O Perigo da Realidade.
CAPÍTULO 34: Diga-me... Qual É o Segredo?
CAPÍTULO 35: Por Acaso.
CAPÍTULO 36: Não Irei Embora!
CAPÍTULO 37: Devem Estar Brincando...
CAPÍTULO 38: Começo do Treino.
CAPÍTULO 39: Invasão.
CAPÍTULO 40: Veneno Mortal.
CAPÍTULO 41: Contato - Parte I
CAPÍTULO 41: Contato - Parte II.
CAPÍTULO 41: Contato - Parte III.
CAPÍTULO 42: Vibrações.
CAPÍTULO 43: Presentinho Especial...
CAPÍTULO 44: Sequestro.
CAPÍTULO 45: Missão De Resgate - Parte I
CAPÍTULO 45: Missão De Resgate - Parte II
CAPÍTULO 45: Missão de Resgate - Parte III
CAPÍTULO 46: Round one.... KISS!!!
CAPÍTULO 47: Conversa - Parte I
CAPÍTULO 47: Conversa - Parte II
CAPÍTULO 47: Conversa - Parte III
CAPÍTULO 48: Apenas Uma Chance.
CAPÍTULO 49: Momento nas Sombras.
CAPÍTULO 50: Grandes Problemas - Parte I
CAPÍTULO 50: Grandes Problemas - Parte II
CAPÍTULO 50: Grandes Problemas - Parte III
CAPÍTULO 51: Batalha Com a Montanha - Parte I
CAPÍTULO 51: Batalha Com a Montanha - Parte II
CAPÍTULO 51: Batalha Com a Montanha - Parte III
CAPÍTULO 52: Dia Especial - Parte 1
CAPÍTULO 52: Dia Especial - Parte II
CAPÍTULO 53: Enfim... Juntos.
CAPÍTULO 54: Protetor
CAPÍTULO 55: Perda e Ganho
CAPÍTULO 56: Sobre o Natural.
CAPÍTULO 57: Protegendo o Protetor.
CÁPÍTULO 58: Tão Leve Quanto o... Ar?
CAPÍTULO 59: Conto Não Contado - Parte I
CAPÍTULO 59: Conto Não Contado - Parte II
CAPÍTULO 60: Ui, Tá Quente Aqui...
CAPÍTULO 61: Sem Dor, Sem prazer.
CAPÍTULO 62: Sem Controle.
CAPÍTULO 63: Te Amo, Mas Te Odeio!
CAPÍTULO 64: Loucura, Loucura!
CAPÍTULO 65: Feitiços Em Massa - Parte I
CAPÍTULO 65: Feitiços em Massa - Parte II
CAPÍTULO 66: E o Deus Bate o Cajado - Parte I
CAPÍTULO 66: E o Deus Bate o Cajado - Parte II
CAPÍTULO 67: Cômodo acima.
CAPÍTULO 68: Manifestação
CAPÍTULO 69: De Olho no Tempo.
CAPÍTULO 70: Oculto
CAPÍTULO 71: Deixado pra trás
CAPÍTULO 72: Prazer Oculto
CAPÍTULO 73: Pinguins ou Cerveja?!
CAPÍTULO 74: Jogo Justo
CAPÍTULO 75: Deus Inútil!
CAPÍTULO 76: Um Passo no Atlântico.
CAPÍTULO 77: Um Pai Presente
CAPÍTULO 78: Experiência Compartilhada
CAPÍTULO 79: Um Visitante de Glória - Parte I
CAPÍTULO 79: Um Visitante de Glória - Parte II
CAPÍTULO 79: Um Visitante de Glória - Parte III
Eei, você! Vem aqui rapidinho!
CAPÍTULO 79: Um Visitante de Glória - Parte IV
CAPÍTULO 80: Um Pedaço Familiar
CAPÍTULO 81: Família é família.
CAPÍTULO 82 - Boneco de Seda
CAPÍTULO 83: Prodígio de Kroath
CAPÍTULO 84: Mais Útil do Que o Esperado
CAPÍTULO 85: Presente dos Anjos
CAPÍTULO 86: Aqui Quem Manda Sou Eu!
CAPÍTULO 87: Ninguém Para Trás
Falando Sobre Abooh
CAPÍTULO 88: Dedo da Bruxa.
CAPÍTULO 89: Por Um Amigo
CAPÍTULO 90: Eu Não Suporto Vocês
CAPÍTULO 91: Sensações
CAPÍTULO 92: Filhos da Guerra e do Amor
CAPÍTULO 93: Fora da Realidade
CAPÍTULO 94: Sinto a Sua Dor
CAPÍTULO 95: Presos No Escuro.
CAPÍTULO 96: A Vida Perfeita.
CAPÍTULO 97: A Verdadeira Mentira
CAPÍTULO 98: Durma Com os Anjos.
CAPÍTULO 99: Está Faltando Algo... - Pt I
CAPÍTULO 99: Está Faltando Algo... - Pt II
CAPÍTULO 100: Apenas a Ponta do Iceberg.
CAPÍTULO 101: As Estrelas Parecem Sempre Tão...
CAPÍTULO 102: O Poder Que Nos Circunda
CAPÍTULO 103: Fracos... Mas Perfeitos.
CAPÍTULO 104: Os Vencedores
CAPÍTULO 105: Post Mortem
CAPÍTULO 106: Intervenção
CAPÍTULO 107: Hummm... Hormônios.
CAPÍTULO 108: Visita Distante
CAPÍTULO 109: Trato Feito.
CAPÍTULO 110: Traga a Mim Essa Alma
CAPÍTULO 111: Pacto de Sangue
CAPÍTULO 112: Saciedade
CAPÍTULO 113: Um Prato Cheio

CAPITULO 01: Um Dia Quase Perfeito.

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By AndreBacasi

Oi, pessoas lindas!!! Este é meu primeiro livro aqui, então, se tiver erros de português podem falar (quer dizer, escrever☺). Se gostarem, para ajudar a história votem, comentem, compartilhem, pulem, gritem, voem, façam tudo o que acharem melhor! Espero que gostem! ♥

Eu iria dizer algo mais, mas esqueci... Enfim... Tenham uma boa leitura!


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Era uma vez um... Espera... Era uma vez? Fala sério! Que Clichê!

“Vamos deixar bem claro uma coisa, tudo bem? Se não existem finais felizes na realidade, aqui muito menos. “Felizes para sempre” por aqui só rola depois que o mundo acabar. Se veio atrás de aliança no dedo da princesa encantada, pode dar meia volta e vazar. Se reclamar porque o príncipe encantado deu o rabo para a bruxa má e o céu pega mais fogo que o inferno, cravo minha adaga no seu fígado e te deixo sangrar até a morte, e depois ainda mato o teu espírito. Aviso que por aqui não há regras. Há apenas a vida que você não conhece.”

Ass: Nathalie Abooh.”...

Doxja: — Reiniciando Sistema...

Numa deslumbrante galáxia chamada Braktus-Aurea, mais conhecida na Terra como Via-Láctea, que tem como significado "Caminho de Leite", existem mais de uma infinidade de estrelas e, para mim, a mais preciosa se chama SOL. Essa estrela linda e enorme tem em sua órbita 9 planetas, mas plutão não é mais considerado um planeta... Ou é? Esses humanos não se decidem! Mas enfim, são 10 planetas de acordo com o Conselho Galáctico de Braktus-Aurea, ou apenas CGB-A. Os humanos normalmente costumam dizer que há apenas 8. Humpf. Ignorantes.

Enfim. Dentre esses “8” planetas no sistema solar que vocês, humanos, tanto conhecem, nenhum possui vida inteligente. Com exceção da Terra, que por sua linda e única natureza, e também sua variedade de vida, é protegida de vários modos diferentes por vários seres que até hoje são desconhecidos por muitos, mas muito bem conhecidos por poucos. Seres esses vindos de outros mundos que orbitam outras estrelas, que ficam em outros sistemas solares, em várias outras galáxias. Talvez também em outros universos, quem sabe. Jamais fui além do que alguns mil anos luz de distância de Gaia, mas isso não importa. Apenas saibam que Gaia, ou Terra, como vocês amam chamar, é única. Por mais que cientistas, astrônomos, cosmólogos e todos os “ônomos” e “ólogos” do mundo achem outros planetas, outras fórmulas e cálculos de energia cósmica, energia magnética e espaço-tempo, ondas de rãádio até gamma, ou encontrem outros planetas que aparentemente se igualam à Terra, nada consegue se comparar com a preciosidade deste misterioso planeta que, por sua vez, possui milhares de seres em evolução que, para seres superiores, são mais preciosos que diamantes, rubis, esmeraldas, e quilos de todas as pedras preciosas que podem juntar. Uma espécie em constante evolução é comparada com o preço de uma estrela, para terem uma noção do quão preciosa Gaia é. Mas não fiquem se achando demais, os maiorais, as últimas bolachas dos pacotinhos, humanos. Não estou falando de vocês. De certo que vocês também estão em constante evolução, assim como todos os seres vivos, mas estou falando da natureza em geral. Como podemos lembrar, há milhões de anos atrás houvera uma extinção em massa. Aquela que dizimou os dinossauros não foi a primeira extinção em massa e nem será a última. Antes de existirem os dinossauros já houvera uma extinção em massa. E depois dos dinossauros também já houvera outra extinção em massa. Mas depois daquele desastre contra as lagartixas gigantes, Gaia demorou muito mais tempo para se reconstruir, e continua tentando se regenerar. Sua flora está evoluindo todos os dias para se adaptar ao desastre. Sua fauna nasce e morre cada vez mais forte para se adaptar. Os animais e as plantas de Gaia são fenomenais! Pena que há um fungo perverso que atrapalha a evolução. Humanos. Estão constantemente destruindo tudo. Pisando no que deveria se erguer. Vivem fazendo merda e nem sei como ainda estão sobrevivendo. nossa galáxia está morrendo e Gaia é uma das nossas salvações. Gaia faz parte da pequena fila de planetas habitáveis que ainda mantém vida. Existiam muito mais de um bilhão, mas com tanta irresponsabilidade das espécies abençoadas com a sabedoria, e também eventos cósmicos naturais, esse número diminuiu para menos que 50 mil. Pode ainda parecer muito, mas na verdade não é. Em comparação ao que era antes, este número de agora é muito pouco. Recapitulando, Braktus-Aurea está morrendo e os humanos não estão ajudando em absolutamente nada na ascensão. Muito pelo contrário.

Esse belíssimo planeta que vocês tanto conhecem e parecem nem mesmo amar se torna ainda mais precioso, porque nele vivem criaturas lindas. Como as preciosas borboletas que, pode não parecer, mas são uma espécie única, com um desenvolvimento natural incrível, e existem somente na Terra. Os animais incríveis, inofensivos e com uma beleza extrema, mas que são mortos por ganância e egoísmo. Como o pavão, que é morto continuamente para que suas penas sejam comercializadas. Matar para benefício do próprio ego. Isso é ruim. Pior que uma doença terminal. Pior que um fungo devorador. A terra é uma obra-prima da natureza. Além de nela viver uma das criaturas mais bela de todo o universo... EU!!! Haha!!!

Assume o Texto aí, Luka! Cansei.

By: Nathalie-Abooh.

*  *  *  *  *

Enfim. Acabamos com as belas e assustadoras palavras da minha melhor amiga. Poderia até dizer que ela não e normal, mas aí entraríamos num assunto bem delicado. Até mesmo porque eu também não sou nada normal, mas não com transtornos que nem ela. Mas e daí? Ser normal é chato mesmo.

Nathalie: — Concordo. Ser normal é um saco.

E Nathalie é a menos normal que conheço. Mas apesar de normalidade ser chata, por bastabte tempo nos considerávamos pessoas normais. Eu realmente era normal.

Enfim, precisamos nos apresentar, não é mesmo?

Me chamo Luka, mas podem me chamar de Luka, tudo bem por mim. Dezesseis anos e sou tipo... Sei lá, me imagina aí da forma que tu achar melhor. Sou nem tão baixinho, nem tão alto, Não sou um magricela e muito menos um mega musculoso. Talvez um pouquinho preguiçoso com meu corpo, por comer como uma capivara prenha de quádruplos, mas vamos fazer de conta que sou o Brad Pitt não-loiro. Não fale em exercício físico perto de mim porque tenho alergia.

Apesar de odiar exercícios físicos, no meu antigo colégio eu praticava corrida e vôlei com minha melhor amiga, Nathalie, mas não porque eu queria. Eram motivos de força maior. Até mesmo porque ela ameaçava fazer minha cueca atravessar meu reto tão profundamente que até minha alma iria sentir se eu não jogasse com ela. Nathalie é uma garota meio estranha. Louca, pra dizer a verdade. Não bate muito bem da cabeça. Mas enfim... dezesseis anos e blá, blá, blá. Cabelos castanhos claros, nem lisos e nem cacheados. Ondulado, pra dizer ao certo. Meus olhos são de uma mistura de azul claro e escuro. Às vezes claro, Às vezes escuro, e às vezes os dois. Sou branco como um pedaço de vela ambulante. Quase ficando transparente. E sol? Nunca nem vi.

Em um preguiçoso domingo, resolvi acordar mais tarde, como sempre. Fim das férias, aulas começam amanhã e eu preciso me habituar à ideia de que iniciarei em um novo colégio, já que meu antigo foi abandonado pelo governo incrível do meu estado, que está sempre pensando na gente com tanto amor e carinho. Minha mãe ficou com medo de a estrutura do colégio desabar e me esmagar, e o mesmo foi com a Nath e os pais dela, então fomos obrigados a mudar. Sorte que nossa personalidade forte nos dá boa vantagem sobre certas coisas, então nos adaptaremos rápido, eu espero.

Sentei-me em minha cama e olhei as mensagens. Só tinha Nathalie, claro. Pedia para que eu levantasse o rabo da cama, e que eu não esquecesse que iríamos sair. Bom, eu já esqueci. Mas venci a preguiça e me pus a me aprontar depois de sair do modo-zumbi.

Fui tropeçando pro banheiro, quase passando direto pela parede. Tomei um bom banho, lavei a cara pra tentar acordar do modo-zumbi, mas não funcionou muito. Ao terminar, desci as escadinhas e fui para a cozinha, onde minha mãe estava sentada folheando uma revista sobre o assunto que ela mais se interessa... pano. Ou seja, roupas. Sílvia tem o cabelo castanho claro enorme, se alongando até a cintura, olhos azuis como os meus e do meu irmão, um pouco mais alta que eu e bem esbelta. Ninguém acredita quando ela fala que é minha mãe. Ela parece ter entre vinte e vinte e cinco anos, mas na verdade tem muito mais que isso e é bem conservada, seja lá o tipo e a concentração de formol que esteja usando como hidratante. Ninguém merece ter os coleguinhas chamando sua mãe de gostosa. Já até briguei com alguns alunos por causa dela, quebrei três dedos de um menino no colégio antigo quando ele me perguntou se eu estava pronto para tê-lo como novo “papai”. Bom, na infância eu era terrível. Então não dá pra eu tentar impedir meu irmão de ser igual. Está no DNA, infelizmente.

Eu já disse pra minha mãe tentar engordar e parar de se maquiar, mas ela não quer. E meus planos de dobrar o carboidrato dela não teve efeito. Acho que devo trocar a maquiagem por algo de que custe R$ 1,99... isso se ela não descobrir e me matar primeiro.

Fui até ela no sofá e beijei sua bochecha direita.

Eu: — Boa tarde, Mãe.

Sílvia: — Boa tarde, Bebê.

Eu odeio quando ela me chama de Bebê, principalmente na frente dos meus amigos. Passo a maior vergonha por causa dela, e ela gosta disso. Ela gosta de me ver sofrer.

Eu: — Mãe, vou sair com a Nath. Tudo bem?

Sílvia: — Uhum. Mas coma antes de sair. Jane fez torradinhas.

Jane é praticamente minha segunda mãe. Trabalha para a minha mãe há muitos anos, acho que uns vinte anos mais ou menos. Ela é uma senhora com seus abençoados cinquenta e dois anos e mora com a gente desde que seus pais morreram num acidente de carro quando ela era mais nova. Ela não tinha nenhum parente, só tinha o irmão que, depois da morte dos pais, foi morar em outro estado. Ela diz que nunca foi muito próxima do irmão, então ela começou a trabalhar para minha mãe numa época em que precisava muito, para manter sua casa. Jane passou por uma crise financeira e perdeu a casa onde morava, então minha mãe a convidou para morar conosco há dezesseis anos. Ela aceitou e desde então ajuda Sílvia a cuidar do meu irmão e de mim, já que o nosso pai — se é que posso chamar de pai — a abandonou quando Cássio e eu éramos bem pequenos.

Escutei alguém correndo pela casa e Cássio aparece no corredor. Cássio é meu irmão de 13 anos. Olhos azuis iguais aos meus, cabelo castanho claro cortado baixo com um topete bem fofo. Alto demais pra idade que tem. Quase não o vemos em casa, já que passa o dia ou jogando videogame, ou construindo bombas caseiras, ou preparando pegadinhas e armadilhas pra fazer por aí. Resumindo, Ele é uma PESTE! A personificação do Satanás! Até pior que isso, mas só quando ele quer, ou quando não gosta de alguém. Normalmente ele só é um garoto com um sério problema de sarcasmo e ironia.

Cass: — Mãe, tô entediado. Quero mais jogos.

Sílvia: — E os que compramos semana passada?

Cass: — Já era. Já finalizei.

Sílvia: — Vá fazer as suas brincadeiras malucas com os seus bonecos que sobreviveram à última "grande explosão". – ela fez aspas com os dedos.

Cass: — Tô sem idéias do que fazer com eles.

Eu: — Nossa! O poderoso Senhor das bombas caseiras sem idéias do que criar? Isso é novo. Tá enferrujado.

Cass: — Cale a boca, Luka! – soltei uma risadinha.

A campainha tocou.

Eu: — Deve ser a Nath.

Abri a porta e lá estava a minha linda amiga, iluminando a estrada, assim como sempre.

Eu: — Oi, Nath.

Nath: — Eaííí! – ela me abraçou tão forte que achei que meu coração e meu estômago iriam trocar de lugar.

Nathalie tem um corpo ótimo, com o cabelo castanho ondulados que combinavam perfeitamente com os olhos azuis claros. Ela estava linda com aquele vestido xadrez um pouco acima dos joelhos. Ela tem a mesma idade que eu, mas parecia muito mais velha, essa vagabunda. Só espero que ela não saiba que eu disse isso.

Eu: — Ai! Você está triturando as minhas costelas!

Nath: — Exagerado! – ela me soltou. — E qual é a dessa blusa? Pólo? Sério mesmo?

Eu: — Gosto dela.

Nath: — Coisa de hétero, joga fora. Vai vestir alguma coisa que preste, e de preferência azul, porque menino veste azul e menina veste rosa.

Eu: — Nem pensar. – ela respirou fundo.

Nath: —  Na primeira oportunidade eu queimo essa blusa. Nem que seja no teu corpo mesmo. – ela agarrou meu braço e me puxou para fora de casa.

Eu: — Espere um pouco, vou pegar a minha carteira.

Nath: — Vai. Aproveita e troca essa coisa que você vestiu! – mandei o dedo do meio para ela.

Subi as escadas rapidamente e fui procurar a minha carteira.

Eu: — Ah... Aí está você, danadinha. Sempre tenho que esquecer você. – assim que eu toquei na carteira, eu senti uma coisa estranha.

Nunca havia sentido aquela sensação antes. Meu coração começou a acelerar e minha visão ficou turva. Girei a cabeça e me sentei na cama com uma vontade enorme de vomitar. Parecia que algo estava se movendo dentro da minha barriga... Não sei explicar. Não era dor, apenas senti meus músculos do abdômen se movendo sozinhos. Em seguida foram os músculos do braço, e os senti vibrar  dando rápidos espasmos. Não sabia o que estava acontecendo, apenas sentei na cama e tentei chamar alguém.

Eu: — Mãe! – minha voz saiu fraca, mas pelo menos saiu. Virei a cabeça algo pelo canto dos olhos. Na janela vi uma mancha escura deslizando pelo ar, deixando para trás um rastro de fumaça esverdeada. Chacoalhei a cabeça e aquilo sumiu.

Sílvia: — Luka? O que aconteceu? – ela entrou no quarto sozinha, se sentou ao meu lado segurando meu pulso e tentando medir meus batimentos.

Eu: — Não me sinto bem. E tinha algo ali... Na janela. Uma sombra. - ela olhou pra lá, mas não havia nada. Ela apenas ignorou.

Sílvia: — O que você está sentindo? – de repente tudo de estranho que eu sentia desapareceu do mesmo jeito que apareceu. Me mantive sentado na cama e apertei minha barriga com as mãos.

Eu: — Passou. Senti um enjoo forte e minha barriga começou a doer. Minha visão ficou borrada e achei que vi algo na janela... mas acho que só preciso de um psiquiatra.

Sílvia: — Não, você está ótimo. Precisa apenas de uma visita ao hospital. Acho melhor deixar o passeio pra outro dia.

Eu: — Não, não. Nós vamos hoje mesmo. Já me sinto melhor pra sair. – me levantei da cama.

Segurei a maçaneta da porta e paralisei ali. Ainda sentia uma sensação estranha no peito. Era como se algo ruim fosse acontecer. Abri a porta e balancei a cabeça tentando afastar qualquer sentimento estranho. Respirei fundo e abri a porta.

Acho que estou ficando louco.

Nath: — Porra! Foi buscar a carteira ou assaltar o banco?

Sílvia: — Ah, vocês fazem um casal tão bonitinho.

Nath: — Também acho isso. – ela me lançou uma piscadela.

Eu: — Credo! – elas riram.

Nath: — Luka não faz meu tipo e muito menos eu o dele. Bora, Moleque!

O Shopping estava cheio, tinha gente pra todo lado. Uma mulher bem... como posso dizer? Rechonchuda... passou por nós e pisou no pé da Nath, ela faz uma cara hilária, e a mulher não percebeu e continuou caminhando.

Nath: — Sua filha de uma puta velha!!! Tomara que alguém pise no seu pé com um salto, sua demônia!!! VAGABUNDA DESGRAÇADA!!! PIRANHA, CACHORRA!!! – as pessoas à nossa volta riram enquanto a Nath passava a mão massageando o pé esquerdo e eu comecei a rir junto.

Andamos mais um pouco, fomos em algumas lojas e ela comprou algumas coisas, e estava cheia de sacolas. Ela sempre exagera quando está com o cartão do pai. Eu comprei quase nada.

Teve um momento em que estávamos passando em frente a uma loja e a Nath deu um mega grito agudo e alto. Tapei os ouvidos e a encarei.

Eu: — Que isso, tá doida?!

Nath: — Ela tá ali!!! Vamos, vamos!!!

Ela me puxou pelo braço pra dentro de uma loja qualquer. Ela pediu à vendedora uma bota e esperarmos um pouco até a atendente trazer. Era uma bota de cano alto, sem salto, cor de pele e com um tecido fofo. E o preço? Rá! Achei que teríamos que deixar um pedaço do nosso fígado pra sair da loja com aquela bota.

Nath: — Pode passar.

Eu: — Seu pai vai te matar.

Nath: — Ninguém mandou ele me dar um cartão. Se ele me deu, acha mesmo que vou deixar pegar teia de aranha na minha carteira? – a vendedora riu.

Eu: — É número trinta e seis. Vai ficar pequena nesse teu pezão.

Nath: — Foda-se. É linda, é chique e vai entrar nem que eu tenha que cerrar meu dedão.

Nossas famílias nunca tiveram problemas financeiros. Minha mãe dizia que ela tinha seus truques para evitar esse tipo de problema. Espero que ela nunca tenha roubado nada, mas não duvido dessa possibilidade. Ela trabalhou muito para conseguir o que tem. Pelo menos é o que ela diz. Minha mãe tem uma joalheria no centro da cidade e também uma boutique de roupas uns duzentos metros da nossa casa. Já o meu pai eu não sei o que ele fazia, minha mãe nunca falou e também nunca perguntei. Ele antes de desaparecer deixou algo pra nós, e ela usou isso para construir suas lojas. A mãe da Nath, Martha, é Produtora de Eventos. Ela já preparou eventos importantíssimos por aí e quase nunca está em casa. Ela é a melhor pessoa para criar festas nessa cidade. O pai da Nath, Marcus, é advogado. Eu soube que ele é conhecido no meio como Leão Ciano, por ser bem alto, ter o cabelo até os ombros, como uma juba castanha, e olhos azul-ciano, sem falar que ele nunca perde uma causa no tribunal por ser tão feroz em seus julgamentos, às vezes até atuando como promotor. Mesmo quando defende pessoas que foram presas e condenadas, ele consegue provar quando são inocentes. Parece que ele lê a mente das pessoas e sabe quem é inocente e quem não é. Ele sempre sabe o que estamos pensando e usa isso contra nós o tempo todo.

Nossas casas não são grandes. São suficiente para nós. Sinceramente eu preferia que fosse até menor, mas aí acho que seria pequena demais para aguentar os explosivos do Cássio. Minha mãe diz que não quer uma casa grande porque tem que ficar limpando a todo momento. Pra ela só a Jane basta e elas dão conta do recado.

Me sentei num puff bem confortável e fiquei olhando para todos os lados apenas admirando os produtos. Assim que olhei pra entrada, paralisei ao ver alguém lá do lado de fora. Um garoto que aparentava ter minha idade. Os olhos eram claros e a cor parecia se alterar entre verde-escuro e um turquesa-claro, que refletia a luz do sol. Ele era extremamente bonito! Ainda mais em contraste com a luz que deixava seu cabelo ainda mais loiro. Acho que nunca vi alguém com os traços que ele tinha... pareciam únicos neste mundo. Fiquei encantado.

Ele estava escorado na balaustrada e olhava para baixo, pois estávamos no segundo andar. Assim que ele virou a cabeça para olhar pros lados, senti meu coração acelerar. Virei a cara para outro lado pra ele não perceber que eu o olhava.

Aquela sensação... eu senti a mesma coisa antes de sair de casa. Logo um enjoo forte veio, quase me nocauteando. Me segurei e tudo passou repentinamente. A curiosidade apertou e eu queria mais uma vez olhar para lá. Virei a cabeça novamente para a entrada da loja e me arrependi logo em seguida. Ele olhou diretamente pra mim, sem disfarçar em nenhum momento. Tentei olhar para outro lado, mas aqueles olhos verdes pareciam me acorrentar a eles. Minhas pernas não se moveram e eu não conseguia nem falar. Aquelas feições...

Vendedora: — Ei. Eiiii... – ela estalou os dedos na frente da minha cara e eu acordei daquele devaneio. — Já foi atendido? Quer algo?

Eu: — N-não, obrigado. Só estou esperando minha amiga. – ela sorriu e acompanhou o foco do meu olhar há alguns segundos.

Vendedora: — Qual o seu nome?

Eu: — Luka. – respondi, estranhando a pergunta.

Vendedora: — Então, Luka. Se tiver pensando em se aproximar do bonitão lá fora, pode tirar isso da sua cabeça.

Eu: — Ah, como é? Por acaso ele é algo seu?  — me levantei do puff e cruzei os braços. — Está me ameaçando?

Vendedora: — Não, não. É que ele não tem uma boa fama aqui. Ele é meio... Ah, ele tem um temperamento forte e é bem arrogante. Já caiu no soco com um funcionário de uma lanchonete só por ele ter trocado os pedidos sem querer. Você não vai querer se aproximar.

Eu: — Mas ele parece tão...

Vendedora: — Tão educado? Tão lindo e com uma cara de ser fofo? É, não vai querer se aproximar dele pra fazer uma cantada, um elogio, puxar um papo ou qualquer outra coisa. Tenha dó da sua cara. — ela pôs a mão no meu ombro e fez uma careta. Pelo jeito a coisa é séria. Agira olhando melhor para aquele cara, ele não parece mesmo ser tão sociável assim. Tem cara de marrento e tem naturalmente as sobrancelhas arqueadas. Descartei a possibilidade de me aproximar e tentar fazer amizade, assim como meu cérebro tentava me convencer a fazer.

Eu: — Tudo bem. Não vou me aproximar... mas ele tem namorada ou...?

Vendedora: — Não e não. Ele nunca dá bola pra ninguém. Ele apenas ignora ou dá um fora quando alguém dá uma cantada. Ninguém sabe como agradá-lo. Mas todo mundo sabe como deixá-lo irritado. Primeira coisa é não fazer contato visual, como você estava fazendo agora.

Eu: — Ah... tá. – franzi as sobrancelhas e ela se afastou sorrindo.

Nath: — Que cara é essa? Parece que viu um palhaço maligno. – me virei de costas para a entrada da loja.

Eu: — Olha por cima dos meus ombros. – Apontei o polegar.

Nath: — Uau... como a vitrine tá limpa. Como eles conseguem manter o vidro limpo, né? Nossa!

Eu: — Não, Nath. O garoto loiro na entrada.

Nath: — Uh, ainda mais gato que o vidro limpo!

Eu: — É. – eu ri.

Nath: — Tu vai querer ou eu posso investir?

Eu: — A vendedora disse que ele não é sociável.

Nath: — Luka, não importa se ele não é sociável e não gosta de ninguém. Mostra sua bunda mágica e ele muda de ideia rapidinho.

Eu: — Para, vaca! Não tenho esse tipo de interesse nele. – ela riu e jogou os cabelos para trás dos ombros.

Nath: — O que foi? Anderson é a prova que você a magia do teu rabo funciona.

Eu: — Mas Anderson é diferente... você conhece a peça. Ele acha qualquer coisa excitante. – segurei a mão dela e a puxei para a saída.

Não consegui evitar e olhei novamente para o garoto ainda parado no mesmo lugar. Ele nos acompanhou com os olhos e só parou de nos olhar quando um outro cara apareceu e o entregou uma bolsa dourada. O outro também tinha uma beleza notável, moreno e olhos castanhos escuros, e bem bronzeado.

Nath: — Vamos comer algo. Se formos pensar só em boys, vamos morrer de fome. Vamos substituir o crush por hambúrguer.

Assim que ela falou em comida, senti a fome me dominar. Pus a mão na barriga e a senti vibrar, roncando. Nos sentamos na praça de alimentação e comemos bastante.

Eu: — Acho que bebi muito suco. Vou ao banheiro rapidinho.

Nath: — Não demora. Se tiver banheirão,  corre que tu é menor de idade. Não vem com essa de participar. – ergui os dedos do meio para ela mais uma vez.

Fui ao banheiro, fiz o que tinha que fazer e olhei no espelho. Tive a impressão de ter alguém atrás de mim. Olhei por trás dos meus ombros pelo espelho e fiquei olhando sem me mover. Vi a porta de uma cabine atrás de mim se movendo lentamente e abrindo. Meu coração acelerou. Chacoalhei a cabeça tentando me livrar de qualquer pensamento maluco. Liguei a torneira e lavei as mãos e o rosto. Me olhei no espelho novamente com água pingando pelo queixo e levei um susto ao ver pelo reflexo que minhas mãos estavam cobertas por algo azul. Meu rosto exalava uma fumaça azulada e dei um salto para trás. Fechei os olhos com força, cocei-os e os abri. Nada. Não tinha absolutamente nada lá. Respirei fundo... dei uma risadinha de nervosismo. De repente houve um som alto atrás de mim, e me virei rapidamente com outro mega susto. A porta de uma das cabines havia sido batida com força, mas não havia ninguém ali além de mim. Comecei a ficar tenso. Olhei para o espelho e vi repentinamente todas as portas das cabines se abrindo lentamente em sincronia. Fui andando de costas para a saída e saí correndo daquele lugar. Encostei minhas mãos no rosto e elas não estavam molhadas. E... eu não me lembro de ter enxugado nem minhas mãos e nem meu rosto... o que está acontecendo???

Saí do banheiro bem rápido e fui voltar pra minha mesa, mas assim que cheguei perto, me distraí olhando pra trás e pras minhas mãos e acabei batendo de frente com alguém. O cara estava com um copo de refrigerante, que caiu no chão e se espalhou pra todo lado.

— Não olha por onde anda?! – ele gritou olhando pra baixo.

Eu: — Meu Deus... Perdão! Me desculpa, me desculpa mesmo! Foi sem querer... – Eu levantei a cabeça e fiquei paralisado quando olhei pra ele. Ele olhou pra mim e me encarou. — Fo-foi sem querer...

Aqueles olhos... Eu poderia até dizer que se pareciam um pouco com os do cara que eu vi perto daquela loja, mas eram mais escuros e com tons acastanhados. Por algum motivo eu não consegui me mover. Ele continuou me encarando com a boca entreaberta e sorriu, olhando para baixo.

— Não tem problema. Não foi nada. – ele ergueu a cabeça e me olhou novamente. Desviei o olhar e me senti um pouco desconfortável pela situação.

Eu: — Me desculpe, de verdade. Vou te pagar um outro refrige... – dei um passo em direção à lanchonete, mas ele pôs o braço na frente e me impediu de continuar andando. Olhando para ele e até me esqueci do que acabou de acontecer lá no banheiro.

— Não, não precisa. Não precisa mesmo. – ele abaixou os braços e continuou sorrindo. Senti um frio na barriga. ele tinha um bel sorriso, mas eu ainda me sentia desconfortável por não ter prestado atenção no caminho.

Nath: — Luka. Vamos, sua mãe ligou e disse pra irmos pra casa. – não prestei muita atenção ao que ela disse. Fiquei olhando pro chão e pro menino qur acabei de destruir o lanche.

Eu: — Aham. – respondi com toda a minha atenção voltada pro garoto à minha frente.

Nath: — Vamos então.

O estranho acenou brevemente.

Eu: — Me desculpe mais uma vez. – ele fechou o sorriso e olhou para o chão. Não sei nem o que ele está fazendo falando comigo ainda. Maioria das pessoas fingem que não existo. A não ser o Anderson, mas ele dá cantada até pro sofá.

Nath se levantou e me puxou em direção à saída.

Eu: — Calma, Nath... por que a pressa?

Nath: — Eu quero que você me conte tudo o que eu vi ali!

Eu: — Agora você vai ter que esperar porque eu quero fazer uma coisa, espere um pouco.

Dei a volta na praça de alimentação e fui para uma das lanchonetes. Pedi o maior copo de refrigerante que a lanchonete tinha, olhei em volta e vi o coitado que ficou sem bebida numa mesa com mais três pessoas.

Eu: — Pode entregar pra aquele cara naquela mesa? – apontei para onde ele estava.

Garçonete: — Mas qual dos dois?

Eu: — O que está sorrindo agora. – ela riu e confirmou com a cabeça.

Voltei pra perto da Nath que me olhava com um olhar de desconfiança.

Eu: — Agora vamos. – ela estava sorrindo que nem uma boba e agarrou meu braço com força.

Já na saída do shopping ela começa a fazer as piadinhas e a fazer graça comigo.

Nath: — Agora desencalha. – ela me deu um tapa.

Eu: — Do que você tá falando?

Nath: — Ah! Para com isso! Todo mundo percebeu, até mesmo as bactérias das minhas unhas.

Eu: — Não entendi..

Nath: — O moleque te encarando, mané!

Eu: — Não sei do que você está falando.

Nath: — Pode parar! Tô falando sério! – ela levantou o dedo indicador. — Vai, fala logo o que foi aquilo. O que aconteceu?

Eu: — Sei lá. Ele só é... bonito.

Nath: — Isso é fogo no cu. – ela apertou meu braço com força. — Já se decidiu entre os dois gostosos? O do segundo andar, ou do primeiro andar?

Eu: — Nenhum dos dois. fica pra você.

Nath: — Agradeço. Odeio que tu não gosta de falar de macho e de fêmea. Tu é chato. Tem que se interessar por alguém, sua mocréia de olhos azuis.

Eu: — Mudando de assunto, o que minha mãe queria?

Nath: — Nada. Eu só disse aquilo pra te tirar da situação. Se fogo apaga quando escuta o nome da tua mãe.

Eu: — Vaca.

Nath: — Vamos comemorar? Tu me ofereceu dois num dia só. Tô no lucro.

Eu: — Vou comemorar tirando um cochilo com o maior amor da minha vida. Minha cama.

Nath: — Tô dentro.

Nunca contei a ninguém a minha orientação. Ninguém sabe sobre mim, e prefiro que não saibam por hora. A única pessoa que eu tive coragem de contar foi a Nath, não só por ela ser minha melhor amiga, mas por eu confiar bastante nela e ter certeza de que ela ficaria de boa com isso. Desde que contei pra ela que sou Gay, nossa relação ficou muito mais próxima. Nos tornamos quase irmãos, apesar de já nos considerarmos irmãos. Mas agora parece ser bem mais real do que antes, e eu sentia que ela era parte da minha família. Bom, eu contei pra ela há uns seis meses atrás na praça do colégio. Eu tinha um crush muito fofo e não conseguia sair de perto dele. Era nosso melhor amigo. Murilo. Nath percebeu uma aproximação entre nós e veio me perguntar. Eu não consegui esconder dela que eu tinha um crush nele e nem do que eu realmente gostava. Depois de uns dois meses, ele desapareceu do colégio e apareceu na minha casa pra se despedir, pois iria se mudar não só de cidade, mas de estado. Na despedida eu não consegui esconder de ninguém que gostava dele, por isso me tranquei no quarto por uma semana inteira com a Nath apenas assistindo filmes pra manter minha cabeça no mundo real. Agora eu já superei. Nath além de minha melhor amiga, confidente, ajudante, comparsa nas besteiras, ela também é parte da minha alma e não escondo absolutamente nada dela. Até as surpresas de aniversário dela ela sabe antes da hora porque eu conto. Não consigo esconder nada dela. Somente quem tem uma super melhor amiga consegue me entender.

Ao chegarmos na minha casa, Nath pôs as bolsas num canto e se jogou no sofá com as pernas abertas.

Nath: — Ai, delícia.

Eu: — Sente-se que nem uma moça de família, Nath.

Nath: — Meu cu pra você.

Eu: — Credo. – nós rimos.

Sílvia: — Chegaram na hora certa! – ela apareceu na sala e se assustou com as bolsas da Nath. — Pra que tanta coisa, Luka?!

Eu: — Calma. – peguei apenas uma bolsa e a entregueu. — Pra ti. – Ela deu de ombros, agradeceu e pegou a bolsa. — Cadê o Cass? Também tenho um troço pra ele.

Sílvia: — Tá lá no quarto dele jogando naquela caixa que fica ligada na TV.

Subi com duas sacola. Quando estendi a mãos para abrir a porta, eu tinha certeza de que vi uma faixa de luz azul passar por entre meus dedos... mas acho que estou ficando louco mesmo, e cada hora eu tenho mais certeza.

Abri a porta e sentei-me na beirada da cama do meu irmão. Ele nem piscava. Estava vidrado no jogo.

Eu: — Cass, trouxe algumas coisas pra você.

Cass: — Uhum. – ele nem se mexeu. O quarto tinha um leve odor de pólvora... Provavelmente ele estava criando outro explosivo.

Eu: — Ah, tudo bem então. – levantei da cama e fui andando em passos curtos até a porta. — Acho que vou voltar no shopping e devolver o... Qual é o nome mesmo? O Kit Profissional para Preparação de Pegadinhas Explosivas... Como você chama mesmo? Ah... O K3PE. — só vi o controle do videogame voar na cama e Cass surgiu à minha frente. Ele me empurrou de volta na cama.

Cass: — Pode voltando! Me dá logo! – o entreguei enquanto ria.

Cássio pegou a sacola e tirou um pano grosso e negro enrolado lá de dentro. Ele desenrolou o pano e dentro havia vários acessórios estranhos agarrados. Pólvora, alguns tubinhos, ganchos, ampolas, fitas de vários tipos, fios e algumas outras substâncias estranhas. Ele me olhou com um enorme sorriso estampado no rosto.

Cass: — Onde conseguiu isso? Só encontrei na internet, num site chinês.

Eu: — Numa loja bem escondida do shopping. Eu tava passando com a Nath quando vi isso aí numa vitrine. Lembrei daquele Kit que você comentou.

Cass: — Valeu, Luka! Valeu mesmo! – ele levantou num salto e me deu um abraço forte.

Eu: — Ah, já ía me esquecendo, também trouxe isso aqui. – Peguei uma pequena sacola e dei nas mãos dele. Ele abriu rapidamente e pegou os três jogos de videogame que comprei.

Cass: — Wow! – ri com a expressão dele, que variava de assustado, surpreso, e alegre. — É por isso que te amo, Luka! – ele pulou em cima de mim e me abraçou de novo, só que dessa vez bem mais forte.

Eu: — Ai! Vou precisar dos meus ossos amanhã, dá para não me quebrar por favor?

Cass: — Não!

Depois de uns alguns segundos de ossos sendo triturados, Cass me soltou e correu pra jogar os novos jogos.

Cass: — Se tu contar pra Mamãe que eu te abracei, eu te faço engolir minhocas enquanto você estiver dormindo. — ri. Queria debochar que ele não faria isso, mas ele realmente faria.

Espero que a polícia não descubra que o Cass existe. Não quero passar o resto da minha vida na prisão porque meu irmão terrorista explodiu um jardim ou uma rua inteira.

Desci as escadas e encontrei Nath jogada no sofá.

Eu: — Ei, Maria Preguiça! – usei um alto tom e ela levou um susto, quase caindo do sofá.

Nath: — Ai, porra! Se você me matar, eu volto como espírito vingativo pra puxar seu pé!

Eu: — Credo. – fiz uma cruz com os dedos indicadores. — Sai pra lá. – ela tacou uma almofada que acertou na minha cara, e  seguida riu. — Doeu!

Nath: — Que bom. Quem sabe essa pancada não te faz virar macho.

Eu: — Engraçadinha.

Minha mãe apareceu com uma bacia cheia numa mão e uma colher-de-pau na outra.

Sílvia: — Nath meu amor, hoje você vai dormir aqui. Estamos fazendo a sobremesa preferida de vocês, bolo de coco com cobertura de creme chocolate também.

Eu: — Mãe, meu bolo preferido é o de cenoura.

Sílvia: — Tanto faz. Irão comer do mesmo jeito.

Nath: — Delícia! Tô sentindo até o cheiro já! — ela passou as mãos na barriga em movimentos circulares e lambeu os lábios. — Com certeza vou ficar.

Eu: — Claro que vai. Nunca perde uma boca livre.

Nath: — Cale a boca! – senti seu tapa em minha cabeça, e logo ardeu um pouco. Ela tem a mão pesada!

Eu: — Ai! Quer parar de acertar minha cabeça?!

Nath: — Não! – minha mãe riu. – Agora me ajude a levar essas sacolas até em casa.

Sílvia: — Vão, mas voltem rápido. – ela apontou a colher-de-pau para nós e algumas gotas da massa do bolo caíram no chão. — Eita... fiz cagada.

Nath e eu dividimos as sacolas antes de irmos. Ainda bem que a casa dela é bem próxima da minha. Na mesma rua, só que umas cinco casas à esquerda. Pusemos as sacolas no quarto dela, descemos e encontramos o Sr. Marcus, o pai dela, na sala com um outro cara. Os dois estavam vestidos socialmente de paletó, e pareciam discutir assuntos importantes do trabalho.

Marcus é alto, cabelos castanhos claros bem ondulados, como os da filha, estendidos até um pouco acima da altura dos ombros. Ele tem os olhos azul-claro como os da Nath, e a pele clara, além de ser bem musculoso. Ele estava bem com aquele paletó social colado aos músculos. Não sei ao certo quantos anos ele tem, mas deve ser entre trinta e trinta e cinco. Ele não aparenta ter mais que isso. Se ele não tivesse filha, eu chutaria uns vinte e seis, no máximo.

Nath: — Pai, vou dormir no Luka. – gritou da escada.

Marcus: — Tudo bem. – ele disse quando nos aproximamos.

O cara nos olhava sem expressão nenhuma. Ele pigarreou para chamar atenção e olhou pra mim.

Marcus: — Ah, esse aqui é Cléber, um dos meus novos sócios. – ele nos apresentou o cara com fisionomoa de uns quarenta e poucos anos, com a barba rasa, cabelo cortados de modo militar e os olhos profundamente negros.

Eu: — Prazer. — estendi a mão para cumprimentá-lo.

Cléber: — Você se parece demais com seu pai. – Ele apertou minha mão educadamente.

Eu: — O quê? O senhor conhece meu pai? – o encarei com as sobrancelhas franzidas.

Marcus: — Ah, não, ele quis dizer que você deve se parecer muito com seu pai.

Cléber: — Sim. É o que eu quis dizer.

Eu: — Ah. Se for isso, não faço ideia. Não conheço meu pai.

Nath: — Vamos. Amanhã eu volto, pai.

Ao nos afastarmos, pudemos escutar o cara falando com o Marcus.

Cléber: — Tu deixas vossa filha dormir na residência privada de um garoto?

Marcus: — Sim. Algum problema com isso? – Cléber negou rapidamente com a cabeça. — Confio na minha filha, e confio mais ainda no Luka. Você não deveria deixar se influenciar pelos humanos. Aqui eles possuem restrições e medos. Nós não.

Cléber: — Perdão pela inconveniência, Senhor.

Nath riu. Eu achei estranho aquele final de conversa. O que será que o pai dela quis dizer com "você não deveria deixar se influenciar pelos humanos"?

Ah, talvez seja somente um modo de falar. Uma frase metafórica, talvez?

O Sr. Marcus me conheceu antes mesmo de eu nascer. Ele é o melhor amigo da minha família. Nath e eu nos conhecemos desde que nascemos, e fomos criados juntos, como irmãos. Os pais dela confiam tanto em mim quanto nela, e minha mãe confia tanto nela quanto em mim.

Subi pro meu quarto e tomei um banho. Logo quando saí, Nath entrou. Ela tinha uma parte do meu guarda-roupas só pra ela, e nele havia muitas peças de roupas dela, assim como na casa dela também há um espaço para minhas roupas, já que sempre estamos dormindo um na casa do outro.

Vesti minhas roupas e desci as escadas. Me joguei no sofá e fiquei pensando no que aconteceu no shopping. Aquele garoto encostado na balaustrada em frente à loja... aqueles traços únicos que eu nunca vi me deixaram com uma vontade estranha de tocá-lo. Aqueles olhos verde-claro que me paralisaram por muitos segundos... e aquela cara mau-humorada. Aquele garoto é lindo de uma forma única, mas é melhor deixar isso tudo pra lá, ainda mais depois do que eu soube sobre ele.

Mas ainda há aqueles outros lindos olhos verdes, só que mais escuros, que também vagavam por minha cabeça. Fiquei tão distraído que nem percebi a presença da minha mãe e da Nath.

Sílvia: — Luka? Luka? – eu nem prestei atenção.

Nath: — Luka? LUKA?! – ela deu um grito, me assustando.

Eu: — O que foi? – as duas me encaravam.

Sílvia: — O que foi? Aconteceu algo? Não te vejo tão distraído assim desde que aquele seu amiguinho foi embora. — ela me encarou sem mesmo piscar.

Eu: — Não é nada, mãe. Só estou pensando.

Nath Abriu um sorriso e bateu as mãos uma contra a outra.

Nath: — Ah! Pensando, né? Esse pensamento por acaso tem olhos lindos? – ela sentou-se ao meu lado.

Eu: — Acho que sim.

Sílvia: — Não entendi. – ela fez uma careta.

Nath: — Isso é simplesmente simples de tão simples que é. Seu filho está apaixonado. — Nath parecia bem animada em contar isso pra minha mãe. Eu só pranzi as sobrancelhas. Eu não tô apaixonado.

Sílvia: — Posso saber o nome dela?

Então... né... ela não sabe. Já tentei várias vezes falar, mas eu sempre travo na hora. Eu tenho medo da reação dela sobre o assunto. Às vezes eu ia decidido contar, mas quando eu abria a boca, todos aqueles pensamentos vinham à minha cabeça... e se ela não gostar? E se ela me pôr pra fora de casa? E se ela me ofender e magoar com palavras ruins? Os pensamentos me enfraqueciam e eu perdia toda a coragem.

Eu: — Tá, chega. Isso não interessa. – me levantei do sofá — Ninguém tá apaixonado aqui.

Sílvia: — Hum. Como aconteceu?

Nath: — Foi assim... – revirei os olhos e fui para a cozinha enquanto conversavam.

Sentei-me à mesa e os pensamentos de antes vieram novamente. Fechei os olhos e continuei pensando. Aqueles olhos penetrantes passaram pela minha mente, aquele rosto, aqueles lábios... mas... qual dos dois é o mais atraente? Acho que o primeiro, pois tinha traços diferentes e únicos. O segundo também tinha seu belo sorriso. Será que nos veríamos de novo? Será que aquele da praça de alimentação sentiu pervebeu algo em mim?

Nath: — Ih, mudou de dimensão de novo. – ela se aproximou junto da minha mãe e sentou ao meu lado. — Hoje você tem motivos para fantasiar.

Eu: — Pode parar. – ela riu e me deu um tapa na perna direita.

A noite foi ótima, com muitas piadas e indiretas da Nath, e muitos lanches feitos pela Jane e pela minha mãe. Depois de tudo, fomos dormir. O nível de intimidade entre nós dois é tão grande que dividimos tudo, desde o guarda-roupas até a cama. Nós dormíamos tranquilamente, sem nenhuma vergonha.

Nath: — Chega essa bunda grande pra lá!

Bom, quase tranquilamente.

Eu: — Espera, nem deitei direito! – ela me deu um tapa na nádega esquerda. — Ai! Vaca!

Nath: — Vai, chega pra lá antes que eu te chute.

Eu: — Já tô na ponta, quase no chão, Nath.

Nath: — Então vai pro chão, ué. Espaço é bom e eu gosto.

Eu : — Até parece. Chega pra lá você!

Nath: — Eu quero um espaço grande.

Eu: — Essa cama é enorme! Cabe nossa família inteira aqui.

Nath: — Vou lhe chutar.

Eu: — Tá. Agora chega, vamos dormir porque amanhã é o nosso primeiro dia de aula na nova escola e eu não quero me atrasar.

Nath: — Boa noite, bundão.

Eu: — Boa noite, retardada.

* * * * *

Levantei da cama e vi que Nath não estava deitada. Fiz todo o processo matinal e escutei a campainha tocar. esperava que alguém fosse atender, mas continuou tocando, tocando e tocando, até que desci pra abrir e, para a minha surpresa... era ele. O menino do shopping. O cara da praça que ficou me encarando daquela forma direta e julgadora. Ele estava lá parado em frente à porta me encarando com aqueles lindos olhos verde-escuro.

— Posso entrar? – me perguntou com um meio sorriso... ms sua voz estava diferente. Não era a mesma voz que ouvi antes.

Eu: — É cla-claro que si-sim. – dei passagem para ele.

Ele entrou e parou logo atrás de mim. Fechei a porta e me virei pra ele, que me surpreendeu com um empirrão contra a parede.

Eu: — Nossa! – foi a única coisa que consegui falar enquanto ele se aproximava cada vez mais. Ele estava sorrindo bastante e aquele sorriso me contagiou também.

De repente ele olhou para além de mim e parou de sorrir. Me virei rapidamente para ver para o que ele olhava e paralisei. Vi uma sombra negra atrás de mim e em volta dela surgiram faixas esverdeadas luminosas. Dei um salto do sofá e fui pra perto do cara da praça. Meu coração acelerou muito ao olhar para a sombra, mas o que eu senti não foi medo. Senti que conhecia aquele ser totalmente negro e sem rosto. Tive a estranha vontade de me aproximar.

Realmente estou ficando louco. A sombra veio andando até mim e ergueu as mãos, tentando tocar meu rosto com muita calma. Olhei para o meu lado e o garoto do shopping tinha sumido. Quando o ser negro e sem rosto tentou me tocar, tudo ficou escuro e tudo desapareceu. Nessa hora e nesse minuto escutei um barulho estrondoso que quase me deixou surdo...

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••


Espero que tenham gostado desta primeira parte. Tenho certeza de que gostarão cada vez mais. ♥

Não se esqueçam de apertar na estrelinha★ pra votar e colaborar com a divulgação da história. Comentem o que acharam, críticas  sendo boas ou não, são muito importantes! ( ˘ ³˘)❤

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