Capítulo 77

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Louella

A pior coisa não foi a fumaça, nem o barulho horrível de minas explodindo.

Foi o horror de ver as pessoas mortas.

Foi cair no chão e olhar diretamente para um perna decepada sangrenta ou uma mão sem dedos. Também foi não conseguir gritar ou chorar. O horror não me permitiu.

Damon havia conseguido me tirar do carro e havíamos nos afastado muito de Daphne e de alguns grupos, não consegui ver Jasmine ou Jonathan em nenhum lugar quando tudo aconteceu. Quando alguém ou algo em algum lugar acionou uma mina e então, como em um dominó, outras minas foram acionadas e mais explosões surgiram.

Damon havia se jogado em mim, protegendo-me com seu corpo enquanto me arrastava para longe de tudo, tentando desesperadamente me salvar. Em algum momento funcionou. Eu não via mais sangue, nem corpos, nem destruição. Via apenas o interior gélido de uma fábrica abandonada. Mesmo assim, não consegui tirar aquilo tudo da cabeça. A cor da morte era vívida demais.

— Lou! — Damon chamou e ergui os olhos para ele lentamente, examinei o semblante duro, mas preocupado do garoto de olhos azuis e afundei ainda mais no chão sujo. Ele se agachou na minha frente e tocou meu rosto levemente com as pontas dos dedos. — Você está bem? Está machucada? Louella, consegue me ouvir?

Tentei abrir a boca e dizer que estava bem, ou quase isso, mas nada saiu. O encarei apática.

Por dentro tudo estava ruído, mas por fora não conseguia emitir um som. Nem uma única lágrima. Estava flutuante, meio dormente.

Então Damon fez a única coisa que poderia fazer a dormência sumir, as lágrimas surgirem e toda a minha mente voltar a funcionar como mágica.

Suas mãos cobertas pelas luvas pretas apertaram minhas bochechas quando seus lábios pressionaram os meus. Seu hálito de menta e suor fez meu peito tremer. Seus olhos azuis estavam arregalados como os meus, encarando-me firme. Os lábios macios eram fortes, mas não duros, nem exigentes ou repulsivos.
Surpreendentemente, eram suaves, quentes, gostosos.

Seu beijo despertou minha mente rapidamente, meu corpo inteiro acendeu e consegui emitir um som estranho. Minhas mãos foram inconscientemente até sua nuca e o mantive ali, quieto, encarando-me com seus olhos intensos, os lábios macios movimentando-se aos poucos nos meus de uma forma tão elétrica que manteve todo meu corpo em expectativa.

Lentamente, ele se afastou.

Os olhos ainda fixos nos meus, os lábios entre abertos como os meus, o nariz e bochechas rosadas.

Eu nunca vi Damon claramente antes. Ele era apenas o irmão de Jasmine, seu protetor. O filho de Jon, o meio insano. E agora ele era o cara do meu primeiro beijo. O primeiro beijo mais insano da minha vida em um momento nada apropriado.

— Que merda, Damon? — consegui perguntar e recuei dois passos fracos.

O gosto dele ainda estava quente em meus lábios. E era bom. Muito bom até.

O que só me fez ficar ainda mais inquieta.

Damon, por outro lado, deu um sorriso de lado.

— Você consegue falar agora, não é? Então eu fiz o certo.

Pisquei sem entender.

Dylan - ChicagoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora