Capítulo 08

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Sean

Bater naquele saco era uma terapia. Afastava da minha mente toda a escuridão que me sufocava e me deixava muito mais centrado.

Alguns se assustavam com a minha precisão e violência, mas eu precisava controlar algo em minha vida, já que minha mente estava perdida, e lutar era algo que eu definitivamente podia controlar.

Cada soco e chute era dado com uma força calculada. Eu tinha o controle de tudo quando estava na academia de Dylan, lutando contra o inimigo que me deixava acordado durante a maioria das noites: eu mesmo.

A minha mente estava quebrada. A sensação de abandono, de decepção e de raiva nunca me deixavam. Estavam em mim como as tatuagens que fiz recentemente, uma no braço esquerdo e outra na costela.

— Assim vai quebrar os ossos da mão — uma voz masculina disse atrás de mim.

Não parei meus movimentos, nem ao menos liguei pro fato de ter alguém falando comigo. Todos na academia sabiam que não deviam mexer comigo quando estivesse treinando.

Ou aquele cara era louco ou era um novato. E eu detestava novatos.

— É sério, cara — ele disse de novo, desta vez mais próximo — Isso deve machucar. Dá um tempo.

Ignorei mais uma vez. Era comum sentimentos diferentes se libertarem quando eu estava em meus episódios escuros e naquele dia a raiva era a minha dona. Meus socos ficaram mais velozes e mais barulhentos, alguns caras que estavam treinando na mesma ala que eu pararam para olhar sabendo que aquilo daria muito errado.

Semicerrei os olhos perante a luz que entrava pela janela grande bem à minha frente e o barulho de conversas e risadas explodiram em meus ouvidos. Todo aquele barulho e o garoto atrás de mim, me perturbando quando eu só queria ficar na minha, estavam me sufocando e eu odiava meu sentir daquela forma.

— Ei, cara, eu tô falando com você...

Ele não terminou de falar. Meu punho bateu contra seu maxilar de uma só vez, fazendo o garoto magrela tombar para trás e cair de bunda provocando um barulho estranho quando seu corpo ossudo se chocou contra o chão.

O garoto levou a mão pálida até o maxilar e fuzilou o chão em silêncio. Todos tinham parado de lutar e estavam nos olhando como se estivéssemos em um circo.

Tentei controlar minha respiração e a vontade insana de partir pra cima do magricela. Eu tentava me lembrar que ele ainda estava no chão e parecia tão indefeso que partiria o coração de Samantha, mas não o meu. Naquele dia eu nem me lembrava que ainda tinha um.

Uma movimentação estranha aconteceu pela minha visão periférica, mas não notei muito bem. Meus olhos ainda estavam fervendo no garoto que nem me olhava. Ele parecia petrificado em seu lugar no chão.

Uma mão feminina agarrou meu casaco com força me arrastando pra longe do garoto e bati meu corpo contra o saco que antes era o objeto da minha fúria. O segurei e colei minha testa nele.

— Que porra é essa, seu merdinha? — a voz de Evil surgiu tão brava que quase me fez encolher os ombros. Quase.

— Diga pra ele nunca mais falar comigo — rosnei.

Ouvi Evil soltar uma longa respiração.

— Tirem Kyle daqui. Levem-o pro vestiário. Quero falar com ele em um segundo — ordenou e depois veio para mais perto de mim — Dylan ficará sabendo disso. Onde está o Lucas?

Dylan - ChicagoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora