Daphne
ANTES
Empurrei a porta meio aberta e vi Dylan sentado na cama grande. Os ombros caídos assim como os cabelos loiros e a mão segurava com força uma seringa enquanto debatia consigo mesmo se deveria ou não afundá-la no braço esquerdo.
Respirei fundo e entrei, ignorando minhas mãos trêmulas. A imagem de alguém prestes a se drogar não era desconhecida. Meu irmão sempre estava naquela posição e com aquele olhar perdido entre a dor e a diversão. Eu odiava aquele olhar. Odiava ainda mais quando ele estava em meu rosto, mas por algum motivo, eu simplesmente não podia deixar Dylan fazer aquilo. Não queria deixá-lo sozinho com aquele maldito olhar.
Dylan levantou os olhos para mim e me encarou surpreso, irritado também. Ele sempre estava irritado.
— Você não pode ficar no meu quarto, garota. Dá o fora!
— Acha que isso vai te ajudar? — o ignorei e apontei para a seringa.
Dylan bufou. Ele ainda segurava a seringa na mesma posição, a mão tremia de leve, eu estava perto o suficiente para perceber.
— Isso não é problema seu, garota.
— Pode ser, mas isso não vai ajudar você. Isso nunca ajuda.
Dylan fechou os olhos e suspirou, balançando a cabeça em negação.
— Eu só... só preciso de algumas horas de silêncio — sua voz estava carregada de uma dor que eu nunca tinha percebido, mas talvez, eu a percebesse naquele momento porque sua dor estava mais forte com a morte de sua irmã. Eu entendia bem aquela dor e por isso, estava ali. Eu entendia bem o que era perder alguém que amava — Só preciso que isso pare! Preciso conseguir respirar sem ter esse peso. Preciso disso, ruiva.
— Você só acha que precisa — retruquei com a voz baixa. Me aproximei mais da cama e ele abriu os olhos azuis, olhando-me com uma intensidade ardente — Vai melhorar. Não agora, mas um dia.
— Eu quero que melhore agora.
— Bem, acostume-se com as coisas não sendo de acordo com o seu desejo. Essa é a vida.
Dylan bufou e jogou a seringa no chão, passou a mão pelo braço.
— Satisfeita? Já pode cair fora?
— De nada — disse sarcástica e me afastei, peguei a seringa e a guardei no bolso do casaco. Me virei para ele outra vez — Eu sei que dói, sei como é querer morrer e querer ter a pessoa que você ama de volta, mas não vai ser assim para sempre. Vai melhorar.
Dylan soltou outro bufo e levou as pernas para o peito, abraçando-as em seguida e me olhando como se não passasse de uma criança assustada que precisava de cuidados imediatos.
— E se não melhorar? — seus olhos azuis brilhavam como se fossem estrelas, e a voz fraca quase me deixou sem voz. A dor que ele sentia era tão clara que me magoava.
Engoli em seco.
— Eu não sei, mas você não vai precisar disso — toquei o bolso do casaco onde estava a seringa.
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Dylan - Chicago
Romance{ Dylan - Chicago - Livro III } "Eu amo a insanidade, pois ela é sua melhor amiga" Daphne Williams foi vendida, humilhada e quebrada. Seu coração, outrora feliz e belo, se tornou triste e feio. Mas a esperança de ser feliz nunca deixou seus olhos. ...