Capítulo 44

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Daphne

ANTES

Empurrei a porta meio aberta e vi Dylan sentado na cama grande. Os ombros caídos assim como os cabelos loiros e a mão segurava com força uma seringa enquanto debatia consigo mesmo se deveria ou não afundá-la no braço esquerdo.

Respirei fundo e entrei, ignorando minhas mãos trêmulas. A imagem de alguém prestes a se drogar não era desconhecida. Meu irmão sempre estava naquela posição e com aquele olhar perdido entre a dor e a diversão. Eu odiava aquele olhar. Odiava ainda mais quando ele estava em meu rosto, mas por algum motivo, eu simplesmente não podia deixar Dylan fazer aquilo. Não queria deixá-lo sozinho com aquele maldito olhar.

Dylan levantou os olhos para mim e me encarou surpreso, irritado também. Ele sempre estava irritado.

— Você não pode ficar no meu quarto, garota. Dá o fora!

— Acha que isso vai te ajudar? — o ignorei e apontei para a seringa.

Dylan bufou. Ele ainda segurava a seringa na mesma posição, a mão tremia de leve, eu estava perto o suficiente para perceber.

— Isso não é problema seu, garota.

— Pode ser, mas isso não vai ajudar você. Isso nunca ajuda.

Dylan fechou os olhos e suspirou, balançando a cabeça em negação.

— Eu só... só preciso de algumas horas de silêncio — sua voz estava carregada de uma dor que eu nunca tinha percebido, mas talvez, eu a percebesse naquele momento porque sua dor estava mais forte com a morte de sua irmã. Eu entendia bem aquela dor e por isso, estava ali. Eu entendia bem o que era perder alguém que amava — Só preciso que isso pare! Preciso conseguir respirar sem ter esse peso. Preciso disso, ruiva.

— Você só acha que precisa — retruquei com a voz baixa. Me aproximei mais da cama e ele abriu os olhos azuis, olhando-me com uma intensidade ardente — Vai melhorar. Não agora, mas um dia.

— Eu quero que melhore agora.

— Bem, acostume-se com as coisas não sendo de acordo com o seu desejo. Essa é a vida.

Dylan bufou e jogou a seringa no chão, passou a mão pelo braço.

— Satisfeita? Já pode cair fora?

— De nada — disse sarcástica e me afastei, peguei a seringa e a guardei no bolso do casaco. Me virei para ele outra vez — Eu sei que dói, sei como é querer morrer e querer ter a pessoa que você ama de volta, mas não vai ser assim para sempre. Vai melhorar.

Dylan soltou outro bufo e levou as pernas para o peito, abraçando-as em seguida e me olhando como se não passasse de uma criança assustada que precisava de cuidados imediatos.

— E se não melhorar? — seus olhos azuis brilhavam como se fossem estrelas, e a voz fraca quase me deixou sem voz. A dor que ele sentia era tão clara que me magoava.

Engoli em seco.

— Eu não sei, mas você não vai precisar disso — toquei o bolso do casaco onde estava a seringa.

Dylan - ChicagoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora