Capítulo 24

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Eu queria não querer tanto o que eu não posso ter – Rodrigo Muniz
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Nina Black

Observei Jack dormir calmamente por um longo tempo antes de sair de seu quarto e voltar para o meu. Como quase todas as noites, ele estava lá vasculhando tudo o que podia tocar, buscando incessante por qualquer plano de fuja que eu tivesse.

Tirei meu casaco fino e o joguei para a poltrona quando me aproximei da minha cama. Ele mal me olhou. Não ligava muito para minha presença. Apenas se eu o estivesse chateando.

— Não tem nada aí, Trevor. — peguei o hidratante na cômoda e me sentei na cama, depositando o conteúdo nas mãos e espalhando pelos braços em seguida. Trevor continuou mexendo nas minhas roupas na outra cômoda — Quando vou poder falar com John de novo?

— Espera sentada. — disse rudemente.

Engoli a vontade de ir até ele e quebrar seu nariz perfeitamente alinhado ao rosto idiota.

— Amanhã? Sexta?

— Vai pro inferno.

— Já estou nele. Há nove anos.

— Eu queria um inferno assim. TV, livros, boas acomodações, comida farta.

— Um sequestrador barato que inferniza a vida vinte e quatro horas...

— De barato eu não tenho nada. Sou bem caro se quer saber.

— Vai se ferrar, Trevor. E sai do meu quarto. Eu quero dormir nessa porra de prisão criada pelo meu querido papai psicopata.

Trevor jogou as roupas em suas mãos no chão e se levantou. Passou a mão no cabelo grande e o tirou do rosto. Me olhou azedo.

— Tenha bons sonhos, princesa.

— Tenha péssimos sonhos, lixo.

Trevor sorriu e desviei o olhar imediatamente. Eu era uma merda de Black chata da porra e eu ferraria ainda mais a minha vida se eu gostasse do sorriso daquele merdinha ganancioso.

Ele apagou a luz deixando-me no escuro e saiu do quarto trancando a porta com a chave.

— Mais uma vez trancada. — resmunguei e fechei os olhos, respirei fundo algumas vezes — Filho da puta!

Trevor havia chegado aqui quando eu estava com sete meses de gravidez. Rude, retraído e fodidamente sexy. Meu pai havia trazido ele e levado dez seguranças embora. Ao que parecia, o ratinho de estimação de Walter Black era mais eficiente que dez enormes homens treinados. Aterrorizante eu sabia que Trevor era. Ele não possuía nenhuma tatuagem, mas seu corpo incrivelmente malhado era repleto de outra coisa bem mais marcante; cicatrizes profundas. Infelizmente para mim, mesmo com as cicatrizes ele ainda conseguia ser putamente belo. Algo que eu, como sua prisioneira, não deveria notar.

Me deitei na cama e puxei o edredom até o queixo, ficando bem quentinha na cama enorme. Trevor estava certo. Aquela prisão era luxuosa. Mas eu nunca liguei para o luxo. Nunca liguei para uma merda de TV. Ou lençóis de seda, vestidos caros, comidas exóticas. Eu sempre liguei pro meu irmão. Para Jasmine, Damon, Marcus e o tio Jonathan. Sempre liguei para o sorriso em seus rostos e o calor de seus raros abraços. Meu pai tirou aquilo de mim sem piedade. Sem nem piscar os malditos olhos gélidos e escuros como a porra da escuridão. Ele sabia o que custaria e fez mesmo assim. Eu o odiava tanto quanto o amava e porra, eu o amava pra caralho.

Dylan - ChicagoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora