— Limenn disse que ele e o seu bando iam assediar as tropas de Linea o máximo que conseguissem. — Lembrou a Rainha. — Espero que estejam cumprindo com sua palavra.

Ela fez uma pausa, olhando para os soldados que ouviam tudo à distância, provavelmente ansiosos para saber qual seria a decisão tomada.

— Seguiremos em frente, então. — Disse finalmente. — Se Glem retornar, será uma ajuda bem-vinda, mas vamos torcer para que não seja necessária. Entre os números da Aliança e os nossos, acho que podemos balancear essa batalha em nosso favor.

— Muito bem. — Samor concordou e, então, virou-se para as tropas. — Toquem as trombetas! Nós marchamos agora!

***

A marcha seguiu tranquilamente pelas planícies durante todas as horas restantes daquele dia. Não havia um batedor sequer à vista e, ainda que Dalária soubesse que era quase impossível que ainda mantivessem o elemento surpresa, uma parte dela ainda se animava com a excessiva confiança do Duque.

O sol já baixava rapidamente no céu enquanto a tropa subia uma colina que impedia a visão da fronteira da floresta. Do alto de seu cavalo, a Rainha foi a primeira a enxergar o que havia além daquele monte e, no momento em que o fez, soube que sua sorte estava para mudar.

À distância, na fronteira da Floresta Negra, podiam ser vistos os sinais de uma violenta batalha sendo travada. Luzes causadas por feitiços cortavam o céu do entardecer e focos de incêndio eram visíveis em vários pontos da linha externa de árvores. Dalária podia apenas rezar para que as bruxas sobrevivessem até o dia seguinte.

O problema, no entanto, estava bem mais próximo do que aquela batalha longínqua.

Imediatamente em frente à colina que tinham acabado de subir, havia um declive leve e, além desde mais uma colina. Ainda que a segunda fosse mais baixa que aquela em que a Rainha de encontrava, sobre ela havia um exército élfico parado, observando a movimentação das tropas inimigas.

— Acho que não faremos uma surpresa ao Duque. — Ela comentou, sentindo a agitação que tomava conta de seus soldados.

— Parece que ele soube de nossa aproximação e resolveu ser esperto. — Samor constatou o óbvio. — Acho que acamparemos aqui esta noite, não?

— Sim. — Respondeu a Rainha. — Quero batedores indo para norte e sul, para garantir que não seremos cercados. E preciso de uma análise detalhada da topografia. Se houver lugar melhor para travar essa batalha, levaremos nosso tempo aqui.

— E os selvagens, majestade? — Alguém perguntou atrás dela. — Aguentarão sem nossa ajuda?

— Teremos que torcer para que sim. É melhor tomarmos tempo para lidar com isso aqui ao invés de nos desesperarmos e acabarmos todos mortos. — Ainda que não fosse ideal, era a única opção que tinham.

A posição do inimigo era muito favorável. Tinham o benefício de poderem esperar pacientemente pelo ataque de Dalária, deixando que seus aliados destruíssem a Aliança no meio tempo, além de contarem com a força do aclive criado pela colina. Se as tropas de Parsos tentassem atacar naquele momento, a probabilidade era de que seriam massacrados.

Não, não podiam se precipitar. Seria necessária muita paciência e cálculo estratégico para encontrar qualquer pequena vantagem que se convertesse em vitória.

Decepcionada, a Rainha ordenou que as tropas ficassem à postos, em formação, durante o restante da luz solar. Uma vez que o sol se fora, o acampamento foi rapidamente erguido na encosta oriental da colina, protegida dos olhares do inimigo. Observadores foram posicionados ao longo de dois quilômetros para garantir que o inimigo não tentasse nenhuma gracinha durante a noite e todos os soldados foram ordenados que descansassem, mas não relaxassem demais pois, à primeira luz do próximo dia, deveriam estar em posição para a batalha.

Dentro da tenda de comando, esperando a chegada dos comandantes que ainda estavam ausentes, Dalária encarou o mapa desenhado às pressas por seus batedores, indicando onde havia colinas e onde o terreno era mais plano, tentando encontrar uma forma de inverter aquela vantagem assegurada por seu inimigo.

— Consegue pensar em algo, Majestade? — Um dos generais perguntou ao entrar na sala. — Minha mente está completamente vazia.

— Talvez se atacássemos à noite, mas não teríamos sequer como controlar as tropas num cenário desses. — A Rainha respondeu, ainda pensativa. — Acho que tudo que podemos fazer é levar as tropas ao campo amanhã, ver como nosso inimigo se porta e, então, decidir se vamos atacar ou não.

— Podemos usar os selvagens para assediar os flancos. Talvez eles consigam uma vantagem. — O elfo respondeu, encarando também o mapa. — Nossos números são praticamente os mesmos. A única real vantagem que eles têm é o terreno.

— Sim, e é uma gigantesca vantagem. — Dalária deu um soco na mesa, irritada. — Precisaríamos de muitos mais Middgellers para conseguir assediar os flancos. Não se esqueça que eles também tem cavalaria para contra-atacar.

— Então só esperamos? — Foi Samor, recém chegado, que perguntou.

— Vamos nos preparar para batalha, com as legiões mais experientes segurando o centro. — Explicou a Rainha. — Se o comandante de lá fizer alguma besteira, atacaremos. Se não, esperaremos.

— Não vou dizer que me agrada. — Disse Merg, com a cabeça enfiada pela entrada da tenda. — Mas é melhor chegar à Floresta atrasado do que não chegar.

Dalária fez que sim com a cabeça. Aquela poderia não ser uma opção agradável, mas ao menos mantinha aqueles milhares de soldados elfos longe da Floresta. Se não encontrassem uma forma de transpor aquela barreira, ao menos dariam tempo para a Aliança lutar contra um contingente reduzido.

— Mais uma coisa. — Ela disse, para ninguém específico. — Precisamos descobrir onde estão as linhas de suprimentos deles. Enviem batedores. Sabemos que não vêm de Linea e não restam muitas outras opções.

— Acha que teremos tempo de fazê-los passar fome? — Um general perguntou.

— Não. — Respondeu a Rainha, calmamente. — A batalha não durará tanto tempo. Mas podemos nos apropriar dos recursos 

— Considere feito, Rainha. — Merg disse, já tirando a cabeça da barraca e seguindo para os seus companheiros, provavelmente para ordená-los a caçar as carroças de suprimento inimigas.

— Bem, transmitam as ordens aos demais generais. — Finalizou Dalária. — À primeira luz, entramos em formação e esperamos.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum