AMOR Á SEGUNDA VISTA

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Brandon

Fui um garoto que passou a maior parte da infância trocando de lares adotivos, saindo e voltando do orfanato por não ter as características que um "bom menino" deveria possuir. Sempre questionei, me arrisquei e baguncei demais, três coisas que só as freiras mais velhas entendiam e conseguiam lidar. Portanto, cresci sob a vigilância delas e confesso que elas receberam a visita de muitos moradores da região que reclamavam da minha rebeldia em sua sociedade formadora de gente sem personalidade. Desde mais novo, sonhei com o dia de dar adeus às pessoas que me culpavam por tudo que acontecia na cidade, às famílias de mentira e as limitações que rondam um município pequeno.

Eu odiava tudo e todos, com exceção das gentis freiras que fizeram o papel de mãe e conselheiras, mesmo que não tenha dado tanta importância na época.

Quando decidi aumentar a minha rebeldia – ainda com 14 anos – conheci a garota que transformou toda a pressão em algo mais suportável e protegê-la passou a ser a minha prioridade número um. Lucy Hoffman não só me tornou um menino feliz e amado, ela também me apoiava completamente na ideia de sair de lá. O que fez com que eu me apaixonasse imediatamente por aquela menina de sorriso doce. No início não acreditei que a garota de cabelos claros e olhos cor de mel, vinda de uma família estruturada, fosse querer ser a minha amiga e principalmente, demorei a acreditar que ela queria ser a minha namorada!

Infelizmente ela não foi a primeira garota que eu beijei, mas Lucy foi com quem tive as outras primeiras vezes. Primeiro amasso no banco traseiro do carro, primeira briga por causa do ciúme, minha primeira transa e foi para quem eu disse "te amo" pela primeira vez. Ela é a única responsável por ser quem sou hoje! Graças a ela encontrei motivos para viver e não guardar mágoa dos pais biológicos que não quiseram me criar.

Antes de conhecer oficialmente seus pais como namorado anos depois, tive medo que eles proibissem e tirassem a Lucy de mim, mas quando compartilhei com a mesma sobre a minha insegurança – já que costumávamos conversar sobre tudo, ela fez questão de destruir qualquer dúvida que ainda restava sobre o futuro do nosso relacionamento. Lembro-me como se fosse ontem o que ela disse enquanto segurava o meu rosto entre as mãos. Que foi exatamente assim:

- Os meus pais não são como esses outros idiotas dessa cidade, Brandon, eles me amam muito e sabem que estão me criando para o mundo. Estão me criando para estar preparada para o momento em que começarei a compartilhar uma vida contigo. – beijou os meus lábios – Eles já te amam também!

No momento em que fiquei frente a frente ao senhor e a senhora Hoffman, agora como namorado, percebi que a minha garota tinha toda razão, ambos mostravam que me aceitavam do jeito que sou só pelo sorriso e o abraço que deram ao me recepcionar em sua casa. Desde aquele dia, não tive mais nenhuma dúvida quanto isso.

Evitei pensar na Lucy e em como adorava dormir agarrada a minha cintura após nos separarmos, passando a dedicar a vida completamente ao meu trabalho, anestesiando a dor com um bom whisky. As noites em que dormi sem precisar da bebida nos últimos quase quatro anos podem ser contadas nos dedos das mãos. Basicamente trabalhar feito um condenado e beber feito um alcoólatra, é um resumo de como tem sido a minha vida sem ela. Todas as lembranças estavam bem guardadas e trancadas em algum lugar da minha mente, mas bastou a Heather entrar na vida do esquadrão que tudo mudou drasticamente. Adam se apaixonou por ela, Paul conheceu a Eileen, Ruby finalmente se deu conta de que ama Sean, Evan não foi assassinado quando começou a sair com a Chloe e John conheceu Helen, a sua futura esposa. Não estou dizendo que senti inveja – longe disso – só apenas me fez pensar em como seria se eu não tivesse me acovardado e ter me tornado um monstro para fazer Lucy ir embora.

Nunca tive medo de ir para uma zona de guerra, matar alguém ou me sacrificar para salvar uma pessoa, entretanto, bastou pensar na possibilidade de deixá-la sozinha, que logo montei um plano para Lucy me esquecer. Pareceu uma boa ideia na época. Apenas naquela época, porque assim que pus os pés em casa e vi que as coisas dela tinham sumido, uma dor incurável tomou conta do meu coração e de lá nunca mais saiu. Uma dor que acabei me acostumando com o tempo.

O Pai da Minha Melhor AmigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora