CONHECENDO O SR. E A SRA. O'DONNELL

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A ansiedade me consome cada vez que estamos mais próximos da casa do monumento. Comecei a bater o pé no assoalho com tapetes de couro do jeep e o barulho ritmado da batida fez a Chloe olhar na minha direção com as sobrancelhas erguidas. Parei de produzir o barulho imediatamente com o rosto corado, começando a mexer nas mãos em cima do colo em um gesto explícito de nervosismo.

- Você está muito nervosa, amiga. – riu trocando olhares de cumplicidade com o namorado – Ou devo te chamar de madrasta?

Enquanto os dois gargalham às minhas custas, limitei-me a revirar os olhos e tentar não surtar por não saber o que aconteceu na conversa do Adam com o papai, uma parte de mim está aliviada pelo monumento ainda estar vivo. Não que James Carter fosse a favor da violência – longe disso, apenas não sei qual foi o nível de tranquilidade do diálogo. Conheço o tenente O'Donnell para ter certeza que não deu o braço a torcer e muito menos fazer o papel de bonzinho, na verdade, posso apostar que ele fez o tipo marrento. Minha mãe deve ter adorado. Pulei de susto ao receber um beliscão da diabinha de olhos azuis chamando a minha atenção e rindo de novo logo em seguida, acompanhada mais uma vez do seu namorado.

- E vocês estão tão engraçadinhos hoje, já perceberam? Talvez não se lembrem, mas com a minha ajuda o Adam não vai reclamar se a filha voltar tarde ou nem se não retornar para casa um dia desses.

Fui infectada pelo vírus da chantagem do Adam, que usa da sua autoridade para frear as piadinhas da Chloe e até que fui bem utilizando esse "trunfo" pela primeira vez, pois a risada de ambos morreu no mesmo instante. Então, chegou a minha vez de sorrir com uma falsa doçura ao ouvir o resmungo do Evan para a Chloe.

- Estamos ferrados, amor.

- Não estamos, porque sei que a minha amiga tão linda e de bom coração não vai fazer chantagem com a sua amada enteada. – terminou batendo os cílios na minha direção.

Gostaria de dizer que é mentira essa afirmação, porém infelizmente, nunca fui e nunca serei uma chantagista completa feito ela e o seu pai. Soltei um suspiro de derrota e resmunguei:

- Droga! Ela tem toda a razão... Sou um anjo encarnado no corpo de um humano, dono de um coração cheio de bondade!

O comentário que a Chloe falou a seguir me fez voltar a corar.

- Que foi corrompido pelo Adam O'Donnell.

E o resto do percurso foi preenchido por piadinhas ao meu respeito e ao relacionamento recém-aceito. Admito que por mais que pareça que não gosto das brincadeiras e reclame como uma velha, no fundo sinto um alívio ao perceber que a paz retornara. Só não quero deixar que esse sentimento transpareça demais, afinal, o alívio trazia consigo a lembrança da culpa – minha maior inimiga da semana – algo que planejei deixar para trás assim que resolvi todos os mal-entendidos com a diabinha de olhos azuis. Não quero mais ter que conversar sobre as coisas que aconteceram com os meus pais, Adam ou qualquer outra pessoa, apenas desejo aproveitar os dias que ainda restam da próxima convocação do esquadrão.

Respirei fundo em busca de controle assim que o Evan estacionou a picape na frente da casa do futuro sogro e foi logo se voluntariando para carregar a minha bolsa, como se eu fosse uma inválida. Tentei recusar a ajuda, que me faria sentir ainda mais frágil, no entanto, a sua namorada me fez mudar de ideia, dizendo:

- Evan e eu vamos entrar primeiro para avisarmos ao papai que alguém lhe espera na varanda. – explicou pegando a bolsa da minha mão – Depois de darem os seus amassos em público, os dois entram em casa para se juntar a nós.

- Você é terrível, amiga!

A minha voz soou orgulhosa ao sair do carro, não demorando para ela chegar correndo para ficar ao meu lado e abraçar meus ombros com carinho.

O Pai da Minha Melhor AmigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora