O Pai da Minha Melhor Amiga

NA MIRA DA FAMÍLIA CARTER - PARTE 1

Adam O'Donnell

Sou conhecido por tomar decisões quase suicidas em várias situações, todas envolvendo o meu trabalho, mas hoje será diferente. Ou não. Afinal de contas, ficar cara a cara com o pai da sua namorada pode ser considerada como uma missão suicida. Mesmo que o certo fosse conversar com James Carter na presença da filha, senti a necessidade de lhe pedir desculpas por ter sido um moleque por não procurá-lo antes, estou disposto a não reagir se quiser me espancar, aceitarei como homem qualquer punição decretada. Exceto, desistir da invasora.

Só desistirei se ela desistir de mim primeiro... Ok, isso é uma total e fodida mentira, não sem antes lutar por qualquer fio de esperança que restasse.

Hoje o prazo que a Heather pediu irá se esgotar e provavelmente irei surtar se não receber nenhum sinal de vida por parte dela, além de haver 99,9% de chance de ir à caça da mesma. Ninguém gostaria de estar no lugar da minha garota quando a encontrasse, porque não vou estar de bom humor e consigo ser um homem insuportável de mau humor. Completamente insuportável. Basta perguntar para a minha equipe!

Meu dia iniciou, assim como todos os outros da última semana, comigo sentado na beira da cama com o celular entre as mãos e ali permaneci por meia hora antes de ir para debaixo do chuveiro, que durou mais uma hora. Ao mesmo tempo em que terminava o banho e vestia o uniforme, trilhões de coisas serpenteiam por minha mente. Todas elas, é óbvio, envolvem a linda mulher de olhos verdes. Não posso esquecer daquela boca carnuda e o traseiro arrebitado... Balancei a cabeça para afastar esse tipo de pensamento, já que não é apropriado ter uma ereção justo no momento em que vou para a cozinha junto a minha filha e mesmo que ela não percebesse, ainda prefiro não arriscar. Resmunguei uma prece em meio a um suspiro alto e sai do quarto segurando o boné camuflado que faz parte do uniforme, fechando a porta do aposento atrás de mim. Desci a escada em passos rápidos e pesados, não demorando muito para chegar no fim e me dirigi em direção a cozinha.

No instante em que entrei no cômodo, estranhei o cheiro de ovos mexidos e mais estranho ainda me deparar com a Chloe terminando de preparar o café-da-manhã, que sou encarregado de fazer desde sempre, independente de mal humor. Limpei a garganta para chamar a sua atenção, uma vez que se concentrava totalmente ao executar qualquer tarefa como o seu pai, sempre visando dar o seu melhor. Assim que percebeu a minha presença, apagou a chama do fogão e saudou-me com um grande sorriso, dizendo:

- Bom dia, pai! Fiz ovos mexidos, bacon e torradas, além do café preto bem forte. - Pôs os pratos e a garrafa térmica na mesa – Espero que tenha feito do jeito que gosta.

Limitei-me a assentir ao me acomodar, colocando o boné pendurado no braço da cadeira.

- Aconteceu alguma coisa?

Não consegui conter a curiosidade ao vê-la manter o sorriso tempo demais, sendo que nos últimos dias não expressou qualquer coisa que não fosse de desagrado e aborrecimento, não curtindo a minha companhia tão silenciosa.

- Só acordei de bom humor, pai.

- Bom para você, filha. – resmunguei pouco antes de dar a primeira garfada no prato servido à minha frente.

E a conversa terminou ali, com apenas o barulho dos talheres preenchendo o silêncio do ambiente junto com o irritante barulho da máquina de cortar grama do vizinho. Todos os momentos em que passava em companhia da minha filha desde as últimas conversas, me sinto um pouco desconfortável, quase claustrofóbico para falar a verdade. O desjejum continuou sem dizer uma palavra um para o outro, porém, fico feliz por Chloe estar contente enquanto troca mensagens com alguém. Assim não se sentia tão sozinha quanto eu!

Seria loucura pensar na possibilidade de que ela esteja conversando com a Heather?

A Chloe estava ainda mais estranha quando ergueu o corpo para pôr os pratos na pia e aproximou-se para pegar a mochila no balcão perto do fogão.