O RETORNO DA PAZ

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Durante toda a semana, a cada dia ou a cada segundo, não havia nada que tirasse da minha cabeça e coração, o sofrimento de ter que pensar em terminar definitivamente com Adam no caso da Chloe não me perdoar. Ao ouvir a última mensagem de voz deixada por ele foi uma tortura, quase me dando a certeza de que eu não o veria antes de embarcar em mais uma nova missão e assim, nossa história chegaria ao fim sem a necessidade de despedidas. Caramba, já dói tanto só em pensar, então imagina o quanto seria na hora de encarar a realidade?! Não sei se sobreviverei mais essa...

Gostaria de ser como as garotas normais que estão naquela fase de curtir a vida, onde

conseguem um início de algo esplêndido com o fim do relacionamento, não demorando muito para se apaixonar depois de um tempo. O grande problema é que não sinto pelo Adam uma simples paixão, que pode ser substituída por uma viagem, festa ou um outro alguém. Eu amo o monumento e ele é insubstituível. Terminar com ele seria uma penitência precoce dada por Deus.

Se me perguntassem o que estaria fazendo no fim do dia há menos de uma hora atrás, a resposta seria a mais óbvia de todas. Na varanda do apartamento, encolhida na cadeira e olhando para o nada ao mesmo tempo em que pensava em tudo. Porém, jamais imaginaria estar dentro de um mesmo carro com a Chloe e o Evan, muito menos que o clima estivesse tão bom. Como se fosse há uma semana, quando a Chloe não sabia ainda que Adam e eu estávamos juntos, quando ela era ainda a minha melhor amiga.

Admito que me sinto como um extraterrestre na presença de um humano pela primeira vez, não sei o que é deixar que um ambiente alegre vença a barreira de tristeza que ergui. Ver a diabinha de olhos azuis gargalhar e soltar seus gritinhos é um alívio para a mente atormentada pela culpa.

Neste instante, o novato interrompeu a conversa animada com a sua namorada e não desviando os olhos da estrada a sua frente, perguntou:

- Está tudo bem, Heather? Você está tão pálida e calada. – usou um tom preocupado.

Um rubor se espalhou pelo meu rosto ao perceber que a Chloe me encarava.

- Estou bem, Evan, só estou demorando um pouquinho a voltar a conviver na sociedade.

Minha resposta saiu como um sussurro, o suficiente para ambos escutarem e rirem dela, não fazendo ideia do quanto o som que reproduzem me deixa contente. Tombei a cabeça para frente e encarei as minhas mãos entrelaçadas no colo, focando a atenção no anel que o Adam me dera. Pensei nos olhos verdes dele.

Ainda não consigo acreditar na franca conversa que tive com a filha dele, embora no início não tenha sido tão agradável e que em alguns momentos pensei que ela me jogaria da varanda pelo modo como estava nervosa, o final foi muito melhor do que esperava. Lembro com clareza quando pôs os olhos no anel de esmeralda e não precisei responder para Chloe quem me deu a joia, seu rosto empalideceu como o meu.

Não tive coragem de abrir a boca para indicar a cozinha ou o quarto para conversamos, deixei que ela escolhesse o lugar que desejava. Não faz a menor importância, Chloe poderia escolher o banheiro, o corredor do prédio e a recepção também, o que é de extrema de importância agora é a disposição dela para ter aquela conversa. Isso é o meu desejo desde quando descobriu tudo e jogou todas aquelas acusações horríveis, nem me dando a chance de dizer que não tinha a intenção de amar o seu pai. Respirei fundo ao ver que ela foi direto para a varanda, sentando em uma das cadeiras de braços cruzados e em silêncio, acomodei-me na outra cadeira ao lado da sua, esfregando as mãos nas coxas num gesto de nervosismo. O silêncio continuou presente por alguns minutos, Chloe mirando a atenção na vista da cidade e mordia os lábios, aparentemente está pensando em como começaria a falar. Me limitei a ficar calada e a lhe dar espaço para dizer tudo o que tiver vontade, porém dessa vez seria diferente da última vez que nos encontramos. Exigirei o meu direito de resposta, mesmo ela gostando ou não.

O Pai da Minha Melhor AmigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora