DOLOROSA DESPEDIDA

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Ele riu enquanto solta a bolsa no chão e logo segurou meu rosto entre as mãos, me obrigando a afastar a cabeça de seu peito. Seus olhos brilhavam em um misto de amor e preocupação, se sentia em meio a uma encruzilhada, confuso por seu lado que gostaria de ficar e o soldado que não via a hora de entrar de cabeça na missão. Mas como sempre, é o soldado quem venceu a batalha. Já no meu caso é a mesma história, uma parte de mim deseja implorar que ele aposentasse o seu uniforme e a outra parte – a mulher de um fuzileiro – sente orgulho do sacrifício que faz pelo país. A segunda parte sempre venceria também.

- Você está bem?

Não consegui mentir encarando-o diretamente.

- Não estou, mas eu vou ficar.

Para passar o máximo de confiança, selei nossos lábios com doçura.

- Vamos nos juntar aos outros? – sussurrou contra a minha boca.

Balancei a cabeça afirmando e em seguida afastei meus braços da sua cintura para entrelaçar sua mão na minha, para começarmos a caminhar juntos em direção a sua equipe. Acenei ao notar Zoe e Kyle espremidos ao lado do Sean, que acenaram de volta com a sua animação costumeira.

Durante o percurso o Adam parou várias vezes para cumprimentar alguns conhecidos e todos eles me olhavam com certa curiosidade até que o monumento me apresentava como sua mulher, fazendo alguns deles arregalarem os olhos e outros o parabenizarem. O espanto que toma conta do rosto deles não é porque sabiam a minha idade ou achavam a minha aparência jovem demais – muito pelo contrário – hoje eu estava parecendo uma mulher de 20 e poucos anos usando jeans, camisa de botão branca, suéter rosa e calçando um par de sapatilhas nude. Na verdade, eles se espantavam pelo fato do homem que havia deixado a vida amorosa de lado por anos, ter se apaixonado com tanta facilidade. Enquanto Adam conversava com um soldado e o pai, meus olhos pousaram em Brandon, que está com o corpo apoiado na lateral do ônibus esperando a sua vez de guardar a bolsa no bagageiro.

Nesse instante, lembranças da noite da festa do "Até Logo" voltaram com força total, especificamente no meio da festa, onde vi o Brandon fugindo para se sentar no banco da varanda e eu o segui por puro instinto, senti que era a hora e o momento certo para conversar sobre o seu isolamento.

Brandon caminhava em passos rápidos, como se quisesse fugir de todos e por um momento pensei que também fugiria de mim quando me juntei a ele na varanda. Ao invés de me sentar no espaço vago no banco onde havia se sentado, apoiei-me no corrimão da varanda e cruzei os braços enquanto ele me olhava como se estivesse implorando. Ele sabia que eu o segui em busca de respostas.

Graças à iluminação da pequena varanda consegui ver com clareza a sua mandíbula travar no momento em que perguntei:

- Qual é a história por trás de tudo isso?

Decidiu se fazer de desentendido.

- De tudo isso? Do que está falando?

Reprimi o impulso de revirar os olhos e bufar com impaciência, pois, percebi que era um assunto delicado e que eu devia persistir, mas não ser grossa.

- Você sabe do que estou falando, Brandon. – respondi um pouco chateada – Toda a vez que o pessoal está reunido, em algum momento você se isola ou fica olhando fixamente para algum objeto, como se pensasse em lembranças dolorosas que não divide com ninguém. Sei que isso não atrapalha o seu trabalho, mas eu não vou ficar parada enquanto o que quer que seja te destrói por dentro.

Num gesto nervoso, ele esfregou o rosto com as mãos e agora, além da mandíbula travada, seus olhos expressavam uma tristeza tão forte que me deu vontade de chorar.

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