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A despedida seria por pouco tempo, o que me deixava excitada com uma euforia pujante que me fazia corada e um tanto ou quanto imbecil. Não me importava com a separação que duraria qualquer coisa como um mês. Em breve chegaria junho e eu iria reunir-me à seleção da Argentina no seu centro de estágio que ficava às portas de Roma. Iria reencontrar-me com o futebol. Diego prometera-me dar todas as indicações em breve, se não por ele, através de alguém que trabalhava para ele. Eu faria parte do estágio como uma das convidadas do capitão, com o aval indispensável do diretor técnico.

A seguir disse-me:

– Agora tens de te ir embora. Vais apanhar o avião em Roma, no Fiumicino.

Uma bofetada não teria feito melhor serviço para me despertar do meu estado flutuante. Aterrei de repente no átrio da receção do hotel e a dureza do embate reverberou-me nos ossos. Aliás, senti como se tivesse sido sacudida por uma pancada forte que me devolveu a consistência e a realidade, tudo de uma vez só.

– O quê?

– Não te preocupes, tens boleia para Roma de carro – esclareceu-me. – Só tens de te preocupar em estar a tempo e horas no aeroporto. O teu avião será às nove da manhã para Lisboa. Sei que a tua boleia vai demasiado cedo, vais ter de esperar umas horas para embarcares, mas esta boleia é a tua melhor hipótese. Não conheço horários de comboio ou de autocarro que sejam compatíveis, era só o que me faltava! Para te ser honesto, não te queria meter num qualquer transporte público. Assim, fico mais descansado.

– Qual avião, Diego? Comboio? Autocarro? Uma boleia?

– O avião que te vai levar a casa. Queres ficar em Nápoles? Eu não vou ficar em Nápoles! – acrescentou exasperado.

Passava da uma da manhã. Deixávamos o hotel onde tinha acontecido o jantar da festa do título do Napoli. Alguns entravam de férias, os que tinham sido convocados pelos respetivos diretores técnicos e selecionadores juntavam-se às suas seleções para preparar o mundial. E eu estava convencida de que iria dormir primeiro uma noite descansada e só depois, no dia seguinte, trataria da minha viagem. Pelos vistos, havia outros planos que eu, mais uma vez, desconhecia completamente.

– Vou viajar agora, é isso?

– Sim. Às nove horas, voo para Lisboa. O Cóppola já te vai entregar o bilhete de avião. Não, não vais no meu jato particular, vais num voo comercial. Tem que ser assim, espero que não te importes. E até Roma vais de boleia.

Eu não tinha voto na matéria, nunca pudera escolher, pelo que eram energias desperdiçadas se me importasse. Encolhi os ombros e descobri que estava muito cansada. Não quis crer que ele tivesse desconfiado de alguma coisa que envolvesse o seu irmão Hugo, a organização da minha viagem ligeiramente diferente do que eu esperava tinha só que ver com elementos práticos relacionados com a disponibilidade do meio de transporte, em abono da verdade

– As minhas coisas, onde estão? E preciso de trocar de roupa.

– O Cóppola traz a tua mochila. É só uma mochila, certo?

– Também tenho uma pequena mala. Hum... uso a casa-de-banho do hotel para me despir. Preciso de devolver o vestido e os sapatos.

– Fica com eles. A Claudia não se vai importar.

Ela conversava com outras esposas de jogadores, num pequeno grupo em que a destacavam por uma questão de deferência e de natural superioridade. A autoridade do capitão Maradona também se refletia em Claudia e ela adorava as luzes da ribalta sem se mostrar acanhada ou relutante. Na festa, depois do fogo-de-artifício, converteu-se a sala numa discoteca. Ela e Diego dançaram, eu também dancei, todos acabaram por dançar uma ou duas canções. Nunca tentei aproximar-me dele, seria estranho com a Claudia perto e disponível. O seu fato de seda, cor de chocolate, mantinha-se impecável e fresco. Já eu estava com a maquilhagem derretida e sentia-me amassada.

Aqueles Dias de MaravilhaWhere stories live. Discover now