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Tive o meu primeiro orgasmo. Na realidade, tive os meus primeiros orgasmos. Foram três e nem sabia que isso era possível. Aconteceu quando Diego me começou a tocar com os dedos; quando me penetrou e me preencheu de uma maneira que me desestabilizou totalmente; quando acelerou os seus movimentos, um pouco antes do fim, e eu acabei por me vir ao mesmo tempo que ele também se vinha dentro de mim, num alívio que me esmagou contra o colchão.

Apesar de ter iniciado a minha vida sexual havia qualquer coisa como um ano e meio, precisamente com Diego, precisamente em Nápoles, dentro de um carro desconfortável, nunca me tinha tocado e procurado o prazer solitário da masturbação, não me propusera a explorar a minha intimidade, conhecer-me melhor, perceber como funcionava o meu corpo estimulado daquela maneira. Não me pareceu necessário ou indispensável. Por isso, naquele segundo encontro com Diego descobri, com um deleite maravilhado, o que era um orgasmo. Descobri também que podia ter mais do que um se o amante fosse competente.

Não podia dizer que ele foi cuidadoso, longe disso. Estava demasiado excitado, apressado, ligeiramente alcoolizado, mas eu recebi-o sem protestar. Tentei corresponder às suas carícias e ao fim de umas quantas tentativas toscas em que recebi alguns protestos – não, não faças isso, relaxa, deixa-me, estás a ver como gostas assim, não, quieta, relaxa já te disse – desisti e tornei-me passiva. Acabou por ser uma boa decisão que me fez aproveitar melhor o encontro. Ele sabia como me estimular, como acender a chama em mim, apagá-la e voltar a avivá-la. Deixei-o louco com as minhas reações fora da cadência e divertiu-se sozinho. Houve alturas em que me doeu e em que me perdi, soterrada pela avalancha de sensações. Não soube gerir nada. Era tão virgem como naquela primeira vez dentro do Ferrari, havia mais de um ano, e o meu corpo traidor correspondeu sozinho ao toque e a todos os estímulos.

Diego comeu-me. Diego fornicou-me. Não quis pensar na outra palavra obscena, mas Diego também me tinha feito isso. Abandonou a minha cama e o meu quarto depois de um beijo rápido e de me ter dito, num suspiro pesado:

– Linda...

Cobri-me, sem conseguir conciliar os movimentos. Continuei de pernas escancaradas, o ventre a latejar, os braços moles, a cabeça à roda, os cheiros desagradáveis a bebida e a cigarro numa nuvem junto ao meu nariz, os lábios inchados e mordidos, molhada de suor e de outros líquidos peganhentos que escorriam de mim para fora.

Eu e Diego tivemos uma discussão feia naquela noite, mas ele quisera fazer as pazes e fora procurar-me. Fora possuir-me, afirmar mais uma vez que gostava de mim por meio de atos e não de palavras. Abrira-me as pernas, entrara dentro de mim e deixara-me a sua marca. És minha! Nem te atrevas a ser de mais ninguém! Moldou-me a anca ao seu próprio corpo para que o encaixe fosse perfeito e ele soubesse que eu lhe pertencia, empurrando-se para cima de mim, martelando-me, cinzelando-me, burilando-me. Quando regressasse e eu tornasse a abrir-lhe as pernas, ele saberia que eu não me tinha oferecido a mais ninguém porque o molde continuava a ser o que definira naquele trabalho de escavação e moldagem. Assegurava-se de que eu era dele, em exclusivo.

Suspirei, apaixonada. Mas a seguir detestei-me por ter sido tão inexperiente. Diego também se mostrara impaciente e, a dada altura, fez tudo de uma maneira egoísta. Enterrou a cabeça na curva do meu ombro e grunhiu junto ao meu ouvido. Podia ser uma qualquer. Nem sequer me olhou para certificar-se de que era eu ali, à mercê da sua paixão dominadora. A Tina de Puebla. A rapariga que ele conhecera no México. Se me tivesse dado mais atenção, talvez eu tivesse correspondido e lhe tivesse dado mais prazer... Talvez.

Ele haveria de voltar e eu haveria de o receber, tentando recordar as lições daquela noite. A marca dele estava terminada. Primeiro no Ferrari, um momento rápido e inesperado. Agora numa cama, um momento mais demorado e proveitoso. O que se seguia seria a consolidação da nossa intimidade recentemente reavivada.

E eu aceitá-lo-ia na minha cama? Oh, sim! Sim, determinei, estremecendo num gemido faminto, esfregando-me contra os cobertores metidos num rolo entre as minhas coxas. Se não sentisse tanta vergonha iria devolver-lhe a cortesia agora mesmo. Aparecia-lhe no quarto, metia-me na cama e implorava-lhe que me voltasse a possuir. Ama-me, Diego. Ensina-me mais. Quero aprender!

Escondi a cara na almofada, para abafar as minhas risadas nervosas. Que descarada! Que atrevida! Que indecente! Não ficara satisfeita com três orgasmos, estava disposta a fazer sexo durante o resto da noite, até de madrugada e ter outros tantos, repetir o que sentira para sorver exatamente as características e poder descrevê-las, acentuar a sensação, fazer diferente para que fosse mais profundo, mais demorado, mais delicioso. Nem me reconhecia e ria-me mais. O meu desejo acendia-se outra vez, a memória levava-me para os instantes pequenos que foram só meus, a novidade, a descoberta, ou a redescoberta, de como era ter um homem dentro de mim.

E quando o dia nascesse, a casa haveria de despertar e ali não moravam só eu e Diego. Havia os outros e tinha de ter cuidado para não dar a entender o que tinha acontecido entre nós, no segredo da noite, na minha cama. Calei o riso, preocupada. A dúvida sobre o que eu fazia ser certo ou errado assaltou-me. Para ser honesta, não sabia. Diego não era casado, mas era um homem comprometido, com uma filha da namorada que ele afirmava amar, que ele jurava ser a mulher da sua vida, a sua companheira que os outros reconheciam como legítima, que a família tinha como a sua mulher mesmo sem o papel passado e a aliança no dedo, aquela que estava novamente grávida do seu segundo filho. Eu tentava-o para fazer aquelas coisas erradas? Mais uma vez não o sabia. Fora ele que se enfiara na minha cama, o que podia ter feito? Resistir-lhe e negar-me a colaborar? E se ele se enfurecesse e me forçasse e me violasse? Seria muito pior. Seria terrível para mim. Ao menos daquela maneira, com a minha submissão, tinha sido agradável o suficiente para me deixar acesa e curiosa.

Aquele que me procurava, com quem fizera sexo, fora Maradona, não Diego. Essa conclusão acalmou-me, de certo modo. Era de um cinismo sem tamanho, resolver as minhas transgressões com subterfúgios desprezíveis, porque no fundo Diego e Maradona eram a mesma pessoa, mas não queria manchar a minha felicidade um tudo ou nada ingénua daquele encontro noturno com rebates de consciência.

Respirei fundo e decidi pensar melhor na minha situação com Diego mais tarde, de preferência longe de Nápoles.

Deitei-me para o outro lado. Uma enorme tranquilidade abraçou-me, fiquei quente e confortável, as pálpebras pesaram-me. Devia levantar-me e ir lavar-me, mudar a cama porque os cheiros intensos a sexo persistiam, misturados com o fedor do álcool e do tabaco que Diego trouxera da discoteca onde estivera, certamente, a dançar e a beber. A fumar não, nunca o vira agarrar num cigarro e nem podia, se a sua profissão o obrigava a correr tanto, ficaria imediatamente sem fôlego se tivesse esse vício. E com quem teria estado nessa discoteca, o desgraçado? Com alguma outra mulher? Eu teria sido uma segunda ou terceira escolha? Uma aventura final dessa noite? Ah, não...

Para, Cristina! Para de pensar! Só estás a imaginar porcaria! Diego amou-te... sim, amou-me! Ele fez amor comigo, isto não pode ser feito de outra maneira, porque é uma coisa física e nojenta em que se trocam estes mucos todos... Só é perfeito e bonito no cinema. E pronto, insisto em pensar demais. Quero que seja como no cinema, é isso. Sem defeitos, sem feiuras... Não interessa. E não me importo com quem Diego esteve ou vai estar ou quer estar! Ele também está com a Claudia e eu gosto muito dela... A Claudia é a mãe dos seus filhos. E eu sou a sua amiga. Pronto, isso basta-me. Sim, basta-me.

A sonolência atacava-me e uma lassidão deliciosa espalhava-se pelo meu corpo que palpitava ainda, a recordar o toque, os beijos, a pressão e os impulsos de Diego. Ah, tinha sido tão bom... Agora devia era dormir e sonhar que estava novamente nos seus braços.

O banho e a mudança da cama suja ficariam para depois. Descansar. Tinha dormido tão mal nas horas anteriores, merecia dormir bem nas seguintes até o Sol raiar.

Então, adormeci.

Aqueles Dias de MaravilhaWhere stories live. Discover now