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Passeava por Pompeia, uma Pompeia abandonada. Não havia ninguém nas ruas incrivelmente silenciosas. A luz era cinzenta, o Sol estava oculto algures por detrás das nuvens ou dos edifícios. Andava devagar pelas vias calcetadas, colocando os pés com cuidado para não escorregar. Procurava por alguma coisa que só saberia o que era quando a encontrasse. Conferia as placas que identificavam as casas e dizia de mim para mim, não é esta, também não é esta, não é aqui, não, aqui também não, tenho de prosseguir. A rua era interminável. Precisava de alcançar o anfiteatro, mas nunca mais chegava ao fim da rua. Um cartaz anunciava lutas de gladiadores e jurei que conhecia os rostos dos lutadores desenhados. Tentei ler o anúncio, aproximei o nariz da parede rabiscada, mas a minha miopia desfocava tudo. De repente, fui puxada por uma mão.

Sentei-me atarantada. Julguei estar a despertar de um sonho na minha cama, no meu quarto. Esfreguei os olhos. O poster de Diego tinha-se transformado no verdadeiro Diego à minha frente e eu quis ter a certeza de que ele era real. Estiquei os dedos trémulos para tocá-lo. Falhei. Se fosse Diego, também queria ter Jean-Marie ali através da mesma magia. Chamei pelo belga. A língua bateu contra os dentes, tinha sede.

Lembrei-me que continuava em Nápoles e que aquele vulto era mesmo Diego, não era a figura do meu poster, materializada graças a um qualquer feitiço estranho. A televisão estava apagada, mantinha-se o candeeiro aceso. A manta escorregou e senti os joelhos arrefecerem. Tinha-me deixado dormir no sofá.

– Assustei-te?

Pestanejei, ainda desorientada. Passei a mão pelo cabelo despenteado.

– Sim... – admiti.

– Vai para a cama, é muito tarde.

– Muito tarde?

– Bastante.

– Chegaste agora?

Endireitou as costas, fez-me um esgar.

– Não te estou a controlar – esclareci. – Só estou a tentar perceber se é realmente tarde. Para mim... e para ti.

Encolheu os ombros.

– Eu já não tenho salvação, niña – gracejou.

– E eu?

– Tu ainda tens todos os teus sonhos.

– Por acaso... estava a sonhar.

– E era um sonho bom?

– Maravilhoso. Estava em Pompeia.

– Tu e Pompeia...

– É o meu maior sonho, Diego – expliquei constrangida com a sua pequena crítica. – Sei que, mais cedo, ou mais tarde, Pompeia vai fazer parte da minha vida e vai ajudar-me a definir um caminho. Neste sonho eu estava a andar na cidade... e procurava por alguma coisa. Vou escrever um livro sobre Pompeia. Já to tinha dito...

– Estavas aqui sozinha.

– Pedi à Claudia, ela não se importou...

– E adormeceste.

– Queria ver-te na televisão.

– Para quê? Estás na minha casa. Tens-me aqui, à tua frente. Não precisas da televisão.

– Queria ver o resumo do jogo de hoje. Ou de ontem, depende que horas são.

– Foi ontem.

– É diferente quando vemos futebol no estádio e pela televisão.

– Sim, pois é. Prefiro o estádio.

– Eu também. Mas na televisão posso ver-te... de perto.

– Estou aqui – repetiu. – Perto.

Aqueles Dias de MaravilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora