Ligadas pela intuição - 114

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          — Bom... depois disso eu fiquei meio passiva na história... apenas montada na Margarida, que corria como se não houvesse amanhã, parecia conhecer o caminho. Preferi confiar nela. Depois de muitas horas correndo, quando já estávamos quase chegando até vocês, fomos pegas pela tempestade de areia. O resto vocês já sabem, foi o que viram... Ela deu cabo dos terroristas, e assustou os que sobraram o suficiente para que fugissem apavorados.

          — Deixa eu ver se entendi bem: você está querendo dizer que ela "falou" com você?! Ou que você falou com ela?! — Questionou Melissa.

          — Olha, não é bem "falar" comigo, é uma forma de se comunicar... É uma comunicação sutil, se eu pudesse comparar com algo que a gente já conhece, seria como a sensação de intuição. Em momentos de tensão ou extrema necessidade, como foi quando ela pressentiu que vocês estavam em perigo, a comunicação se torna mais linear. Não sei se foi por ser a primeira vez, ou pela urgência da circunstância... mas me causou uma dor de cabeça danada e uma enorme confusão, me fazendo questionar se estava consciente ou sonhando. Me deu alucinações e me deixou desorientada. Achei que já estivesse começando a caducar. Mas depois que passamos dessa fase de adaptação, eu já conseguia sentir ela comunicando comigo e ela entende tudo o que falo. Querem ver?

          A atenção de todos neste momento está toda concentrada na Jack e seu novo bichinho:

          — Margarida, mexe o rabo.

          O animal instantaneamente começa a balançar a sua cauda em movimentos leves e suaves. Todos da sala arregalam os olhos, boquiabertos.

          — Agora coloque a ponta no colo da Melissa.

Margarida levanta levemente a cabeça, como quem quer saber do que ela estava falando. Jack aponta o dedo em direção a pessoa:

          — Aquela gracinha ali, do lado do bonitão.

          A criatura recosta novamente sua cabeça ao chão e sacode a cauda fazendo com que permeie por trás de algumas pessoas e repousando a ponta no colo de Melissa.

          A expressão de espanto pelo salão é unânime, atônitos parecem não acreditar no que veem:

          — Jow, você que teve um tempo junto desses bichos... Isso é realmente possível? — Melissa está impressionada.

          — Com pouco tempo de pesquisa, conseguiram constatar que os animais de Xavi, podiam se comunicar de forma sensorial, não verbal. Telepatia... vamos assim dizer se for mais fácil pra entender. Neste planeta, todos os seres e elementos possuem uma certa sintonia, foi bastante pesquisado em laboratório, para descobrir como funciona. A última conclusão que tivemos é que essa ligação depende do planeta, ele funciona como uma central que interliga tudo e todos. Embora aqui na Terra eles possam se comunicar, em todos os testes pareciam estar desorientados, perdidos. Até então acreditava-se que era impossível estender essa ligação para os seres humanos, uma vez que a genética é totalmente diferente, mas de alguma forma a Vovó Jack conseguiu se ligar a esse animal. Deve ter ocorrido algum tipo de carisma entre as duas. São planetas diferentes, formações biológicas complexas, não dá pra prever o que pode acontecer, tudo é possível...

          No ambiente fica um estranho silêncio, pois cada um recolhe-se em sua mente a imaginar a grandiosidade do curioso fato que acabaram de testemunhar.

          O silêncio é interrompido por um agradável som melódico de um instrumento conhecido, que começa sutil e vai preenchendo o ambiente. Dejota começa a tocar sua gaita, uma melodia agradável, fecha os olhos e se concentra em sua música, então ele tem a desconfortável sensação de estar sendo observado. Abre os olhos e todos estão olhando para ele, isso o deixa desconcertado:

          — Que foi? Atrapalho? Se quiserem eu paro.

          Todos riem dele.

          — Não, não, que isso. Está agradável. Continue. — Jow o tranquiliza.

          Assim que ele recomeça sua melodia, um outro som tão agradável quanto, começa baixinho e aos poucos vai ganhando força, uma voz doce e suave, e uma canção começa a ser entoada.

          Sophia tem os olhos fechados, bem concentrada, tanto que não para de cantar quando Dejota para de tocar e todos agora a observam. Mais que depressa, Dejota muda suas notas para que sua melodia acompanhe a canção de Sophia, mesmo que ninguém nunca a tenha ouvido antes.

"Sobre além das montanhas, bem longe do mar;

Estranhos vagantes buscam repousar;

Sobre além das montanhas, bem longe do mar;

Um lobo solitário sua paz a encontrar;"

          A canção é bonita, gostosa de ouvir, e conta a história dessa jornada, de todos ali naquele salão, por isso não foi difícil que logo no segundo refrão todos a acompanhassem.

          Assim que a canção termina, eles se entreolham levemente felizes, apesar do cansaço, das perdas... há uma sensação de alívio, de missão cumprida, de quem retorna para casa.

          — Senhores, amanhã pela manhã eu, o Tenente Hans e sua equipe levaremos o servidor para a base na Cidadela. Como já estamos em território da Natihvus, estamos seguros, não precisaremos mais do suporte de vocês. Pode confirmar Tenente? — Jow questiona o Tenente para que reforce sua afirmação.

          — Sim, confirmado, vocês já estão dispensados, podem voltar aos seus devidos acampamentos. Conseguimos seguir daqui.

          — Quero agradecer a participação e o apoio de todos. Eu sinto pelas perdas que tivemos e reconheço que nenhum de vocês tinha a obrigação de me acompanhar nessa jornada... que é minha, mas todos estiveram aqui, deixando de lado as diferenças e trabalhando como um único grupo, não sei vocês, mas isso é algo que eu já havia esquecido que poderia existir entre os homens e essa missão foi uma prova de que enquanto a humanidade existir poderemos contar uns com os outros. Enquanto houver compaixão, o nosso mundo terá salvação. Boa noite a todos.

          Apesar do discurso de Jow, que apenas quis causar nas pessoas um sentimento de igualdade, eles se despedem e vão descansar, cada qual com seu grupo, cada grupo em um espaço separado no Grande Hotel. Vovó Jack, ao contrário de todos, prefere repousar com sua besta, que por ser tão grande não pôde se aproximar dos grupos. Jack não quis deixá-la sozinha, então ambas dormiram no Hall, diante da grande porta de entrada.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora