Bilhete de despedida - 97

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          O tempo muda misteriosamente de forma assustadora. Ventos fortes uivam na floresta, rangidos ensurdecedores, o som de madeira se partindo e folhas chacoalhando atordoa a todos que olham para trás na tentativa de saber o que está acontecendo e veem a entrada do túnel totalmente vedada por troncos de árvores robustos, mantendo as criaturas de Xavi de fora e nossa equipe presa do lado de dentro. Isso deixa as criaturas tão enfurecidas que lá de dentro é possível ouvir seus urros e sentir os impactos das investidas contra os grossos troncos.

          Mister Kypper caminha em círculos, olhando pra baixo intrigado, tentando entender o que acabara de acontecer bem diante dos seus olhos.

          — O que foi aquilo lá fora? — Edgar questiona assustado.

          — Está falando dos cachorros? — Mister Kypper responde sem desviar dos seus pensamentos profundos.

          — Aquilo era bem mais que um cachorro, estão mais pra um urso, mas eles sobem em árvores, e aquelas garras, e os dentes... Foi só eu que fiquei apavorado aqui?

          — Lá fora tem três espécies diferentes: Zofolins, Gárgulas e Expectros. Todos terrivelmente mortais. — Ele responde, mas ainda está tão apreensivo que nem se dá ao trabalho de olhar para cima.

          — No que está pensando Mister Kypper? — Jow se incomoda com seu comportamento.

          — Eu não entendo, isso só pode ter sido coisa da Yorka, o que não faz sentido pois ela nunca, nunca se envolve. — Então lhe surge um lampejo de ideia, o que o faz olhar imediatamente para Jow. — Foi você!

          — O que tem eu?! Por que eu?!

          — Foi sim, você falou com ela naquela hora que nós fomos ao seu encontro.

           — Mas eu fiquei afastado, não disse uma palavra. — Jow deixa escapar um sorriso pretensioso.

           — Você se comunicou com ela na hora que encostou naquela árvore. Eu vi, vi como ela olhou pra você. O que foi que você disse pra ela, que a fez milagrosamente decidir intervir por nós?

           — Eu só pensei... pensei na verdade, pensei na missão. Pode ser que ela tenha visto...

          — Sinceridade nas suas intenções. — Mister Kypper interrompe Jow completando sua frase. — Cara, não sei o que disse, mas parece que ela está contigo. — Ele não esconde a excitação em sua voz.

          — E o que faremos? Estamos presos aqui dentro, não dá pra sair, não dá enfrentá-los.

          — Vou tentar consultar ela.

          Mister Kypper se aproxima do paredão de árvores que veda a entrada e toca uma delas com a mão espalmada e a outra no cenho. E logo se vira para a equipe com cara de extrema perplexidade, fica mudo por um instante e logo começa a falar quebrando a tensão do momento:

          — É simples, ela vai abrir uma brecha pra gente passar e formar um corredor seguro daqui até chegarmos nos veículos, enquanto tenta manter os Mantharianos afastados de nós. Pode não dar certo, ela pode não aguentar muito tempo, mas vai fazer o que puder, temos que ser rápidos, e seus veículos devem estar prontos nos esperando.

          — Vou passar o rádio para que a Cabo Romanovs providencie isso imediatamente. — Tenente Hans se apressa em ajudar no plano.

          Mister Kypper se aproxima e toca novamente o tronco, vira para os outros e pergunta:

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora