De volta a estrada, nossos três viajantes já se encontram longe do acampamento, indo em direção ao abrigo.
— Jow, você tinha razão. Precisou mesmo usar os suprimentos para eu conseguir meu equipamento de volta.
— Foi o que pensei que aconteceria. Peguei um pouco mais do que imaginei que ele fosse querer. Felizmente não usei tudo, sobrou metade do que levei.
— E por que não deixou lá? Eles têm muitas bocas para alimentar.
— Eles possuem equipes de coletores muito bem treinados para isso. E eu tenho um uso melhor para esse alimento. Você vai ver.
Assim que atravessa a pista, Jow joga a moto para esquerda saindo da Rota que usaram na ida.
Logo eles avistam ao longe um pequeno lago na encosta de algumas montanhas. Jow desliga a combustão da moto para que o barulho da sua chegada não crie alarde. Eles param na margem do lago, Jow esconde a moto entre os arbustos da beira da água e a cobre com a camuflagem.
— A partir daqui seguimos a pé, a moto pode nos denunciar. Preciso falar com alguém que mora nesse acampamento.
Jow recolhe o capacete no traje, retira o saco com suprimentos da moto e coloca nas costas. Eles dão a volta nos arbustos e entram por uma passagem estreita entre as montanhas e logo percebem uma pequena trilha.
De repente Morgana segura com força no braço de Jow.
— Jow! Estamos sendo observados, estão por toda parte.
— Fique calma Morgana. São só crianças, olheiros do povoado, estão com mais medo de nós, que nós, deles. Os mais velhos ficam no alto da montanha, sua função é alertar os moradores da chegada de patrulhas ou de saqueadores. Este é um assentamento clandestino de renegados, eles precisam ter o máximo de cuidado possível, pois são constantemente perseguidos e atacados. É só ficar calma, fazer o que eu disser e estará segura.
— Tudo bem. Mas tenho que admitir que isso é bem assustador.
— Para eles também, por isso mantenha suas mãos sempre à vista.
Eles continuam caminhando e já começam a ver cabanas e pares de olhos assustados ao longe. Alguns homens olham desconfiados a distância.
Aos poucos os moradores timidamente começam a aparecer na medida que percebem que nosso grupo não oferece risco.
— Gostaria de ganhar um pouco da confiança deles? Vá até aquela senhora com aqueles dois pequenos e dê biscoitos a eles, leve Norffi com você.
Jow entrega a Morgana um saco com pacotes de biscoitos.
— Me parece muito para apenas dois garotos.
— Não se engane com o que vê. Leve tudo e verá que vai precisar, eu vou ver a nona. Não demoro.
Jow sabia que assim que Morgana oferecesse guloseima a aquelas crianças, muitas outras surgiriam. E também viria a calhar, Jow quer falar a sós com Nona, inclusive sobre a inquietação e pânico nos olhos das pessoas, que hoje está bem mais que o comum.
É uma cabana pequena, escura por dentro e cheira a incenso e chá fresco. Ao entrar sua presença é notada.
— Quem está aí? Quem quer que seja, é melhor que tenha um bom motivo para me incomodar.
Jow entra e tira o capuz que cobre seu rosto.
— Sou eu, Nona. Vim ver como está e lhe trazer um presente.
— Peregrino. — É possível notar a satisfação em sua voz. — Meu filho. Quanto tempo? Chegue mais perto, deixe-me dar uma boa olhada nesses olhos. Sempre achei lindos e intrigantes estes olhos castanhos, e como brilham. Hummm... Vejam só, dessa vez eles tem um brilho especial. E tem um nome? Qual é o nome dela?
— Ela quem?
— Essa moça que te amolece o coração.
— Morgana. Mas eu não sei ao certo se gosto dela, acho que é só compaixão.
— Não acho que seja compaixão, acho que é só paixão. — Nona tem um sorriso pretensioso e faceiro.
— Isso é complicado Nona, ela tem preocupações maiores, precisa cuidar da mãe.
— Por acaso é aquela bela jovem de cabelos vermelhos brincando com as crianças lá fora?
— Sim, ela mesma, mas estou a levando de volta para sua mãe, e devo desaparecer logo em seguida.
— É bem como eu te conheço mesmo, sempre fugindo, sempre se escondendo. Para você ver como é irônico: se esconder sempre e de repente ficar feliz em ser achado por alguém. Sabe, preciso te confessar uma coisa. Nunca fiquei tão feliz e triste ao mesmo tempo em ver alguém, como fiquei quando pus os olhos em você. Me alegra ver que ainda está bem.
— Do que está falando, Nona? O que aconteceu aqui? Porque todo mundo parece tão assustado?
— Eles estiveram aqui.
— Eles quem?
— Aceita chá?
— Não, obrigado.
— É de hortelã, está muito bom.
— Obrigado Nona. Não quero mesmo. Me diga. Quem esteve aqui?
— Aquelas malditas hienas sanguinárias da Natihvus, fizeram o maior estardalhaço, interrogaram, torturaram, agrediram homens na frente de suas famílias, ameaçaram a todos na Vila.
— E o que eles queriam?
— Você... Procuravam por você.
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Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)
Science FictionO mundo como conhecera já se foi, uma Terceira Guerra Mundial abalou nosso frágil planeta. Matéria nuclear altamente tóxica, agora contamina nossa terra, nossa água, nosso ar. A raça humana fora condenada. Neste ambiente caótico, eis que s...