Pousada Meia-Noite - 109

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          E assim, eles apertam o passo, não demora tanto mais e eles chegam em um lugar descampado e deserto. Algumas placas desbotadas, outdoors caídos, quase totalmente apagados pela ação do Sol, da chuva e dos ventos. Ruínas de outras construções destruídas por toda parte, restos de moradias humildes daquela região.

          A Pousada Meia Noite sempre fora um refúgio, mesmo antes de tudo acabar. Um ponto de repouso dos viajantes dessas bandas, um lugar aconchegante no meio do nada. Começou sozinha na beira da estrada e logo atraiu diversas pessoas que se instalaram nos seus arredores. Gente que trabalhava lá, gente que se beneficiava de alguma forma do fluxo de viajantes que era cada vez maior e formaram uma pequena vila em torno da majestosa construção.

          Eles chegam juntos na velha pousada e alguns descem de forma ordenada. Militares e rebeldes agrupados para fazer a checagem de segurança, um terço adentrou o prédio, mais um terço fez a guarda das imediações na parte de fora e o restante ficou nos veículos, em alerta nas armas e nas direções.

          Em poucos instantes o perímetro já fora verificado e certificado que não teriam surpresas, estavam somente eles no local. Definidos os sentinelas e seus revezadores, o restante pôde se permitir um momento de alívio da pressão da missão. Eles entram no Hotel abandonado, mesmo arruinado ele ainda é majestoso e imponente. Está consumido pelas ações do tempo e abandono, mas ainda guarda as marcas de um lugar glamouroso que um dia fora bastante frequentado, estava sempre cheio de hóspedes vindos de toda parte do mundo, chegando e partindo a todo momento.

          Logo a sua frente, os restos de uma enorme porta de duas folhas, que dava boas-vindas aos recém-chegados. Meio torta e entreaberta, não demonstrou grande resistência para abrir, em poucos instantes estava escancarada como dois grandes braços abertos, esperando para abraçar os que estavam diante dela. Vovó Jack entra com sua besta, que passa sem muita dificuldade.

          Ao adentrar eles admiraram o Hall. A pousada possui um saguão suntuoso, extremamente grande, espaçoso, requintado... O cheiro de madeira era ainda forte e marcante por onde quer que se fosse ali dentro, pilares robustos feitos de Mogno, inteiriços do chão até o teto. Mesmo depois de serem castigados, móveis, mobília e objetos decorativos por todo o hotel, permaneciam preservando a beleza característica do Marfim Rosa Africano. Acima do Hall, há apenas o teto, tão alto que olhar pra cima é quase como olhar para um abismo, essa profundeza só é amenizada por velhos lustres de ferro flutuando, pairando no ar a meio teto acima deles. Ao fundo, do lado oposto do balcão da recepção, duas imensas escadas que dão acesso ao primeiro piso, onde ficavam as suítes dos hóspedes, abaixo deles, no térreo, de um lado ocupando grande parte do espaço: o restaurante. Do outro, um salão de jogos repleto de mesas, de bilhar, roletas, poker, que dividia espaço com um bar, que era tão charmoso quanto. Ao fundo, mais reservado, a cozinha e área de serviço.

          O breve momento de deslumbre é interrompido pela frenesi e preocupação na voz da Sargento Megan:

          — Atenção, quem estiver disponível, preciso de ajuda urgente!

          Sgt. Megan vem à frente. Cb. Joseph, Cb. Naomi, Raydon e Victória, entram às pressas carregando Al Hadish em uma maca improvisada.

          — Sr. Jow, Tenente. Eu preciso de uma maca descente, toalhas e material para a esterilização. — Sgt Megan fala esbaforida enquanto trás consigo uma grande maleta com seu Kit de primeiros socorros.

          Mitsuki e Ivanovski trazem uma cama e restos de lençóis e forros de um dos quartos de hóspedes. Romanovs trás consigo toalhas consideravelmente limpas, encontradas na velha lavanderia. Enquanto Sgt. Megan o acomoda no leito precário e instala seu soro. Hadish ainda está consciente mas sua hemorragia é grande, ele soa frio enquanto se contorce, balbucia coisas sem sentido e começa a ter alucinações.

          Jow trás algumas vasilhas e um incinerador e ajuda a montar uma mesa de equipamentos.

          — Naomi, pegue alguns desses panos e esterilize com água quente. Não tenho nenhum equipamento para monitorar os batimentos dele, preciso que alguém verifique manualmente durante o procedimento e me avise no caso de alguma alteração. Também preciso de duas pessoas para me ajudar. Tem que ter estômago forte. — Megan disse e olhou em volta, Raydon e Joseph se aproximaram dela. — Virem ele.

          Katie ficou por conta de acompanhar a frequência dos batimentos no braço e no pescoço.

          Megan limpou o ferimento, realizou duas incisões acima e abaixo do mesmo e pediu que Raydon e Joseph segurassem os afastadores cirúrgicos mantendo o corte aberto. Com as costas do braço secou o suor da testa, cuidadosamente inseriu a pinça bem profundo e retirou a bala.

          A bala não havia transpassado, ela entrou perigosamente próxima da coluna e perfurou o fígado, onde ficou alojada.

          Megan conseguiu minimizar os danos, mas a essa altura, ele já havia perdido muito sangue, seus batimentos estavam cada vez mais fracos e ele quase não respondia aos estímulos externos.

          Quando estava a terminar a sutura, nota que Katie fica aflita:

          — Os batimentos estão ficando fracos! Ele está muito pálido e as unhas começaram a ficar roxas.

          — O soro não está sendo suficiente, ele perdeu muito sangue, vai precisar de uma transfusão! Eu preciso ver o tipo sanguíneo dele.

          Com um pequeno aparelho, ela coleta um pouco de sangue e em alguns instantes tem um panorama completo.

          — Tenente, Jow, eu preciso de alguém que seja do tipo sanguíneo AB-, se não tivermos ninguém, provavelmente ele irá morrer. — Megan está visivelmente desesperada.

          Jow e o Tenente, imediatamente informam suas equipes em busca de alguém com tipo sanguíneo compatível.

          Em poucos minutos, aparece diante deles um homem grande e robusto, visivelmente preocupado. Bulldog ouvira o chamado e veio mais que depressa, e tão logo já estava sentado ao lado de Hadish fazendo uma transfusão direta.

          Pouco a pouco, o homem já demonstra melhora, sua coloração volta ao normal, assim como seus batimentos. Ele é sedado e permanece estável.

          Preocupado com o colega de jornada, embora rivais de clã, Bulldog questiona Megan se Hadish ficará bem. E todos que estavam dentro do hotel se aproximam dela para ouvir o diagnóstico.

          — Hadish tem muita sorte ou muita falta dela, mais uns centímetros e a bala teria acertado a sua coluna. Mas graças ao seu sangue, ele vai sobreviver.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now