Elektroquimera - 91

8 7 0
                                    

          As circunstâncias não permitem luto, mas o sacrifício de Vovó Jack pela equipe abalou a todos, mesmo os que não a conheciam antes da missão, que não faziam parte do seu bando, apesar do pouco tempo, ela havia se mostrado uma figura simpática e carismática com seu jeito incomum.

          A caminhada continua por mais alguns minutos e a paisagem começa a mudar drasticamente, em lugar das árvores grandes e frondosas, altos troncos retorcidos e secos, deixando agora o céu mais aberto e menos denso, permitindo a entrada de mais luz, o que expõe uma visão pavorosa, pelo ar sente-se a mudança chegando em suas narinas, um cheiro forte e desagradável de morte, a vívida floresta dá lugar ao terreno pantanoso, alagado de ambos os lados da estrada, que agora ficara mais estreita, a terra fica úmida e grudenta, mesmo sendo mais elevada e firme ainda assim é possível sentir as características de pântano obscuro, uma névoa circunda as árvores, e os sons e vultos dos animais vão ficando para trás, mesmo assim a cadela Zoe permanece desconfiada, arrepiada, encostada na perna de sua companheira e vez ou outra para e fica rosnando, mas logo recebe o comando para continuar caminhando.

          O Tenente, assim como todos ali, está perplexo com aquela visão horrenda, se volta para Mister Kypper e o questiona:

          — O que aconteceu aqui?

          — Nem adianta me olhar assim, amigão. Tudo isso que você está vendo aqui não foi eu que fiz, nem nada que tenha vindo do meu planeta, os créditos são todos da sua raça.

          — Como assim? — Tenente parece atordoado com aquela visão.

          — Isso é o que sua estação de perfuração faz com o seu planeta Tenente, esse pântano indica que já estamos bem próximos do nosso destino: a base.

          — Mas você disse que as plantas e animais do seu planeta absorvem a radiação diminuindo os efeitos destrutivos.

          — Tenente, eles salvam o que dá pra salvar, quando nós chegamos, tudo isso já estava morto, e a morte ia se alastrando cada vez mais, essas árvores já estavam assim, essa terra também, mas as raízes das árvores de Manthar estão por toda parte, o que essas árvores fizeram foi conter o avanço da destruição e manter a emissão de radiação presa aqui mesmo, sem sair da floresta, é por isso que não há níveis consideráveis de radiação no ar, aqui é seguro para vocês graças a elas.

          — Então você quer dizer que é isso o que acontece em todas as estações de perfuração?

          — Tem mais dessas? — Mister Kypper parece assustado ao ouvir o que o Tenente perguntou.

          — Acredito que sim. — Tenente fica desconcertado e olha para Jow ao responder.

          — Sim, Mister Kypper. Existem mais dessas. Dezenas espalhadas pelo planeta. Mas esta foi a primeira, a maior delas, com maior aparato, potencial de perfuração e espaço para armazenamento. — Jow responde em tom sério, como quem não quisesse acreditar no que estava dizendo.

          — Armazenamento de que? — Se demonstra intrigado Mister Kypper. O Tenente também olha para Jow esperando a resposta.

          — Quando chegar a hora vocês vão ver e eu explico melhor.

          Neste momento começa a ouvir um chiado mecânico. Um rádio começa a fazer barulho. E é somente o que está na mão do Tenente. Assustado com o barulho, e preocupado com as duas meninas da equipe que ficaram no acampamento, ele tenta fazer contato.

          — Cabo Romanovs, na escuta? — O rádio apenas chia sem resposta. — Cabo Romanovs, responda!

          O rádio não dá nenhum sinal concreto de resposta, e para deixá-lo ainda mais confuso, os outros rádios da equipe parecem normais, sem fazer nenhum ruído. Imaginando ser algum tipo de falha mecânica, ele bate com a palma da outra mão no fundo do rádio algumas vezes, aperta o botão de voz e tenta contato novamente, obtendo como resposta apenas chiados. Ele insiste em dar pancadas no aparelho, dessa vez com mais força, e pra sua surpresa, com a pancada, o aparelho escapa de sua mão indo cair para o lado, há uns três metros para dentro da água pantanosa fora da estrada, ele por impulso imediatamente sai da estrada em direção a água para resgatar o equipamento, o que causa um certo alvoroço assim que o Tenente toca a água:

          — Nããããããooooo!— Grita Mister Kypper.

          Jow imediatamente salta no Tenente, derrubando-o no chão e o tirando da água. Ele se levanta primeiro, Hans e todos os outros ficam assustados e estende a mão para ajudar o Tenente, que parece furioso, a se levantar.

           — O que foi isso?! Ficou louco?! O que deu em você??

          — Esqueci de dizer ao Senhor. Devemos manter distância da água, pois nela também se abrigam criaturas nada agradáveis... Observe:

         Jow pega um galho na beira da estrada, o joga em um emaranhado do que parecem ser plantas d'agua e o galho cai aproximadamente em cima do lugar onde também caiu o rádio. O que acontece a seguir deixa todos assustados: um clarão surge proveniente de uma forte descarga elétrica aparentemente provocada pelas plantas aquáticas, logo depois elas começam a chacoalhar e estremecer a lama, e surge uma cabeça com um bico parecido de tartaruga, com um pescoço comprido, preso a um corpo que mais parece um casco do quelônio, ou um réptil marinho pré-histórico, mas com as costas cobertas dessa vegetação. O animal lentamente leva a cabeça até o galho nas suas costas, o retira com o bico, o quebra, achando que fosse algo comestível e volta ao repouso de seu disfarce.

          — Isso, Tenente, é uma Elektroquimera, e é assim que ela caça e se alimenta de suas presas.

          Ele agora tem o semblante pasmo, assustado com o que acabara de ver, parece não acreditar.

          — E por que ela não reagiu quando o rádio caiu sobre ela?

          — Ele não tocou a água Tenente, apenas caiu sobre as costas dela, fazendo barulho, ela sabe que coisas que caem na água sempre atraem algum animal, pode ser uma fruta ou uma ave ferida. O que acendeu o botão de alerta foi o impacto dos seus passos saindo da terra e tocando a água, a partir desse momento, qualquer coisa que tocasse nela seria eletrocutado e se tornaria seu jantar. O senhor escapou por pouco, mais um passo aí pra dentro e não seria possível salvá-lo. Está me devendo uma.

          — Agradeço sua boa vontade.

          O Tenente pega outro rádio com um soldado e tenta novamente contato com a militar que ficou de guarda com os veículos.

          — Cabo Romanovs na escuta? Tenente Hans, chamando.

          — Na escuta Tenente, prossiga.

          — Cabo, pode me informar se tentou contato comigo recentemente via rádio?

          — Negativo Tenente, não tentei contato nenhum.

          — Como está aí? Notou algo suspeito?

          — Não senhor, tudo nos conformes, como esperado.

          — Ok, entendido. Se vir algo suspeito entrem em contato imediatamente, soubemos que existem outras criaturas inteligentes nesta floresta, elas são hostis e já atacaram outros humanos que tiveram por aqui recentemente. Então fiquem em alerta.

          — Copiado Tenente.

          — Câmbio e desligo. 

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Där berättelser lever. Upptäck nu