É noite ao meio dia - 83

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          Depois de todos estarem bem alimentados, os carros estão de volta à estrada, o Sol começa a aparecer no horizonte. A paisagem florestal da beira da estrada vai ficando para trás, dando lugar ao ambiente desértico novamente, dunas de areia pálida, de um lado e do outro, tudo onde a vista consegue alcançar. E ao começar a se aproximar do fim da manhã, quando o Sol devia estar a força total, o que se sente é o clima ficando mais frio, densas nuvens escuras surgem no céu e vão cobrindo a luz na medida que se avançam no caminho. Apesar da paisagem desértica, o ar começa a ficar mais úmido deixando a respiração mais pesada.

          — Senhores, quero informá-los que o frio que estão sentindo e o escuro que começa a nos encobrir, não é apenas um momento de azar, a partir de onde estamos é assim permanentemente, o que virá logo a seguir serão todos os equipamentos eletrônicos e de navegação ficarem malucos. Estamos entrando na zona escura, logo nem mesmo os rádios funcionarão. Isso indica que já estamos próximos do nosso destino: a grande Floresta da Morte. Não se assustem, é só um nome como outro qualquer. — Jow fala ao rádio em tom sério, e é ouvido por todos do comboio.

          — Jow, Norffi vai ficar com os sistemas malucos também, como você disse? — Preocupa-se o robô na garupa de Jow.

          — Não Norffi, seu revestimento externo é feito de Tectônico, ele isola você e protege seus componentes eletrônicos internos, te deixando imune às radiações e ao campo magnético desse lugar. Fique tranquilo, você está a salvo.

          Quilometro a quilometro avançado, a paisagem muda drasticamente, o chão não está mais coberto de areia, mas é um solo árido, pouca coisa floresce ali, vegetação rasteira, árvores pequenas de troncos retorcidos, bem distantes umas das outras, e apesar do Sol do meio dia estar a pino, o tempo mais parece de uma noite tempestuosa, não se pode ver mais a luz acima deles, apenas nuvens negras, pode-se ouvir trovões fortes que vêm acompanhados da visão das copas das árvores surgindo no horizonte, que balançando ao vento parecem espectros agonizantes presos ao chão.

          Ao se aproximar da linha de limite do cenário, deixando o que mais parece uma caatinga para entrar em mata fechada, Jow faz sinal com a mão para parar o comboio. Desce da moto e sinaliza para que todos encostem os veículos à beira da estrada. Está ventando muito, a capa de Jow se debate violentamente como se tivesse vida própria e quisesse fugir daquele lugar. O Tenente desce e vai ao seu encontro.

          — Por que paramos aqui, Senhor Jow?

          — Questão burocrática, precisamos fazer paradas ao longo do caminho de todo jeito. Mas nessa eu preciso conseguir chamar a atenção de alguém que habita essas terras.

          — Vai pendurar rapadura e cachaça em um varal de novo?

          — Não, agora é algo mais refinado. Exige uma abordagem diferente. E se trata mais do que só a passagem de entrada, e se seu Coronel me conseguiu tudo que eu pedi, a gente trouxe o que vou precisar. Dessa vez não há a necessidade que mais alguém entre comigo, eu tenho que fazer isso sozinho. Enquanto vocês fazem uma pausa para descansar e se alimentar, eu vou e volto, não demoro.

          — Do que você precisa?

          — Do conteúdo do container refrigerado no blindado grande de vocês.

          Jow e o Tenente vão até o veículo buscar o material. É um baú metálico, selado com isolamento térmico, está trancado e tem um pequeno teclado numérico na fechadura, o Tenente digita a combinação que destranca o recipiente fazendo-o estalar. Ao abrir a tampa, escapa por ela uma densa fumaça gelada que vai se dissipando aos poucos, deixando à mostra seu conteúdo.

          — Você tá de sacanagem comigo né?! O material que você vai usar de oferenda para conseguir passagem pela floresta é cerveja e chocolate???

          — Eu te disse que era algo mais refinado. Estou indo atrás da criatura que a Natihvus trouxe de Xavi e usava para ajudar nos experimentos com as outras criaturas também advindas de lá, como ele não tinha "salário" a única coisa que o convencia em contribuir com a exploração dos outros seres do seu planeta era somente nossa cerveja e chocolate, ele consumia quilos, adorava isso.

           — E você nos trouxe até aqui, confiado que somente uma dúzia de cervejas e uma porção de chocolate seriam o suficiente pra encontrar esse ser, que é o único que conhece as criaturas bizarras que habitam nessa floresta?

          — Tem certas coisas que são óbvias, mas não parecem tanto, você precisa refletir um pouco. Esse ser demonstrava ter um nível de inteligência muito maior do que nós, seres humanos, fazendo o trabalho de anos de laboratório às vezes parecer ridículo. Eu tive o prazer de trabalhar com ele em algumas situações, e presumo o que está por vir.

          — Então facilite as coisas.

          — Essa é a entrada principal da floresta, a única que dá acesso à base da Natihvus, considerando com quem estamos lidando, com certeza ele deve controlar essa entrada o tempo todo, saber o que entra e o que sai, então ele deve estar atento a qualquer evento estranho, como nossa chegada será algo anormal, logo chamará sua atenção.

          — Como tem certeza que ele fará assim?

          — Por que é o que eu faria.

          — E como pretende abordá-lo?

          — Vou levar três coisas muito conhecidas por ele: eu, e esses presentinhos aqui. Ele tem o olfato dezenas de vezes melhor que o nosso, em questão de minutos saberá o que eu carrego.

          — Mas aqui tem bastante cerveja e chocolate.

          — A minha intenção é integra-lo a equipe, assim que eu fizer a oferta ele vai pensar que temos mais pra oferecer, então é bom que tenhamos. Bom... se não se importa, vou logo, não quero demorar muito.

          — Ficaremos no aguardo.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum