Entre os mortos - 17

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           Na medida que se afastam do mercado, os caminhos vão ficando mais estreitos. Eles se aprofundam entre as casas até chegarem em um beco, alguns homens os olham desconfiados de longe. E quando se aproximam de uma casa específica ao final do beco, estes homens os seguem a certa distância.

          A casa que vão de encontro é maior e mais bem estruturada que as outras, possui portas grandes e uma iluminação fraca lá dentro.

          Há alguns metros da entrada, ela o interrompe:

          — Olha, espere aqui. Ali trabalha um velho conhecido meu, e ele não costuma receber muitas visitas. Pelo menos não de vivos. Não se importe com esses homens, não vão te fazer mal. Espere o meu sinal.

          Dizendo isso ela adentra aquele ambiente, e ele se aproxima lentamente tentando mantê-la no raio de visão até parar diante dos homens que agora estavam bem a sua frente e o encaravam mais firmemente com expressão ameaçadora.

          — Oiiii. Como está meu parceiro PJ? Você sabe o quanto eu gosto de ti, né? Preciso de você agora, só você pode me ajudar.

          Um homem negro, porte magro e olhar desconfiado, mexia em dois corpos na mesa de metal a sua frente, agora a olhava com cara de espanto.

          — Ah não Morgana. Nem vem. Quando eu vi esses cabelos vermelhos saltitantes passando por aquela porta eu sabia que teria problemas. O que você quer de mim dessa vez?

          Morgana dá um sorriso.

          — Preciso de um bracelete.

          — Ah meu bem, se você está querendo um bracelete branco entra na fila, porque no dia que acontecer o milagre de entrar um bracelete branco aqui ele será meu.

          — Não, seu bobinho. Pode ser um bracelete qualquer, de preferência um amarelo.

          — Mas pra que você quer isso, querida? Já não tem um?

          — Sim, tenho, mas não é pra mim.

          Ela vai até a porta e faz sinal para Jow entrar. Após o sinal dela, os homens que pareciam montar guarda abrem caminho, saindo da frente de Jow e ele entra na sala.

          — O que é isso? Como assim? Um estranho? Já pedi pra não trazer estranhos aqui, Morgana. Tem gente da Natihvus por toda parte e eles estão de olho em mim.

          Jow observa os corpos sobre a mesa e esse rapaz, que começa um chilique ao pôr os olhos nele.

          Seu jeito afeminado e histérico está um tanto quanto engraçado, mas Jow mantém o semblante sério enquanto aquela figura continua exaltada. Morgana tenta tranquilizá-lo.

          — Relaxa PJ, ele é meu amigo, e o bracelete é pra ele.

          — Agora você forçou demais, passou da conta, me traz um estranho aqui e ainda quer que eu lhe arrume um bracelete? Sem chance. Você sabe que eu só recolho os corpos, preparo e entrego, todos com o bracelete. Bom, já viram que não tem como. Então vão embora antes que me arranjem encrenca...

          — Tudo bem seu PJ! — Ela fala em tom de desapontamento. — Quero ver então quando essa sua perna estiver infeccionada e o senhor com 60⁰ de febre, quem é que você vai chamar. — Ela aponta para a perna direita de PJ, enfaixada do tornozelo ao joelho. — Até por que quando meus amigos precisam de mim eu os sirvo na hora sem ganhar nada em troca, mas quando eu preciso deles alguma vez, me tratam como se eu fosse nada. — Completa em tom bravo.

          — Ta bem, ta bem. Pra que tanto drama? Me convenceu. Eu sei que vou me arrepender disso depois, mas vou te ajudar. Mas só porque a pomada que você me arrumou está acabando. Venham comigo.

          Eles adentram na casa, para uma parte mais fechada.

          — Vocês deram sorte, há algumas semanas uma pessoa sofreu um acidente, perdeu um braço e morreu de hemorragia. Por sorte consegui dar fim no braço e dizer que só encontrei o corpo. Eu estava guardando esse bracelete pra mim, para uma eventual necessidade. Mas considerando as circunstâncias... Sente-se ali. — Ele aponta para uma cadeira — Eu vou buscar o bracelete, volto já, esperem aqui.

          Jow observa o ambiente ao seu redor. Olha para Morgana ela está olhando para ele e no rosto um sorriso de satisfação por ter conseguido o que queria.

          PJ volta à sala com o bracelete e algumas ferramentas, e se aproxima de Jow.

          — Então rapaz, de onde você é?

          — Sou da parte norte do esgo... de Nathville.

          — Como você perdeu seu bracelete e como fazia aqui sem ele?

          — Eu tenho uma dúvida. O que acontece com os créditos restantes nos braceletes de quem morre?

          PJ fica desconcertado com a pergunta, mas tenta responder sem transparecer nervosismo, mas seu tom de voz muda, ficando um pouco mais trêmula e insegura.

          — Eu sou só um embalsamador, preparo os corpos e a Natihvus os leva com os braceletes e seus créditos que restaram neles.

          — Então por que você possui uma máquina de recebimento de créditos aqui?

          Enfim PJ entende o recado: que todos possuem segredos e quanto menos se envolver nos segredos dos outros, melhor.

          — Prontinho. Bracelete montado, agora vocês vão embora e eu não os vi hoje.

          Os dois vão saindo do salão principal. Chegando do lado de fora, ouvem o PJ gritar lá de dentro:

          — Boa sorte, vocês formam um belo casal.

          Os dois olham para trás, se olham estranho e continuam andando.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt