O reduto dos renegados - 01

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            — Olá, meu nome é John Jones, mas pode me chamar de Jow.

           Eu vivo em um tempo, bem depois do seu. A data exata eu não sei ao certo. Paramos de contar.

          O meu dia agora está assim: neste momento estou na minha Sharon 500 flutuante, sendo perseguido por um grupo de bandoleiros mercenários, que estão fazendo o serviço sujo da Natihvus Corp. Mas como não é a primeira vez que me perseguem, não é agora que vão me pegar. Eles estão em uma caminhonete e três motos com sistema antigo de rodas com pneus de borracha, e já estão perigosamente perto. Logo à minha direita há um cerrado de vegetação baixa, com uma fileira de árvores, desvio bruscamente para essa direção, saindo da estrada em sentido às árvores. Dou uma guinada para flutuar acima delas e mergulho logo em seguida para ficar fora do alcance deles.

          Pausa, congela! — Vocês estão tensos neste momento, eu sei, eu admito que também estou um pouco. Mas tem uma coisa que precisam saber, este mundo como vocês o conheceram, já se fora há muito tempo. Coisas como essa, infelizmente, acontecem o tempo todo. Sim, vivemos com a preocupação de poder estar sendo caçado, e ter sua vida à prêmio, mas nem por isso deixamos de nos preocupar com nossas necessidades básicas. — Pode continuar...

          Ao mesmo tempo em que luto para fugir dos perseguidores, também me preocupo em caçar meu alimento para garantir minha sobrevivência. Logo à minha esquerda vejo uma lebre que foge apressada dos barulhos daquela confusão, imediatamente jogo a moto em um arranco em direção ao meu jantar saltitante. E por uma atitude de sorte, este movimento me desvia de um míssil de curto alcance que vinha furioso em minha direção, que fora lançado segundos antes, na última tentativa de me abater. Mas com este movimento, passou direto por mim, atingindo uma árvore um pouco mais à frente. Ao longe eles veem o clarão e o estrondo da explosão. Acreditando que o pequeno míssil rastreador alcançou seu destino e cumpriu a sua função, dão o trabalho como concluído e vão embora, me deixando em paz finalmente.

          Já a salvo dos carniceiros, continuo no encalço do meu jantar que foge entre a vegetação rasteira. Quando estou quase a alcançando, a danadinha entra ligeiro em sua toca. Estava tão centrado em capturá-la que não notei um amontoado de terra à frente e acerto em cheio, antes mesmo que pudesse fazer algo pra parar a moto.

          Ainda meio zonzo e com a visão turva da cortina de poeira que se levantou com o impacto, me levanto e limpo um pouco da terra da roupa, vou até a moto para avaliar os prejuízos. Aparentemente não há nada estragado, não há grandes danos. Somente um pequeno inconveniente: ela não está ligando. Preferi deixá-la aqui por hora.

          Vou atrás do meu jantar entocado. Se tiver sorte, a toca não deve ser muito funda, com um pouco de criatividade posso conseguir tirá-la de lá de dentro. Ao examinar a toca tenho uma triste surpresa, a nossa amiguinha aqui fechou parceria com um porco espinho, e ele não gostou muito da minha visita. Não vou conseguir tirá-la de lá sem levar algumas espetadas. Isso me faz pensar sobre as asneiras da Natihvus contadas para as autoridades do mundo para convencer de migrar toda população do nosso planeta para Xavi, "a nova Terra". Disseram que nossa Terra havia se tornado inabitável, imprópria para a sobrevivência. Que em breve não restaria vida animal, nem na terra, nem no mar, devido a quantidade de radiação. Não é o que vejo aqui, a vida animal segue tão bem que faz até alianças. Só não sei o que queriam com a população humana fora daqui. Enfim... Desisto da ideia da lebre, ciente que vou dormir com fome hoje. Volto ao local onde está a moto para tentar entender o que aconteceu.

          O monte de terra não é à toa, logo atrás dele eu percebo uma tampa de ferro grande e redonda, aparentemente muito pesada. Se parece com uma tampa de bueiro ou algo do tipo. Chego mais perto para examinar melhor. Há algumas inscrições "J.M. Smith". Parece estar lacrada. Foi trancada pelo lado de fora.

          Volto até a moto em busca de ferramentas que possam me ajudar. Na caixa de ferramentas, entre chaves de boca e grifo, encontro os escolhidos: uma marreta pequena e um maçarico portátil. Já de volta à tampa de ferro, não custo a violar os cadeados e a tranca. Tenho mais uma bela surpresa hoje. A tampa de ferro veda um buraco, a entrada de um duto do que parece ser um abrigo nuclear subterrâneo.

          Tento olhar para o fundo, mas está escuro. Começo a descer a pequena escada na lateral do duto. À medida em que me aproximo do fundo, a abertura vai ficando maior.

          Quando meus pés finalmente tocam o chão, me viro e vejo à minha frente uma grande porta circular de acionamento mecânico e elétrico que vem confirmar minha suspeita do início: É um abrigo nuclear.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now