O Fosso do Inferno - 94

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          — Garotão, diz pra onde estamos indo agora? — Kalitch que está logo atrás de Jow demonstra estar curiosa com tudo aquilo.

          — Vamos descer no buraco, tem algo que eu quero que vejam.

          Eles estão no primeiro piso, acima deles ainda tem mais dois andares, o corredor dá em uma sala vazia onde eles veem apenas uma porta grande de correr.

          — Senhores, atrás desta porta verão a ferida que está matando aos poucos nosso planeta.

          Ao abrir a porta, ela dá acesso ao elevador executivo, ele sempre fora um trunfo da alta administração da Natihvus, uma vitrine do que fez eles se tornarem o maior império corporativo que o mundo já vira: totalmente de material translúcido, ele é imenso com capacidade para transportar até 20 pessoas, e fornecendo uma visão panorâmica de toda estrutura a sua volta, ele conduz seus ocupantes por 20 minutos de descida para dentro do fosso até a última plataforma de alcance humano.

          O Tenente divide os 27 restantes em duas equipes, 17 ficam de guarda na porta do elevador e 10 adentram no equipamento, que treme todo assim que acionado, possivelmente pelo tempo que ficara inativo. Ele chacoalha e começa a descer, e uma coisa chama a atenção: uma grande estrutura metálica ao centro do fosso, que se estende desde acima de toda construção até sumir de vista no fundo, e passando agora diante dos seus olhos notam uma armação que tem um formato conhecido.

          — Jow, é impressão minha ou isto é um braço mecânico? — Questiona Kalitch.

          — Este elevador era usado para exibir aos visitantes, investidores e autoridades a grandeza do que eles tinham aqui, pra completar o espetáculo era possível acender uma luz especial dentro do fosso... espero que ainda funcione.

          Jow pressiona alguns botões no painel na parede lateral do elevador e milhares de luzes se acendem nas paredes do imenso buraco, revelando uma gigantesca malha hexagonal, como uma infinita colmeia de abelhas, e quanto mais luzes se acendem para baixo mais e mais colmeias aparecem.

          — De fato, isto é um braço mecânico, a função dele é administrar o conteúdo armazenado nestes milhões de recipientes... colocar e retirar quando necessário.

          — E o que tem lá? — Ela faz a pergunta que todos querem saber.

          — Tem o material que todos desejam. Bem... na verdade é o que possivelmente pode ser. Milhões e milhões de lingotes de Necrômio, é pelo que se sacrificaria qualquer um neste mundo, a chance de obter a arma mais poderosa já criada pelo homem. Quem a possuir, controla o mundo.

          — O que impede que qualquer um invada isso aqui e pegue esse material então?

          — A falta do servidor. Ele é mais do que vocês podem imaginar. Controla todo o trabalho automático nas estações, desde a perfuração, separação de materiais, manipulação das misturas, refinamento, enriquecimento e armazenamento quanto o trabalho dos autômatos, sem o servidor online, tudo para e toda organização se perde. Todas as estações pararam as perfurações, os robôs autômatos de todas elas estão como os que vocês viram lá na frente e o produto que eles tanto desejam está encriptado, embaralhado nessa malha de blocos, somente os códigos do servidor sabem diferenciar os lingotes, que podem ser de necrômio, tectocarbonetos ou simplesmente arenito, todos do mesmo tamanho, cor e peso, propositalmente pra que só possam ser identificados pelo próprio servidor ou em teste de laboratório. Por isso, seria meio inútil passar o maior sufoco pra roubar esses blocos e no final se tratarem apenas de rochas polidas.

          — Então quer dizer que esse servidor também é o responsável pela perfuração e extração de elementos do núcleo do planeta? Ele é causador de todo esse caos perturbador na Terra? — Tenente questiona demonstrando indignação.

          — Exatamente Tenente, este servidor é o responsável por tudo isso.

          Os outros ocupantes do elevador se entreolham com ar de espanto e permanecem em silêncio durante a interminável descida no precipício que agora tem um aspecto sombrio, é estranho você sentir que está dentro de um estoque de armas capaz de destruir o mundo.

          Mais alguns minutos, que parecem que nunca vão acabar, se passam. O elevador começa a vibrar violentamente mostrando que os freios foram acionados por já estarem bem próximos do seu destino, a velocidade diminui até parar completamente, então um som de engrenagens metálicas velhas anuncia as portas se abrindo, permitindo que todos saiam.

           — E agora, Senhor Peregrino, pra onde vamos? — Questiona Tenente.

          — Esse piso era chamado de observatório, é o último nível que pessoas poderiam descer normalmente, abaixo daqui somente em casos extremos para reparos e manutenção em algum equipamento lá em baixo, o resto é tudo feito por máquinas computadorizadas e robôs. Mas é nessa plataforma que ficavam toda a equipe do serviço pesado, a parte bonita lá de cima era só pra alta gerência do lugar. Bem ali à esquerda ficam os armários, onde os operários guardavam seus pertences, eu tranquei o servidor em um deles.

          Eles logo notam a pressão de estar a centenas de metro abaixo da superfície, o ar é levemente rarefeito, fazendo ficarem ofegantes e com sensação de cansaço, caminham apenas alguns metros e veem salas de oficinas com robôs desmontados, uma outra cheia de junções, grandes peças de metal, brocas, rotores, lâminas, e por fim, bem ao fundo, uma sala repleta de armários robustos. O ambiente tem pouca luz, Jow acende a lanterna do capacete do traje e vai direto até um deles, especificamente: 572-JJ; ele fica bem de frente para o armário, pressiona uma combinação no antebraço direito e abre um compartimento no traje no mesmo braço, ele tira de lá uma chave e insere na fechadura eletrônica, ela leva alguns segundos, então acende uma luz verde e faz um som de destravar a porta, Jow a abre, todos parecem curiosos, mas o que vêem lá dentro é algo bem diferente do que esperavam.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now