Lutar até o fim - 72

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          O gongo soa novamente e a luta recomeça.

          Norffi fica andando em torno de Apollo e desviando dos seus socos e pontapés. Em um momento certo, ele acerta o robô bem no rosto, o round segue mais de dois minutos e meio assim: com investidas e desvios dos dois lados, Jow olha pra Zach e ele olha animado para o console como se preparasse algo. Até que Apollo levanta o pé para o que parecia um pontapé alto, Norffi desvia ficando um pouco de lado e o pé de Apollo desce direto para o pé de Norffi, prendendo-o junto dele. Norffi fica assustado e olha para baixo tentando se livrar do peso que o prende, quando é surpreendido por Apollo que desfere um enorme soco no peito que fazem amassar as placas de Norffi, deixando-as com o formato do punho de Apollo. Com o soco, Norffi é jogado no canto do ringue e cai sentado dando espasmos. Quando o robô ia lhe desferir outro golpe, toca o gongo. Fim do segundo round.

           Jow faz uma programação que abre nas suas costas e mexe no seu mecanismo fazendo estabilizar seu funcionamento.

          — Só mais um amigão, já está no fim. — Jow tenta encorajá-lo.

          Soa o gongo novamente e Norffi vai cambaleante para o ringue e volta a estratégia de andar em torno do oponente, mas dessa vez está mais lento. Começa a receber alguns golpes que fazem amassar suas placas.

          Jow parece tenso e preocupado no seu semblante, Zach percebe isso e fica ainda mais animado.

          Apollo tenta novamente pisar no pé de Norffi para segurá-lo, mas ele retira rapidamente. Então ele usa uma tática diferente, começa a desferir socos na altura do abdômen e usar o seu corpo para empurrá-lo para o canto do ringue e assim prendê-lo, Norffi demonstra claramente os sinais de exaustão, seus braços caem e seu corpo está tão amassado que mais parece um carro que sofrera capotamento. Percebendo a possível vitória, Apollo segura o corpo já enfraquecido de Norffi e levanta o punho o máximo possível pra desferir o golpe de misericórdia.

          Todos da equipe de Jow ficam horrorizados com aquela cena, inclusive Jow.

          No momento que o robô vai baixar o punho, soa o gongo.

          Zach dá um grito de raiva.

          — Não não não!

          — Trato é trato, meu robô aguentou os três rounds.

          — Mas a luta ainda não acabou.

          — Você quer mesmo destruir meu robô?

          — Isso mesmo, claro que eu quero. Ra ra ra ra.

          — Então vamos retomar a luta agora. — Jow se vira para Norffi. — Norffi vá até o meio do ringue.

          O robô se arrasta com dificuldade, sua cabeça treme com os espasmos mecânicos, seus olhos vermelhos, um está quase totalmente apagado e outro fica piscando.

          — Norffi fique de pé.

          O robô obedece de forma demorada e ruidosa. Mas fica em uma posição meio curvada, com os braços caídos. E bem diante dele Apollo o olha por cima só esperando.

          — Soem o gongo! — Grita Zach.

          Assim que se ouvem o som estridente, Jow grita para Norffi:

          — Amigão, a brincadeira acabou, acabe logo com isso pra gente ir embora.

          Zach olha para Jow e ri euforicamente e quando olha para o ringue seu riso cala.

          Norffi antes com os olhos vermelhos falhando agora estão ,vivos e flamejantes, suas placas vibram ferozmente, seus amassados em todo seu corpo somem, as placas voltam aos seus lugares, seu corpo fica esguio novamente, ele fixa seu olhar em Apollo que começa a desferir vários socos no abdômen de Norffi, e este, por sua vez permanece imóvel como se não fosse nada. Quando Apollo para, levanta o olhar para cima. Norffi com um rápido movimento de uma mão atravessa a armadura peitoral de Apollo atingindo sua estrutura mecânica e ele começa a fumegar de faíscas, com a outra mão, Norffi segura a cabeça de Apollo e amassa como latinha de refrigerante, solta a cabeça dele e retira de dentro de suas entranhas a CPU em faíscas. O robô derrotado cai como pedra no chão, Norffi joga sobre ele os restos que estavam em sua mão e sai do ringue.

          Zach assiste aquela cena atônito, boquiaberto e de olhos arregalados, o console cai de suas mãos.

          — Eu não acredito no que eu vi, seu desgraçado filho da puta, você destruiu meu melhor robô de combate como se fosse nada. E isso foi...

          Zach olha os restos do robô, e todos ficam apreensivos pois sabem o quanto ele é inconstante e imprevisível.

          — Isso foi... — Zach faz uma pausa na fala e olha cabisbaixo os destroços caídos no chão do ringue. Um clima de tensão circunda todos — Incriiiiiveeeel! Caraca, como você conseguiu isso?! Tu me enganou direitinho seu filho da mãe! Nunca vi uma luta tão emocionante na vida. Você sabia o tempo todo que ia ganhar. Ra ra ra ra. Por isso me fez aumentar a aposta.

          — Essa eu achei que até você saberia. Seu Apollo foi feito de Titânio, meu Norffi é de Tectônio. Você realmente achou que sua ferrugem ambulante iria arranhar meu companheiro??? E se você entende bem desses droids, os modelos Norffi permitiam receber programações de funções de uso. E o meu Norffi não era um robô de levar as crianças na escola, ele recebeu programação de treinador de academia de luta.

          — Então era essa a "coisa importante" que você tinha pra falar com seu robô? Configurar a função de batalha?! Há há há, inteligente da sua parte.

          — Então? Livre passagem de ida e volta?

          — Eu sou um saqueador, mas sou um homem honrado. Cumpro com minhas palavras.

          — Mas quando voltarmos poderemos trazer em nosso encalço companhias indesejadas. Poderão ser muitos e estar armados.

          — Vocês passam, o resto que não voltar ao se aproximarem da nossa casa, ficarão plantados pra sempre nessas terras, não importa quantos sejam ou quão armados estejam. Ou não me chamo Zacharias.

          Os homens trocam aperto de mão ali mesmo. Jow vira para trás e faz sinal aos seus.

          — A não ser que alguém tenha gostado da hospitalidade e queira ficar aqui, eu sugiro partirmos agora.

          Em questão de instantes estão todos de volta à estrada. Deixando para trás as montanhas, essas terras e o povo que a guarda.

          — Senhores, por uma atitude precipitada acabamos de ter uma experiência bastante desagradável, mas antes de procurar culpados ou avaliar razões, eu queria que vissem isso muito mais como uma parada em casa de amigos do que como uma ameaça de verdade. Apesar dos riscos que corremos ali, isso não chega nem perto do que ainda está por vir. Os Anarchy são rebeldes saqueadores, mas ainda são um grupo de sobrevivência assim como a maioria de nós, eles têm princípios, há duas horas entraremos na rota rural, que eu mencionei na nossa estratégia, e após três horas dentro dela, entraremos em território terrorista. Para que todos saibam, terroristas não fazem armadilhas de captura, eles fazem emboscadas, eles não fazem prisioneiros e não negociam, matam tudo que respira e ficam com os espólios, são destemidos e audaciosos, eles não têm nada a perder, nós temos. Estejam atentos e prontos para o combate pesado a qualquer momento, nossas chances de sucesso vão depender do quanto nós conseguirmos passar despercebidos e de que façam exatamente o que eu disser. Todos compreenderam? Estão de acordo? Estamos entendidos, Tenente?

          Assim que ouviram as recomendações de Jow pelo rádio, todos respondem confirmando estarem de acordo, inclusive o Tenente e seu grupo de militares.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now