Recebendo sinal verde - 59

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          O Grão Monge instalou o seu templo em uma caverna na montanha. Assim que entra, Jow quase não vê nada, a iluminação é bem fraca, composta principalmente por velas, mas depois de alguns instantes, seus olhos se acostumam a pouca luz e pode-se enxergar todo o ambiente com seus detalhes. O lugar é calmo, transmite sensação de paz, o som do ambiente é dado pela cachoeira que cai ao fundo da caverna, cobrindo sua saída e a água remanescente que escorre para dentro forma um pequeno espelho d'água, o espaço todo cheira incenso.

          Por um momento Jow se permite imergir em devaneios e em sentimentos nostálgicos das lembranças das vezes em que já esteve neste lugar, e lembrar o quanto é agradável aquela sensação.

          — BHantê, Andarilho. Perdido nos labirintos da mente?

          Jow leva um susto como se se despertasse, olha para trás e se depara com a figura simpática, um senhor oriental: baixinho, magro com a barba grande branca, sua cabeça quase completamente raspada, tendo apenas uma trança comprida na parte de trás do crânio, vestes vermelhas características do Tibet, com um sorriso singelo e olhar acolhedor.

          — Namaskár, Mestre. — Jow se curva diante do homem fazendo o cumprimento tradicional budista.

          — É bom vê-lo, Andarilho. Sempre sinto boas energias vindas da sua aura, mas hoje está diferente, sua essência parece estar intacta, mas energias estranhas o acompanham.

          — Tive que tomar decisões das quais estava adiando a tempos, e agora temo pelo meu destino.

          — E é isso que o traz até aqui?

          — Sim mestre, venho solicitar ajuda do Senhor, para que possa cumprir uma jornada a qual estou destinado.

          — Mas a minha ajuda não é a única que você solicitou pelo caminho? Você traz algo a mais que isso.

          — Mestre, eu propus alianças pelo caminho: o grupo de sobreviventes que estão assentados a leste daqui, o maior depois de nós, eles têm interesse em um acordo de paz e de comunhão do território de coleta conosco.

          — Os Filhos da Noite. Essa é uma boa notícia, a tempos queremos mesmo um acordo de convivência em paz, mas era impossível alguém de um grupo atravessar as fronteiras do outro sem causar um conflito.

          — Sempre soube disso, sempre me incomodou: Brigarmos entre nós quando o inimigo é outro.

          — O que pretende conseguir de nós, Andarilho?

          — Mestre, o objetivo que eu busco está localizado em terras hostis. Preciso ir até o coração da Floresta da Morte, chegar até lá não é fácil, não posso fazê-lo sozinho, sem estar devidamente equipado.

          — Estou de acordo, essa floresta abriga muito mal em suas entranhas. A força é tamanha que às vezes posso sentir daqui, a energia ruim que emana do lugar e daqueles que lá habitam. Mas não há mal grande o suficiente para impedir que o bem floresça no meio dele.

          — Concordo com o senhor, mestre, é o equilíbrio.

          — Meu garoto, quando éramos apenas um grande grupo de nômades, vagando sem rumo, nossos caminhos se cruzaram e você deixou as suas batalhas pra travar a nossa, e foi decisivo para que pudéssemos conquistar o lugar onde hoje chamamos de lar. Não posso dizer que também seja o seu, pois almas inquietas como a sua não possuem lar. Mas quero que adote aqui como sua morada. Quando quiseres descansar e refletir sobre o rumo de suas andanças, possa nessas terras, se sentir em casa. Vou avisar ao Diesel e aos outros braços da Abadia de Consenso para que lhe dêem o que precisar, e que aqueles que forem contigo o protejam com a própria vida se preciso for. Cada um de nós, assim como você, é uma luz, e é dever de todos garantir que as luzes não se apaguem e pereçamos nas trevas. As forças do bem te levarão e trarão em segurança, e as do mal não quererão te fazer mal. Te espero para meditar comigo quando voltares.

          — Vandaná, Venerável Mestre.

          — Namastê, Andarilho.

          Jow se despede do Monge educadamente e se retira do santuário. Assim que sai, fica parado logo na porta, ainda um pouco zonzo, observando a beleza da cidade e esperando seus olhos se acostumarem novamente com a claridade externa, a luz e as imagens que vê inundam seus olhos, ele segue para a sala onde falou com Diesel e é interrompido no meio do caminho.

          — Andarilho!!! Cara, estou vendo um fantasma! — O homem de pele escura sorri. — Te ver é como cruzar com gato preto. Que bons ventos lhe trazem?

          — Toupeira, como tem passado? E seu garoto, como está?

          — Está grande, falando de tudo, precisa ver.

          — Então, vim até aqui porque tenho problemas sérios para resolver, quis saber se alguém pode me ajudar.

          — O que tem feito nessas suas andanças?

          — Passei por muita coisa e trago uma boa notícia para você.

          — Pra mim? De que se trata?

          — Estive lá no esgoto da Natihvus, encontrei o tão falado Joarez Tatu.

          — Puxa, que boa notícia. Então você viu o Tatu Velho? Tem quanto tempo?

          — Acho que tem uns cinco ou seis dias.

          — E como ele estava quando o viu?

          — Tomando Whisky de primeira, 12 anos ou mais, atendendo atrás da coronha de uma calibre 12 e ainda um hábil negociador, com a mesma marra e ranzinza como me falou.

          — É, esse é mesmo meu pai como eu conheço. — Alex sorri. — E você deu meu recado?

          — Claro, fiz questão, não iria passar por lá e deixar de fazer isso.

          — E como foi que ele reagiu? — Alex demonstra excitação ao falar.

          — Não fiquei para ver. — Jow dá risadas. — Não aguento ver velhinhos chorando.

          — Sei bem como é, também não gostaria de ver essa cena. — Alex dá risadas.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now