De volta à estrada - 28

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          — Vovô, já estou pronto. Vamos logo, eu quero que você me ensine a montar a barraca e a fazer fogo. Vai chamar o papai.

          — Ei Johnny, fica calmo, seu pai já vem.

          — Quero mostrar pro papai o que o senhor me ensinou da última vez. Cadê ele?

          — E você vai. Ele está lá dentro arrumando.

          Uma Blazer preta chega na casa, o pequeno Johnny e seu avô param pra ver.

          — Quem chegou vovô?

          — Mais que merda. — Balbucia baixo. — Eu vou lá ver Jony. Continue pegando as minhocas. Escolha só as melhores ta? Vovô já volta.

          O pequeno Johnny aguarda por ali seu pai e seu avô por um tempo. Eles não vêm. Então ele deixa o que está fazendo e vai até eles na casa. Ao se aproximar ele os vê brigando pelo vidro da porta. Ele se mantém quieto observando.

          — Como assim vieram te buscar? Como conseguiram meu endereço?

          — É meu trabalho pai. Eu dei seu endereço. Disse que estaria aqui caso precisassem e eles precisaram de mim.

          — Quem te deu o direito de dar meu endereço? Seu filho precisa de você, sua família precisa de você.

          — Pai é uma pesquisa muito importante. Eles só têm a mim.

          — E seu filho? Não é importante? Ele só tem você, só tem um pai! Não foi assim que eu te criei, não foi esse o exemplo que eu te dei. Eles têm dinheiro suficiente para comprar 10 engenheiros se quiserem. Não precisam vir buscar você no meio do final de semana. Seu filho está esperando por isso há meses.

          — Não é bem assim pai, ele tem a você, a mamãe, e eu os agradeço por isso. Já está no fim, em breve terei muito tempo para me dedicar à família.

          — Eu sou o avô dele, não substituo um pai. Ensino a caçar, fazer abrigo. Não sou quem deve ensinar a confiar, nem a ter amor pela família.

          — É um projeto sigiloso pai. Poucas pessoas podem saber sobre ele. Há poucos envolvidos.

          — Eu achei que tínhamos combinado que o meu endereço era pra que poucas pessoas soubessem.

          — Sinto muito pai. Fala pro Johnny que eu não vou poder ir com vocês. Prometo que vou na próxima.

          — Não prometa o que não pode cumprir. Eu não vou fazer seu trabalho sujo. Enfrente a responsabilidade das suas decisões, Jonathan Jones. Vá lá fora e diga ao seu filho que está te esperando que você não vai acampar com ele. Explique para ele seus motivos. Mas não faça promessas nas quais nem mesmo você acredita.

          O pequeno Johnny sabe que viu o que não devia. Quando vê os adultos saindo de casa, corre em direção onde estava e volta a mexer na terra.

          Seu pai vem em sua direção, seu avô vem logo atrás.

          Seu pai não está com a roupa velha, as botas gastas, e nem o chapéu engraçado que seu avô sempre dizia que o fazia parecer o Urtigão. Ao invés disso, sapatos engraxados, cabelo arrumado, uniforme de trabalho.

          Ele se agacha em frente ao garoto para que fiquem da mesma altura e o olhe nos olhos.

          — Filho, o papai teve uma emergência no trabalho e vai ter que ir. É muito complicado, você ainda é muito pequeno pra entender. Mas assim que tudo isso acabar nós teremos muito tempo juntos. Seu avô vai acampar com você hoje e quando eu chegar, quero que me conte direitinho como foi. Está bem?

          — Tá bom pai. Eu te conto como foi. Queria que você fosse com a gente pra mim te mostrar tudo que eu já aprendi.

          — Eu sei meu filho. Na próxima, quando eu for, você vai poder me mostrar tudo. O papai precisa ir agora, o pessoal do meu trabalho está me esperando. Fica com Deus, se divirta e cuide bem do vovô.

          — Está bem papai. Vai com Deus, volta logo.

          — Quem é o menino selvagem do papai?

          — É homem da montanha papai.

          Seu pai se levanta, passa a mão em sua cabeça e sai em direção a dois homens que o aguardam à distância. Seu avô se encosta no garoto e os dois ficam olhando seu pai partir.

          — Vovô, será que meu pai volta a tempo de acampar com a gente?

          — Acho que não meu filho. E se chegar acho melhor nem tentar, como nós o conhecemos é bem capaz de ele se perder tentando achar a gente.

          Um galho estala bem próximo, Jow bate sentado com revólver em punho. Era apenas um cervo. Jow acordara assustado. Preocupado olha pra cima e Morgana ainda dorme profundo e Norffi também está inativo ao seu lado. Já está na hora de começar a se preparar para seguir caminho. Ele recolhe as coisas e prepara algo para comer.

          Ele acorda a Morgana, eles comem, tomam chá e partem no finalzinho da madrugada.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now