Presenças suspeitas - 106

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          Em poucos minutos estão todos prontos e de volta a trilha em direção a estrada, agora eles têm veículos indígenas na linha de frente e na retaguarda. O GPS mostra que estão há algumas horas da rota da missão, o dia já começa a clarear e assim que chegam na rodovia, a frota dos Kynawa reduz a velocidade e abrem espaço para que nossa comitiva siga caminho, depois que os viajantes passam, os indígenas dão meia volta em direção a sua aldeia.

          O rádio toca em todos os veículos:

          — Senhores, estamos de volta ao plano de curso original, os Kynawa acabaram de nos deixar, estamos por nossa conta agora. Fiquem atentos, pois daqui três horas de viagem entraremos em território islamita, levaremos duas horas pra sair dele e mais uma de margem de segurança, devemos esperar alguma surpresa. Não quero mais baixas, a parte mais pesada e arriscada da missão já se foi, agora estamos indo de volta pra casa. Sei que estão todos com fome e cansados, mas não podemos parar enquanto não passarmos disso. Então, não devem relaxar nem por um instante, estejam sempre alerta a qualquer situação suspeita. — Jow tem um tom preocupado em sua voz.

          A paisagem vai mudando aos poucos, de região montanhosa para algo que se parece com cerrado, com vegetação baixa, poucas árvores, permeando algumas colinas rochosas, solo um pouco arenoso e irregular. Assim como descrito por Jow, segue tranquila a viagem por quatro horas seguidas até que ele faz sinal pra parar o comboio. Eles param, descem e se deparam com uma situação complicada e suspeita: toda a estrada principal, a se perder de vista fora totalmente destruída, provavelmente por explosivos, ficando totalmente inviável que continuem por ela, o Tenente chega até Jow e o questiona.

          — Então Senhor Jones, o que sugere que façamos?

          Jow estende o mapa sobre o capô de um veículo e mantém ao lado o aparelho GPS.

          — Se sairmos da estrada e desviarmos a direita, contornando esta colina, vamos sair em uma pequena estrada auxiliar logo à frente, continuamos nela por algo em torno de 5 a 6 quilômetros e ela cruzará com a principal novamente, aí retomamos o curso.

          Todos os veículos saem da rodovia principal, eles contornam a colina e entram na pequena estrada mencionada que os leva até uma passagem estreita, que serpenteia entre uma cadeia de pequenos montes rochosos. Logo após a primeira curva, algo suspeito faz o comboio parar: um veículo parado atravessado na pista com o capô aberto, e fora dele, um homem com vestes árabes, uma mulher ao seu lado e dentro do carro mais uma. Os que estão de fora acenam pedindo ajuda. A equipe toda fica tensa, em total alerta, armas carregadas, em punho e olhos nas miras.

          — Tenente, o que faremos? — Questionou Thomas.

          — Alguém precisa ir ver o que aconteceu, o que eles querem e mandar que saiam da estrada. O que você sugere, Senhor Jones?

          — Hadish, poderia ir até eles e ver o que está acontecendo? — Jow já direciona a função.

          Hadish responde com o sotaque carregado, característico das pessoas do oriente médio.

          — Sim, eu vou descobrir o que está se passando.

          — Raydon e Bulldog, levem-no e o cubram, mantenham uma distância segura, o povo árabe costuma ser muito arredio com ocidentais, deixem Hadish conversar com eles com uma certa privacidade, mas fiquem atentos e o protejam. — Jow dá a orientação de como deve ser feita a abordagem.

          Os homens confirmam e partem em direção aos estranhos no meio da estrada. No ar, um clima de tensão. O local é bem fechado, sem muita visão do entorno, nem possibilidades de saídas. Eles seguem devagar em um dos blindados pequenos, armas prontas para algum possível confronto, o restante fica a postos um pouco mais atrás. O blindado se aproxima e para, a porta lateral abre e Hadish desce com um fuzil em punho, aproxima-se das pessoas na estrada, ele está com vestes típicas de militares árabes, e com turbante. A equipe espera que a presença de Hadish gere mais identificação que estranheza, apesar da tensão do momento, eles sabem que também podem estar lidando apenas com pessoas inocentes, com algum problema tentando sobreviver nesse mundo destruído.

          Hadish se aproxima com cautela, o homem se adianta em encontrá-lo, ele levanta as mãos e faz sinal de estar desarmado, Hadish grita para ele que levante a parte de cima das suas vestes e dê uma volta para mostrar que não possui armas escondidas. O homem nem questiona, faz exatamente o que manda, feito isso, Hadish abaixa sua arma e se aproxima. Eles conversam e gesticulam, o homem aponta para a estrada, olha para trás e aponta para o carro. Eles são observados atentamente, o rádio toca e Hadish pergunta ao Tenente como está o caminhão de combustível.

          — Hadish, estamos com capacidade limite.

          — Tenente, ele está me informando que o único problema deles é que acabou o combustível e não precisam de muito pra chegar no seu vilarejo.

          — Se é pra podermos passar com tranquilidade, poderemos conseguir pra eles o combustível que precisam, mas vá até o veículo e confira se estão dizendo a verdade.

          — Ok Tenente, irei verificar.

          Hadish empunha novamente o fuzil, diz em árabe e faz sinal com as mãos para que se afastem do carro enquanto ele se aproxima. Durante o tempo que caminha em direção ao veículo e o contorna, ele nota um pequeno movimento no alto da colina, passaria despercebido se não estivesse no exato ângulo que cobre brevemente o Sol no rosto de Hadish por uma fração de segundo, ele levanta o olhar discretamente sem virar muito o rosto, apesar de tentar manter a calma ele já sabe o que está acontecendo. Ele dá uma volta em torno do carro, seu coração está disparado no peito e um suor começa a escorrer no seu rosto. Tentando continuar o comportamento tranquilo, ele faz um cumprimento para os estranhos e se afasta normalmente, não conseguindo se conter mais, leva o rádio na boca e em voz baixa diz em português na tentativa que os árabes não consigam entender. A excitação é evidente na sua voz ofegante:

          — Tenente, é uma armadilha, deem meia volta agora, o lugar está cercado e estamos sendo monitorados.

          O chamado ecoa em todos os rádios, em instantes a tensão é instaurada em todos que ouviram, e já começam a pensar em alguma ação emergencial. Hadish continua:

          — Mandem que me recolham imediatamente. Eles já sabem que foram expostos. Urgente, estou vulnerável aqui.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now