Visita inesperada - 88

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         — Opa opa, calminha aí, eu não seria uma boa caça, acho que minha carne tem sabor nada agradável.

          Jony abaixa imediatamente a besta, está atónito, aturdido com o que seus olhos veem surgir de trás da árvore. Seu avô tem cara de desapontado.

          — Que bacana Doutor Jonathan, conseguiu nos encontrar. — Ele diz em tom irônico.

          — Eu pedi pra que não saíssem sem mim. Disse que viria.

          — Que garantia eu tinha que não seria só mais uma das suas? Não podíamos perder a hora da caça.

          — Eu não quis perder essa caçada. Quero ter ao menos uma com meu filho para recordar.

          — Já é alguma coisa, pensei que não fosse ter nenhuma. A não ser que fossem caçar burocratas corporativos. — Baltazar destila ironia ao falar com o filho.

          — Como conseguiu nos encontrar, pai? — Pergunta o garoto ainda surpreso com a presença de seu pai ali no meio da mata, sem seu terno habitual, vestido com roupas que geralmente só via seu avô vestindo.

          — Bom, assim que eu cheguei sua avó disse que tinham acabado de sair, eu me lavei com o sabonete de planta do seu avô, troquei de roupa e segui seus rastros. Posso não parecer, mas também sou um caçador.

          Jony se acaba de rir, segurando a mão na boca para suprimir seu impulso e o barulho. Seu avô apenas abre um sorriso e olha para o garoto, em seguida para o filho. Jonathan levanta a cabeça como quem tem a atenção chamada por outra coisa e volta-se para o garoto.

          — Parece que vocês não conseguiram nada ainda, se não, não estariam comendo feijão enlatado.

         — Achamos um cervo, mas era uma fêmea e estava com filhote, eu quase a matei, ainda bem que o vovô não deixou. — O garoto fala e por um instante seu semblante de remorso volta ao se lembrar.

          — E aí? Seu avô te contou toda aquela história de respeito pela natureza e tudo mais?

          — Contou sim, mas o senhor não acredita, né? — O garoto pergunta desapontado.

          — Um pouco sim, e um pouco não. Eu tenho uma opinião diferente do seu avô, ele fantasia demais, mistifica demais uma coisa simples: caçar e comer. Eu acho que a natureza nos fez superior por um propósito, somos parte dela, mas não somos selvagens e não conseguiremos ser por mais que queiramos. Somos o que somos, devemos nos aceitar e agir como tal. Mas se quer um conselho de verdade, ouça seu avô, o que ele te ensina será mais útil aqui, esse é o mundo dele, disso ele entende melhor que ninguém... Mudando de assunto. O que acha de um javali gordo então? — Jonathan propõe ao garoto.

          — Seria uma boa caça. Eu gosto de carne de javali.

          — Você se importa se eu o abater?

          — Ra ra ra. Nem um pouco, se o senhor conseguir. — O garoto fala em tom de deboche e desafio, e entrega a besta a ele.

          Ele olha para Baltazar, dá um sorrisinho, pega a besta com o garoto, a vira ao contrário encostando a ponta da flecha no ombro, coloca uma mão bem a frente no cabo e a outra no gatilho, e olha na mira do lado inverso.

          — É assim que usa esse negócio?

          — Claro que não pai, ficou doido?! Vai perder o braço desse jeito.

          O garoto dá um pulo e imediatamente tira a besta das mãos do pai, colocando-a na posição correta e devolvendo a ele que somente olha para Baltazar e os dois sorriem da aflição do garoto.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang