Seguro e saciado - 02

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            "Na iminência da guerra, com o risco de conflitos nucleares, muitas pessoas construíram e equiparam estes abrigos, para proteger e manter suas famílias seguras. Eles foram equipados com muitos suprimentos não perecíveis, que poderiam chegar a durar por anos se fosse preciso. Na evacuação da Terra, as pessoas tiveram que sair às pressas, levando poucas coisas, só o essencial e deixando a maioria dessas reservas para trás, confiantes na promessa da Natihvus, que tudo que eles precisavam seria provido em Xavi, o novo mundo."

            Testo o mecanismo da porta, ela é pesada e barulhenta, giro com dificuldade a alavanca, mas meu esforço é recompensado com um ruído que me agrada, o barulho do desativar da tranca, seguido do som da porta se abrindo. Para minha alegria eles saíram e deixaram a porta aberta. Com mais um pouco de sorte devo encontrar algo para comer.

            Entro devagar, está escuro. Ativo a lanterna do capacete. Na parede logo à esquerda encontro a caixa de interruptores. Assim que as luzes se acendem, sou recepcionado por uma voz feminina que vem de todos os lugares:

            — "BOA TARDE FAMÍLIA SMITH. SEJAM BEM-VINDOS. ESPERO QUE TENHAM UMA TARDE AGRADÁVEL E ACONCHEGANTE".

            Creio que seja um tipo de sistema inteligente que opera o funcionamento do abrigo.

            Ativo os sensores de ambiente do traje para detectar algum vestígio de radiação ou toxina no ar. Aqui o ar parece estar limpo pelo que ele indica. Pressiono no peito do traje os botões que fazem recolher o capacete para as costas, para que eu possa ver e respirar melhor.

            Dou uma olhada ao redor do ambiente, no que parece ser uma sala de estar. Sento no sofá em frente a uma mesinha de centro, para poder descansar e refletir um pouco. O sofá é confortável.

            O abrigo possui poucos móveis, ele foi construído para ser um lugar simples, mas aconchegante. Está tudo em bom estado. Ele não chegou a ser usado aparentemente.

            Já está ficando tarde, logo vai escurecer, preciso ir lá em cima dar um jeito na moto ou ela vai se tornar um belo indicador de onde eu estou. Como não vai dar tempo de tentar consertá-la agora, eu a levo para próximo dos arbustos, cubro com a lona camuflada, coloco sobre ela, vários galhos dos arbustos, para garantir que não irá chamar a atenção.

            Já de volta ao abrigo, me certifico de ter trancado a tampa por dentro. Agora procuro a cozinha, na busca de algo para comer. Está tudo muito bem organizado, foi planejado com cuidado. A cozinha fica mais ao fundo, e ao fundo da mesma, a despensa. Não é muito grande, mas a julgar pelos suprimentos, abasteceria uma família pequena por até três anos.

— Deixe-me ver o que temos aqui... Temos água, hidratantes líquidos com polpa de fruta. Bastante enlatados, feijão, milho, ervilha, palmito. Arroz embalado a vácuo, massas secas, suplementos e mais um monte de coisa que eu não vou ver agora. Vou logo fazer minha escolha e preparar, pois, estou faminto.

            Na cozinha, há bastante organização, um fogão molecular, um forno multifunções, um freezer e uma pequena pia.

            Volto para o sofá para saborear meu jantar.

            — É, realmente não poderia estar melhor, ao menos que fosse acompanhado de carne de lebre... (Risos). Assim como eu ganhei mais um dia, ela também.

            Ainda sentado comendo, observo e tento entender a estrutura, não ouço ruídos, o que me leva a perceber que ele não é alimentado por um gerador e sim por um núcleo de energia tecto nuclear. Um equipamento silencioso e eficiente para se ter energia infinita.

            A água corrente deve vir de um poço abaixo do banker. Agora preciso descobrir como funciona a tecnologia que opera o restante do abrigo, e arrumar um jeito de consertar a moto, pois não posso ir muito longe sem ela. Esta é uma tarefa que vou deixar para amanhã, estou muito cansado e preciso dormir.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now