Indo sorrateiro - 26

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          Jow procurando fazer o mínimo de barulho possível, vai até Norffi e fala baixo perto dele:

          — Norffi despertar.

          O robô que jazia imóvel, acende as luzes dos seus olhos, e responde:

          — Norffi desperto. Jow precisa de Norffi?

          — Sim Norffi, shiuuu! Silêncio! Estamos partindo. Vamos, não faça barulho. Não queremos acordar ninguém.

          Jow sai da casa da Morgana com Norffi em direção ao mesmo lugar que ele usou para entrar na cidade.

         Mal sabe ele que a espreita, alguém o observa à distância.

          Jow segue com cuidado, sorrateiro entre as sombras da madrugada, desviando dos postos de vigia e dos guardas de plantão. Ele sabe que a escuridão é sua aliada, mas a calmaria nem tanto, por isso ele não pode chamar a atenção.

          Próximo ao córrego, Jow se senta encostado no muro, junto de algumas pessoas que dormem por ali, mais ou menos onde ele havia ficado aguardando quando entrou. Ele observa a movimentação dos guardas, assim que percebe o surgimento de uma brecha, pega Norffi e desliza para dentro do córrego, até a grade.

          A grade ainda possui os cortes estratégicos, camuflados para que ele possa passar, mas agora ele tem um volume a mais para passar por ali.

          Assim que se veem livres, aproveitam as últimas horas de escuro para poderem ganhar caminho até o campo aberto.

          Jow segue cerrado afora, agora em direção onde deixou sua moto e um pedacinho de sossego.

          Caminha constantemente com a desconfortável sensação de estar sendo observado, embora ele nada vê ao seu redor a não ser seu companheiro Norffi.

          Após horas de caminhada eles chegam a uma faixa de mata fechada que cruza o caminho, eles a adentram, quando estão saindo do outro lado o sol está a pino, já passa do meio dia, ainda sob as árvores, Jow faz uma parada para comer. Ele pega lenha seca, algumas pedras, folhas e alguns itens na mochila. Acende o fogo com atrito entre duas pedras, coloca sua comida no fogo e senta-se para esperar. Então dá um sorriso, respira fundo e diz em voz alta:

          — Já pode sair daí Morgana. Você caminhou por várias horas, percorreu uma longa distância, precisa se alimentar, hidratar, e descansar para poder aguentar o caminho de volta.

          Então Morgana sai de trás de uma grande pedra, ainda receosa com expressão desconcertada por ter sido descoberta.

          — Como você soube? Quando descobriu que eu estava te seguindo?

          — Você conseguiu se antecipar ao meu olhar, mas não ao do Norffi. Após os montes rochosos, Norffi passou a olhar para trás com muita frequência, foi aí que eu soube que era você, porque se fosse alguém mal-intencionado me perseguindo, teria me atacado ali entre os paredões.

          — Estou com sede, você tem algo para beber?

          — Tenho, mas vou buscar água fresca no riacho aqui embaixo.

          — Água corrente? Pode estar contaminada.

          — É água de nascente, tão limpa e pura quanto o céu. Cuide da comida, não deixe queimar.

          Jow pega o cantil e vai buscar a água, enquanto Morgana cuida da comida no fogo.

          Jow retorna com a água e dá à Morgana.

          — Jow.

          — Sim Morgana.

          — Você falou em caminho de volta, não está pensando em me mandar de volta, né?

          — Estou e vou. Eu ainda tenho um dia e meio de caminhada. É um percurso longo, cansativo e perigoso. Já vai ser difícil cuidar de um, de dois então quase impossível, e eu não estou afim de ser babá de ninguém. Tem um bando de coiotes da Natihvus por aí, só procurando. Eles nos caçam, capturam e quando estão de bom humor: nos jogam no esgoto, sabe-se lá o que mais podem fazer com a gente para essas bandas. Não há ninguém por nós aqui. Por isso você vai comer, descansar um pouco e pegar a mesma trilha que veio.

          — Você não pode fazer isso comigo, preciso da sua ajuda, só você pode me ajudar agora e mais, sei me cuidar muito bem.

          — Então diga. O que você precisa?

          — Lá na vila do bando que eu fazia parte, têm muitos equipamentos de laboratorio que eu deixei pra trás quando saí de lá, como eu sabia que iriam confiscar quando chegasse no curral preferi não levar. Agora estão me fazendo falta, muita falta. E como eu vi que você pode entrar e sair na hora que quiser, levando o que quiser, pensei que pudesse me ajudar.

          — Olha mocinha, as coisas não são tão fáceis quanto parecem. Cada vez que eu atravesso aquele muro, é um golpe de sorte. Existem guardas de olho o tempo todo, e até mesmo pessoas da população, recebem uma merreca de recompensa para ficar de olho e denunciar quem faz algo de errado.

          — Mas eu preciso, pra fazer medicamentos, ganhar mais créditos, comprar a passagem e tirar minha mãe daquele lugar imundo.

          — Você tem noção dos riscos?

          — Tenho, mas pelo menos promete pra mim que vai tentar?

          — Tá bom. Eu vou tentar, mas não te garanto nada.

          — Isso!!! Obrigada.

          Morgana não se contém e dá um abraço em Jow.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now