Mondanês - 82

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          Ainda está escuro, no finzinho da madrugada. Jow acorda com um ruído muito próximo, ele abre os olhos e vê um vulto ao seu lado que vai ganhando nitidez na medida que sua vista desembaça e acostuma com a pouca luz do ambiente.

          — Waburaerê, peço desculpas por acordá-lo. Mas o Cacique quer falar contigo.

          — Tudo bem, Kawhay, vamos lá então, vou atender o chamado do Grande Chefe.

          Eles saem em silêncio pra não acordar as outras pessoas e vão até a oca do Cacique, onde ele já o espera. Jow o cumprimenta com um gesto e ele começa a falar:

          — Meu garoto, os espíritos nos contaram de sua importante missão nas entranhas de Tegahere Mortis, e como isso pode afetar a todos nós no que restou da Terra, por isso eu quero lhes dar nossa contribuição à sua tarefa.

          — Muito obrigado, Grande Chefe Bucaraim, ficamos gratos com sua hospitalidade, mas não precisa se incomodar conosco, sei que a tarefa não será nada fácil, mas não quero envolver mais grupos para não colocá-los em risco.

          — Entendo suas preocupações, jovem Waburaerê, mas eu faço questão. Há um grande guerreiro conosco que quando soube que eu mandaria um dos nossos com vocês, fez questão de que fosse o escolhido.

          Assim que fala, o Cacique olha para trás e faz sinal com a mão, uma passagem atrás dele começa a se mover e surge uma silhueta vinda do escuro: uma figura baixinha, pouco mais de um metro e sessenta, robusto, de óculos, vestido em vestes de couro e ornado com colares de ossos, dentes e garras de animais da floresta.

          — Esse é Mondanês, não se deixe enganar pelo aspecto dele não ser de um jovem guerreiro, mas a sua missão vai requerer mais do que só empunhar uma arma e ter músculos aparentes, vai exigir inteligência e que conheça o território.

          — Sim, é verdade, é preciso de alguém que conheça a floresta.

          — E ele é o último nativo da Tribo das Mondanhas por essas bandas. A tribo dele habitava as terras além da Floresta da Morte, na época, ela era apenas seu quintal e fonte de alimentos e dela emanava as energias de milhões de vidas que floresciam em seu interior. Quando chegaram, os homens brancos cheios de más energias e maldade em seus corações acabaram com os Mondaneses, os que sobraram se dispersaram, após a ocupação dos homens e suas máquinas, eles tentaram se reagrupar, mas foram definitivamente eliminados pelas bestas que vieram fugidas para a ferida da floresta, restando alguns poucos indivíduos que buscaram abrigo em outras tribos pelo mundo. Tugamua Mondanês buscou abrigo conosco, e se prontificou a ir com vocês, como uma contribuição nossa ao seu trabalho, não o subestime, eles são pequenos e robustos, mas podem surpreender vocês, são guerreiros valentes e inteligentes, será de grande valia no meio daqueles pântanos.

          — Prazer em conhecê-lo Waburaerê, será uma honra poder guiá-los pela Tegahere Mortis.

          — O prazer é todo meu, Mondanês, será um honra tê-lo conosco, seja bem-vindo à equipe. Assim que os outros acordarem e já se prepararem para a partida, eu irei lhe apresentar ao resto do grupo. Já te adianto que essa não é uma missão de passeio na floresta, será algo bem pesado, voltar com vida não é uma certeza para todos.

          — Estou ciente disso, terei imensa satisfação, é melhor morrer com honra em batalha do que fugindo como um covarde. Lutarei ao lado de vocês para saudar a memória do meu povo.

          — Ótimo, então esteja pronto, partimos em pouco mais de uma hora.

          — Estarei.

          Mondanês responde e se retira da oca do Cacique, deixando-o a sós com Jow novamente.

          — Waburaerê, essa é a hora esperada por todos, vá encontrar seus homens, e chame-os para partilhar o tekaioata (alimento da manhã) conosco antes de partir, e vão logo em seguida, pois é chegada a hora, e faremos nossa parte como combinado. Eu não os verei mais, então que os bons espíritos da Terra lhes protejam.

          — Obrigado Cacique, vou chamar os homens e partiremos o mais breve.

          Jow sai da oca do Cacique e segue até o Tenente, onde alguns homens, tanto Militares quanto Rebeldes já começam a se levantar. Ainda está escuro, mas o dia lentamente vai se mostrando.

          — Tenente, chame seus homens... quero apresentar alguém a todos.

          — Estaremos todos prontos em dez minutos.

          — Ótimo, vou chamar os outros.

          Em alguns minutos já estão todos de pé, acampamento recolhido e as equipes reunidas. Jow se aproxima acompanhado de um nativo e começa a falar:

          — Senhores, eu quero que conheçam o Mondanês. Assim como todos dessa Vila, ele é um tribal, e está assentado nesta região onde estão várias tribos diferentes juntas, ele vai nos acompanhar de agora pra frente, pois a tribo dele habitava as terras logo depois da Floresta da Morte, por isso ele a conhece bem. Ele não entende das criaturas que habitam por lá agora, mas conhece bem o terreno. Tenham respeito, pois ele pode ser uma peça chave para que o máximo de nós sobreviva lá dentro.

          — Esse é o homem que serviria de guia, que havia comentado no começo da viagem? — Perguntou Tenente Hans.

          — Não Tenente, quando eu falava de um guia, me referia a outra criatura que ainda está a nos encontrar. O Mondanês foi uma cortesia do povo Kynawa para essa parte do caminho. Eu não recusei a oferta pois quanto maior a equipe mais chance temos de sobreviver.

          — Não sabia que índios usavam óculos. — Bulsara comenta em tom irônico.

          — Considerando que a vida de qualquer um pode depender desses olhos, então é bom que eles tenham tudo que precisarem pra funcionar muito bem. — Mondanês responde a altura.

          — É bom que funcionem mesmo. — Jow comenta e sorri. — Nossos anfitriões prepararam um café para que possamos comer antes de partir, vamos nos servir e dar seguimento a missão. Ainda temos muito chão à frente.

          Todos se dispersam em direção ao círculo da fogueira.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant